Quando as comunidades fazem suas barreiras frente à pandemia:
estratégias de defesa da vida e dos territórios das comunidades caiçaras de Trindade e Praia do Sono, Paraty-RJ, Brasil
Resumo
Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou a pandemia global de coronavírus. A repercussão na América Latina / Abya Yala foi imediata e diferentes medidas de confinamento e distanciamento social foram observadas. Como a pandemia pode fazer emergir, revelar e produzir barreiras e controles de populações e territórios que antes pareciam adormecidos ou latentes? Como algumas formas de barreiras são feitas não só pelo Estado, mas também por iniciativa das comunidades? A experiência social da pandemia e das formas de enfrentamento comunitário tem muito a nos ensinar sobre a dinâmica socioterritorial e política que ocorre hoje em vários cantos do continente. Este artigo apresenta as experiências de barreiras comunitárias feitas em duas comunidades tradicionais caiçaras no município de Paraty, estado do Rio de Janeiro, Brasil. São as comunidades da Praia do Sono e Trindade que promoveram bloqueios em defesa da vida e do território, em situações de conflito e negociação com os poderes do Estado. As comunidades caiçaras são grupos que se formaram a partir da mistura étnico-cultural entre povos indígenas, colonos europeus e descendentes de africanos escravizados, assentados em áreas litorâneas entre os estados do Paraná e Rio de Janeiro. Essas comunidades são historicamente marcadas por conflitos e lutas territoriais. As barreiras foram estabelecidas através de arranjos comunitários, dada a impossibilidade de o poder público garantir o isolamento e a segurança física destas populações tradicionais, constantemente assediadas pelo turismo. Fazer a barreira não tem apenas como significado o fechamento de territórios, mas também a construção de formas mais autônomas de gestão da vida.
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