Vítimas do desenvolvimento de empresas hidrelétricas no sul do Brasil

Conteúdo do artigo principal

Silvana Winckler
Arlene Renk

Resumo

As indústrias extrativas, em suas formas de inserção para a operação, deixam marcas, por mais que o aparato legal tente minimizar os efeitos nocivos e irreversíveis. Diferentemente das barragens hidrelétricas, a indústria de mineração possui um protocolo não oficial, mas bem considerado nos negócios e consistente com a licença social para operar. Os povos indígenas e tradicionais são protegidos pela Consulta Livre, Prévia e Informada da Convenção 169 da OIT, que, no entanto, nem sempre ocorre. Outro instrumento que pode representar uma espécie de ágora são as Audiências Públicas, se não fosse a desapropriação linguística (termos vernáculos e técnicos) de uma parte considerável da audiência, e um Estudo de Impacto Ambiental nem sempre confiável para a realidade, que é evidenciado na execução dos trabalhos. A política energética brasileira, nas últimas décadas, em nome do crescimento e do desenvolvimento do país, financiou a construção de grandes projetos hidrelétricos que resultaram na alteração da paisagem, flora, fauna e deslocamento de grupos humanos (aldeias indígenas, ribeirinhos, camponeses). As mudanças no substrato morfológico desses grupos, sua cosmologia, sua vulnerabilidade e os efeitos subsequentes não explicados pela economia formal são o que pretendemos discutir neste texto na categoria de vítimas do desenvolvimento.

 

Detalhes do artigo

Como Citar
Vítimas do desenvolvimento de empresas hidrelétricas no sul do Brasil. (2019). Administración Pública Y Sociedad (APyS), 8, 82-93. https://revistas.unc.edu.ar/index.php/APyS/article/view/26390
Seção
Artículos
Biografia do Autor

Arlene Renk, Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó

Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil.

Como Citar

Vítimas do desenvolvimento de empresas hidrelétricas no sul do Brasil. (2019). Administración Pública Y Sociedad (APyS), 8, 82-93. https://revistas.unc.edu.ar/index.php/APyS/article/view/26390

Referências

BARON, Sadi. UHE Foz do Chapecó: estratégias, conflitos e desenvolvimento regional. Chapecó: Unochapecó, 2012 (Dissertação de Mestrado).

BOAMAR, Paulo Fernando de Azambuja. A implantação de empreendimento hidrelétricos. O caso da UHE da Machadinho. Florianópolis: UFSC, 2003 (Dissertação de mestrado).

BRASIL. Resolução 09/87 de Conselho Nacional do Meio Ambiente. CONAMA. www.mma.gov.br/port/conama/res/res87/res0987.html acesso em 15 de junho de 2017. CANALI, Gilberto Valente. A definição e a importância do Projeto Uruguai. SANTOS, Silvio Coelho dos e REIS, Maria José (Orgs.) Memórias do Setor Elétrico na Região Sul. UFSC, 2002, p. 99-110.

CMB. Barragens e Desenvolvimento: um novo modelo de toma de decisões. 1. ed. London: Earthscan Publication Ltd, 2000.

FRANCO, Georgeana. Barragens e barrageiros: um estudo sobre os processos de construção

de identidades coletivas em uma área de empreendimentos hidrelétricos. Curitiba: UFFPr. (Dissertação de Mestrado em Antropologia), 2007.

GAVIRIA, Edwin Albert Muñoz. “A licença social para operar” na mineração industrial e a produção empresarial da dominação. 37. Encontro Anual da ANPOCS, 2015.

GUDYNAS, Eduardo. Estado compensador y nuevos extrativismos – las ambivalências del progressismo sudamericano. Nueva Sociedad n. 237, p.128-146, 2012.

MAGALHÃES, Sonia Maria Simões Barbosa Santos. Lamento e dor. Uma análise sócio- antropológica do deslocamento compulsório provocado pela construção de barragens. Belem/Paris. UFPA/Université Paris 13, 2007.

