Maternidades proibidas: (in)justiça reprodutiva em circunstâncias de desigualdade radical

Autores

  • Claudia Fonseca Programa de Posgrado en Antropología Social de la Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (Brasil)
  • Lucia Scalco ONG Coletivo Autônomo Morro da Cruz.

DOI:

https://doi.org/10.31048/1852.4826.v16.n2.38900

Palavras-chave:

Separação compulsória, Reprodução estratificada, Justiça reprodutiva, Tráfico legal, Adoção

Resumo

Examinamos neste artigo a remoção de recém-nascidos de suas mães pobres logo após o parto para refletir sobre as repercussões da radical desigualdade socioeconômica para dinâmicas familiares no Brasil.  Inspiradas nas noções de “justiça reprodutiva” e “reprodução estratificada”, atentamos à dimensão política dessa rotina reprodutiva que, de outra forma, passaria despercebida, apagada por representações naturalizantes de gênero e família. Mapeando o jogo de moralidades que desemboca na desautorização da maternidade de certas mulheres (ou homens), procuramos sublinhar a complexidade de dinâmicas interseccionais de classe, raça, geração e gênero nas práticas de injustiça e discriminação.  Olhamos a convergência de certas tendências globais, saberes profissionais e mudanças legislativas nacionais para colocar a pergunta:  em vez de garantir os direitos dos mais vulneráveis, as atuais políticas de governo não estariam evoluindo numa direção que mantém e aprofunda a sub-cidadania de famílias vivendo na grande pobreza?

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Publicado

2023-08-31

Edição

Seção

Dossiê: Apropriação de crianças, o direito à identidade e demandas por justiça na América Latina: estudos socioantropológicos sobre parentesco, infância, burocracias e direitos

Como Citar

Fonseca, C., & Scalco, L. (2023). Maternidades proibidas: (in)justiça reprodutiva em circunstâncias de desigualdade radical. Revista Del Museo De Antropología, 16(2), 317-326. https://doi.org/10.31048/1852.4826.v16.n2.38900

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