Jogo de cartas sobre espectro eletromagnético
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 35, n.o 1 (2023) 96
I. INTRODUÇÃO
Em geral, as pessoas que frequentam o ambiente escolar ou acadêmico não sabem o conceito e as aplicações do
espectro eletromagnético no cotidiano. É comum surgirem fake news sobre este e outros assuntos, a citar como
exemplo recente, que foi muito compartilhado nas redes sociais, a postagem sobre o termômetro infravermelho ser
prejudicial à saúde e causar “lesões oculares” (Observador, 2020). Neste contexto, abordar o tema ondas
eletromagnéticas torna-se importante, seja em disciplinas de física em nível de ensino médio ou de graduação, bem
como em ações de divulgação científica, para que os alunos do ensino médio e dos cursos de graduação possam
conhecer as aplicações das radiações e os seus benefícios, que facilitam e dão praticidade às atividades humanas do
cotidiano, como por exemplo, falar ao telefone, se conectar a uma rede Wi-Fi ou fazer um exame diagnóstico com
radiação gama ou raios-X. Em paralelo, torna-se importante apresentar os cuidados que se deve tomar para evitar
exposição desnecessária à radiação, considerando que a exposição em excesso à radiação traz efeitos biológicos ao
corpo humano (Dafre e Maris, 2013; Lopes, Sousa e Libera, 2017).
Para que o tema radiações eletromagnéticas seja abordado nas salas de aula da educação básica no Brasil, com
responsabilidade e baseado em informações cientificamente corretas, é necessário que os professores em formação
inicial ou continuada conheçam o tema e saibam identificar as notícias falsas e verdadeiras, para que no exercício da
docência abordem o assunto com veracidade e alertando seus alunos para as possíveis fake news sobre o assunto.
Destaca-se que a formação inicial e continuada de professores, promovida nos cursos de graduação em licenciatura e
pós-graduação na área, tem sido uma temática frequentemente abordada na literatura (Marim e Bernardes, 2017;
Ferrasa e Miquelin, 2019), com discussões que envolvem a qualidade da formação do professor como uma das
variáveis fundamentais para promover mudanças que podem implicar em melhorias na educação básica.
Além de conhecer a matéria e o conteúdo que irá ensinar, o professor necessita de conhecimentos aprofundados
sobre como ensinar (Carvalho e Pérez, 2011). Neste ponto, cabe destacar que ao longo da sua formação inicial e
continuada, bem como no exercício da docência, o professor ganha experiência e domínio sobre quais estratégias de
ensino podem ser aplicadas ou não, a depender da turma que está trabalhando, ou do conteúdo em si, ou até mesmo
outras variáveis, externas à sala de aula, como a orientação pedagógica da escola, entre outros.
Entretanto, conhecer as ferramentas disponíveis, sobre metodologias e recursos didáticos para o ensino de
ciências, torna-se o ponto de partida para que este professor inove na sua prática em sala de aula. Para isso, o
conhecimento sobre as diferentes formas de ensinar ciências pode ocorrer por vários meios: durante o curso de
licenciatura, através da leitura de referências especializadas sobre o tema, ao cursar uma pós-graduação na área de
ensino, ou ainda, pode ocorrer fora do contexto acadêmico, como por exemplo, quando um professor no seu próprio
ambiente de trabalho está em constante diálogo com seus colegas de profissão, com intuito de compartilhar saberes
e experiências.
A formação inicial de professores de ciências envolve muitas variáveis, entretanto há um consenso na literatura
que há a necessidade de formar mais professores e com qualidade (Borges, 2006). Além disso, o avanço tecnológico
da sociedade atual tem imposto a necessidade de mudanças não só no contexto escolar, mas também na formação
inicial de professores (Anjos e Carbo, 2019). Os estudantes do ensino médio estão cada vez mais conectados com a
informação instantânea, e a formação inicial de professores deve incluir ao longo do curso oportunidades para que os
graduandos tenham contato com diferentes metodologias e recursos didáticos para o ensino de ciências. Nesta
perspectiva, tem-se como objetivo desenvolver nos acadêmicos o pensamento reflexivo sobre quais seriam as
melhores formas de se trabalhar os conteúdos de ciências para o público do ensino médio.
Nesta perspectiva, de promover a reflexão dos futuros docentes ainda na sua formação inicial sobre diferentes
metodologias para o ensino de ciências, delimita-se o presente trabalho no tema do espectro eletromagnético e suas
aplicações. Entre as diferentes possibilidades de trabalhar o tema de radiações eletromagnéticas, optou-se pela
temática de jogos para o ensino de ciências, em particular um jogo de cartas. Quanto à aplicação de jogos no ensino,
vários autores apresentam propostas de jogos de cartas para o ensino de ciências (Gomes e Santos, 2022), fato que
demonstra a potencialidade dos jogos serem aplicáveis para promover a compreensão dos assuntos abordados de
forma mais dinâmica e prazerosa.
Destaca-se aqui que a utilização de jogos de cartas para o ensino de física é um tema presente na literatura, como
apresentado por Fontes et al. (2016); Araújo e Santos (2018); Santos et al. (2020); Nascimento et al. (2020); Machado,
Santos e Ghidini (2021); entre outros, os quais corroboram com o posicionamento de que é importante apresentar
atividades lúdicas durante a formação inicial de professores para que eles ainda na graduação experimentem recursos
diferentes, em particular jogos didáticos para o ensino de ciências, objeto de estudo do presente trabalho. Não
somente no contexto no qual os acadêmicos constroem e aplicam algum jogo didático sobre algum tema específico
da área de conhecimento de sua formação (Azevedo, Ramos e Benetti, 2021; Barbosa e Rocha, 2022), mas, sobretudo,
no qual vivenciam o uso deste recurso dentro de algumas disciplinas que compõem a grade curricular do curso de
licenciatura.