VOLUMEN 33, NÚMERO 2 | Número especial | PP. 553-561
ISSN: 2250-6101
X|
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 553
La evaluación del presente artículo estuvo a cargo de la organización de la XIV Conferencia Interamericana de Educación en Física
Exploração de conceitos sobre a física
de semicondutores através da
produção de histórias em quadrinhos
Exploring physical concepts on semiconductors by
means of comics design
Reginaldo A. Zara
1
, Leidi Katia Giehl
1,2
1
Universidade Estadual do Oeste do Paraná Unioeste, Programa de Pós-Graduação em Ensino PPGEn. Av. Tarquínio
Joslin dos Santos, 1300, Jardim Universitário, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil.
2
Universidade Federal do Paraná UFPR, Programa de Pós-Graduação em Educação PPGE, Av. Sete de Setembro,
Centro, 2645, Curitiba, Paraná, Brasil.
*E-mail: reginaldo.zara@gmail.com
Recibido el 15 de junio de 2021 | Aceptado el 1 de septiembre de 2021
Resumo
Neste artigo discorremos sobre a produção de histórias em quadrinhos (HQs) pelos participantes de uma oficina didática, elaborada
sob os pressupostos da estratégia de ensino dos Multimodos e Múltiplas Representações, para a abordagem do conteúdo de Semi-
condutores para o Ensino Médio. A oficina foi implementada em uma instituição pública de Ensino Médio do Estado do Paraná-Brasil.
A atividade de produção de HQs, efetuada na parte final da oficina, permitiu aos participantes expressar suas compreensões sobre o
conteúdo abordado por meio das personagens construídas e suas falas, dos cenários elaborados e enredos propostos. O acompanha-
mento do processo de elaboração das HQs mostrou envolvimento dos participantes com o propósito da atividade, centrada na reto-
mada de conceitos abordados e no diálogo entre os participantes para a seleção dos itens a serem abordados nas histórias: suas
personagens, cenários e enredos. Em relação ao conteúdo presente nas HQs, uma comparação entre os assuntos abordados e os
conhecimentos prévios, demonstrados no início da oficina, fornecem incios para avaliação da evolução conceitual dos participantes
da oficina.
Palavras chave: Histórias em quadrinhos; Semicondutores; Multimodos e múltiplas representações.
Abstract
In this article we discuss the production of comics by the participants of a didactic workshop elaborated under the assumptions of the
strategy of multimodal and multiple representations to approach the content of Semiconductors for High School. The workshop was
implemented in a public high school institution in the State of Paraná-Brazil. The comics production activity, carried out in the final part
of the workshop, allowed participants to express their comprehension about the content covered through their characters proposals
and their speeches, the elaborated scenarios and the proposed stories. When monitoring of the comics elaboration process, we ob-
serve a strong involvement of the attendants with the activity purpose centered on the resumption of concepts addressed and in the
discussion among the participants for the selection of the items to be addressed in the stories, their characters, scenarios and plots.
Regarding the subjects appearing in the comics, a comparison between the subjects covered in the workshop and the previous
knowledge demonstrated at the beginning of the activities provides evidence that could support to an analysis of the conceptual evo-
lution of the workshop participants.
Keywords: Comics; Semiconductors; Multimodal and multiple representations.
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I. INTRODUÇÃO
A estratégia de ensino por meio de multimodos e múltiplas representações - MMR (Ainsworth, Prain e Tytler, 2011),
apresenta-se como uma estratégia de ensino que sugere procedimentos metodológicos que podem contribuir para a
melhoria do processo de ensino e aprendizagem. Embora a estratégia de abordagem multirrepresentacional tenha
sido usada originalmente para o ensino com auxílio de computadores ou outras mídias informatizadas, seus conceitos
foram rapidamente estendidos à outras áreas de conhecimento, sendo encontrados relatos deste tipo de abordagem
no ensino de Química, Física, Matemática e Biologia (Tsui e Treagust, 2013).
