v. 11 n. 18 (2024): Hacer e imaginar las prácticas extensionistas en tiempos de crisis
Desde as suas origens, a universidade, enquanto instituição de ensino superior, tem sido uma peça-chave do projeto sócio-histórico moderno-colonial. Poderíamos ler a sua história, até à Reforma de 1918, como a sedimentação constante de práticas, por um lado, e a reprodução de imaginários sociais, por outro, sempre funcionais aos interesses das elites dominantes. Neste sentido, a marca reformista veio subverter a tranquilidade do claustro a que as classes dominantes estavam habituadas e, a partir desse momento, a universidade, com os seus altos e baixos, não deixou de ser um território em disputa entre duas tendências: por um lado, a que aspira à democratização substantiva da produção do conhecimento em favor dos interesses das maiorias e do projeto de autonomia social e individual, e, por outro, a tendência sempre agachada que espera restabelecer e alargar os privilégios de uns poucos, tendência das forças antidemocráticas que sobrevivem na nossa sociedade, a cujo avanço voltamos hoje a assistir.
Desde aqueles dias convulsivos de 1818, a extensão universitária converteu-se no espaço privilegiado em que os que fazemos a universidade no dia a dia - docentes, estudantes, licenciados e pessoal não docente - nos relacionamos com a comunidade mais ampla, complexa e contraditória que é a sociedade a que pertencemos, e nos vinculamos a partir dessa condição particular de fazer parte da universidade. Quem faz trabalho de proximidade sabe que a universidade não é de modo algum alheia às mudanças do mundo histórico-social e que tem oscilado, por vezes em modelos antagónicos, na construção de laços com outros para além da comunidade universitária.
Cada período de crise social, política e económica obriga-nos a rever, reimaginar e refazermo-nos em relação à nossa presença no território, entendido como espaço de co-construção de saberes e significados a partir de um processo crítico, dialógico, formativo e integral, gerador de laços de solidariedade e de compromisso com os processos de transformação das sociedades.
Dissemos acima que, hoje, tanto a universidade quanto nossa sociedade como um todo - especialmente os setores sociais mais vulneráveis - estão sofrendo, de forma sem precedentes, um ataque constante a dois acordos que acreditávamos serem indiscutíveis. Por um lado, que a educação pública gratuita e de qualidade deve ser um direito a que todos têm acesso e, por outro, que as universidades públicas são promotoras de formas de convivência cada vez mais justas e dignas, através do exercício soberano da ciência e da tecnologia oferecidas para o cuidado do tecido da vida humana e não humana.
Hoje, a sustentação das instituições básicas da sociedade, bem como do tecido da vida num sentido muito amplo, tornou-se crítica. A crueldade é claramente o sinal dos tempos. Assistimos hoje com profunda preocupação, tristeza e indignação, à extrema violação de direitos nos territórios que coabitamos, ao empobrecimento de sectores sociais com crescentes dificuldades de sobrevivência.
Diante desse cenário, é imperativo repensarmos o lugar da extensão universitária para sustentarmos uma caminhada coletiva em meio a essa crise, ao mesmo tempo em que reafirmamos nosso compromisso com os setores da sociedade mais vulneráveis e ameaçados. Convidamos-vos a partilhar os vossos pontos de vista, reflexões e experiências enquanto extensionistas. Convidamo-lo(a) a co-construir ao fazer e imaginar práticas de extensão em tempos de crise.