Fluídos não newtonianos
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 480
I. INTRODUÇÃO
O avanço tecnológico vivido pela sociedade nas últimas duas décadas e o aumento vertiginoso das possibilidades de
acesso à informação, demandam uma formação crítica do cidadão do século XXI, que tem sido objeto de investigação
e estudo em diferentes áreas do campo educacional (O’Brien, 2008; Teemuangsai e Meesook, 2017). Diante disto se
faz necessário a proposição de metodologias e enfoques de ensino que abarquem essas questões, principalmente no
contexto do ensino de ciências. Por outro lado, o quadro pandêmico decorrente ao COVID-19, implicou na necessidade
de uma migração do ensino presencial para o ensino remoto na maior parte das instituições de ensino do mundo. Essa
mudança abrupta não apenas ressignificou o papel das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) nos espaços
formais como também trouxe à tona uma série de novos desafios e possibilidades para o ensino (Vianna e Barbosa-
Lima, 2020).
Será possível conciliar esses dois mundos? Acreditamos que sim, sobretudo porque o futuro não espera, ainda
mais nos países em desenvolvimento que urgem por educação de qualidade visando a formação do cidadão do século
XXI, e porque enquanto educadores não temos qualquer controle sobre quando e como retornaremos ao modelo de
ensino presencial. Concordemente, apresentamos neste trabalho uma proposta didática para o estudo das proprie-
dades básicas e de possíveis aplicações tecnológicas de fluidos não newtonianos na disciplina de física no ensino mé-
dio. A sequência foi ajustada para o ensino remoto e está alinhada com o enfoque educativo “ciência, tecnologia,
engenharia, artes e matemática” (CTEAM), uma abordagem de ensino que frequentemente tem sido associada ao
ensino integrado e interdisciplinar de ciências com foco na solução de problemas abertos e no desenvolvimento de
competências (Brown, 2012; Bacich e Moran, 2018; Casal, 2019; Ortiz-Revilla, 2020).
Este texto está organizado da seguinte maneira. Inicialmente, revisamos alguns fundamentos teóricos nos quais a
sequência que propomos é embasada. Em seguida, a sequência didática propriamente dita é apresentada. Por fim,
alguns comentários finais que consideramos pertinentes ao leitor são apresentados.
II. MARCO TEÓRICO
A. O enfoque CTEAM
O ensino de ciências no Brasil é tradicionalmente desenvolvido com os seus componentes curriculares fragmentados
e de forma linear, como se não houvesse qualquer relação entre os mesmos, sendo reduzido à apresentação de con-
teúdos e a resolução de exercícios prontos, com uma única resposta, e pouca problematização. Este tipo de aborda-
gem, centrada no professor, hierárquica e depositária, traz uma burocracia excessiva ao ensino de ciências, tornando-
o pouco atraente. Em uma sociedade altamente dinâmica, que requer adaptações metodológicas imediatas às mu-
danças impostas, em diversos setores da sociedade, precisa de um ensino de ciências mais reflexivo e centrado no
aluno, com o professor assumindo uma postura questionadora de mediador do processo de ensino e aprendizagem,
voltado para a participação ativa dos alunos. As metodologias de aprendizagem ativas têm sido utilizadas como estra-
tégias educacionais para superar os desafios impostos no século XXI pela globalização, com o objetivo de formar pes-
soas que possam fazer frente aos grandes desafios, permitindo o avanço científico e econômico da sociedade (Bacich
e Moran, 2018).
Um sistema de aprendizagem cientificamente ativa, criado nos Estados Unidos, por volta de 2008, baseado na
cultura maker (Fortunato e Tardin, 2020) e nas disciplinas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, vem
sendo a sensação em algumas escolas nos Estados Unidos, também conhecido pelo acrônimo de CTEM, ciência, tec-
nologia, engenharia e matemática (STEM, por seu acrônimo em inglês), onde problemas abertos são utilizados para
motivar o processo de aprendizagem ativa (Brown, 2012; Casal, 2019; Ortiz-Revilla, 2020). Neste tipo de abordagem
os estudantes têm a oportunidade de aprender metodologias científicas por meio da busca de soluções de problemas
tecnológicos, fazendo hipóteses, perguntas e conjecturas, e ao mesmo tempo combinando as metodologias científicas
com ferramentas tecnológicas para buscar as soluções para os problemas (Flores, 2019).
Em uma evolução do sistema CTEM, que se concentra no ensino de Ciência Exatas e da Terra, tem sido proposto
o CTEAM (ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática.) (Queiroz, 2018), incluindo o componente curricular
de Artes no sistema. O CTEAM além de valorizar o desenvolvimento de competências científicas, se preocupa com o
desenvolvimento de competências socioemocionais, por meio de temas que promovam e valorizem a formação hu-
manística. Ambos os sistemas propõem oferecer um ensino de ciências centrado no aluno, por meio de projetos e
atividades que instiguem a participação do mesmo por meio da resolução de problemas, através do trabalho colabo-
rativo e como protagonista de seu aprendizado, para que uma aprendizagem significativa seja estabelecida. Por meio
de algumas etapas, o CTEAM favorece a aprendizagem por experimentação, demonstrando o motivo pelo qual o pla-
nejamento do professor é uma etapa de extrema importância no processo.