Questões de Física do Exame Nacional do Ensino Médio
www.revistas.unc.edu.ar/index.php/revistaEF
REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 498
de problemas. Ou seja, as habilidades pertencentes à Matriz de Referência do Enem são estruturadas com o emprego
do(s) verbo(s) que indicam o processo cognitivo, o objeto de conhecimento e o complemento que se relaciona com o
contexto onde será aplicado.
A nova matriz é composta, no total, por 30 competências, sendo 9 para LC, 7 para M, 8 para CN e 6 para CH; e 120
habilidades distribuídas igualmente nas 4 áreas do conhecimento.
Na nova matriz, as competências e as habilidades passaram a ser mais específicas para cada área, de forma que
algumas habilidades estão estritamente relacionadas a um conteúdo específico, por exemplo, a habilidade “reconhe-
cer características ou propriedades de fenômenos ondulatórios ou oscilatórios, relacionando-os a seus usos em dife-
rentes contextos”. Podemos inferir que esta habilidade será contemplada em um item que envolva necessariamente
o conteúdo de ondulatória e, portanto, essa habilidade não será contemplada em um item que mencione apenas
conhecimentos sobre a cinemática ou hidrostática.
Para analisar os itens da prova, nesta pesquisa, buscamos uma taxonomia em que essa associação direta entre
conteúdos e habilidades não fosse presente, por isso escolhemos a Taxonomia de Bloom Revisada.
IV. A TAXONOMIA DE BLOOM REVISADA
Taxonomia, segundo Vieira (2020) é uma ciência ou técnica de classificação e organização segundo um critério ou uma
lei suficientemente clara (informação verbal). Assim, a taxonomia de Bloom foi criada em 1956, por um grupo liderado
Benjamin Samuel Bloom juntamente com seus colaboradores, e publicada no livro Taxonomy of Educational Objecti-
ves, Handbook 1: Cognitive Domain. Tinha como propósito organizar e avaliar os objetivos educacionais - o que é
esperado dos estudantes após um determinado período (Ferraz & Belhot, 2010). A taxonomia original foi idealizada
sobre 3 domínios: cognitivo, afetivo e psicomotor. Neste trabalho dedicaremos a nossa atenção ao domínio cognitivo
que está relacionado a aprendizagem e, ao mesmo tempo, foi o mais elaborado por Bloom e seus colaboradores.
Para elaborar esse sistema de classificação, organização e avaliação, Bloom propõe uma sistematização termino-
lógica a fim de que os objetivos educacionais fossem postos de maneira clara para todas as partes envolvidas no
ambiente escolar, sejam ele alunos, professores, coordenadores ou famílias. Um exemplo que evidencia a necessidade
dessa sistematização é trazido pelo próprio Bloom no prefácio de seu livro publicado em 1956. “Por exemplo, alguns
professores acreditam que seus estudantes deveriam “realmente entender”, ou desejam que os estudantes “internali-
zem o conhecimento”, enquanto que outros querem que seus alunos “peguem a parte central ou essência” ou “com-
preendam”. Elas significam a mesma coisa? Especificamente, o que faz um estudante que “realmente entende” o que
ele faz quando não entende?”. (Bloom et al., 1956, p. 1, tradução nossa)
Portanto, o objetivo do domínio cognitivo dessa taxonomia é estabelecer de maneira clara aos professores e alu-
nos quais são os objetivos educacionais, isto é, o que é esperado e como atingir esses objetivos, facilitando a comuni-
cação. Dessa forma, esse domínio está “relacionado ao aprender, dominar um conhecimento. Envolve a aquisição de
um novo conhecimento, do desenvolvimento intelectual, de habilidade e de atitudes” (Ferraz & Belhot, 2010, p. 422).
O domínio cognitivo da taxonomia de Bloom foi planejado inicialmente através de níveis crescentes e hierárquicos
de complexidade e abstração, isto é, do mais simples e concreto até o mais complexo e abstrato, sendo necessário
que o estudante domine as habilidades de um nível anterior para que possa adquirir e desenvolver uma habilidade do
nível posterior (Ferraz & Belhot, 2010). Em 2001 a taxonomia de Bloom foi revisada por um grupo liderados por Lorin
Anderson e David Krathwohl com o intuito de revisá-la, aprimorá-la e agregar novos conceitos, teorias e tecnologias
educacionais que surgiram desde a sua publicação em 1956. A revisão foi publicada no livro Taxonomy for Learning,
Teaching and Assessing: a revision of Bloom’s taxonomy or educational objectives (Anderson et al., 2001). A versão
revisada da taxonomia manteve diversos aspectos da original, como algumas estruturas, nomenclatura e a organiza-
ção de alguns níveis crescentes de complexidade e abstração. Entretanto, também ocorreram mudanças, e uma das
mais importantes foi a fragmentação do domínio cognitivo, gerando assim duas dimensões: do conhecimento e dos
processos cognitivos. A primeira dimensão trata do que deve ser aprendido (conteúdo), enquanto a segunda trata de
como determinado conteúdo deve ser aprendido, ou seja, o que deve ser feito para atingir certo objetivo (Marcelino
& Racena, 2012). Além disso, outra importante mudança na versão revisada é a possibilidade, em determinados casos,
de alcance de níveis mais complexos e abstratos sem que necessariamente se tenha domínio dos níveis anteriores.
Embora a nova taxonomia mantenha o design hierárquico da original, ela é flexível, pois possibilitou considerar a possibili-
dade de interpolação das categorias do processo cognitivo quando necessário, devido ao fato de que determinados conte-
údos podem ser mais fáceis de serem assimilados a partir do estímulo pertencente a uma mais complexa. Por exemplo, pode
ser mais fácil entender um assunto após aplicá-lo e só então ser capaz de explicá-lo. (Ferraz & Belhot, 2010, p. 42)
A. A dimensão do conhecimento