Edições anteriores
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A Repetição
v. 6 (2024)Com grande entusiasmo e orgulho, apresentamos o sexto número de Pathos, revista acadêmica da Universidade Nacional de Córdoba, cujo Dossiê é dedicado, nesta edição, ao conceito de repetição. Este termo, fundamental na psicanálise, constitui um eixo privilegiado tanto para a teorização quanto para a prática clínica. Nesta edição, buscamos transcender perspectivas reducionistas que limitam a repetição a uma simples iteração ou fenômeno descritivo, abrindo caminho para uma exploração profunda de suas implicações no pensamento freudiano e lacaniano.
Seguindo Freud, este número revisita as duas grandes articulações do conceito de repetição: sua relação com a transferência e sua conexão com a compulsão além do princípio do prazer. Desde a repetição que se manifesta como atuação no campo da transferência até aquela compulsão enraizada na insistência pulsional do traumático, os artigos reunidos dialogam com essas formulações clássicas, mostrando como a repetição atravessa tanto o domínio do desejo quanto o da pulsão de morte. Ao mesmo tempo, os artigos convidam a repensar como Lacan, longe de apenas replicar Freud, renova o conceito ao articulá-lo com noções como o traço unário, a insistência da cadeia significante e as categorias de tyché e automaton.
Além dos artigos do Dossiê, esta edição inclui trabalhos livres que abordam temas que enriquecem o horizonte psicanalítico, como topologia, tempo e sinthoma. Com esta edição, Pathos reafirma seu compromisso com a produção acadêmica rigorosa, convidando leitores e especialistas a participar de um diálogo fecundo sobre os desafios que a repetição apresenta em suas múltiplas facetas. Damos as boas-vindas a este espaço de reflexão e debate, desejando que as ideias aqui desenvolvidas inspirem novas perguntas e desdobramentos.
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(Des)construções do fantasme
v. 5 (2023)O conceito de "fantasme" cunhado por Lacan encontra suas raízes na noção de "fantasia" que tanto Freud quanto Melanie Klein utilizaram. No entanto, Lacan constrói sobre essas bases para desenvolver uma concepção original e disruptiva, que, longe de tratar-se de uma elaboração monolítica e linear, apresenta, pelo contrário, uma abordagem com escansões, nuances e caminhos que irão construindo e (des)construindo sentidos, modos de entender e articular a noção que impactarão tanto a teoria quanto a práxis analítica.
(Des)construir o fantasme nos impulsiona a investigar e explorar um "cenário fascinante" de crucial importância para a psicanálise e para os/as psicanalistas, atravessando suas variações conceituais e clínicas. Neste número, convidamos com entusiasmo a percorrer, montar e desmontar essa cena, entendendo que na psicanálise não se trata da realidade de uma história, mas de uma estrutura de ficção que se põe em ato. Como escreveu Lacan: "Que o sujeito reviva, rememore, no sentido intuitivo da palavra, os acontecimentos formadores de sua existência, não é por si tão importante. O que conta é o que ele reconstrói deles".
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Angústia
v. 4 (2022)Na aula de 14 de novembro de 1962, Lacan propõe começar a falar sobre a angústia, eixo que será central em seu décimo seminário. Ele justifica essa escolha ao considerar que a angústia será o ponto de encontro com tudo o que havia trabalhado anteriormente, propondo uma articulação que evidenciará que, a partir da angústia, cada termo, conceito e elaboração prévia ocupará melhor seu lugar, tanto na teoria quanto na prática.
É assim que, no início de 1962, inicia uma série de aulas que dará origem à elaboração do que Lacan definirá como sua única verdadeira contribuição à psicanálise, o objeto a, relacionando-o com o surgimento da angústia como um sinal de que falta a falta, ligando isso à sua concepção de sujeito.
Neste quarto número de Pathos, nos propomos a celebrar os 60 anos da primeira aula de Lacan sobre o seminário da angústia, trazendo-a à luz por meio dos artigos propostos pelos diversos autores sobre a temática.
A angústia será o eixo que articula os trabalhos, formando uma rede própria em cada artigo, onde cada autor se torna um funâmbulo que se atreve a transitar pela corda da palavra escrita sobre o vazio, onde a própria angústia se aloja. Da mesma forma, os trabalhos livres nos propõem continuar apostando em uma psicanálise que se debate com a atualidade, investigando, construindo uma teoria que alimente a prática e uma prática que construa teoria, para sustentar o espírito da psicanálise.
