O vazio eloquente: culturas do Chaco, guerra e literatura na Bolívia
Palavras-chave:
Chaco, Bolivia, povos ancestrais, narrativa, guerraResumo
O Gran Chaco sul-americano é um território onde convivem diversos povos que ainda protegem aspectos do modo de vida ancestral, apesar da crescente pressão exercida pelas empresas extrativas nos quatro estados que têm jurisdição sobre a região: Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil. Este artigo propõe um percurso pelas narrativas da Guerra do Chaco (1932-1935), marco trágico e decisivo para os povos indígenas da região, com o objetivo de analisar o que aconteceu com sua representação literária na Bolívia. Essas narrativas destacam o vazio de representação da voz, experiência e visão de mundo dos habitantes indígenas do Gran Chaco, uma questão que reforça o imaginário de nação e pertencimento cultural pré-guerra.
No Gran Chaco, as populações nativas sobrepõem-se, fundem-se e escondem-se de forma dinâmica como consequência da violência à qual a região está submetida há mais de um século. A posição intersticial dos povos da região em relação aos Estados dos quais fazem parte tem sua correlação no campo dos estudos literários: sua representação é periférica e largamente negligenciada tanto na ordem das literaturas nacionais quanto na latino-americana. Neste sentido, e devido à sua história e circunstâncias, o seu estudo exige um reposicionamento metodológico: apenas através do trabalho com um corpus que ultrapasse o quadro hermético da ficção literária, ampliado para o testemunho antropológico, a entrevista etnográfica, a coletânea de histórias ou a produção audiovisual, é possível reconstruir uma memória da guerra que modifica e enriquece o conhecimento sobre este território, as suas culturas e a sua história.
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