VOLUMEN 33, NÚMERO 2 | Número especial | PP. 253-258
ISSN: 2250-6101
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 253
La evaluación del presente artículo estuvo a cargo de la organización de la XIV Conferencia Interamericana de Educación en Física
Diário do céu: formação continuada e
práxis docente em astronomia
Diary of sky: continuing education and teaching
praxis in astronomy
André Luis Cordeiro Garcia
1
*, Roberto Nardi
2
1
UNESP/ Bauru, São Paulo, Brasil. Programa de Pós-graduação em Educação para a Ciência.
2
UNESP/ Bauru, São Paulo, Brasil. Departamento de Educação. Faculdade de Ciências.
*E-mail: alc.garcia@unesp.br; r.nardi@unesp.br
Recibido el 15 de junio de 2021 | Aceptado el 1 de septiembre de 2021
Resumo
Este artigo tem como objetivo mostrar a relevância da formação continuada em astronomia a professores “generalistas”, graduados
em Pedagogia, uma área de conhecimento que raramente mantém contato com disciplinas dessa natureza. O curso de extensão uni-
versitária “Diário do Céu Introdução à Astronomia e seu ensino para professores da Educação Básica”, mostrou-se uma grande opor-
tunidade de aperfeiçoamento cnico-profissional a professores pertencentes à rede municipal de ensino de uma cidade localizada no
interior do estado de o Paulo (Brasil), bem como, a necessidade de uma relação mais próxima entre Ensino Superior e Educação
Básica.
Palavras-chave: Formação continuada; Astronomia; Diário do Céu.
Abstract
This article aims to show the relevance of continuing education in Astronomy to “generalist” teachers, graduated in Pedagogy, an area
of knowledge that rarely maintains contact with disciplines of this nature. The university extension course “Heaven´s Diary - Introduc-
tion to Astronomy and its teaching for teachers of Basic Education”, proved to be a great opportunity for technical and professional
improvement to teachers belonging to the municipal education network of a city located in the interior of theo Paulo State (Brazil),
as well as the need for a closer relationship between Higher Education and Basic Education.
Keywords: Continuing education; Astronomy; Heaven's Diary.
I. INTRODUÇÃO
Tudo o que conhecemos sobre os astros são fruto de estudos iniciados em épocas bem remotas. Ao contemplarem a
beleza da abóbada celeste, algumas questões começam a surgir, movidas pelo espírito da curiosidade.
“Diferente dos demais animais, os seres humanos são curiosos em sua essência, assim, sempre buscam respostas
para explicarem o que acontece no céu” (Langhi, 2016). Desse modo, a astronomia sempre se faz presente em nossas
vidas.
Na tentativa de compreendermos o universo e o espaço ao redor, aprendemos conceitos básicos de astronomia,
o que gera em cada indivíduo, sentimentos de satisfação, interesse e apreciação pela ciência, de um modo geral.
Em espaços formais de ensino, a astronomia favorece a motivação, o desejo de aprender, tanto em alunos como
em professores, favorecendo a interdisciplinaridade com as demais áreas de conhecimento. Além do mais, confere
um status “popularizável”, uma vez que nosso laboratório é natural, gratuito, amplo, acessível a todos, sem a neces-
sidade de altos investimentos em equipamentos sofisticados.
Diário do céu
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“Trabalhar com eventos astronômicos favorece a superação de ideias de senso comum, desmistificando fenômenos
que são observados no céu como: eclipses, aparecimento de objetos brilhantes e desconhecidos no céu” (Langhi, 2016).
Apesar de inúmeros benefícios, o ensino de astronomia nem sempre é valorizado. Um dos motivos se deve a baixa
qualificação docente, principalmente daqueles que lecionam na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fun-
damental, pois boa parte deles, são formados em Pedagogia e nunca tiveram contato com disciplinas que abordassem
a temática. Portanto, a formação continuada nunca se fez tão essencial.
“Considerando que o aprendizado é um processo contínuo, não conhecimento acabado. Dessa forma, os pro-
fessores são indivíduos em constante evolução e desenvolvimento” (Langhi, Nardi, 2013, p. 19).
