Uma aula de mecânica no parque de diversões
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 35, n.
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A educação não formal pode ser definida como a que proporciona a aprendizagem de conteúdos da escolarização formal
em espaços como museus, centros de ciências, ou qualquer outro em que as atividades sejam desenvolvidas de forma bem
direcionada, com um objetivo definido. (Vieira, 2005, p. 21)
As ideias apresentadas no parágrafo acima são convergentes com a literatura, sobretudo com os pressupostos de
Cascais e Terán (2014), os quais defendem que a discussão acerca dos conhecimentos científicos não pode ficar res-
trita ao ambiente escolar, fazendo-se necessário a extrapolação do saber científico a outros espaços, formais ou não
formais, institucionalizados ou não. Nesse bojo, ensinar alguns tópicos de mecânica num parque de diversões pode
ser uma estratégia eficaz na busca pela aprendizagem significativa, tendo em vista que os estudantes podem utilizar
a ludicidade desse espaço não institucionalizado para experimentarem e confirmarem ou não as teorias estudadas no
ambiente escolar.
As atividades educativas em ambientes não formais são geralmente baseadas em atividades práticas, a partir das
quais o discente tem o suporte para desenvolver a compreensão de conceitos e participar ativamente do seu processo
de aprendizagem. As propostas práticas são trazidas aos alunos por meio de um problema apresentado pelo professor,
e este problema aberto é crucial para a elaboração de um novo conhecimento. Segundo preconiza Bachelard (1996),
o conhecimento é uma resposta para uma questão a ser resolvida. Nesse bojo, a atividade prática induz perguntas a
serem respondidas com o uso de ferramentas contidas ou não nos conteúdos já estudados em sala de aula, e a procura
por tais respostas é o caminho que guia o indivíduo ao conhecimento, conforme colocado por Bachelard.
Além do que já foi exposto, é mister que atividades em espaços não formais de ensino se apresentam aos discentes
como algo mais interessante pelo fato de geralmente fazer parte do cotidiano dos mesmos. Ademais, tais atividades
costumam ser realizadas em companhia, induzindo a interação e a socialização; tudo isso convergindo para constituir
um campo fértil para a aprendizagem.
No que tange a aproximação dos conteúdos ao cotidiano dos estudantes, que usualmente é proporcionado por
atividades em espaços não formais, Freire (1996) já defendia que os professores deveriam aliar os saberes cotidianos
dos estudantes aos conteúdos programáticos, pois isso atrairia mais a atenção dos educandos e otimizaria o aprendi-
zado. A seguinte citação embasa o discutido neste parágrafo
…é bastante perceptível em nossa sociedade, que algumas atitudes, tais como: um sistema conteudista, ainda é bem visível,
da qual este sistema impossibilita se trabalhar verdadeiramente os saberes dos educandos, muitas vezes conteúdos que são
dissociados da realidade da criança são trabalhados de forma impregnada. Quando se trabalha os saberes dos educados,
pode-se observar que o desempenho e o desenvolvimento são diferenciados. O professor sábio aproveita as experiências
que tem seus alunos. Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não
respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela – saberes socialmente cons-
truídos na prática comunitária. (Freire, 1996, p. 30)
As palavras de Freire são referendadas por diversos autores, inclusive no cerne do ensino de Física; dentre os quais,
podemos citar Sérgio Duarte (2012), que estabelece a sensível diferença da percepção do docente em relação ao
aprendizado dos estudantes numa situação prática e noutra teórica. Duarte notou que os alunos se envolvem muito
mais nas situações similares àquelas proporcionadas pelos museus de ciências. Parte do que este autor narra pode
ser averiguado pela citação
… quando apresentamos experimentos simples para os estudantes, tais como cadeiras giratórias para demonstrar a con-
servação do momento angular ou mesmo o experimento em questão neste trabalho, em que fazemos relações entre a
distribuição de massas e forças aplicadas a halteres, a identificação do aluno com os resultados é imediata. Porém, ao
lançarmos no quadro as equações matemáticas que descrevem esses fenômenos, notamos que existe uma lacuna. A grande
maioria dos estudantes não consegue assimilar de forma satisfatória as relações existentes entre o modelo e o fenômeno
observado. (Duarte, 2012, p. 527)
Além dos pontos já apontados acerca do ensino em espaços não formais, aventa-se também a potencialidade que
aulas em espaços não formais possuem na condução da aprendizagem significativa, sobretudo pelo fato de que levar
o processo ensino-aprendizagem a locais que os estudantes conhecem e gostam de estar, pode trazer como conse-
quência ao estabelecimento de ideias âncoras, nas quais os novos conceitos serão relacionados. Dessa forma, a apren-
dizagem deixará de ser meramente repetitiva e poderá ser de fato significativa (Ausubel, 2000).
Continuando o ideário ausubeliano, Moreira (2008) preconiza que a aprendizagem seja significativa, faz-se neces-
sária a adoção de materiais potencialmente significativos, ou seja, o material a ser utilizado deve ser relacionável, ou
incorporável, à estrutura cognitiva do aprendiz, de maneira não arbitrária e não literal. É mister que materiais desen-
volvidos para uso em espaços não-formais têm grande probabilidade de serem potencialmente significativos, pois
trazem, geralmente, roteiros bem próximos ao dia a dia dos educandos, possibilitando assim que as atividades desen-
volvidas, além de extremamente instrutivas, sejam prazerosas. O conteúdo apresentado neste estudo converge às