VOLUMEN 33, NÚMERO 2 | Número especial | PP. 63-71
ISSN: 2250-6101
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 63
La evaluación del presente artículo estuvo a cargo de la organización de la XIV Conferencia Interamericana de Educación en Física
Método de estudo de caso no ensino
de física: percepções de estudantes do
ensino médio
The Case Study Method in physics teaching:
student perceptions of high school
Ariane Baffa Lourenço
1
*, Alessandra Elisa Caccia Sousa
2
, Gláucia Grüninger
Gomes Costa
3
, Pedro Donizete Colombo Junior
4
, André Luis de Jesus Pereira
5
1
Universidade de São Paulo, Av. Trabalhador São-Carlense, 400, CEP: 13566-590, Arnold Schimdt, São Carlos-SP, Brasil.
2
Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul, Rua Martins Levi, 587, Ivinhema-MS, Brasil.
3
Instituto de Física de São Carlos, Universidade de São Paulo, Av. Trabalhador São-Carlense, 400, CEP: 13566-590, Arnold
Schimdt, São Carlos-SP, Brasil.
4
Programa de s-Graduação em Educação, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Rua Vigário Carlos, 100 - andar
- Sala 538 - CEP: 38025-350 Uberaba, MG, Brasil.
5
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Praça Marechal Eduardo Gomes, 50, Vila das Acácias, 12228-900, São José dos
Campos/SP - Brasil
*E-mail: arianebaffa@gmail.com
Recibido el 15 de junio de 2021 | Aceptado el 1 de septiembre de 2021
Resumo
O objetivo deste trabalho é apresentar e discutir as perceões de estudantes do ano do EM de uma escola pública brasileira quanto
ao trabalho com o método com o tema circuitos elétricos. Em âmbito metodológico, os alunos participaram de aulas teóricas sobre o
tema eletricidade e, de modo colaborativo (em grupo) refletiram sobre o caso apresentado, propondo soluções para o problema e as
socializando com seus pares por meio de apresentações de maquetes e seminários. Dentre os resultados, destacam-se as percepções
dos estudantes de que: trabalhar com casos científicos é uma maneira divertida de aprender, colabora no entendimento da teoria e
prática; contribui com a compreensão dos conceitos e promove um ensino inovador. Resultados que nos levam a concluir que o uso
do referido método teve uma boa aceitação por parte dos alunos e demonstrou ser uma abordagem promissora para o ensino de física.
Palavras chave: todo de estudo de caso; Ensino de física; Ensino médio.
Abstract
The aim of this work is resent and discuss the perceptions of students in the 3rd year of HS from a Brazilian public school regarding the
work with the Case Study method addressing the electrical circuits topic. In a methodological scope, the students participated in the-
oretical classes on the topic of electricity and, in a collaborative way (in groups) they reflected on the case presented, proposing solu-
tions to the problem and socializing them with their peers through mock-up presentations and seminars. Among the results, the
students' perceptions stand out that: working scientific cases is a fun method to learn, contributes to the understanding of theory and
practice; contributes to the understanding of concepts and promotes an innovative teaching. These results lead us to conclude that
the use of this method was well accepted by the students and demonstrated a promising approach for the physics teaching.
Keywords: Case study method; Physics teaching; High school.
Método de estudo de caso
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I. INTRODUÇÃO
tempos o ensino de física nas escolas públicas brasileiras tem sido alvo de diversas pesquisas, sejam elas vinculadas
a proposição de inovações curriculares e de inserção de novos conteúdos, como física moderna e contemporânea no
ensino (Pietrocola, 2017), sejam na busca por discutir sobre o ensino e sobre a aprendizagem em física (Carvalho e
Sasseron, 2018), entre outras abordagens. Ocorre que, para além da inserção de conteúdos e da proposição de novos
métodos de ensino no currículo, a participação ativa dos alunos em ações colaborativas se coloca como central nos
processos educacionais, em especial no desenvolvimento de competências e habilidades para a aprendizagem em
física. Importa ainda a aproximação entre o que se estuda em sala de aula em relação com o contexto vivencial dos
alunos, congregando aspectos de contextualização do ensino e de interdisciplinaridade. Propiciar momentos de inte-
ração e dialogicidade entre os alunos, a partir da resolução de determinado problema cotidiano, apresenta-se, então,
como um caminho promissor para o engajamento dos estudantes para o ensino da física. Tais aspectos dialogam com
os constructos teóricos da Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL, do inglês Problem Based Learning).
