Tesis

Engagement Acadêmico

Contributos das tecnologias digitais para um processo [trans] formativo nas relações de engajamento na Educação Superior

Rosa Maria Rigo

E-mail: rosa.rigo01@gmail.com Tese de Doutorado em Educação

Orientadora: Marilia Costa Morosini - Co-orientador: José António Marques Moreira. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/PUCRS/BRASIL.

Data da defesa: 21 de janeiro de 2020.

Introdução

Esta síntese traz resultados de pesquisa oriundos do curso de Doutoramento em Educação, realizado em instituição localizada no Sul do Brasil, abordando a temática do Engagement Acadêmico na Educação Superior. Para tanto, consideramos as tecnologias digitais como contributos indispensáveis para um processo [trans]formativo nas relações de engagement dos estudantes, sobretudo no primeiro ano da graduação, momento considerado de difícil transição.

No contexto internacional, o vocábulo “engagement” tem sido apontado como a variável transversal mais influente no que se refere a aderência aos estudos e resultados de aprendizagem, de acordo com pesquisas realizadas pela National Survey of Student Engagement (NSSE, 2017), Center for Post Secondary Research Indiana University School of Education. Contudo, dada à amplitude do campo semântico envolvendo o vocábulo engagement, convém apresentar os principais usos de tal termo, segundo os distintos contextos a que ele pertence (pessoal, moral, social, profissional, identitário, acadêmico, relacional...) que, por se referirem a aspectos distintos, podem ser analisados separadamente pelas diferentes áreas do conhecimento científico. Neste estudo especificamente, nosso foco enfatiza especificamente, o ambiente acadêmico, mais especificamente ao engagement dos estudantes do primeiro ano da graduação no Ensino Superior, razão pela qual denominamos de “engagement acadêmico”.

Para Schaufeli, Dijkstra e Vasquez (2013), o engagement é identificado como um estado psicológico positivo relacionado com o trabalho que está caracterizado pelas variáveis vigor, dedicação e absorção. Sob esta perspectiva, o vigor se caracteriza por altos níveis de energia, persistência e desejo de esforçar- se mais, resiliência mental quando trabalha. Já a dedicação remete ao sentimento de estar plenamente envolvido realizando o trabalho, inspiração, orgulho, desafio, objetivo, significado e entusiasmo. E, a absorção, se caracteriza pelo sentimento de sentir-se plenamente concentrado e realizado. Como fator vinculado à qualidade da experiência vital dos estudantes em sua trajetória universitária, o engagement permite ir além dos resultados acadêmicos, possibilitando analisar também outras dimensões importantes do contexto universitário (participação, sentimento de pertença, qualidade da aprendizagem e relações interpessoais).

No entendimento que este estudo assume como questão relevante, buscamos avaliar suas

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implicações ou seu próprio sentido quando aplicado ao âmbito educativo, eivado de tensões que facilitam ou obstaculizam o engagement dos alunos. Nesta diretiva elegemos como problematização analisar: Quais fatores mais contribuem para promover o engagement de estudantes do primeiro ano da graduação? E, tendo como questões norteadoras: a) Quais os princípios mais recorrentes foram evidenciados no Estado da Arte, no que se refere ao engagement acadêmico no primeiro ano na universidade? b) Que iniciativas - oferecidas pela universidade - os estudantes do primeiro ano consideram mais positivas para quem se vê frente ao desafio de estar na Universidade? c) Que papel exerce a tecnologia na aprendizagem dos estudantes de primeiro ano na Educação Superior? d) Quais os fatores que mais favorecem o engagement de estudantes de primeiro ano na graduação na ótica dos sujeitos investigados?

Educação Superior: Promovendo o Engagement acadêmico com tecnologias digitais

Estudos de Trowler e Trowler (2010), apontam que a literatura da área apresenta uma gama muito variada de veios teóricos para pesquisa, envolvendo a temática do engagement no ambiente educacional. Corrobora Krause (2005), ao acrescentar que este conceito é muito amplo, o que exige múltiplas lentes para compreendê-lo, mapeá-lo ou interpretá-lo. Dentre as inúmeras lentes interpretativas destacam-se diversos eixos temáticos, os quais envolvem: dimensões, focos, tipologias, escalas, metas, razões, bem como engagement institucional. Desse modo, considera-se que, sob o manto do engagement dos estudantes muitas são as possibilidades de estudo e investigação cujo intuito é envolver, engajar e manter os estudantes no contexto educativo.

