Editorial
Palavras-chave:
editorial, nro13, democracia, territorio, conciencia socialResumo
Em nossa chamada de artigos para esta edição - concebida no início deste ano - convidamos você a escrever sobre experiências nos territórios onde a vida é reproduzida e as lutas por democracias que respeitem a natureza, a diversidade e a identidade de nossos povos tomam forma.
Esta edição é publicada em um momento de reflexão urgente, pois nossas democracias estão sendo atacadas por certos discursos que pensávamos terem sido superados. Ataques que aprofundam a vida individual em detrimento da coletiva e que colocam a liberdade como o oposto da solidariedade e dos direitos que conquistamos. Nossas democracias hoje também enfrentam as demandas que as pessoas estão fazendo ouvir a partir dos diferentes territórios e que lutam para fazer parte dos projetos de sociedade em disputa.
Assim, o território adquire um lugar privilegiado de análise, pois é o espaço mais próximo e imediato de reprodução da vida e o espaço público em que ocorrem as lutas coletivas. O território expressa e condensa as opressões e as desigualdades que estruturam a ordem social vigente; ao mesmo tempo, é um espaço de resistência e de recriação de outras formas de vida que enfatizam, alimentam e desafiam as democracias.
O que as ciências sociais fazem diante dessas interpelações urgentes? Concordamos com Verónica Gago e Diego Sztulwark que "não se trata de traduzir a força das comunidades em categorias das ciências sociais, mas de encontrar noções capazes de aumentar suas possibilidades e alianças internas". Isso coloca o Serviço Social e as ciências sociais no desafio de produzir conhecimento também a partir das noções do comum; em processos coletivos que reúnem saberes e fazeres plurais que contribuem para as lutas populares. Conhecimento que também questiona as agendas científico-acadêmicas na produção do conhecimento como bem comum e que confronta os sentidos comuns hegemônicos que instalam como verdades um conjunto de afirmações estéreis e perversas para a construção e defesa de nossas democracias.
Com o convite de questionar as democracias a partir dos territórios, reunimos neste número um conjunto de artigos de diferentes partes do país que incluem experiências de ensino, intervenção profissional, graduação e formação em serviço. Esses artigos se inscrevem nos campos da saúde, da infância, das economias populares, dos conflitos socioambientais, das práticas de cuidado e das lutas coletivas. Artigos que atualizam os debates conceituais e políticos sobre o neoliberalismo, seu impacto sobre as subjetividades e a configuração da política, das políticas e dos direitos nos tempos atuais.
É nossa intenção renovada abrir caminhos que liguem diversas formas de saber, de nomear e habitar as práticas que derivam de nossos lugares como cientistas e profissionais. Colocar em diálogo saberes acadêmicos, científicos, ancestrais e populares, também como forma de resistência e disputa por horizontes de democracias para as maiorias invisíveis a um sistema cada vez mais predatório.
Escrever em tempos de turbulência é nossa humilde contribuição para resistir ao desespero e sustentar as convicções que nos permitiram chegar até aqui e continuar sonhando com outro mundo possível: um mundo em que caibam todos os mundos, como disse o Subcomandante Marcos há mais de 20 anos.
Referências
AA (2019) Producir lo común. Entramados comunitarios y luchas por la vida. El Apantle. Revista de Estudios Comunitarios. Ed. Traficantes de Sueños: Madrid
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