Voltada para aplicações em educação científica, a estratégia de ensino baseada na MMR apoia-se na exposição do
estudante a diferentes modos de representação dos conceitos, sejam na forma de textos discursivos, poéticos ou
gráficos, imagéticos, fotografias e vídeos; ou cinestésicos como a exposição a sons, luzes, calor ou vibração, ou mesmo
combinações de diferentes representações. Prain e Waldrip (2006, p. 1844), apontam que a prática de representar
um mesmo conceito ou processo científico em diferentes formas proporciona, aos alunos, um leque de oportunidades
para construir um conceito científico e, expressar este conhecimento através da utilização de diferentes formas de
representações. Segundo Laburú, Barros e Silva (2011), o pensamento científico depende dos vários registros e modos
de representações, sendo que a compreensão e a conversão dos significados se darão com mais rapidez e o entendi-
mento de um único conceito poderá se dar de diferentes formas. Assim, a abordagem por MMR possibilita realçar os
conceitos estudados, tendo em vista que quando um assunto é trabalhado usando diversas formas de representações,
este pode contribuir para uma aprendizagem mais consistente.
Neste artigo discorremos sobre os resultados de uma atividade multirrepresentacional desenvolvida. Compôs-se
uma oficina didática proposta sob os pressupostos da estratégia de ensino de MMR para a abordagem do conteúdo
de Semicondutores para estudantes do Ensino Médio a qual foi implementada em uma instituição pública de Ensino
do Estado do Paraná-Brasil (Giehl e Zara, 2019). O foco deste artigo é uma das atividades utilizadas na estratégia MMR
da oficina: a produção de histórias em quadrinhos pelos participantes tendo como assunto aspectos do conteúdo
abordado, com a intenção de trabalhar as HQ como uma linguagem para expressar fenômenos físicos ao invés da
apresentação de quadrinhos como mera imagem ilustrativa (Souza e Viana, 2020).
A oficina implementada foi planejada tendo em vista os pressupostos dos Multimodos e Múltiplas Representações
como estratégia de abordagem. Em geral, MMR podem ser encontradas em muitos objetos e ambientes de aprendi-
zagem, por exemplo nos materiais didáticos nos quais fotografias são utilizadas como ilustrações dos textos, nos de-
senhos explicativos e diagramas. Ambos contribuem para a compreensão do significado da mensagem escrita e, além
disso, quando inseridos em ambientes informatizados, tais recursos educacionais, ao mesclar texto, imagem e som,
colaboram para a representação de um mesmo conceito ou processo através das MMR.
De acordo com Laburú e Silva (2011, p. 727b), a produção e transmissão do conhecimento científico podem ser
vinculadas ao emprego de diversas representações e modos de comunicá-las, sendo que a linguagem científica en-
volve uma série variada e integrada de representações simbólicas que incluem representações orais, verbais, escritas,
visuais e cinestésicas. No ensino de Ciências, a permuta entre diferentes representações e as conexões entre elas, são
fundamentais para a construção do conhecimento e a necessária atribuição de significação a este processo (Eco, 2016;
Ausubel, Novak e Hanesian, 1980). De acordo com Ainsworth (1999, p. 134), as múltiplas representações possuem
funções, como:
Complementar: uma representação pode complementar outra, sendo que o conjunto de representações pode
ter efeito positivo. Ao trabalhar com atividades que se complementam, os alunos ficam menos propensos a terem
seu estudo limitado a somente um tipo de representação;
Restringir: ao trabalhar com mais de uma representação pode-se aproveitar as opções representacionais para
refinar, direcionar a interpretação da primeira, que sozinha poderia não atingir o objetivo perseguido;
Construir: a construção de uma representação mais profunda pode gerar a abstração, relação e extensão do
conteúdo estudado.
Laburú e Silva (2011, p. 20a) acrescentam ainda, que os multimodos e múltiplas representações contribuem para
o atendimento às particularidades dos estudantes e possibilitam a manifestação emocional que cada estudante possui
com o conhecimento.
