v. 7 n. 10 (2020): Povos, comunidades e organizações indígenas: encontros e articulações de e na extensão universitária
A relação histórica entre os povos indígenas e o projeto social moderno/colonial é marcada pela assimetria estrutural que é evidente na aniquilação e exterminação dos primeiros em busca da expansão dos segundos. No contexto do capitalismo neoliberal das últimas quatro décadas, tal assimetria não foi modificada. Podemos até afirmar que se intensificou, na forma que o geógrafo D. Harvey chama acumulação por despossessão e que se traduz, neste caso, no avanço sobre os últimos territórios nos quais estas cidades e comunidades foram confinadas.
No entanto, e embora possa ser paradoxal, o Estado argentino, em meio ao boom neoliberal e com a reforma constitucional de 1994, reconhece alguns direitos específicos dos povos indígenas
(artigo 75, parágrafo 17) e se proclama um Estado multicultural, assumindo ao mesmo tempo "a obrigação para reparar os danos causados aos povos originais. Todo este processo a nível estadual faz sentido e deve ser entendida no âmbito de processos globais, como a Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1989 e a subsequente Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas em 2007 para Nível da ONU.
Este processo no campo estatal é o resultado da resistência histórica dos povos indígenas e das diversas formas de luta de defesa territorial que eles vêm criando e recriando. Em face disto
o cenário de lutas e resistências, a universidade não permaneceu alheia; pelo contrário, ela jogou e
desempenha papéis muito diversos e até mesmo antagônicos em relação às causas indígenas. É necessário compreender e elucidar esta ambivalência da universidade, tendo em vista o papel central que ela desempenha no projeto moderno/colonial, bem como os processos de transformação dentro dele estão operando desde a Reforma de 1918. No caso particular da extensão universitária, as formas pelas quais foi concebido e praticado em relação aos povos e comunidades indígenas, e tem variado de uma abordagem paternalista - e em alguns casos redentora - de bem-estar a um diálogo intercultural e de conhecimento nos últimos tempos, a variantes "inclusivas" e "dialógicas" típicas do multiculturalismo neoliberal. Neste sentido, e tendo em vista as diferentes posições e seus efeitos, propomos neste dossiê investigar e explorar o alcance e as limitações das práticas extensionistas em relação aos povos, comunidades e organizações indígenas. Quais são os encontros e articulações efetivos e possíveis entre a extensão universitária e as lutas, demandas e resistências dos povos indígenas? Em que medida nossas práticas extensionistas permitem sua elucidação crítica? Quais são os interstícios que permitem práticas extensionistas sem relação com o projeto hegemônico moderno/colonial? Que lições podemos aprender na construção do diálogo do conhecimento?