Análise de crenças de autoeficácia - 2
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 36, n.o 2 (2024) 88
Dessa perspectiva, duas medições foram realizadas, antes e após uma intervenção pedagógica, por meios dos
instrumentos de Rocha y Ricardo (2019) e Han et al. (2015). A intervenção contida nos materiais pedagógicos (i.e., no
conteúdo audiovisual dos vídeos explicativos e no acréscimo de feedbacks nas atividades de fixação) foi disponibili-
zada ao grupo denominado Experimental (durante quinze dias). Enquanto isso, o grupo que recebeu o material
convencional (sem animações e feedback) foi nomeado de Controle. Esse design permitiu comparar os possíveis efei-
tos das propostas pedagógicas nos dois grupos e, também, avaliar a existência de relações entre as variáveis
socioeconômicas e as crenças de autoeficácia na disciplina de Física.
Os valores baixos do coeficiente Alfa de Cronbach nos pré e pós-testes de Mecânica Newtoniana (= 0,268 e = -
0,067) revelam a dificuldade de – mesmo utilizando um questionário curto, testado e validado – mensurar o nível de
compreensão de uma teoria científica, demonstrando que isso não é uma tarefa trivial, sobretudo em conjunturas
escolares tão desfavoráveis como a da presente pesquisa. Em outros termos, a baixa fiabilidade destes revela que boa
parte das respostas a esses testes foram aleatórias – advindas ou não da leitura prévia do material – e, portanto, não
foi possível mensurar seus níveis de compreensão e tampouco examinar correlações entre o desempenho e outras
variáveis.
Nesse ponto, destaca-se o valoroso instrumento proposto por Rocha e Ricardo (2019) que, com pequenas adap-
tações (Ferreira et al., 2023), possibilitou mensurar com confiança (= 0,874 e = 0,812) o nível das crenças de
autoeficácia dos estudantes, mesmo em um contexto tão desafiador. Essas medidas foram utilizadas para avaliar pos-
síveis impactos das sequências didáticas nas crenças de autoeficácia e, de modo exploratório, examinar correlações
entre essas percepções e os recortes socioeconômicos dos estudantes. Na ótica da TSC, parte substancial do desen-
volvimento humano decorre de transações agênticas, nas quais as pessoas são produtoras e produtos de seus
ambientes e sistemas sociais (Pajares y Olaz, 2008). Desse modo, a busca por correlações entre as crenças e as carac-
terísticas sociais e econômicas permite identificar tendências relevantes dentro das dinâmicas educacionais e, em
particular, do ensino e da aprendizagem de Física desde a Educação Básica.
Os 170 estudantes que participaram das medições inicial (57,2 ± 13,7 DP) e final (57,4 ± 13,2 DP) apresentaram
uma sutil elevação (0,2%) no nível das crenças de autoeficácia para o desempenho na disciplina de Física, diferença
que não foi estatisticamente significativa (p = 0,786). Em um outro recorte, o Grupo Experimental apresentou um
aumento de 0,5%, enquanto o Grupo Controle apresentou uma diminuição de 0,2%. Mesmo assim, essas diferenças
não foram estatisticamente significativas (pTukey= 0,945 e pTukey= 0,997), adotando-se o grau de confiança de 95%.
Dessa maneira, mais estudos são necessários para confirmar ou não os impactos do uso de vídeos como na interven-
ção pedagógica proposta no sistema de crenças e concepções teóricas dos estudantes.
De forma exploratória, foram realizadas diversas análises estatísticas para verificar a existência de correlações
significativas entre os níveis de autoeficácia em relação à disciplina de Física e dez variáveis (independentes), duas
relativas à abordagem e oito relativas a características socioeconômicas, respectivamente: 1) o Formato (virtual ou
híbrido); 2) o Grupo (Experimental ou Controle); 3) o sexo; 4) a cor ou a raça; 5) a renda familiar; 6) se o estudante
trabalha; 7) o grau de escolaridade do pai; 8) o grau de escolaridade da mãe; 9) a forma de acesso ao ambiente virtual;
e 10) o número de aparelhos de acesso à internet disponíveis em casa. A partir da análise das 288 respostas iniciais,
foram identificadas correlações (estatisticamente significativas) entre o nível das crenças de eficácia pessoal e quatro
dessas variáveis:
(1) formato (F(2, 288) = 6,61, p = 0,011, η² = 0,023);
(3) sexo (F(2, 288) = 3,71, p < 0,001, η² = 0,050);
(5) renda familiar (F(8, 288) = 6,46, p = 0,002, η² = 0,044); e
(7) escolaridade do pai (F(5, 288) = 2,64, p = 0,034, η² = 0,036).
As sete (7) turmas que participaram no formato híbrido tiveram em média um nível (58,3 ± 14,1) cerca de 5%
superior às sete (7) turmas no formato virtual (54,2 ± 10,8). Isso foi corroborado pela fala de muitos estudantes que,
durante as aulas, manifestaram menos insatisfações com o formato híbrido em comparação com o virtual. Portanto,
o formato ou a estratégia pedagógica afetam os autojulgamentos dos estudantes, mas esse efeito parece ser menos
intenso do que aqueles relacionados aos marcadores sociais e econômicos. Os estudantes que afirmaram ser do sexo
masculino apresentaram um nível de autoeficácia (59,5 ± 12,7) cerca de 6% superior ao das estudantes que declararam
ser do sexo feminino (54,1 ± 12,4). Com a combinação das variáveis independentes, também se observou que havia
uma diferença de aproximadamente 12% quando comparadas às crenças das estudantes pretas com as dos estudan-
tes brancos.
Também foi observado que estudantes provenientes de famílias que não possuem renda mensal ou que possuem
renda mensal de até 1,5 salário-mínimo, apresentaram níveis inferiores em 15% e 12%, respectivamente, quando
comparados a estudantes de famílias em que a renda familiar estava entre 10 e 15 salários mínimos. Ainda foram