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O mal-estar ex-sitente
v. 3 (2021)A pulsão de destruição, como conceito principal do erotismo freudiano, aponta a discrepância radical existente entre o dado duro da biologia e a natureza simbólica que funda o poder do desejo em oposição à autoconservação. Assim, a relação intrínseca entre a pulsão de morte e o vínculo social foi ingenuamente reduzida a um “mal-estar” inespecífico, ou à pura dicotomia, que a despoja de sua natureza paradoxal.
Não é novidade que a história do pensamento, após os textos denominados "socio-antropológicos" de Freud, tenha enfrentado sérias dificuldades para explicar a junção da experiência social e da lógica do inconsciente, tarefa que levou Lacan, em seu retorno a Freud, a postular seu conceito de Discurso.
Talvez seja abusivo afirmar que esse conceito resume todas as relações significativas que, sobredeterminadas pela cultura, condicionam não apenas as modalidades e os avatares da conformação do sujeito, mas também os do laço social. No entanto, insistimos que há uma colisão construtiva entre ambas as tradições, que, longe de levar ao cinismo ou à indiferença da experiência social, nos coloca na dificuldade de pensá-las conjuntamente e insiste em seus encontros fracassados.
Uma das implicações derivadas da prática do psicanálise é a elucidação da categoria "natureza humana", especialmente em relação à especificidade da satisfação humana e seus desdobramentos, os avatares da sexualidade e o encontro com o Outro, despojada da oposição natureza-cultura.
Na conjuntura social atual, atravessada pela pandemia de COVID-19, a consideração do mal-estar ex-sistente implica atender à interpretação singular e às produções do inconsciente. Nesse sentido, podemos afirmar que o mal-estar freudiano e a lógica dos discursos se reconfiguram e ganham novas dimensões na ameaça do vírus e nos efeitos subjetivos da pulsão de morte. Por outro lado, a radicalização de determinados discursos políticos sobre liberdades ou restrições sociais, a cristalização de debates em torno das respostas da ciência em contextos de alta incerteza ou a escassa atenção aos efeitos sociais e subjetivos da pandemia, diante da iminência do risco vital, dão conta de processos de segregação e fragmentação social em franco crescimento que requerem ser atendidos e analisados em suas múltiplas consequências e condicionantes do laço social contemporâneo.
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Sexuação. Édipo, lógica, gozo
v. 2 (2020)Com o mito trágico do Édipo de Sófocles, Freud consegue estabelecer a hipótese do Complexo de Édipo universal e suas consequências para a sexualidade. O pai edipiano aparece como aquele que carrega a ameaça da castração diante da intenção do incesto, propondo a saída exogâmica do núcleo familiar. Freud, em textos como "Totem e Tabu" e "Moisés e a Religião Monoteísta", apresenta o pai como uma figura poderosa que representa a Lei para todos.
Lacan vai abordar o Complexo de Édipo como uma metáfora, em que um significante é substituído por outro. Ele propõe o Nome do Pai como o significante privilegiado, como o significante autorizador da nova significação que resulta dessa operação simbólica. No entanto, Lacan sempre teve consciência de que esta é uma forma de tipificar a sexualidade, mas que não é a única, uma vez que não há ser do sexo. A intervenção da linguagem produzirá um sujeito em falta, como um vazio de significação em torno da sexualidade, fora de qualquer possibilidade de dizer o que é uma mulher e o que é um homem. Como produção restará um sujeito tentando contornar esse buraco, construir um saber de sua verdade inconsciente que remeta a dizer algo sobre esse vazio.
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Sobre a psicanálise nas suas relações com a Universidade
v. 1 (2019)Atualmente, a relação entre a psicanálise e a universidade tem novas arestas que devem ser exploradas. Estas vão desde a discussão da posição sobre o ensino até as questões de conteúdo, ou a formação do psicanalista. Essas relações envolvem também a discussão do progresso da psicanálise; talvez nos encontremos numa conjuntura em que grande parte da novidade, das respostas da psicanálise ao mal-estar da cultura, venha do meio universitário. Neste contexto, o desafio do Pathos vai nesta direção, é uma aposta que começa a ser feita.