A posiçâo brasileira sobre a independência do Saara Ocidental: coerência diplomática ou interesses políticos e comerciais?

Resumen

O conflito que enfrenta há décadas o Frente Polisário e o Reino de Marrocos pelo Saara Ocidental coloca um dilema para a política externa brasileira. Por um lado, o reconhecimento da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) poderia representar uma violação dos princípios de não intervenção e resolução pacífica de conflitos, além de prejudicar os interesses comerciais brasileiros. Por outro lado, a recusa em reconhecer a RASD também poderia ser interpretada como uma séria violação de outro importante princípio das relações internacionais brasileiras: a autodeterminação dos povos. Com esse dilema em mente, este artigo apresentará o contexto do conflito do Saara Ocidental entre Marrocos e o Frente Polisário. Em seguida, analisará a posição do Brasil a respeito. O objetivo principal é explicar as razões pelas quais a diplomacia brasileira adotou uma política tão cautelosa, e até mesmo duvidosa, sobre a questão. A hipótese é que, embora a discussão dos princípios e tradições da política externa sejam relevantes para a análise da posição do Brasil, o país possui interesses políticos e comerciais que se beneficiam da manutenção do status quo favorável a Marrocos, justificando assim a falta de uma posição assertiva sobre a questão.