Partindo desse pressuposto, a formação continuada se dá, baseada em três critérios: ...critério pessoal (necessi-
dade de desenvolvimento a autoconhecimento); critério profissional (necessidades profissionais individuais e de
grupo); critério organizacional (necessidades contextuais da escola, mudanças que refletem alterações sociais, econô-
micas e tecnológicas)” (Langhi, Nardi, 2013, p. 19).
II. PROFESSORES PEDAGOGOS E O ENSINO DE ASTRONOMIA
Devido a formação inicial deficitária em astronomia, muitos tópicos relacionados a essa área de conhecimento são
renegados a segundo plano. Dessa forma, sua principal fonte de informação e apoio didático resume-se ao livro didá-
tico.
A realidade da formação de professores denominados “generalistas” carece de maiores reflexões sobre ciências,
seus métodos de ensino e formas inovadoras de atuação, abandonando velhas práticas pedagógicas, alicerçadas em
aulas expositivas, exercícios propostos pelo livro didático, que pouco contribuem para um ensino realmente atraente.
A falta de domínio do conteúdo a ser ensinado é fruto de uma soma de fatores, que envolve o despreparo do professor, os
erros nos livros didáticos, pouco material de ensino e associação errônea a conceitos e concepções alternativas. (Lima,
2006 apud Lima, Nardi, 2020, p. 52)
Portanto, a formação continuada destinada a esses profissionais, precisa ser pensada, planejada e executada tendo
como um de seus objetivos a competência teórica, para que suas práticas, suas ações, tenham coerência e consistên-
cia. Pensar a teoria visando a prática, pois a prática é o fundamento da teoria, seu critério de verdade, sua finalidade.
A teoria deve conjugar-se à prática; unir-se a ela, criando elos nos quais uma sustente a outra.
A teoria deixa de ser teoria, quando materializa-se na prática. Somente a ação pode validá-la. Assim, uma teoria que
pretende ser revolucionária deve conter o conhecimento da realidade social que se deseja transformar. Tem-se que avançar
para além dos “muros” da consciência e estabelecer no terreno da ação. (Prado, 2017, p. 83)
Por conseguinte, defendemos uma nova estrutura nos cursos de formação continuada, que favoreçam novas abor-
dagens didáticas, que conduzam os professores a mudanças de perspectivas, de atitudes de ensino. Em astronomia,
isso é reverberado em uma nova forma de alfabetização, específica desse campo de conhecimento, denominada al-
fabetização científica. Assim, [...] ser alfabetizado cientificamente é saber ler a linguagem em que está escrita a na-
tureza. É um analfabeto científico aquele incapaz de uma leitura do universo” (Chassot, 2003, p. 91).
Caminhando ao encontro do discurso acima, podemos compreender a alfabetização científica e a formação conti-
nuada como processos ininterruptos, contínuos. “Ambas não se encerram no tempo e não se fecham em si mesmas.
Devem estar sempre em construção, englobando novos conhecimentos em decorrência de novas situações impostas
por uma nova sociedade” (Sasseron, 2015).
Assim, a formação continuada vem ao encontro da necessidade de aprimoramento técnico-científico de todos os
profissionais da educação. Caso não ocorra, erros conceituais, principalmente aqueles relacionados a astronomia,
continuarão a serem propagados. Contudo, todas as ações formativas devem ser significativas aos docentes, partindo
do cotidiano desses profissionais. Isso não afasta a necessidade de planejamentos, mas sim, criar espaços nos quais
os docentes possam ouvir e serem ouvidos. Para tanto tornam-se essenciais:
a) Problematizar a influência no ensino das concepções de Ciências, de Educação e de ensino de Ciências que os professores
levam para a sala de aula; b) favorecer a vivência de propostas inovadoras e a reflexão crítica explícita das atividades de
sala de aula e c) introduzir os professores na investigação dos problemas de ensino e aprendizagem de Ciências, tendo em
vista superar o distanciamento entre contribuições da pesquisa educacional e a sua adoção. (Carvalho, 2015a, p. 12 apud
Lima, 2018, p. 39)
Diário do céu
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III CURSO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA “DIÁRIO DO CÉU” E SUA IMPORTÂNCIA
O curso de formação de professores em astronomia intitulado “O Diário do Céu – Introdução à Didática da Astronomia
para professores da Educação Básica” é fruto de um trabalho colaborativo entre Itália e Brasil, entre a Università di
Roma “La Sapienza” e o Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência da UNESP campus Bauru. Centrado
no material didático específico: “II Diario del Cielo”, desenvolvido pela pesquisadora Prof.ª Dra. Nicoletta Lanciano.