O PBL configura-se em uma abordagem educacional em que o problema, geralmente contextualizado com o coti-
diano, é o ponto de partida do processo de aprendizagem (Graaff e Kolmos, 2003) e que, busca promover o desenvol-
vimento da autonomia e do protagonismo dos alunos. Esta abordagem também se sustenta na ideia de um ensino
colaborativo, engajamento ativo, aprendizagem interdisciplinar e melhoria da qualidade da educação, por meio da
ênfase na resolução de problemas (Tan, 2003). Como apontam e Queiroz (2010), uma das variantes do PBL é o
chamado método de estudo de caso, em que a proposição do problema se figura como o caso em questão, a ser
resolvido colaborativamente pelos alunos, sob a mediação de um professor. Como apontam Queiroz e Cabral (2016),
... o método [de estudo de caso] é centrado no aluno como sujeito ativo no processo de ensino e aprendizagem. A aproxi-
mação dos alunos com problemas reais é um dos pilares do PBL, de modo que venham a adquirir conhecimento científico e
tecnológico sobre a temática em questão e a desenvolver o pensamento crítico e a habilidade de resolver problemas [...]
também caracteriza o PBL a realização de atividades em grupos pequenos de alunos e a atuação dos professores como
guias ou facilitadores do processo ... (Queiroz e Cabral, 2016, p. 12)
Assim, o referido método envolve o uso de casos investigativos que possibilitam aos alunos investigarem proble-
mas, levantarem hipóteses, proporem soluções, desenvolverem habilidades de trabalho em grupo e de comunicação
(Sá e Queiroz, 2007) e, relacionarem conceitos científicos entre si. Um caso investigativo envolve, em geral, questões
sociocientíficas, as quais possibilitam aos alunos perceberem, discutirem e compreenderem os diferentes fatores re-
lacionados às questões científicas na sociedade, em particular em seu cotidiano (Gomes e Amaral, 2017). Destaca-se
ainda, que grande parte dos relatos da implementação dos casos apresentados na literatura o descrevem como sendo
utilizado em grupos, fato que também colabora com a habilidade do aluno de trabalhar em equipe. Além disso, o
emprego do referido método tem potencial para que os alunos aprimorem suas habilidades de comunicação e de
argumentação.
Para a elaboração de um bom caso investigativo é preciso contemplar alguns elementos fundamentais, preconiza-
dos na literatura, como: breve e estar adequado à capacidade de leitura da faixa etária em que se trabalha; contar uma
história, a qual deve incluir personagens e diálogos; instigar os alunos à curiosidade e motivá-los a resolvê-lo; ser
aberto, ou seja, não apresentar um fim em si mesmo (Herreid, 1998; Herreid, 2007; Queiroz e Cabral, 2016; Cabral,
Souza e Queiroz, 2017). É justamente esta última característica que sustenta o trabalho reflexivo, argumentativo e de
investigação dos alunos sobre o caso, ou seja, a busca por solucionar o problema em questão.
Importa ainda que, o caso deve ser atual, de interesse do aluno e, ter relevância pedagógica, o que significa consi-
derar sua função dentro dos processos e práticas pedagógicas, além do conteúdo abordado com os alunos. O caso
deve provocar conflitos e levar o aluno a tomar decisões. Além disso, ele deve permitir generalizações, ou seja, que
possa ser aplicado em outras situações (Cabral, Souza e Queiroz, 2017; Queiroz e Cabral, 2016; Silva, Oliveira e Queiroz,
2011). No contexto brasileiro o estudo de caso vem sendo utilizado em diferentes níveis de escolaridade. No entanto,
percebemos um forte movimento vinculado ao seu uso com alunos do nível superior e na área da química. Um exemplo
desta percepção apoia-se no fato de que quase duas décadas o Grupo de Pesquisa em Ensino de Química da Uni-
versidade de São Paulo vem se dedicando a produzir, pesquisar e divulgar casos nessa área do conhecimento (Faria e
Freitas-Reis, 2016; Queiroz e Cabral, 2016), em especial em cursos universitários. Por outro lado, reforçamos que
um tímido movimento do uso desta abordagem em âmbito da educação básica brasileira, em particular na compo-
nente curricular física do Ensino Médio (EM) (Wolff, 2019).