Quando se pensa numa aprendizagem efetiva é indispensável que se atente para as necessidades e preferências
cognitivas individuais. Sendo assim, ao trabalhar com um determinado modo representativo, pode-se potencializar a
elaboração de ideias de um aluno em particular, auxiliando-o a ultrapassar obstáculos conceituais de representações
mais abstratas (Laburú e Silva, 2011, p. 18a). Uma proposta pedagógica baseada em múltiplas formas e modos de
representações conjuga, simultaneamente com diversos aspectos cognitivos e subjetivos, ambos essenciais para a
aprendizagem com maior significado (Labu e Silva, 2011, p. 27a). De fato, quando o professor utiliza variadas
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representações, possibilita o enriquecimento de sua prática docente e consequentemente do processo de ensino e
aprendizagem. Sendo assim, o propósito da escola deveria ser o de desenvolver as inteligências e ajudar os estudantes
a atingirem seus objetivos de forma que possam se sentir mais engajados e competentes, portanto, mais inclinados a
servirem à sociedade de uma maneira construtiva (Gardner, 1995, p. 15).
II. PERCURSO METODOLÓGICO
Conforme mencionado anteriormente, implementamos uma oficina didática baseada nos preceitos da estratégia de
MMR para abordar o conteúdo sobre semicondutores para estudantes do Ensino Médio. Ao trabalhar com oficinas
abre-se a possibilidade de abordar o conteúdo de uma forma mais inventiva (Ross e Munhoz, 2015, p. 2001) ao mesmo
tempo, que se pode criar um diálogo mais aberto entre os participantes, quebrando hierarquias e permitindo que os
estudantes se tornem capazes de experimentar, decidir e teorizar acerca do conteúdo em questão (Corrêa, 1998, p.
70). Ao explorar o conteúdo através de oficinas, utilizando a estratégia de MMR, espera-se criar elementos para tornar
o processo de ensino e aprendizagem mais dinâmicos, valendo-se das variadas atividades, formas de leitura e obser-
vação dos fenômenos relacionados ao conteúdo proposto.
Para a organização da oficina foi necessário selecionar o material bibliográfico a partir de diversas referências
sobre o conteúdo específico, elaborar um material que atendesse critérios de qualidade de informação e adequação
ao nível de escolaridade do público-alvo (no caso, estudantes do Ensino Médio). Para isso, foram consultados livros
didáticos e paradidáticos, publicações de divulgação científica, sites que disponibilizam conteúdo na Internet, reposi-
tórios de vídeos e vídeo aulas, observando as diferentes abordagens dos assuntos relacionados ao conteúdo progra-
mático a ser abordado. Foram selecionados textos, vídeos, propostas de experimentos de acordo com os objetivos
previamente estabelecidos para a construção da oficina e levando em consideração as possibilidades de participação
ativa dos estudantes nas atividades programadas. A partir do tema específico sobre Semicondutores e suas aplicações
na tecnologia, considerando a viabilidade da abordagem através dos MMR, estabeleceram-se os conteúdos essenciais
a serem discutidos ao longo dos encontros, distribuindo os assuntos definidos em encontros programados, tendo em
vista as representações envolvidas nas atividades programadas para cada conteúdo.
A oficina foi então organizada tendo como tema “As propriedades elétricas dos materiais semicondutores e suas
aplicações na tecnologia”, definindo como estratégia de trabalho os multimodos e múltiplas representações (MMR)
para abordagem do conteúdo específico. Todas as atividades foram planejadas segundo os princípios e funções dos
MMR, de acordo com o tempo disponibilizado, o espaço disponível e o público-alvo, porém, durante a execução da
oficina, as atividades foram adaptadas de acordo com os conhecimentos prévios dos alunos, seus avanços e limitações.
Na Figura 1, apresentamos uma síntese da programação da oficina didática, organizada em quatro encontros de 4
horas, o que permite uma visão geral dos tipos de representações adotadas para a exploração do conteúdo e da forma
de produção do material pelos participantes. As atividades foco deste trabalho, a produção de histórias em quadrinhos
pelos participantes, estão alocadas no terceiro e no quarto encontro.
