O uso do smartphone no ensino de ciências
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 36, n.o 2 (2024) 44
são exemplos significativos que retratam esse processo de mudança vivenciado. Se até os anos 2000, comunicávamo-
nos por cartas escritas e que demoravam meses até chegar aos destinatários, temos hoje uma série de recursos tec-
nológicos que permitem o diálogo e a interação em questão de segundos, em qualquer lugar do mundo. Machado e
Pastorio (2022) apontam para um processo de democratização no acesso a recursos mais modernos, fatos que eram
impensados em décadas passadas.
Nessa perspectiva, vivemos aquela que é conhecida como “sociedade da informação”. Muitos recursos tecnológi-
cos estão presentes na vida de grande parte das pessoas. Smartphones com aplicativos funcionais, computadores,
notebooks, que apresentam cada dia mais evoluções em termos tecnológicos, as quais proporcionam uma nova forma
de viver em sociedade. Conforme destaca Kenski (2003):
As tecnologias digitais introduzem uma nova dinâmica na compreensão das relações com o tempo e o espaço. A velocidade
das alterações, que ocorrem em todas as instâncias do conhecimento e que se apresentam com o permanente ofereci-
mento de inovações, desequilibra a previsibilidade do tempo do relógio e da produção em série. (p. 27)
Todos esses aparatos tecnológicos são classificados na literatura como Tecnologias Digitais de Informação e Co-
municação (TDIC). Os estudantes, na educação básica (EB) ou no ensino superior, não estão alheios a esse processo
dinâmico associado às tecnologias. É muito comum encontrarmos as salas de aulas com estudantes “conectados” com
seu smartphone, sendo uma das questões que preocupam as pesquisas recentes na EB, não apenas na realidade na-
cional, assim como mundialmente.
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de 2022 traz dados representativos. Segundo a pesquisa, o Brasil
tem, atualmente, mais de um smartphone por habitante. São 242 milhões de celulares em uso no país, que tem pouco
mais de 214 milhões de habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda se
adicionarmos notebooks e tablets nessa análise, são 352 milhões de dispositivos portáteis, o equivalente a 1,6 por
pessoa. Logo, é impensável não acreditar que esses recursos estarão cada vez mais presentes na realidade de sala de
aula.
Esse número maciço de recursos tecnológicos disponíveis indica a importância que a escola não seja excluída desse
processo. Conforme assinala Lemos (2020), o sistema educacional tem buscado a inserção desses dispositivos para
promover e potencializar o aprendizado dos conteúdos, influenciando na formação educacional e profissional dos
alunos. Para o autor, o diálogo que se estabelece entre o homem e a máquina, o qual chamamos de interação, possi-
bilita um novo patamar de interatividade para o usuário, ou seja, maior ação e controle sobre o ambiente que está
sendo explorado.
Conforme indicam Trentin, Silva e Rosa (2018), embora o currículo escolar ainda não esteja devidamente prepa-
rado para a inserção das TDIC no ensino, grande parte da comunidade acadêmica acredita que as tecnologias no en-
sino, e aqui em especial o de Física, contribuem de maneira significativa no aprendizado dos estudantes, tornando-os
profissionais mais “bem preparados.”
Por tudo que expomos até aqui, acreditamos ser fundamental refletirmos sobre a presença e o uso dos smartpho-
nes em sala de aula. Neste trabalho, pretendemos clarificar a pesquisa envolvendo os smartphones e evidenciar aos
professores da Educação Básica e do Ensino Superior as possibilidades e limitações do uso do smartphone no ensino
de Física e de Ciências, apresentando resultados relacionados ao processo de ensino e aprendizagem. Em outras pa-
lavras, apresentamos um duplo objetivo: alcançar professores e pesquisadores, fomentando o debate e a reflexão
acerca do uso destas TDIC nos processos de ensino e aprendizagem de Física e de Ciências.
Ao analisar outras revisões da literatura que abordam o uso de smartphones na educação e no ensino (Jesus
e Jesus, 2022), observamos que muitos artigos destacam um número relativamente pequeno de estudos em suas
análises. Esse número limitado de referências parece não ser suficiente para oferecer uma visão abrangente e deta-
lhada sobre o impacto dos smartphones no contexto educacional, especialmente para o Ensino de Física. Por essa
razão, na presente revisão, optamos por ampliar significativamente o número de trabalhos analisados, incluindo 100
estudos, com o intuito de fornecer uma perspectiva ampla e profunda sobre o tema, permitindo um entendimento
mais robusto e diversificado das questões envolvidas. Em contrapartida, outros artigos que também realizam revisões
da literatura sobre o uso de smartphones focam em compreender a dependência desse dispositivo no contexto social,
sem se concentrar diretamente em seu impacto na educação, objeto direto de estudo no texto aqui apresentado.
Devido à importância e necessidade discutidas, propomos uma Revisão Sistemática de Literatura (RSL) acerca do
uso de smartphones no EF e EC, respondendo a seguinte questão de pesquisa: Qual a natureza e as principais carac-
terísticas das publicações que utilizam o smartphone como recurso didático em práticas de sala de aula associadas ao
EF e EC?
Nas próximas seções, abordaremos o percurso metodológico desenvolvido, assim como as questões e o referencial
teórico analítico dos dados, além dos resultados, das conclusões e alguns desdobramentos pertinentes.