Diante o exposto, tem-se um caminho longo a ser percorrido no que concerne ao uso de casos investigativos no
ensino de física no âmbito da Educação Básica. É justamente contribuindo para a superação deste gap que se encontra
o referido trabalho, direcionado a investigação das percepções de estudantes do 3° ano do EM sobre o trabalho com
o método de estudo de caso a partir da resolução de um caso investigativo com o tema eletricidade - em especial
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circuitos elétricos. Dentre os diferentes conceitos da física, optamos por trabalhar com este tema uma vez que é um
assunto que possibilita a percepção e aplicação diretamente no cotidiano dos alunos (GREF, 2015; 2017; 2020). Acres-
centa-se que os conceitos relacionados à circuitos elétricos compõem os conteúdos curriculares obrigatórios a serem
trabalhados no EM (Mato Grosso do Sul, 2012), em especial no cenário em que esta pesquisa foi desenvolvida. Por
fim, a escolha do tema pautou-se também da realidade educacional de uma das autoras deste artigo que mais de
uma década atua como professora de física na rede pública brasileira, e trouxe para a pesquisa suas observações
quanto às dificuldades dos alunos em relacionarem esta temática da física em situações do cotidiano.
II. METODOLOGIA
Para a elaboração do caso levou-se em consideração os elementos expostos anteriormente, os quais direcionam a
construção de um bom caso (Cabral, Souza e Queiroz, 2017; Queiroz e Cabral, 2016). O caso construído foi intitulado
de As mpadas da Dona Anita” e envolveu a história de duas alunas do EM que, como atividade extraclasse, precisam
utilizar os conceitos estudados na aula de física sobre circuitos elétricos em seu cotidiano. O caso foi trabalhado em
duas escolas públicas brasileira contando com a participação de 30 (trinta) alunos do 3° ano do EM e uma professora
regente de turmas. Para manter o anonimato, adotamos a nomenclatura Aluno seguido de uma numeração.
Guiando as ações de pesquisa desenvolvidas, delinearam juntamente com a professora regente da turma uma
sequência didática (SD), em que foram definidas etapas de desenvolvimento, temas e atividades e, cronograma e datas
de execução (Tabela I). Destaca-se que a SD foi construída em um trabalho colaborativo, partindo da experiência do-
cente da professora regente e das experiências em investigação dos pesquisadores. A referida sequência envolveu
atividades que contemplaram a apresentação teórica da temática aos alunos, a apresentação em detalhes do caso
investigativo, a discussão entre os alunos na busca em resolver o problema, a consolidação e socialização do conheci-
mento proveniente da implementação do método de estudo de caso e, o registro escrito de suas percepções sobre a
proposta de trabalho. As atividades foram desenvolvidas em 2018, requerendo 10 aulas no contexto escolar e 25 dias
de trabalho em ambiente domiciliar.
TABELA I. Etapas e atividades desenvolvidas na Sequência Didática para o trabalho com o caso “As lâmpadas da Dona Anita”. Fonte:
Adaptado de Souza (2019).
Etapas
Atividades
Duração
/local
Introdução da te-
mática
Aulas teóricas ministradas pela professora da disciplina sobre circuito elétrico
3 horas-aula/sala
de aula
Apresentação do
caso investigativo
Leitura do caso investigativo por parte dos alunos (ação individual)
2 horas-aula/sala
de aula
Confrontando o
problema
Identificação do problema por parte dos alunos (ação individual)
Identificação dos conceitos físicos abordados no caso por parte dos alunos (ação
individual)
Levantamento de hipóteses para a solução do caso por parte dos alunos (ação in-
dividual)
Resolvendo o
problema
Confecção do diário do caso da resolução do caso investigativo na rede social (ação
em grupo)
Elaboração da solução do problema (ação em grupo)
15 dias/ambiente
domiciliar
Apresentação de forma oral e escrita da resolução do caso (ação em grupo)
2 horas-aula/sala
de aula
Consolidando e so-
cializando o co-
nhecimento
Elaboração, por parte dos alunos, de maquetes com a representação da resolução
do caso (ação em grupo)
10 dias/ambiente
domiciliar
Exposição das maquetes na escola (ação em grupo)
2 horas-aula/sala
de aula
Registro por
escrito
Feedback dos alunos quanto ao uso do caso investigativo (ação individual)
1 hora-aula/sala
de aula
Para analisarmos as percepções dos alunos sobre vivenciarem o método de estudo de caso na temática circuito
elétrico, lançamos mão da última atividade por eles elaborada que envolvia “Feedback dos alunos quanto ao uso do
caso investigativo”. Na referida atividade os alunos, de forma individual, apresentaram suas colocações a partir da
Cada hora- aula equivale a 50 minutos.
