v. 10 n. 19 (2021): Feminismos ecológicos multiespécies: uma fabricação de composto

					Visualizar v. 10 n. 19 (2021):  Feminismos ecológicos multiespécies: uma fabricação de composto

Feminismos ecológicos multiespécies: uma produção desde o composto

 

Nos diversos contextos de crise econômica e institucional que estamos vivendo nos últimos anos na América Latina e no Caribe, o problemática das mudanças climáticas nos territórios coloca o foco da análise em questões de centralidade relacionadas com o agrário, agrícola, alimentar, energético, ambiental e de identidade, gerando novas formas de exclusão e inclusão seletiva que afetam diretamente a vida das mulheres e das suas comunidades. Apesar desses contextos, muitas mulheres continuam transformando sua realidade local, produzindo novas dinâmicas e alternativas para enfrentar as diferentes realidades. Uma dessas ações foi o “Acampamento do Clima: Os Povos Contra o Terricídio” em Chubut, organizado pelo Movimento das Mulheres Indígenas pelo Bem Viver. O antropólogo Arturo Escobar (2012) define o território, desde a perspectiva dos povos indígenas e afrodescendentes, como uma 'ontologia relacional', ao afirmar que “os mundos biofísicos, humanos e supranaturais não são considerados entidades separadas, mas que se estabelecem elos de continuidade entre eles". Quando se fala na defesa do território, incluem-se entidades não humanas e forças da natureza com as quais os povos estabelecem relações de reciprocidade. Para Agarwal (1991), o vínculo que certas mulheres constrõem com a Natureza tem sua origem em suas responsabilidades de gênero na economia familiar e comunitária. Não são as características afetivas ou cognitivas de seu sexo, mas sua interação com o meio ambiente (cuidar da horta, buscar lenha) que favorecem sua consciência ecológica.

 

 

 

 

 

 

 

A superação dos dualismos hierárquicos Natureza /Cultura, Mulher/Homem, Corpo/Mente, Afetividade/Racionalidade, Matéria/Espírito exige uma análise desconstrutiva que possa abarcar o Bem Viver das comunidades andinas. Como afirma Donna Haraway, “é necessário outra relação com a natureza que vá além da exploração e da posse”, própria da razão capitalista colonial e patriarcal moderna. A idéia de feminismos multiespécies explora as relações do feminismo com o mundo vegetal, para questionar a crise ecológica e as problemáticas do capitalismo selvagem que afetam tanto os corpos/territórios como as suas alianças e conhecimentos. As contribuições de dois pensamentos críticos sobre feminismo e ecológico nos oferecem a oportunidade de enfrentar não só a dominação dos corpos/ territórios das mulheres na sociedade patriarcal, mas também uma ideologia e uma estrutura de dominação da Natureza ligada ao paradigma patriarcal do homem proprietário e guerreiro. A superação do sexismo, do androcentrismo, do racismo e do antropocentrismo é fundamental para a soberania dos povos e suas comunidades nesses territórios.

Publicado: 2021-07-22