Tem como um de seus pressupostos a observação de eventos astronômicos a olho nu (vista desarmada) como: os
ciclos lunares, suas posições e seus movimentos aparentes no céu; extensão das sombras de objetos e corpos expostos
a luminosidade solar; incentivo ao uso do globo terrestre fora de seu suporte habitual, adaptado a latitude do obser-
vador, dentre outros temas.
É também um convite tanto para aprender a construir instrumentos simples que ajudem a seguir as posições dos astros e
das sombras no espaço tridimensional e no tempo real dos eventos astronômicos quanto para procurar em seu próprio lugar
“traços” do encontro entre o céu e a terra. (Fernandes, 2018, p. 145)
Os benefícios da utilização de um diário de aula, está no fato de servir como instrumento de pesquisa e aprimora-
mento profissional dos professores cursistas, sendo também um espaço reservado para descrição de fenômenos ob-
servados, dúvidas, anotações de hipóteses, registro de suas práticas. Entende-se que:
[...] o registro no papel do que se observa diariamente no céu pode aumentar-lhe a possibilidade de testar hipóteses ante-
cipadas, de formar hábitos com relação à linguagem da escrita e da leitura, de familiarizá-lo com os conteúdos, oferecendo-
lhe novos desafios à medida que este lhe exijam maior tempo de aprendizagem e aprofundamento gradual. (Lanciano,
2016 apud Fernandes, 2018, p. 147)
Quanto os sujeitos em análise, docentes da rede municipal de ensino de Bauru, São Paulo, estes receberam infor-
mações sobre o curso de extensão “Diário do Céu”, por e-mail, enviados às unidades escolares, por meio da Secretaria
de Educação Municipal, quando foram ofertadas, aproximadamente, vinte vagas.
“Cabe ressaltar que a formação continuada é uma prática regular na Secretaria Municipal de Bauru, onde semes-
tralmente são oferecidas palestras e oficinas a seus docentes” (Prado, 2019).
Quanto à estrutura técnica utilizada ao longo do curso, denominada grupo focal, é justamente aquela que romper
com paradigmas de aulas ditas “tradicionais”, oportunizando aos envolvidos vivenciar “liberdade”. Favorece diálogo,
sensação prazerosa e agradável, pois os mobiliários dispostos em círculo facilitam o contato visual entre todos. Se-
gundo Flick (2009):
[…] os grupos focais são formas eficientes de garantir momentos de diálogo espontâneos, mas algumas etapas devem ser
seguidas: explicação sobre os procedimentos, as expectativas em relação aos participantes envolverem-se nas discussões;
breve apresentação dos membros envolvidos no estudo; estímulo ao diálogo, que pode consistir em uma provocação. Ações
que possuem a intenção de aproximação entre os cursistas.
Quando essa aproximação não é eficaz, ocorrem fases de estranhamento, o que pode resultar no esgotamento
das discussões.
Superada a fase de aproximações, quando os laços de companheirismo são estabelecidos, muitas concepções ou
ideias de senso comum podem ser paulatinamente abandonadas. Eis a importância do trabalho colaborativo entre
Universidade e Educação Básica.
É neste ponto que entra a necessidade da formação continuada de professores, e a parceria entre a instituição formadora
e a escola pode ser importante nesse processo. Como os professores são profissionais essenciais nos processos de transfor-
mação da sociedade, as decisões pedagógicas e curriculares alheias não se concretizam se suas demandas não são levadas
em conta. (Langhi, Nardi, 2007, p. 25)
Assim, teoria e prática devem estar subsidiadas em um processo dialético, de movimento, um ir e vir constante,
para que a teoria não seja apenas verbalismos e que a prática não se torne vazia em sua essência. Essa dialeticidade,
foi parte fundamental no curso “Diário do Céu”.