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orientação de que deveriam fazer um relato de como foi o processo de estudar conceitos de física usando a atividade
do caso científico “As lâmpadas de Dona Anita”.
Em posse dos relatos dos alunos, utilizamos as construções teóricas da metodologia de análise de conteúdo (Mo-
raes, 1999) para tratar e analisar os dados. Segundo Moraes (1999), essa análise, conduzindo a descrições sistemáti-
cas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus
significados num nível que vai além de uma leitura comum” (Moraes, 1999, p. 2). Assim, o referido tratamento deu-se
pela preparação das informações, leitura, análise e agrupamento de unidades de análise para o entendimento do fe-
nômeno, categorização das referidas unidades envolvendo a classificação a partir de elementos comuns entre os dados
e análise e interpretação dos dados com base em inferências e discussões pautadas na literatura.
III. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados serão apresentados em duas seções, a primeira “O caso investigativo” tem natureza descritiva e versa
sobre a apresentação e características do caso elaborado. A segunda “Percepções dos alunos em trabalharem com
caso investigativo no ensino de sica”, centra-se em uma natureza analítica em que são reveladas as categorias que
possibilitam entender o fenômeno de estudo, trazendo as percepções dos alunos sobre o uso do caso investigativo.
A. O caso investigativo
Para a criação do caso “As lâmpadas de Dona Anita” tomamos como base os pressupostos apresentados nos trabalhos
de Herreid (1998) e Queiroz e Cabral (2016) para a elaboração de um bom caso. Desta forma, contemplou-se as 11
(onze) características indicadas: narra uma história; desperta o interesse pela questão; é atual; produz empatia para
com as personagens; inclui diálogos; é relevante ao leitor; tem utilidade pedagógica; provoca um conflito; força uma
decisão; tem generalizações; é curto (Queiroz e Cabral, 2016, p. 13). Frente ao exposto, a seguir apresentamos o caso
construído em nossa pesquisa (Figura 1), indicando as características que o definem como um bom caso.
O movimento de construção de um bom caso figura-se como central e fundamental para um profícuo trabalho em
sala de aula. No caso em questão, os elementos característicos de um bom caso foram contemplados da seguinte
forma:
Narra uma história: o caso envolve uma narrativa sobre a construção de um circuito elétrico para um escritório,
trazendo como personagens as alunas Mariana e Beatriz, o pai da aluna Mariana, o professor de física Paulo, a mãe da
Mariana e a Dona Anita.
Desperta o interesse pela questão: a proposta levanta um desafio e está contemplada no currículo.
Deve ser atual: embora não tenha sido identificado no caso a época em que o mesmo se situa, podemos consi-
derá-lo como atual, visto que a situação colocada traz relação com o cotidiano.
Produz empatia para com os personagens centrais: apresenta como protagonistas duas alunas do EM e descreve
uma ação de empatia entre os personagens, face a ajuda em instalar as lâmpadas para Dona Anita e a ajuda do pai de
Mariana.
Inclui diálogos: nota-se a narrativa dialogada entre pai, filha (Mariana) e amiga (Bia).
É relevante ao leitor: a temática discutida envolve conceitos de física presentes no nível do ano do EM, bem
como relaciona-se com ações do cotidiano.
Tem utilidade pedagógica: o caso aborda uma metodologia investigativa de ensino, na qual as alunas terão que
construir hipóteses e testá-las, discutir argumentos com seus pares e propor uma solução para o problema, com base
em conceitos da física.
Provoca um conflito: apresenta-se quando o caso exibe a necessidade de os alunos resolverem o problema da
Dona Anita.
Força uma decisão: na resolução do problema, os alunos serão direcionados à discussão de hipóteses, trabalho
com conceitos da física e tomarem uma decisão para o caso.
Tem generalizações: o caso é passível de generalizações, uma vez que apresenta situações reais e cotidianas, por
exemplo, do trabalho de um eletricista na instalação de circuitos elétricos em residências.
É curto: sobre este aspecto, seguimos as orientações de Herreid (1998, p. 164, tradução nossa),
...é mais fácil prender a atenção de alguém por breves momentos do que por longos. Os casos devem ser longos o suficiente
para apresentar os fatos do caso, mas não tanto a ponto de entediar o leitor ou tornar a análise tediosa.