A oficina descrita foi implementada no período de junho a julho de 2017 no Colégio Estadual Rocha Pombo situado
na cidade de Capanema, Paraná, no período vespertino. Com o intuito de viabilizar as atividades sem prejuízo a outras
atividades escolares, a oficina foi realizada no contraturno do período normal de aula. Os participantes foram estu-
dantes da série do Ensino Médio, contando com a participação efetiva de 14 alunos, sendo 05 alunos do sexo
masculino e 09 alunos do sexo feminino, com idade média de 16 anos. Todos os participantes tinham um contato
prévio com a disciplina de Física, cursada nos dois primeiros anos de ensino médio.
Como pode ser observado na Figura 1, as atividades relacionadas à produção de HQs sobre os conceitos abordados
aconteceram no terceiro e no quarto encontro, tinham como objetivo retomar o conteúdo abordado anteriormente
e identificar as temáticas que foram mais marcantes aos alunos. Além disso, a atividade contribui para o exercício da
criatividade, pois instigou os alunos a apropriar-se do conteúdo trabalhado com outra forma de representação, com-
posta por um enredo (escrita) e ilustrado com desenhos.
Rama et. al. (2004) trazem diversas sugestões sobre a utilização de metodologias de ensino com histórias em qua-
drinhos em sala de aula, apresentando diversos exemplos de como unir esse recurso didático a práticas docentes
visando abordar diferentes conteúdos, em diferentes disciplinas de forma atraente e motivadora. Neste mesmo sen-
tido, Araújo et al (2008) apresenta uma análise da importância e dos benefícios que este meio de comunicação pode
trazer para a educação, ao serem inseridos como instrumento pedagógico. Chicóra e Camargo (2017) apresentam
uma análise qualitativa da finalidade educacional atribuída às HQ para o Ensino de Física em produções acadêmicas
publicadas em periódicos de divulgação na área de Educação em Ciências e em anais dos principais eventos da área
entre 2001 e 2015. Os resultados sugerem que a utilização das HQ pode proporcionar benefícios para o ensino, ne-
cessitando, porém, que o professor defina seus objetivos e faça uma seleção criteriosa do material a ser utilizado.
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FIGURA 1. Distribuição de conteúdo e formas de abordagem da oficina didática sobre semicondutores e suas aplicações tecnológi-
cas.
Como as HQs são narrativas que contam histórias por meio de desenhos e diálogos e estão distribuídas em vários
quadrinhos dispostos em sequência, podem ser utilizadas como estratégia de ensino, buscando promover discussões
sobre diversos conteúdos em sala de aula. O uso deste tipo de atividade justifica-se no contexto da MMR, pois, através
das HQs os alunos podem expressar-se de forma verbal e não verbal, possibilitando assim, dialogar com o conteúdo e
gerar discussões através de uma forma lúdica, mobilizando diferentes modos e representações e, dessa forma, enri-
quecer o processo de ensino e aprendizagem. Além disso, com a análise da narrativa, é possível avaliar o nível de
compreensão e aprofundamento que o aluno obteve a partir de um determinado conteúdo (Chicóra, 2017, p. 02).
III. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme citado anteriormente, as atividades relacionadas à produção de HQs sobre os conceitos abordados aconte-
ceram no terceiro e no quarto encontro, retomando os conteúdos vistos e, permitindo que qualquer aspecto do
conteúdo abordado durante a oficina possa ser usado na composição dos enredos.
Para a proposição das HQs os estudantes escolheram temáticas que mais lhes chamaram a atenção e, após a pro-
dução dessas histórias, a leitura do material produzido permitiu dividir as histórias em temáticas, agrupando as histó-
rias em quadrinhos de acordo com o conteúdo que os alunos abordaram. Dentre os conteúdos abordados na oficina,
quatro foram espontaneamente escolhidos pelos alunos para a criação de suas HQs e distribuídos conforme mostrado
na tabela I.
TABELA I. Relação temática x quantidade de histórias em quadrinhos criadas pelos estudantes.
Tema
Temática
Quantidade
1
LED e suas utilizações.
2 histórias
2
Portadores de carga (elétrons e buracos), e processo de recombinação.
3 histórias
3
Condutores, isolantes e semicondutores.