Em vista dessa pluralidade, Ikenberry, Ewell & Kuh (2016), consideram importante o envolvimento de todas as instâncias institucionais. Este esforço coletivo deve primar pela qualidade educacional ofertada. Nesse sentido, sugerem um conjunto de perguntas básicas que podem ser feitas para saber se a qualidade acadêmica de uma Instituição pode ser garantida: a) Qual é a qualidade do nosso produto (avaliação da aprendizagem)?; b) Quão bom nós somos em fazer nosso produto (retenção e fluxo do estudante)?; c) Os nossos clientes estão satisfeitos (inquéritos aos estudantes e aos empregadores)?; d) Temos a combinação certa de produtos (revisão do programa)?; e) Será que, em última análise, temos condições para fazer credenciamento institucional?.

Para atender satisfatoriamente todas estas questões, Janzen, Perry e Edwards (2011), e Edwards, Scully e Brtek (2000) sugerem que conteúdos ofertados possam ocorrer em múltiplos planos simultaneamente, ou seja, conteúdos que propiciem um aprendizado multidimensional. Propõem que, as dimensões da cognição, da experiência, da corporeidade, do comportamento, da sociabilidade, da espiritualidade, da tecnologia, das emoções e da cultura se tornem pistas para condutas do envolvimento e consequente engagement dos alunos. Quanto mais dimensões os professores consigam alcançar, potencialmente os estudantes mais envolvidos se tornarão. Uma interação multidimensional (professor-aluno, aluno-aluno, conteúdo) é postulada para promover um aprendizado mais profundo, onde, estratégias criativas e inovadoras têm o potencial de alcançar múltiplas dimensões, influenciar, inspirar e envolver, promovendo engajamento e aprendizagem. E, para que constructos mais profícuos possam ocorrer, a ênfase recai sobre o uso confiável e mais produtivo que as tecnologias digitais podem proporcionar à educação.

A partir da utilização de tecnologias disruptivas ampliam-se as possibilidades para o campo

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educacional, oportunizando a criação de espaços lúdico-didáticos fundamentais para um engagement estudantil bem-sucedido. Em tempos de recorrentes transformações apoiar os estudantes de forma sólida e educativamente responsável exige das instituições de ensino respostas sustentadas por políticas operacionalizadas e sustentadas pelas tecnologias digitais. Nestes ambientes deve-se levar em conta que as tecnologias já se tornaram onipresentes na vida dos alunos, razão pela qual estas precisam também instrumentalizar a academia, para que o aluno sinta o desejo de engajar-se e permanecer no ambiente educativo. Para Kvavik e Caruso (2005), aos olhos dos alunos as tecnologias permitem: a) Acesso conveniente à informação e apoio; b) Recursos on-line prontamente disponíveis;

c)Tempo de resposta rápido; d) Dispositivos convergidos, com redes e suporte técnico disponível, dentre outras possibilidades. Isto significa para Moreira e Vieira (2017), reconhecer a necessidade de alicerçar nossos saberes com iniciativas caracterizadas pela conectividade, rapidez, fluidez e abertura, para desencadear alternativas destinadas a melhorar a qualidade dos processos pedagógicos.

De modo visível e cada dia mais conectado, ambientes de aprendizagem inovam-se constantemente, oferecendo opções para que os alunos possam interagir com áreas diversas, possibilitando nutrir-se com informações oriundas de diferentes fontes. Essa nutrição encontra aportes mais significativos onde contributos como interação, exploração, relevância e instrução se destacam (Parsons & Taylor, 2011). Trata se portanto de assentar o discurso em princípios de interação, equidade, e colaboração, a partir de um diálogo aberto e permanente, permeado pelo digital para que o engagement acadêmico alcance um verdadeiro intercâmbio de interesses, metas e aspirações individuais e institucionais.

Percursos metodológicos

Para o desenvolvimento de nossa investigação muitas foram as escolhas que tivemos que definir. Dentre elas, os participantes, o contexto da pesquisa, os instrumentos utilizados para coleta de dados, as técnicas para análise dos dados, assim como a abordagem dada ao estudo. Para tanto, foram analisados estudos e pesquisas abarcando: Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, África do Sul, Inglaterra, Irlanda, Portugal dentre outros (pesquisa bibliográfica). Optamos para a coleta dos dados por um questionário on-line, aplicado a estudantes de seis instituições localizadas em três diferentes estados brasileiros, voltado ao primeiro ano da graduação, período em que maior índice de evasão/ abandono universitário acontece.

O questionário foi organizado em quatro módulos, contendo quatro questões fechados e uma aberta, totalizando vinte questões. As questões objetivaram analisar: No módulo 1 - Ambiente acadêmico do curso escolhido - saber como o aluno se vê frente ao desafio de estar na Universidade; No módulo 2 - ambiente de sala de aula -, buscamos saber como o aluno se sente em sala de aula (entusiasmo, otimismo, curiosidade, interesse, aprendizado); O módulo 3 - ambiente tecnológico tratou de saber como a tecnologia se relaciona com a aprendizagem na percepção dos estudantes; e por fim, o módulo 4- ambiente no campus - buscamos saber como o aluno se sente no Campus da Universidade.