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FIGURA 1. Caso científico elaborado envolvendo a temática circuito elétrico.
*Tereré: Bebida a base de erva-mate. **Chipa: Um tipo de pão de queijo.
B. Percepções dos alunos em trabalharem com caso investigativo no ensino de física
Ao todo foram identificadas nos relatos dos alunos 5 (cinco) categorias que revelam suas percepções sobre o trabalho
com o método de estudo de caso, frente a temática circuitos elétricos. A seguir, passamos a apresentar e discutir tais
categorias.
Trabalhar com caso investigativo é uma maneira divertida de aprender: ponderações dos alunos de que o uso da
metodologia de estudo de caso é uma forma divertida de aprender.
Utilizar caso investigativo colabora em relacionar a teoria científica com a ptica: considerações dos alunos de
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que ao trabalharem com caso investigativo é possível relacionar os conceitos abordados de forma teórica em sala de
aula com a prática. Sobre este aspecto, é importante pontuar que teoria e prática são indissociáveis, ou seja, ao buscar
solucionar determinado problema prático tem-se como sustentação aspectos teóricos vinculados a questão.
Trabalhar com caso investigativo colabora ao processo colaborativo de aprendizagem: ponderações sobre a efe-
tividade da metodologia de caso científico para fomentar o trabalho colaborativo.
Trabalhar com caso investigativo colabora na compreensão do conceito científico: ponderações sobre a efetivi-
dade da metodologia de caso investigativo à compreensão dos conceitos científicos abordados em sala de aula.
Trabalhar com caso investigativo é uma abordagem de ensino diferenciada: considerações dos alunos de que a
metodologia de estudo de caso traz a aula um caráter inovador e diferenciado da aula tradicional.
Das categorias delineadas dos dados de pesquisa, a de maior frequência foi a Trabalhar com caso investigativo
colabora na compreensão do conceito científico”, com 10 (dez) ocorrências. Esta categoria destaca a importância do
caso investigativo para que os alunos possam compreender os conceitos abordados em sala de aula, em que também
apontam para a construção de maquetes com a representação da resolução do caso (Figura 2). Apontamentos desta
categoria podem ser observados em indicações como:
Aluno 1: Este processo de estudo foi muito interessante, pois assim foi possível aprender mais sobre circuitos [elétricos].
Indo atrás de soluções para resolver o caso, e montando a maquete foi percebido o que poderia ser melhorado, assim se
vendo na prática o funcionamento de circuitos elétricos.
Aluno 2: Foi uma forma diferente de aprender, dessa forma você aprende mais fácil, pois você aprende na prática e, além
disso, a aula fica mais divertida.
FIGURA 2. Exemplos de maquetes em funcionamento com a representação da solução do problema do caso científico “Os proble-
mas de Dona Anita”.
Outra categoria de análise que se destacou foi a “Trabalhar com caso investigativo é uma abordagem de ensino
diferenciada”, tendo 9 (nove) ocorrências. Os alunos apontaram que o caso investigativo em questão possibilitou su-
perar o ensino tradicional de física, o que em suas visões é algo arraigado em sala de aula. Tais apontamentos podem
ser verificados em falas como as do Aluno 3 e 4:
Aluno 3: Essa atividade foi um bom desenvolvimento para a perspectiva de aprendizagem. É muito bom ter atividades assim,
pois melhora o modo de visualização de um caso.
Aluno 4: Foi bem bacana tentar resolver o problema das lâmpadas de dona Anita, foi uma atividade bem-criada para tentar
fazer os alunos aprenderem mais.
Embora em menor frequência, também identificamos considerações dos alunos que indicam os motivos pelos
quais eles concebem a metodologia de estudo de caso como diferente dos métodos normalmente empregados pelos
professores em sala de aula, sendo: “Trabalhar com caso investigativo colabora ao processo colaborativo de aprendi-
zagem”, com 1 (uma) ocorrência, Trabalhar com caso investigativo é uma maneira divertida de aprender”, com 3
(três) ocorrências e, “Utilizar caso investigativo colabora em relacionar a teoria científica com a prática, com 8 (oito)
ocorrências.
