Sequência didática sobre a avaliação do ciclo de vida das baterias de lítio
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 242
No quarto encontro formativo, após a exibição após do documentário “Minas de Cobalto no República Democrá-
tica do Congo”, onde o documentário demonstra a exploração de crianças nas minas de cobalto no Congo o aluno (V)
se indigna com a situação exposta. “V: Professor, horrível, horrível, desumano, como pode uma criança ser escrava
desse jeito, como pode isso existir, é horrível ver essa cena, uma criança de oito anos?” e
V: Então, como pode uma criança de oito anos já acordar pensando que vai ter que trabalhar na mina se sentindo mal, a
criança desde pequena já com esse sentimento. Depressivo, o corpo todo dolorido, professor, isso é horrível, desumano,
estou abismado.
Nas falas dos alunos, percebemos que eles ficaram incomodados com as situações exposta nos vídeos Para Hodson
(2002), os cidadãos do século XXI precisam se posicionar a respeito de questão ambientais, saúde, economia, justiça
social. Em vários contextos do encontro formativo percebemos que o aluno (V) fica incomodado com as situações que
eram expostas nos vídeos. Essas falas nos remetem às relações afetivas sentida pelos alunos e, conforme Habermas
(2004), se cada indivíduo pudesse reconhecer-se no outro, só então a espécie humana poderia se humanizar concer-
nente a dignidade que se perde em espaços invadidos pela racionalidade instrumental.
Outro ponto importante presente nas falas dos estudantes foram evidências de politização. Ser politizado é preo-
cupar-se com o mundo, mas com um mundo organizado de outra maneira, por meio de alterações de leis, estatutos,
constituições que produza a justiça social e a dignidade humana Arendt (2002). Para Arendt (2002), a política não
surge no indivíduo e sim entre os indivíduos, onde a liberdade e a espontaneidade entre os eles são as hipóteses
necessárias para o surgimento de um espaço, onde só assim, torna-se a política verdadeira. O sentido da política é a
liberdade. Nesse sentindo temos as enunciações dos alunos (I) e (B):
I: Pra gente ver né, esses países desenvolvidos entre aspas, mas esse desenvolvimento custa de quem?
B: A gente fala que o neocolonialismo ficou lá atrás, mas na verdade não é bem assim né, eles ainda continuam tipo, usando
a América, tipo o Brasil, a África para manipular esses estados a favor deles em todos os quesitos.
B: Sempre vai ter alguém para se beneficiar mesmo numa fase ou em algum problema, não é mesmo? Tipo, o governo
também faz a sonsa, finge que não existe nenhum problema né, então, é complicado.
Em nosso entendimento, defendemos que a politização dos alunos pode ocorrer por meio de uma educação cien-
tífica e, de acordo com Sadler et al (2005), o papel da educação científica está associado ao desenvolvimento do aluno,
preparando-os para discutir assuntos relacionados à sociedade.
As falas dos alunos (V) e (I) denunciaram a barbárie do consumismo em nossa sociedade, com isso, a intenção do
professor foi assertiva, pois a intencionalidade dele nesse primeiro encontro formativo era fazer com que os alunos
entendessem e parassem para pensar em tais questões, denunciando a lógica perversa dos valores desumanos pro-
duzidos na sociedade tecno-científica (Santos, 2008).
V: Professor, é assim, eu não sei se é senso comum, deve ser, mas eu não tinha essa visão da Black Friday tá, agora eu não
gosto mais dela, não tinha essa visão professor, é totalmente verdade a Black Friday só serve para vender mais e vender
mais a cada ano, e só aumenta o descarte de lixo, para eles terem que ficar lá se intoxicando.
I: Temos que mudar o padrão de consumo né, porque se a gente consumisse menos, teria menos lixo, né!
A seguir apresentamos considerações à Dimensão de Análise “(II) atuação docente perante os encontros formati-
vos no ensino remoto” focando nesse momento (II.a) Aspectos de prática de ensino instrumental do professor no
desenvolvimento da temática sociocientífica.
Apesar dos estudos envolvendo os referenciais teóricos da Questões Sociocientíficas e da Teoria Crítica para o
planejamento da sequência didática, o professor da turma demonstrou dificuldades na mobilização de conhecimento
para discussão em sala de aula, no “manejo” do início dos processos argumentativos dos alunos, sempre demons-
trando preocupação no término da sequência, pois existia o currículo escolar para cumprir. Isso é compreensível, pois
a prática de ensino do docente sempre foi conteudista e tradicional, trabalhando com aula expositiva e dialogada ( na
perspectiva pergunta-resposta) e resolução de exercícios, as discussões que haviam em sala de aula eram sempre
referentes ao conteúdo específico da disciplina.
Nesse sentido, Hughes (1999) apontou que uma parcela dos professores de ciências não é especializados e não
tem formação sociológica, política e econômica para o debate que as Questões Sociocientíficas podem exigir, corro-
borando com esse entendimento, apresentamos as “falas” abaixo em um momento de discussão acerca de conheci-
mentos específicos em torno da bateria de lítio:
V: Um ponto positivo para as baterias de lítio é menos poluente né, porque você não descarta como a bateria de chumbo
né, já que é recarregável.