4 histórias
4
Tecnologia do Silício.
2 histórias
A temática era de livre escolha e, além disso, o conteúdo das histórias, seus enredos e personagens também foram
deixados a cargo da escolha dos alunos. No anexo I, quadros I a IV, apresentamos sínteses das histórias produzidas
em cada temática.
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Pode-se observar na figura 2 uma história representativa produzida sobre esta temática 2. Nesta HQs os poucos
diálogos entre as personagens não discutem aspectos da Física. Os conceitos físicos aparecem na narrativa conduzida
por um narrador, que parece ser um observador externo.
FIGURA 2. Amostra de história em quadrinhos produzida no âmbito da oficina didática.
Quando o aluno constrói uma história em quadrinhos pode desenvolver uma série de habilidades significativas em
relação à aprendizagem dos conceitos abordados. Durante as atividades, observamos que a composição da HQs ge-
ralmente se iniciava com um levantamento de ideias relacionadas ao enredo que iria compor a história, trazendo
elementos que foram abordados nos três primeiros encontros de oficina. Além da retomada de conteúdo, com a
criação dos cenários e personagens que irão dar vida à história, a atividade contribuiu para a mobilização de habilida-
des de escrita e de composição visual.
Percebemos, com a análise das histórias em quadrinhos, que houve um envolvimento muito positivo por parte dos
alunos, com o surgimento de histórias de diferentes níveis: algumas muito criativas, apresentando conexões entre os
conceitos e conteúdos abordados, enquanto outras, que se limitavam a repetir argumentos sobre o conteúdo abor-
dado. Seguindo o referencial dos MMR percebemos que o avanço conceitual dos alunos foi muito significativo, pois
todos, de acordo com suas especificidades de aprendizagem, demonstraram em suas histórias, um enriquecimento
conceitual importante em relação ao conhecimento observado no início da oficina.
Nesse sentido podemos dizer que a atividade contribuiu para a evolução conceitual, pois os alunos se utilizaram
de conceitos abordados durante a oficina para a composição das histórias, formulação de enredo e criação dos per-
sonagens, ações estas que contribuem para a organização dos novos conceitos de maneira lógica e significativa para
o estudante.
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Além disso, a maioria das histórias citaram os meios de apresentação dos conceitos (vídeos, experimentos e textos)
que foram trabalhados durante as atividades da oficina. Dessa forma, percebemos que as variadas representações
(experimentos, vídeos e textos), associados aos diferentes modos de abordagem (atividades individuais, colaborativas
e em grupos, momentos de discussão e socialização de ideias, etc.) contribuíram para a exploração de conceitos, pois,
mesmo não sendo exigido, são citados pelos alunos para explicar o conteúdo pretendido na história em quadrinhos
produzida. Isso nos mostra que as atividades programadas aconteceram de forma articulada, como parte da metodo-
logia MMR empregada para o planejamento da oficina. A realização desta atividade de produção de HQs representou
um marco importante do desenvolvimento da oficina e, mostrou-se uma atividade de rica aplicação didática, cum-
prindo com os objetivos e funções dos multimodos e das múltiplas representações.
IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo expomos a atividade de produção de histórias em quadrinhos pelos participantes de uma oficina didática
elaborada sob os pressupostos da estratégia de ensino de MMR para a abordagem do conteúdo de Semicondutores.
A oficina foi implementada em uma instituição pública de Ensino Médio do Estado do Paraná-Brasil. A atividade de
produção de HQs, efetuada na parte final da oficina, permitiu aos participantes expressar sua compreensão sobre o
conteúdo estudado por meio das personagens construídas e suas falas, dos cenários elaborados e enredos propostos,
associando assim diferentes formas de representação do conhecimento. O acompanhamento do processo de elabo-
ração das HQs mostrou envolvimento dos participantes com a proposta da atividade, centrada na retomada de con-
ceitos abordados e na discussão entre os participantes para a seleção dos itens a serem abordados nas histórias, seus
personagens, cenários e enredos. Em relação ao conteúdo apresentado nas HQs, uma comparação entre os assuntos
abordados e os conhecimentos prévios demonstrados no início da oficina fornece indícios de uma evolução conceitual
dos participantes da oficina.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES pelo financiamento, através do Programa de Bolsa de Demanda Social.