Sobre esta última categoria, Utilizar caso investigativo colabora em relacionar a teoria científica com a prática
observamos nos relatos dos alunos que, para eles, o estudo do caso tornou a aprendizagem mais significativa, ou seja,
aproximando os conteúdos trabalhados em sala de aula com seu cotidiano e propiciando sentidos no momento em
que se aprende. Ademais, depreende das colocações dos alunos fatores como motivação, entusiasmo e inquietações
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frente a busca por respostas para o caso proposto. Cabe destacar, no entanto que, para alguns alunos o trabalho com
o método de estudo de caso possibilitava novos aprendizados e não ficava somente no aspecto teórico, como pode
ser observado nas colocações:
Aluno 5: Foi muito bom porque aprendi com o trabalho sem ser na forma teórica.
Aluno 6: O caso foi interessante por conter um sistema diferente trazendo um maior conhecimento quando for para pôr na
vida.
Vislumbrando a indissociabilidade entre teoria e prática, este é um resultado a ser melhor explorado em sala de
aula com os alunos. Contudo, de se destacar também que, os benefícios do uso de estudo de caso no ensino de
física, apontados pelos alunos, aproximam-se dos relatados em trabalhos na literatura (Souza, Rocha e Garcia, 2012;
Montanher, 2010; Souza, Cabral e Queiroz, 2018, Cabral, Souza e Queiroz, 2017) que lançaram mão dessa metodologia
para trabalhar conceitos da área de ciências na educação sica e ensino superior, encontrando resultados muito
positivos, seja na percepção dos alunos ou nos processos de ensino e aprendizagem.
O trabalho de Souza, Rocha e Garcia (2012), envolvendo um caso sobre conceitos da Química com alunos do
ano do EM, apresenta que, dentre as considerações dos alunos em usar um caso encontra-se: o desenvolvimento de
habilidades de diferentes ordens, estímulo à curiosidade, busca de soluções para problemáticas, estímulo à argumen-
tação entre outros. Resultados que se assemelham aos da nossa pesquisa.
Outro trabalho envolvendo alunos do EM foi o apresentado por Montanher (2010), no qual abordou diferentes
conceitos da física com alunos do 3º ano. Dentre suas considerações, o autor aponta para o fato de que a aprendiza-
gem baseada em caso é uma metodologia motivadora que colabora no desenvolvimento do pensamento crítico,
trabalho colaborativo, tomada de decisão, elaboração de hipóteses, capacidade de argumentação, entre outras
(Montanher, 2010, p. 13). Além de colaborar no processo de aprendizagem dos conceitos físicos.
Em outro trabalho de natureza semelhante (Silva, Oliveira e Queiroz, 2011) os autores relatam as percepções de
alunos do EM após trabalharem com caso. Dentre elas destacam-se que a maioria dos alunos considerou favorável o
uso da metodologia em sala de aula, visto que colabora “ao desenvolvimento da comunicação escrita, da argumenta-
ção e persuasão, da capacidade de trabalhar em grupo e de investigar e solucionar problemas (Silva, Oliveira e Quei-
roz, 2011, p. 192). Tais achados corroboram e reforçam os resultados da pesquisa em tela.
IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para procedermos a elaboração do caso investigativo “As lâmpadas da Dona Anita” nos pautamos nas orientações
preconizadas na literatura. O caso foi implementado por meio de uma SD desenvolvida em seis etapas, sendo: intro-
dução da temática, apresentação do caso científico, confrontando o problema, resolvendo o problema, consolidando
e socializando o conhecimento e registro por escrito, sendo resolvido de forma colaborativa pelos alunos.
A partir das percepções dos alunos, quanto às contribuições da implementação do método de estudo de caso em
aulas de físicas, destacamos a que o método foi interpretado como uma maneira diferente e divertida de aprender
conceitos de física, possibilitando a construção de um ambiente colaborativo de aprendizagem e, contribuindo com a
compreensão do conceito científico. Além disso, consideram o método como uma abordagem de ensino diferenciada
das normalmente empregadas nas salas de aulas brasileiras, sendo pautada pelo desenvolvimento da criatividade, da
motivação e de questionamentos no ensino. Esses resultados são indicativos das potencialidades educacionais do
método de estudo de caso no ensino, corroborando as indicações da literatura. Por fim, entendemos que este pode
ser um caminho promissor para o trabalho com tópicos da física em escolas de educação básica, a qual tradicional-
mente é tida por muitos alunos como uma componente curricular de difícil compreensão.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao programa de Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF), polo Universidade Federal
da Grande Dourados (UFGD), vínculo institucional de desenvolvimento desta pesquisa. Agradece-se também a Coor-
denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio relativo ao Código de Financiamento
001.
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