Peri em Brocéliande: o deserto-floresta n’O Guaraní, de José de Alencar

Autores

  • Marcos Flamínio Peres Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.53971/2718.658x.v10.n15.24821

Palavras-chave:

Romantismo, Chrétien de Troyes, romance, espaço, normatividade

Resumo

Este artigo procura articular a representação da paisagem e sua vinculação com o caráter do herói em O guarani, de José de Alencar, obra capital do Romantismo brasileiro; em outras palavras, busca articular espaço e normatividade como componentes essencias da narrativa.
Desde Gaston Bachelard, o espaço vem se configurando como instância importante para a ficção, mas será a partir das análises de Iuri Lotman e Henri Mitterand que ele deixará de ser acessório para se tornar decisivo para a organização do enredo. Lotman cunha a noção de fronteira, enquanto Mitterand propõe o conceito de ultrapassagem de fronteiras. Uma e outra definições são fundamentais para compreender o processo de constituição do herói no romance de Alencar, posto que Peri será o único personagem a transitar livremente pelos espaços da “casa” e da “floresta”, incorporando valores de um e outro.
Dialogando com as narrativas medievais de Chrétien de Troyes, particularmente “Le chevalier au lion” et “Le conte du Graal”, o herói de O guarani rompe, entretanto, com o código de honra cavaleiresco ao adotar a traição como expediente regular. Será a floresta, como topos central do imaginário medieval (Le Goff), que irá propiciar tal estatura híbrida e ambivalente do herói.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marcos Flamínio Peres, Universidade de São Paulo

Professor de Literatura Brasileira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (Brasil), com ênfase em teoria literária e literatura comparada.

Referências

A canção de Rolando (2006) Org. Pierre Jonin. Trad. Rosemary Costhek Abílio. Martins Fontes, São Paulo.

Alencar, José de (1958) O guarani. Em Obra completa. Org. M. Cavalcanti Proença. Aguilar, Rio, pp. 27-406. Volume 2.

Bachelard, Gaston (1988) A poética do espaço. Trad. Antônio da Costa Leal e Lídia do Valle Santos Leal. Nova Cultural, São Paulo, pp. 93-266.

Bourneuf, Roland y Ouellet, Réal (1976) “O espaço”. Em O universo do romance. Trad. José Carlos Seabra Pereira. Almedina, Coimbra, pp. 130-168.

Frye, Northrop (2006) The secular scripture and other writings on critical theory: 1976-1991. Org. Joseph Adamson and Jean Wilson. University of Toronto Press, Toronto.

Hamon, Philippe (1993) Du descriptif. Hachette, Paris.

Harrison, Robert Pogue (1992) Forests: the shadow of civilization. The University of Chicago Press, Chicago-London.

Koelb, Janice Hewlett (2006) The poetics of description: imagined places in european literature. Palgrave Macmillan, New York.

Le Goff, Jacques (1985) “Le désert-forêt dans l´Occident medieval”. Em L´imaginaire médiéval: essais. Gallimard, Paris, pp. 59-75.

Le Goff, Jacques (1985) “Lévi-Strauss em Brocéliande”. Em L´imaginaire médiéval: essais. Gallimard, Paris, pp. 151-187.

Lotman, Iuri (1978) A estrutura do texto artístico. Trad. Maria do Carmo Vieira Raposo e Alberto Raposo. Estampa, Lisboa.

Mitterand, Henri (1986) “Le lieu et le sens: l´espace parisien dans Ferragus, de Balzac”. Em Le discours du roman. PUF, Paris, pp. 189-212.

Pavel, Thomas (1986) Fictional worlds. Harvard University Press, Cambridge.

Peres, Marcos Flamínio (2019) “O quarto de Ceci: paisagem, natureza-morta e desejo em O guarani”, de José de Alencar. Em Alea, Rio, no prelo.

Ryan, Marie-Laure (s/a) “Space”. Em Peter Hühn et al. (eds.), The living handbook of narratology. Hamburg University, Hamburg. Disponible en: http://www.lhn.uni-hamburg.de/article/space (acessado em 12 de maio de 2019).

Ryan, Marie-Laure (1980) “Fiction, non-fiction and the principal of minimal departure”. Em Poetics, volume 9, issue 4, pp. 403-422.

Troyes, Chrétien de (2002) Romans de la table ronde: Erec et Enide, Cligès, Le Chevalier de la Charrette, Le Chevalier au Lion, Le conte du Graal. Trad. Jean-Marie Fritz, Charles Méla, Olivier Collet, Catherine Blons-Pierre, David Hult. Le Livre de Poche, Paris.

Downloads

Publicado

2019-07-04

Como Citar

Peres, M. F. (2019). Peri em Brocéliande: o deserto-floresta n’O Guaraní, de José de Alencar. Recial, 10(15). https://doi.org/10.53971/2718.658x.v10.n15.24821