REFERENCIAS
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ANEXO I
QUADRO I: Síntese das histórias produzidas sobre a temática 1 - HQ1 e HQ2.
Tema 1: LED e suas aplicações
HQ1:
O objeto da HQs1 foi a escolha do tipo de lâmpada adequada para iluminação em uma residência.
Através de um diálogo entre dois personagens (um menino e uma menina), o aluno abordou a aplicação dos LEDs na ilumi-
nação residencial, destacando as vantagens da utilização dessas lâmpadas em relação às lâmpadas incandescentes. A leitura
da HQs sugere que o aluno baseou sua história no vídeo “Teste de Lâmpadas” assistido e discutido no segundo dia da oficina.
A utilização de duas personagens na história, a menina e o menino, permitiu a condução do enredo através de um diálogo,
com formulação de perguntas e elaboração de respostas pelos personagens.
HQ2:
O objeto da HQs2 é a apresentação de diferentes tipos de lâmpadas.
A história em quadrinhos possui duas personagens (um menino e uma menina) que através de um diálogo conversam sobre
os diversos tipos de lâmpadas, entre elas o LED. Através desse diálogo, as vantagens da utilização das lâmpadas de LED em
relação a outros tipos de lâmpadas são apresentadas, com destaque para a durabilidade deste tipo de lâmpada. Também cita
(porém sem explicar) o impacto ambiental e a preservação da natureza proporcionada pela utilização das lâmpadas de LED.
Fonte: Os autores, 2018.
QUADRO II. Síntese das histórias produzidas sobre a temática 2 - HQ1 a HQ3.
Tema 2 - Portadores de carga (elétrons e buracos), processo de recombinação.
HQ1: O objeto desta história é o relacionamento amoroso entre sujeitos eletricamente carregados;
O aluno de uma forma bastante criativa abordou o conteúdo dos portadores de carga, elétrons e buracos. Através de uma
história de amor, o aluno levantou a discussão de que, para que seja possível a recombinação entre pares, é necessário que
os portadores de carga individuais tenham cargas elétricas opostas. Com isso, o aluno utilizou conceitos sobre a teoria dos
portadores de carga e sobre o processo de recombinação de pares elétron-buraco.
Embora seja uma história curta, a HQs é rica em personagens (não humanos) cujos nomes (Eletronelson, Negativuda, Lacu-
nildo, Anilda e Buracleiton) remetem às suas propriedades físicas.
HQ2: O objeto desta HQs é a história de amor entre sujeitos eletricamente carregados;
Embora seja semelhante a HQs1, esta história possui o enredo diferente, desenvolvido com três personagens que represen-
tam partículas eletricamente carregadas: uma partícula negativa (elétron), duas de carga positiva (buracos). Na sequência de
quadrinhos é desenvolvida uma história de amor entre sujeitos de cargas opostas. No enredo, o personagem que representa
o elétron foi rejeitado, jogado no lixo por não ser mais útil, mais tarde, em outro momento, o elétron rejeitado encontra uma
partícula de carga positiva (buraco) que também estava abandonado. Ambos se juntam, completando-se. Com isso, percebe-
se que o conteúdo envolvido aborda os portadores de carga, e o processo de recombinação.
HQ3: O objeto desta HQs também é a história de amor entre sujeitos eletricamente carregados.
Esta história traz novamente um romance entre personagens de cargas opostas, porém abordada com ênfase na qualidade
do relacionamento. Os portadores de carga são representados por personagens humanos: Cláudio e Janete (portadores ne-
gativos) e Estela (portador de carga positiva). O aluno aborda o conteúdo sobre os portadores de carga e o processo de
recombinação, escrevendo sobre o bom entrosamento entre portadores de cargas de sinais opostos, que resulta, na recom-
binação, em contraste com a difícil relação entre personagens de cargas de mesmo sinal.