IV. OBSERVAÇÃO DO HORIZONTE LOCAL E PROJEÇÕES DE SOMBRA: HORIHOMO COMO METODOLOGIA
Durante o ano letivo de 2018, alunos de quintos anos do ensino fundamental de uma escola pública municipal de
Bauru, São Paulo, foram convidados pelo docente responsável pela classe, (que participou de duas edições do curso
de formação continuada Diário do Céu), a observar o ambiente que os rodeava, tendo o horizonte local como refe-
rencial. Grande parte das ações ocorreram fora do espaço de sala de aula, no mesoespaço, que nas palavras de
Diário do céu
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Lanciano são: “acessíveis pelo olhar e pelo corpo, que se pode percorrer e que se move e gira sobre si mesmo; nele, o
nosso ponto de vista pode variar e pode oferecer-nos visões parciais” (Lanciano, 2014, p. 175).
Para acessá-lo, necessidade de sairmos do nosso espaço profissional habitual, a sala de aula. Buscarmos espaços que
possibilitem uma rotação de 360º sobre si mesmo e com deslocamento do olhar em diferentes níveis. Mesoespaço é tudo
que os nossos olhos são capazes de captarem. (Lanciano, 2014)
Algumas ações ocorreram no pátio da escola, outras, numa praça pública nas proximidades da unidade escolar,
onde a observação do horizonte local era favorável. O horizonte local é definido como um sistema de referência es-
pacial no qual são considerados: o alto e baixo, o limite das árvores ou das casas; em suma, todo o ambiente que nos
rodeia. Um local ao ar livre, onde possa ser observada uma “linha imaginária” do horizonte: fechada, irregular, em
partes, circular, se estiver muito distante de que observa.
Para compreendermos sua existência, nosso corpo deverá ser guia. Podemos segui-lo com nossa visão, fazendo
uma volta completa em torno de nosso eixo corporal; indica-lo com os dedos, realizando um novo giro, e, posterior-
mente, um “telescópio” feito com os dedos, formando um círculo, onde possa ser notado um pouco do céu e da terra.
Após as observações, reflexões e discussões, esse horizonte será nosso espaço fixo de referência, para avaliar, men-
surar, registrar o movimento aparente dos astros.
Nossa ação, teve como objetivo a replicação de algumas atividades didáticas desenvolvidas no curso de formação
“Diário do Céu”, junto a uma turma de alunos do quinto ano do Ensino Fundamental. Utilizamos como referenciais o
Sol e sua trajetória aparente pela abóbada celeste.
As atividades consistiam em observações das variações de sombras dos corpos expostos a luminosidade solar, ao
longo das horas. Tal prática é denominada Horihomo, definida como:
[...] a busca de uma forma de medir sua própria sombra, sem o uso de objetos. Pode-se usar somente algo que se possa
encontrar sempre, mesmo aos domingos, mesmo nas férias. Deve-se trabalhar com uma medida que seja comparável e
repetível. Descobre-se, assim, que o instrumento que temos sempre à disposição é, para cada um, o próprio pé. (Lanciano,
2014, p. 179)
A contagem feita com os pés, deve iniciar quando os pés estão unidos, e depois, colocando um pé diante do outro,
o mais próximo possível.
O trabalho com o Horihomo gerou muitos questionamentos. A agitação entre os alunos era grande, em busca de
uma resposta que os satisfizesse, pois notaram que a projeção de sombra variava com o passar das horas e isso estava
relacionado a uma mudança aparente na posição solar.
Considerando que a rede municipal de ensino de Bauru, ao qual um dos pesquisadores atua como docente, adota
a Pedagogia Histórico-Crítica, idealizada por Dermeval Saviani, como referencial norteador de suas ações pedagógicas,
esta, compreende a função do professor como um mediador de conhecimentos, articulando teoria e prática, ambas
adquiridas com o curso “Diário do Céu”.
As medições e discussões dos registros com os alunos seguiram por meses. Assim, com o passar do ano letivo,
muitos alunos relacionaram a mudança de comprimento das sombras não apenas a passagem das horas, mas também,
as estações do ano, sendo a sombra mais “curta” obtida no verão e a mais “longa” no inverno. A concepção de ciências
que possuíam, fundamentada no misticismo, dogmatismo, sincretimos, mostrou-se superada, dando lugar a conheci-
mentos científicos oriundos de saberes clássicos, historicamente construídos ao longo da história da humanidade.
