Narrando o Holocausto a partir de um museu: os casos da Guatemala e da Argentina

Resumo

A virada do século apresentou a implantação e proliferação de museus dedicados à memória e à história do Holocausto na América Latina. Esses museus foram construídos como espaços dedicados a refletir e transmitir a história do Holocausto judaico em países onde a materialidade dos fatos não foi realizada. Em cada país, os museus desenvolveram diversas relações com o passado recente. Dessa forma, uma memória considerada global interagiu de diferentes formas com as memórias locais.

Este artigo indaga sobre a criação, história e amostras de origem do Museu do Holocausto localizado na Cidade da Guatemala e do Museu de Buenos Aires. Cada museu foi construído em relação ao seu passado recente e é interesse deste trabalho descrever e refletir sobre os usos das memórias e as particularidades de cada país através das amostras museológicas. Este caso da Guatemala tem a particularidade de ser o único país latino-americano que contém em sua história recente um genocídio reconhecido internacionalmente pela ONU. É a interação entre a memória do genocídio guatemalteco e o genocídio judaico que ele busca iluminar. No caso argentino, é um país com uma longa história ligada aos direitos humanos e à memória do terrorismo de Estado. De que maneiras as memórias interagem?Elas podem iluminar ou obscurecer umas às outras? A este respeito, Huyssen afirmou que “deve-se sempre perguntar se e de que forma o Holocausto aprofunda ou obstaculiza práticas locais e lutas pela memória, ou se e de que forma talvez cumpra ambas as funções simultaneamente” (2007, p. .twenty- um).