Para análise dos dados coletados optamos por uma metodologia combinada. Para Yin (2007) a combinação de metodologias possibilita a triangulação como fundamento lógico para fontes múltiplas de evidências, viabilizando a produção de uma análise mais completa e confiável para o estudo de caso. Denzin e Lincoln (2005) definem a triangulação como uma combinação de metodologias

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diferentes para analisar o mesmo fenômeno, de modo a consolidar uma nova teoria.

Resultados iniciais

Àluz deste estudo, após análise e categorização das respostas do questionário, constatamos que os sujeitos pesquisados elegeram os seguintes fatores como os que mais promovem o engagement acadêmico no primeiro ano da graduação: (1) Relações Interpessoais (apoio de amigos e colegas);

(2)Formação Acadêmica (atitudes, personalidade, didática, envolvimento e comprometimento do professor); (3) Tecnologias Digitais (internet e suas recursividades); (4) Infraestrutura (salas de aula, áreas do campus, espaços para pesquisa, espaços para alimentação, biblioteca, comodidade e facilidade de acesso ao ambiente universitário); (5) Formação Pessoal (foco, dedicação, disciplina, força de vontade, interesse do próprio aluno); (6) Suporte Acadêmico (setores de apoio); (7) Conteúdos (conteúdos atualizados que possibilitem dialogar com outras disciplinas); (8) Áreas de Lazer (espaços para descanso); (9) Sentimento de pertença (sentir que faz parte de algo maior).

Resultados finais

Como proposição de tese de doutoramento em educação, os resultados auferidos pela pesquisa alicerçaram nossa Proposta de Teoria Integrada de Engagement Acadêmico para o contexto brasileiro, contemplando os quatro ambientes idealizados no princípio deste estudo: 1) Ambiente Acadêmico do curso, 2) Ambiente da Sala de aula, 3) Ambiente Tecnológico e 4) Ambiente do Campus. Desse modo nossa teoria integrada elegeu princípios amparados por tecnologias digitais como pontos fulcrais para promover o engagement acadêmico. Esta proposta de teoria integrada de engagement acadêmico contempla: 1) Princípios norteadores, como promotores do engagement; 2) Princípios para desenvolver uma cultura de engagement nas Instituições; 3) Valores para despertar o intertravamento de interesses entre (estudantes, professores, setores de apoio e equipes de gestão);

4)Dimensões e estratégias amparadas por tecnologias digitais para a sala de aula; 5) Laços entre discentes e docentes a serem desenvolvidos; e para o ambiente do campus a proposição 6) Engajar em movimento a partir de tecnologias móveis – que consiste em apoio de estudantes das séries finais aos recém-chegados a Universidade para que possam desenvolver requisitos básicos de engagement - (social institucional e intelectual).

Considerações finais

Ao retomarmos a questão central desta tese de doutoramento em educação que buscando identificar - quais os fatores que mais contribuem para promover o engagement de estudantes do primeiro ano da graduação -, consideramos que a pesquisa ofertou contributos para a elaboração de uma teoria integrada alicerçada por tecnologias digitais como alternativas para promover o engagement acadêmico no ensino superior, adequada ao ambiente acadêmico brasileiro. Esta proposição de tese envolve um conjunto de ações com o propósito de viabilizar acesso a componentes indispensáveis para uma formação engajada para acesso às diferentes fontes de conhecimento, com alternativas capazes de encorajar, engajar e envolver os estudantes em seu processo de aprendizagem. Para tanto, as tecnologias digitais são contributos indispensáveis para a proposição de abordagens pedagógicas que favoreçam a interatividade, a conectividade, o envolvimento em torno de um traço comum - a busca por conhecimentos potencialmente diferenciados, a sólida formação técnica e ética no sentido

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de possibilitar aos estudantes tirar o melhor proveito de si mesmos, atentando para suas necessidades e expectativas, ajudando-os a atingir potencial pleno, construtivo e reflexivo.

Nesta diretiva, esta tese reitera a necessidade de se utilizar as tecnologias digitais como contributos indispensáveis à promoção de processos trans[formativos] nas relações de engagement acadêmico na educação superior com alternativa para constructos pedagógicos mais profícuos. Acreditamos que nossa proposta de teoria integrada para o âmbito educativo busca: envolver o estudante em seu processo de aprendizagem e engagement, promovendo uma busca intelectual comum onde - “professor, aluno e instituição” - se propõem a autodesenvolver-se em sinergia, objetivando atuar de forma transversal e integrada, antecipando-se as necessidades, aos desafios pedagógicos e às futuras oportunidades de trabalho.

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