MALERBA, Juliana (org.). As diferentes formas de dizer não. Experiências internacionais de resistência, restrição e proibição ao extrativismo mineral. Rio de Janeiro: FASE, 2014. MILANEZ, Bruno; SALLES, Rodrigo; GIFFONI, Raquel. Mineração e violação de direitos humanos: uma abordagem construcionista. Homa Publica. Revista Internacional de Direitos Humanos e Empresas. Juiz de Fora, vol. 1, 2016, p. 3-40.

NADER, Laura, Harmonia Coercitiva: a Economia Política dos Modelos Jurídicos. In. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 1994, 29(9): 18-29.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO OIT. Convenção n. 169 sobre povos indígenas e tribais. www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5051.htm. Acessado em 10 de junho de 2017.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConte udo=576>. Acesso em: 8 dez. 2014.

NOBREGA, R. S. Os atingidos por barragens - refugiados de uma guerra desconhecida. Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XIX, Nº 36, p. 125-143, jan./jun. 2011.

REIS, Maria José. De “camponês” a “atingido” aspectos sociais das barragens do Uruguai. Caxambu: XII ANPOCS, 1989.

_____. O Movimento dos Atingidos por Barragens: atores, estratégias de lutas e conquistas.

Anais do II Seminário Nacional Movimentos Sociais, Participação e Democracia. Florianópolis: UFSC, 2007.

RIBEIRO, Gustavo Lins. Diversidade Cultural enquanto Discurso Global. Avá Revista de Antropología, n. 15. Universidad Nacional de Misiones, Diciembro, 2009, p. 9-38.

ROCHA, Humberto José. Configuração social e suas implicações na negociação para a instalação da UHE Foz do Chapecó. In: Reunião de Antropologia do Mercosul, 9, Curitiba (PR), jul. 2011. ROCHA, Humberto José. Relações de poder na hidroeletricidade: a instalação da UHE Foz do Chapecó na bacia do Rio Uruguai. Unicamp, 2012 (Tese de doutorado).

SANTOS, Silvio Coelho. “A história da eletricidade no Sul”. SANTOS, Silvio Coelho dos e REIS, Maria José (Orgs.) Memórias do Setor Elétrico na Região Sul. UFSC, 2002, p. 19-30.

SEVÁ, Arsênio Oswaldo Filho. “Conhecimento crítico das mega-hidrelétricas: para avaliar de outro modo alterações naturais, transformações sociais e a destruição de monumentos fluviais. 2.ANPPAS, 2004.

SIGAUD, Lygia. Efeitos sociais de grandes projetos hidrelétricos: as barragens de Sobradinho e Machadinho. Rio de Janeiro: PPGA/MN Comunicação n. 09, 1986.

_____. Os efeitos das tecnologias sobre as comunidades rurais: o caso das grandes barragens. RBCS, n. 18, São Paulo, 1992.

SVAMPA, Maristella. El “Consenso de Commodities” y linguajes de valoración em America Latina. Realidad Económica No 264, 11-12/2011, disponivel em www.iade.org.ar/uploads/c87bbfe5-d90c-6211. Acesso em 15 de abril de 2018.

VAINER, Carlos B.. O conceito de atingido – Uma revisão do debate e diretrizes. In: CARRIZO, Cecilia; BERGER, Mauricio (compiladores). Justicia ambiental y Creatividad Democrática. Córdoba: Alción, 2012, p. 95-118.

ZHOURI, Andrea; OLIVEIRA, Raquel. Desenvolvimento, conflitos sociais e violência no Brasil rural: o caso das usinas hidrelétricas. Ambiente & Sociedade. Vol x(2), 2007, p. 119-135. ZHOURI, Andrea (org.). Mineração, violências e resistências: um campo aberto à produção do conhecimento no Brasil. Mara bá: iGuana Editorial; ABA, 2018.

ZORNITA, Lindacir. A percepção socioambiental dos pescadores atingidos pela Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó. Unochapecó, 2015 (dissertação de mestrado).

WORLD COMMISSION ON DAMS. Dams and Development: a new framework for decision making. London: Earthscan, 2000.