O uso de um podcast no ensino de física
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 424
Ao mesmo tempo em que faziam pesquisas e estudavam para criar os conteúdos para o podcast, os estudantes
das disciplinas de estágio conheciam os softwares de edição de áudio. No contexto deste trabalho foi utilizado o sof-
tware livre Bandlab, que embora não seja específico para a produção de podcasts, permite edição no próprio navega-
dor, além de permitir cooperação na edição, que facilita no processo de trabalho em grupo dentro da edição (Bandlab
Technologies, 2021). Para além das orientações de Kaplún (2017), a produção do podcast envolveu a escrita de men-
sagens para ser enviada aos estudantes via Moodle e questões para a enquete que acompanharia cada um dos episó-
dios.
A escolha do tema para o primeiro episódio se baseou nos seguintes critérios: ser um tema atual, do cotidiano dos
estudantes, que envolva algum aprendizado. Pensando nesses temas surgiram várias ideias, a escolhida foi falar sobre
o termômetro infravermelho, que está sendo utilizado na entrada de mercados e outros comércios, também devido
ao fato de que corria algumas fake news sobre o aparelho. O roteiro foi dividido em Blocos, para diferenciar os assun-
tos tratados durante o podcast. Assim surgiu o episódio 1: "Termômetro de testa”.
O primeiro episódio começou com a leitura de um comentário que é uma fake news sobre o termômetro infraver-
melho, qual diz que ele causa câncer e cegueira, o comentário também faz uma “confusão”, problematizando a dife-
rença entre raio infravermelho e ultravioleta, logo em seguida é feito comentários sobre os erros e para explicar esses
erros foi necessário explicar os conceitos de frequência de onda e espectro eletromagnético, ionização da matéria e
radiação infravermelha. Para criar o roteiro deste episódio foi feita uma reunião com quatro dos estagiários, três deles
do ESEF-A e um do ESEF-B, os 4 também atuaram no podcast. Como eram quatro vozes, houve certo desafio em
organizar os volumes e efeitos, as vozes das diferentes gravações também ficaram diferentes, o que acarretou em
mais tempo de edição. Fazer o roteiro de forma colaborativa também deixou o processo mais lento, uma vez que as
ideias tinham que circular e ser explicadas diversas vezes, mas tornou o processo mais rico.
A gravação do episódio 1 utilizou-se do software livre Discord (Discord Inc., 2021). O Discord é uma multiplata-
forma com foco em chat de voz e texto. O Discord permite que os usuários interajam entre si individualmente ou em
grupo por meio de um servidor (Pocket-lint, 2021).
A partir da enquete do primeiro episódio, foi possível avaliar qual o maior interesse dos estudantes para a produ-
ção de um segundo episódio, revelando que os estudantes tinham interesse por temas que ganharam prêmio nobel e
físicos brasileiros, pensando neste resultado, e na dificuldade dos estudantes do terceiro ano na matéria de eletro-
magnetismo, surgiu o segundo episódio: “Vida extraterrestre, magnetosfera e César Lattes”.
Foram feitos vários aprimoramentos no segundo episódio a partir da experiência do primeiro episódio e da análise
das respostas da enquete. A gravação foi feita separadamente, usando os próprios softwares do dispositivo de cada
um dos participantes, o que melhorou a qualidade das gravações. Nos blocos houveram acréscimos, decidiu-se por
colocar no final dos episódios uma tarefa ou questionamento, para que os ouvintes pesquisassem sobre o assunto,
indo além do podcast, se relacionando de maneira mais ativa com o conhecimento. Foi decidido também fazer um
formato de abertura definitivo, onde é tocado um sino após a recapitulação do último episódio publicado, como forma
de incentivar o ouvinte não só a ouvir o episódio passado, mas provocar aqueles que ouviram a relembrar do questi-
onamento feito no final do episódio passado. Como não houve questionamento final no episódio 1, neste não houve
essa realimentação. Para exemplificar melhor, no episódio 2 foi apresentado a ideia do aparato de vela solar, cujo
funcionamento se baseia na ideia de transferência de momento, ao se aproveitar do momento dos fótons emitidos
pelo sol para se mover pelo espaço, então é levantado a pergunta “mas como o fóton tem momento se ele não tem
massa?” se conclui então dizendo que o ouvinte deve buscar essa resposta.
O episódio contempla, além da abertura e finalização discutidos acima, a magnetosfera e seu papel de proteção
contra raios cósmicos e ventos solares, aurora polar, em seguida as implicações da magnetosfera na vida terrestre,
comentários sobre astrobiologia e condições necessárias para haver vida em um planeta, o próximo bloco então dis-
cute de como surge a magnetosfera, teoria do dínamo, e anomalia da américa do sul, que é o ponto onde entra a
história de César Lattes.
Foi tomado o cuidado para não passar a ideia de cientista herói, que comumente aparece nas narrativas em livros
didáticos e na cultura popular (Ribeiro, 2007), dizendo que ele tinha uma equipe de pesquisa, que ele “esteve na
equipe que ganhou o Prêmio Nobel de 1950” e que “Lattes e outros cientistas brasileiros fundaram um centro para
realizar pesquisas, o CBPF”, de maneira que não é retirado o mérito de César Lattes e também não é deixado de lado
o papel social e político do fazer ciência.
Na edição foi possível escolher efeitos sonoros que auxiliem o ouvinte a compreender o que está sendo dito, assim
como “entrar no clima” de aprendizado e criar relações com outros conhecimentos e conteúdos, pensando nisso al-
guns efeitos foram escolhidos, se complementando e contribuindo com a narrativa. O estéreo do áudio é alterado de
maneira que uma das vozes fique um pouco para a direita e o outro para a esquerda, um ouvido desatento não per-
cebe que há essa diferença, mas o subconsciente entende como duas pessoas diferentes, isso promove a ideia de
diálogo no podcast. No começo da aula é tocado um sino, como um sino usual de colégio, logo em seguida é introdu-
zido o tema, e lentamente começa a tocar um jazz ao fundo, o objetivo desses efeitos são vários, o sino traz o