QUADRO III. Síntese das histórias produzidas sobre a temática 3 - HQ1 a HQ4
Tema 3 - Materiais condutores, isolantes e semicondutores.
HQ1: O objeto desta HQs é a discussão sobre os materiais condutores, isolantes e semicondutores.
O autor além de diálogos entre personagens, se referiu claramente a duas atividades que foram propostas na oficina, o ex-
perimento manipulativo “Testando materiais” e o estudo do texto “Luzes do Novo Século”. No entanto, estas ideias não são
apresentadas conectadas na história, ou seja, a sequência de quadrinhos pode ser dividida em duas partes (referentes a cada
atividade) não conectadas entre si.
Na primeira parte são usados dois personagens (dois meninos) que conversam sobre as propriedades de condução elétrica
dos materiais (condutores e isolantes), durante a preparação para uma prova. A sequência de quadrinhos que envolve essas
personagens apenas descreve (através de um diálogo) o experimento sobre condução elétrica feita durante a oficina e en-
cerra-se neste ponto, quando uma segunda sequência de quadros começa a ser desenvolvida.
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Para o desenvolvimento da segunda parte da HQs, são usados três personagens: um menino, uma menina e um repórter (que
funciona como um narrador externo, sem interação com outros personagens). Nesta segunda parte é abordado o LED como
objeto formado por semicondutores.
HQ2: O objeto da HQs é o diálogo entre dois estudantes sobre o conteúdo: propriedades elétricas dos materiais condutores
e isolantes;
A HQs possui dois estudantes como personagens e o enredo é desenvolvido através de um diálogo entre os dois meninos,
num momento antes de realizarem uma prova. O diálogo aborda algumas características dos materiais condutores e isolan-
tes, principalmente o fato de conduzirem ou não eletricidade.
HQ3: Esta HQs tem como objeto a aplicação dos materiais isolantes;
A terceira história nesta temática traz novamente a diferenciação entre materiais condutores e isolantes. No entanto, a dis-
cussão se dá em torno da escolha da matéria prima da janela da casa de uma senhora. O conteúdo é apresentado na forma
de um diálogo entre um vendedor/fabricante de janelas e uma senhora que está contratando o serviço.
HQ4: O objeto desta HQs é a definição dos materiais condutores, isolantes e semicondutores;
A quarta história em quadrinhos nesta temática discute sobre as diferenças entre materiais condutores e isolantes, mas por
um olhar diferente: através da explicação do comportamento de bandas de energia. O conteúdo abordado, através do diálogo
entre dois meninos, versa sobre as propriedades elétricas dos materiais: condutores, isolantes e semicondutores. É a única
HQs nesta temática que aborda características microscópicas da teoria da condução elétrica e a formação das bandas de
energia. Além disso, a aluna cita os materiais semicondutores e, sua principal matéria prima, o silício.
QUADRO IV. Síntese das histórias produzidas sobre a temática 4 - HQ1 e HQ2.
Tema 4: Silício como material semicondutor
HQ1: O objeto desta HQs é a construção de um chip de material semicondutor.
Utilizando-se somente de desenhos, o aluno abordou o processo que ocorre para que a areia possa se tornar peça funda-
mental de um chip, desde a extração do Silício até a construção deste. O conteúdo abordado envolve o principal material
semicondutor natural, o Silício, como origem da tecnologia dos semicondutores. O aluno não fez uso de linguagem oral (diá-
logos), mas, para se expressar, construiu uma sequência de desenhos, deixando claro sua intenção em representar a cons-
trução do chip e seu material de origem. Para a produção da HQs o aluno utilizou informações de um vídeo (“Da areia até o
silício”) discutido durante a oficina.
HQ2: O objeto da HQs é a construção dos transistores a partir do silício;
A HQs possui dois personagens, aluno e sua professora, e aborda todo o processo de produção dos transistores, desde a
obtenção do silício a partir de grãos de areia. Assim como no caso anterior, o conteúdo abordado envolve o Silício e suas
propriedades, como origem da tecnologia dos semicondutores Ficou visível também nesta história, a utilização do vídeo tra-
balhado em sala “Da areia até o silício”.