Convocatória

Convite para publicação no dossier: Narrar a crise ecológico-civilizacional a partir da América Latina/Abya Yala. Entre colapsos e futuros possíveis

(Até 28/02/2025)

Há várias décadas, o campo da Ecologia Política vem se estabelecendo como um espaço frutífero de pesquisa e debate sobre a persistente colonialidade da natureza na América Latina (Escobar, 2000; Leff, 2003; Alimonda, 2011). A partir de uma abordagem transdisciplinar e anfíbia, tem conseguido incorporar o debate ecológico no campo das ciências humanas e sociais, actualizando quadros e abrindo novas abordagens à heterogeneidade e complexidade sociopolítica dos territórios latino-americanos.

Chegamos assim a um presente, neste século XXI, em que a crise ecológico-civilizacional se acelera sob a forma de pandemias e da proliferação de novas zoonoses, de fenómenos climáticos extremos e do colapso da habitabilidade urbano-moderna, entre outras manifestações. Que quadros temos para a compreender? Que conceitos, categorias, perspectivas podemos escrutinar para dar conta da complexidade deste tempo? Quais são algumas das singularidades e persistências deste tempo em que, nas palavras de Chakrabarty (2009), a distinção entre história natural e história social entra em colapso?

Neste quadro, interrogamo-nos sobre os contributos da ampla tradição do pensamento latino-americano para o campo ecológico-político que nos permitem refletir e problematizar este quadro de forma situada. Assim, entendemos os fios e tramas que conectam a ecologia política ao pensamento ambiental (Maya, 1995; Noguera de Echeverri, 2004), à ontologia política (De la Cadena, Blaser, 2018; Escobar, 2012), ao perspetivismo ameríndio (Viveiros de Castro, 2013), à filosofia/libertação latino-americana (Kusch, 1976; Dussel, 1977) ou à política da comunalidade (Gutiérrez Aguilar, 2008; Martínez Luna, 2010), apenas para dar algumas referências. Estas perspectivas permitem-nos procurar pistas geo-epistémicas para abordar esta crise atual a partir da perspetiva da Nossa América. Diante dos limites analíticos e das propostas anacrónicas que ainda proliferam a partir da racionalidade moderna e toda a sua carga de desdesenvolvimento, os imaginários do fim do mundo, as ideias em torno do colapso, as noções de futuro e as transições possíveis merecem ser problematizadas e narradas a partir de uma chave eco-política profundamente enraizada no solo de Abya Yala.

Nesta linha, sob o quadro geral da crise ecológico-civilizacional, convidamo-lo a participar com artigos que contribuam para valorizar e alimentar este fértil campo de debate latino-americano, quer através da revisão e atualização de autores e categorias clássicas, quer através da reflexão sobre novas propostas epistémico-políticas.

Tópicos de interesse especial:

- Disputas em torno dos bens comuns e alternativas ao desenvolvimento.

- Intervenções académicas sobre problemas e conflitos sócio-territoriais.

Sentidos do colapso na América Latina. Do local ao global. Da Conquista à atualidade.

- Imaginários do futuro face à crise: que narrativas estão a ser construídas nesta parte do mundo?

- Debates sobre o Antropoceno/Capitaloceno/Afinidades.

- Reflexões e indagações teóricas sobre a relação entre natureza(s), política e sociedade(s).

- Contribuições do pensamento ambiental latino-americano, da filosofia e da história ambiental.

Editores convidados:

Leonardo Rossi (IRES-CONICET) e Matías Borrastero (CIECS-CONICET-UNC)

Referências bibliográficas (mencionadas na justificação):

Alimonda, H. (2011). La colonialidad de la naturaleza. Una aproximación a la Ecología Política Latinoamericana (pp. 21-58). En Alimonda, H. (coord.) (2011), La Naturaleza colonizada. Ecología política y minería en América Latina, CLACSO: Buenos Aires.

Chakrabarty, D. (2009), The Climate of History: Four Theses, en Critical Inquiry, Vol. 35, No. 2, pp. 197-222: Chicago.

De la Cadena, M.; Blaser, M. (eds.) (2018), A world of many worlds, Duke University Press: Durham & London;

Dussel, E. (1977), Filosofía de la liberación. Edicol: México.

Escobar, A. (2000), La naturaleza del lugar y el lugar de la naturaleza: ¿globalización o posdesarrollo?, en Lander, E. (comp.) (2000), La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latinoamericanas, Ediciones CICCUS/CLACSO: Buenos Aires.

Escobar, A. (2012), Cultura y diferencia: la ontología política del campo de cultura y desarrollo, en Walekeru. Revista de Investigación en Cultura y Desarrollo, Nro. 2, pp. 7-17.

Gutiérrez Aguilar, R. (2008). Los ritmos del Pachakuti Movilización y levantamiento popular-indígena en Bolivia (2000-2005). Tinta Limón: Buenos Aires.

Kusch, R. (1976), Geocultura del hombre americano, Ediciones Fernando García Cambeiro: Buenos Aires.

Leff, E. (2003), Ecología Política en América Latina: un campo en construcción. En Sociedade e Estado, v. 18, n. 1/2, p. 17-40: Brasília.

Martínez Luna, J. (2010), Eso que llaman comunalidad, Consejo Nacional para la Cultura y las Artes: Oaxaca.

Maya, A. Á. (1995). La fragilidad ambiental de la cultura, Universidad Nacional de Colombia - Instituto de Estudios Ambientales: Bogotá.

Noguera de Echeverri, A. P. (2004), El reencantamiento del mundo. Instituto de Estudios Ambientales (IDEA): Manizales.

Viveiros de Castro, E. (2013), La mirada del jaguar. Introducción al perspectivismo amerindio. Entrevistas. Tinta Limón: Buenos Aires.