Do desconforto à problematização das memórias territoriais na Cidade das Artes

Resumo

Neste artigo, pretendo refletir sobre uma trajetória de construção de memórias na e da sala de aula, buscando ler em perspectiva as articulações entre ensino e extensão em uma série de experiências educacionais - das quais participei - que, alimentadas por diálogos com a comunidade organizada, tentaram permear a estrutura da educação formal.
Estamos localizados na cidade de Córdoba, na Ciudad de las Artes, atual sede da Universidade Provincial de Córdoba. As mesmas instalações onde, décadas atrás, funcionou o Destacamento de Inteligência durante a última ditadura civil-militar e que foi uma parte nevrálgica do aparato repressivo da província de Córdoba. Nesse local, a partir da Tecnicatura Superior em Fotografia, desenvolvemos uma série de experiências estético-educativas que buscavam promover processos de reflexão e conscientização na comunidade educacional e na sociedade em geral.
Recupero minha experiência como docente nessa universidade, desafiada pela motivação de problematizar os modos de habitar os espaços de formação artística, inscritos em suas próprias historicidades. Para tanto, proponho-me a refletir sobre as interseções entre educação popular, pedagogia da memória e extensão universitária; e, a partir daí, abordar a questão de sua potência transformadora, como experiência subjetivadora que possibilita diferentes processos de interação e interpelação. Vou me concentrar em uma das experiências, a criação do EX 141 M Parque de Memórias Cinéticas, devido à sua capacidade de ampliar o diálogo com a comunidade, abrindo diferentes círculos de interação. Dado que se trata de experiências educativas e extensionistas um tanto atípicas - em que a noção de territorialidade da experiência se sobrepõe à do espaço educativo em que são geradas -, cabe-me também refletir sobre a pertinência de considerar sua inscrição no modelo de extensão crítica.