Ao ascendermos a uma forma de compreender o meio que nos rodeia de maneira sintética, alcançamos uma compreensão
mais rica e delimitada do problema, momento este que nos permite uma volta à prática e operar o real, partindo de uma
visão, agora científica. (Santos, 2012)
As aulas de Ciências tornaram-se mais atrativas, dialógicas, favorecendo a troca de informações e a interatividade
entre todos. Destaco que os saberes que os alunos trazem consigo para a escola, jamais devem ser desprezados. São
elementos fundamentais para o ensino de ciências. Nas palavras de Santos (2012): “Pode-se partir do cotidiano, pois
não há como negá-lo, mas não podemos ficar limitados por ele”.
Neste caso, a proximidade entre universidade, por meio do curso de extensão “Diário do Céu” e escola pública,
garantiu o aperfeiçoamento técnico-pedagógico a todos os docentes da unidade escolar que se envolveram nos estu-
dos, debates e reflexões, como também, favoreceu quebras de paradigmas referentes a muitos eventos astronômicos
que eram trabalhados de forma equivocada.
“Segundo o conceito dialético, a aprendizagem é um processo, uma construção da relação do homem com a natu-
reza, por meio da criação de modelos teóricos que permitam conhecer a realidade” (Santos, 2012). Quando não
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conseguem mais responder adequadamente os fenômenos da natureza, são abandonados por outros modelos mais
consistentes. Portanto, a ciência não é estática, está sempre em movimento, sendo reinventada constantemente.
Esse foi o compromisso assumido pela equipe organizadora e docentes que ministraram o curso “Diário do Céu”.
Mostrar que o fazer ciência não é obra apenas para cientistas geniais, mas está à disposição de todos os indivíduos,
indiscriminadamente. O curso proporcionou aos docentes participantes enriquecimento cultural, transformando os
conhecimentos científicos adquiridos em “habitus”:
[…] uma forma durável de internalização cultural do educando através do trabalho pedagógico. Ou seja, o habitus é o “[...]
produto da interiorização dos princípios de um arbitrário cultural capaz de perpetuar-se após a cessação da ação pedagó-
gica e por isso, perpetuar nas práticas os princípios do arbitrário interiorizado. (Bourdieu, Passeron, 2011, p. 53 apud
Antonio, 2020, p. 162-163)
V. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O curso de extensão universitária “Diário do Céu”, tornou-se uma grande oportunidade de aprofundamento teórico-
prático em Astronomia para boa parte dos professores que se envolveram nas discussões e reflexões promovidas ao
longo do curso de formação.
O comprometimento docente em aperfeiçoar-se deve sempre ser destacado, pois suas atribuições profissionais não se limi-
tam ao espaço escolar, tomando boa parte de seu tempo livre, ao qual deveria gozar em outras atividades. Sendo assim,
“são impossibilitados de sozinhos produzirem todo o saber sistematizado que lhes interessa”. (Bastos, Nardi, 2018, p. 27)
Entendemos que os conhecimentos produzidos na academia, elaborados por pesquisadores da área, foram im-
prescindíveis. Independente de experiencia e tempo de atuação no magisterio, os professores devem aliar seus co-
nhecimentos adquiridos na docência com aqueles teóricos para que possam refletir e repensar sobre suas ações
pedagógicas. Esse foi um dos aspectos mais importantes alcançado durante o período de curso, o prazer em aprender,
de forma colaborativa, dinâmica, valorizando a história de nossos ancestrais.
Docentes bem formados e informados cientificamente, refletem em alunos que dominam a linguagem da ciência
(alfabetização científica), enriquecendo o capital cultural de todos os indivíduos envolvidos nos processos educativos,
favorecem a divulgação e o apreço pela ciência. Descortina as contradições presentes na sociedade capitalista em que
vivemos, na qual a distribuição desigual do capital cultural científico, potencializa as disparidades entre elites e cama-
das populares.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES/PROAP). O segundo
autor, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), pelo apoio ao desenvolvimento
desta pesquisa.
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