Unidades de ensino potencialmente significativas
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 3 (2021) 546
I. INTRODUÇÃO
Unidades de Ensino Potencialmente Significativas são sequências de ensino fundamentadas na Teoria da Aprendiza-
gem Significativa (TAS) de David Ausubel (2002). Este instrumento de ensino foi proposto por Marco Antônio Moreira
(2011a) e tem como intuito incentivar o uso da TAS para a abordagem de conceitos ou tópicos de conteúdos escolares,
visando a aquisição e retenção do conhecimento.
De acordo com Moreira (2000), a Aprendizagem Significativa se dá pela interação entre um novo conhecimento e
o conhecimento prévio presente na estrutura cognitiva do aprendiz, de uma forma não-literal e não-arbitrária, incor-
porando significados ao novo conhecimento que modificam e melhoram o conhecimento prévio. Para que esta inte-
ração ocorra de maneira efetiva, a TAS aponta a importância da interdependência entre o conhecimento prévio do
educando, a relevância do conhecimento novo proposto e a predisposição do estudante em aprender (Moreira, 2000).
A elaboração de sequências didáticas, que compreendem um conjunto de atividades conectadas entre si, com etapas
bem definidas e atividades planejadas de acordo com objetivos do ensino significativo apresenta-se como uma alter-
nativa de recurso instrucional facilitador para a discussão de um novo conhecimento. É no contexto da aplicação do
modelo de ensino preconizado pela TAS que estão inseridas as Unidade de Ensino Potencialmente Significativas (UEPS).
Rosa, Cavalcanti e Werner (2016) destacam que no período 2011 a 2015, essa opção estratégica para o ensino de
conteúdos de Ciências Naturais não havia sido explorada na literatura nacional brasileira, ao que, em uma pesquisa
mais recente, Souza e Pinheiro (2019) mostram, através de uma revisão sistemática de trabalhos publicados em perió-
dicos, que o uso deste recurso para abordagem de conteúdos está em crescimento em todas as áreas, com predomínio
dos estudos relacionando as UEPS com ensino de física e concentrados em aplicações para o Ensino Médio.
Neste trabalho apresentamos uma revisão descritiva da literatura, mapeando os trabalhos acadêmicos na forma
de dissertações de Mestrado e teses de Doutorado produzidas no Brasil relacionados ao uso de UEPS em sala de aula
e descrevendo as características desses trabalhos em relação ao nível de ensino a que se destinam e a áreas de aplica-
ção. Diferente de Souza e Pinheiro (2019) que tinham entre seus objetivos a avaliação da produção sobre o tema
quanto à sua relevância, nosso objetivo é apresentar um panorama sobre as propostas de UEPS para o ensino, com
atenção àquelas produzidas no meio acadêmico e que efetivamente foram utilizadas em atividades letivas, visando
complementar as pesquisas que relacionam as UEPS e a implementação desta abordagem de ensino em contexto real
de sala de aula. Por se tratar de um recorte de uma investigação desenvolvida no âmbito de uma dissertação de Mes-
trado em Ensino que tem a produção de UEPS para ensino de conceitos de Física Moderna e Contemporânea como
objeto de estudo, a proposta deste artigo é apresentar um levantamento de dados sobre uso de UEPS em sala de aula
e expressá-los na forma de uma revisão descritiva para fundamentar o desenvolvimento de estudos mais específicos
acerca da utilização das UEPS na Educação, e em especial no ensino de Física. Nossos resultados mostram o aumento,
ao longo do tempo, do número de trabalhos que utilizam a UEPS recurso instrucional auxiliar ao processo de ensino e
aprendizagem em diferentes contextos da ciência, com expressiva utilização no ensino de Física. Encontramos que as
UEPS são distribuídas por diversas áreas da Física, com predomínio de temáticas relacionadas à Física Clássica e baixo
número de trabalhos desenvolvidos no âmbito da Física Moderna e Contemporânea em comparação àqueles da Física
Clássica. A predominância de temáticas relacionadas à Física Clássica contrasta com a discussão sobre necessidade da
modernização do ensino da Física, levando em consideração a revisão da abrangência, da contextualização e da atua-
lidade dos conteúdos abordados, visando estimular o interesse dos estudantes a motivação para o estudo da Física
Contemporânea (Ostermann e Moreira, 2001, Loch e Garcia, 2009, Silva, Arenghi e Lino, 2013).
II. PRINCÍPIOS NORTEADORES PARA DESENVOLVIMENTO DE UEPS
As UEPS (Moreira, 2011a) são propostas de construção de sequências didáticas fundamentadas em teorias de apren-
dizagem, particularmente a Aprendizagem Significativa (AS) de David Ausubel (2002). Elas têm por base a pesquisa
como princípio educativo (Moraes, Galiazzi e Ramos, 2004; Demo, 1998, sendo, em geral, elaboradas como um con-
junto de atividades a serem desenvolvidas para o estudo tanto de temas específicos quanto interdisciplinares, com o
objetivo de proporcionar o desenvolvimento de habilidades e atitudes dos participantes das atividades bem como
levar à construção de um conhecimento com significado relevante ao indivíduo. Assim, nas UEPS, os materiais e estra-
tégias de ensino devem ser diversificados, o questionamento, o diálogo e a crítica devem ser estimulados e os alunos
devem fazer atividades tanto colaborativas quanto individuais. Uma UEPS valoriza a participação ativa do aluno, tanto
no coletivo quanto individualmente e defende que o professor deve assumir o papel de provedor, organizador e me-
diador das situações-problema contempladas ao longo da sequência didática planejada.
De acordo com Moreira (2011b), a elaboração de uma UEPS deve levar em conta alguns princípios, entre os quais
destacamos: