O fantasma: Confusões e esclarecimentos

Resumo

O fantasma: Confusões e esclarecimentos

A fantasia de castigo descrita por Freud em três fases e que denomina "Um menino é castigado" apresenta uma série de problemas muito difíceis de resolver. Freud disse que carece de existência real, que é uma noção construída e que, de certa forma, jamais existiu; ao mesmo tempo, como se oscilasse em sua descrição, sustenta que permanece inconsciente. Qual é o seu estatuto?

Nesse ponto árduo, Lacan descobre ou melhor, inventa, já em seu quarto seminário, uma noção valiosa, que deve ser diferenciada das diversas formas de fantasia, e a denomina fantasma. Podemos justificar essa invenção-descoberta, pois ele introduziu na esfera do psicanálise uma noção capital: a noção de demanda, que é o interdito na relação amorosa entre o sujeito e o Outro: há demanda porque alguém foi convocado, e convocado com seu corpo, imaginário ou real.

Há dois textos decisivos de Lacan, Kant com Sade e o outro, menos conhecido, mas fundamental, é a transcrição de uma conferência que Lacan proferiu no Colégio de Medicina em 1966, na Salpêtrière. A esse primeiro me irei ater, já que a chamada fórmula do fantasma ($<>a), nas diversas leituras que admite, não permite diferenciar o fantasma do sintoma, dos afetos, da pulsão, dos falhados, dos sonhos.

O princípio do prazer encarna a paradoxo do fantasma: reclama seu suporte, mas tende constantemente a ficar mais aquém para ir além, em um jogo de oscilação interminável.