sobre
a incapacidade das mulheres de produzirem conhecimentos científicos. Entretanto, além de não haver um método
que comprove a veracidade de uma teoria (Chalmers, 1993), o próprio fazer científico é repleto de subjetividades, já
que envolve sujeitos que possuem emoções atreladas a sua vivência e que podem influenciar nesse processo (Gon-
çalves et. al. 2019).
Concepções de que as carreiras científicas são impróprias para as mulheres, somadas à tardia implantação de cur-
sos de Física no Brasil, resultaram em uma área acadêmica extremamente masculinizada (Rosa; Silva, 2016). Numa
pesquisa bibliográfica realizada no banco de dados da Revista Brasileira em Ensino de Física, Gomes, Carvalho e Rocha
(2021) indicaram que a participação das mulheres nas Ciências tem crescido, porém lentamente, e as autorias mascu-
linas chegam a ser 6 vezes maiores que as femininas nos últimos anos. Na robótica esses números são ainda mais
alarmantes: Nassi-Calò (2017), analisando diversas bases de dados, constatou que as mulheres são ainda sub-repre-
sentadas nas áreas de conhecimento relacionadas a exatas, sendo isso expresso nos dados de coautorias femininas
identificadas que representaram menos de 5% das publicações totais.
A produção do conhecimento científico reproduz e reforça estruturas da sociedade patriarcal na qual está inserida,
justamente por não ser um processo neutro. Esse sistema patriarcal atribui aos homens um lugar de poder e destaque
na sociedade em detrimento de outros membros desta, principalmente em relação às mulheres (Barreto, 2009). As-
sim, a escola atuará como um ambiente que reproduz e naturaliza essas concepções geradas no patriarcado, apresen-
tando o feminino e o masculino como opostos (Louro, 2014, Reis; Gomes et al., 2009). Sendo uma extensão de práticas
sociais, o ensino de Ciências carrega marcas dessa cultura, culminando no apagamento histórico de mulheres na Ci-
ência e gerando uma representação social negativa em relação à participação delas em carreiras científicas. Essas
representações sociais constituem um conhecimento produzido socialmente que pauta a leitura de mundo de senso
comum (Jodelet, 2002; Machado, 2008; Moscovici, 2015). Recheadas de estereótipos de gênero, essas representações
sociais podem ser internalizadas por docentes e alunos de forma inconsciente, culminando em diferentes expectativas
e projetos de vida associados ao gênero (Silva, 2005). Quando reduzimos seres humanos a determinados papéis, reti-
ramos sua humanidade e os transformamos em objetos, negando sua subjetividade, multiplicidade e complexidade,
transformando sujeitos em corpos e subjugando um indivíduo a partir de sua formação biológica. Em contraposição a
isso, as perspectivas antissexistas do ensino buscam promover uma educação mais inclusiva (Rosa; Silva, 2016) assu-
mindo que o apagamento histórico de mulheres pode gerar representações sociais da Ciência que atribuem um pa-
drão masculino, branco e heteronormativo à figura de cientista. Essa representação social também pode vir associada
a uma série de características e expectativas que acabam sendo relacionadas às pessoas que exercem outras funções
e profissões atreladas ao conhecimento científico. Caberia então, à escola, ser um ambiente que proporciona a todos
os alunos e alunas acesso a conteúdo livres de estereótipos. Não é à toa que o movimento feminista, com sua busca
por equidade, reivindicou, provocou e influenciou mudanças na educação, seja através da proposição de alterações
no processo de ensino-aprendizagem ou na garantia de acesso ao ambiente escolar para as mulheres, atuando como
forma de combater a opressão e as desigualdades (Rosa; Silva, 2016). Ações com a proposta de enfrentamento ao
sexismo são apoiadas e garantidas, por exemplo, no Programa Nacional de Direitos Humanos II (2002), no relatório
geral da educação para todos (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, 2004), e na Lei nº
11.340 (Brasil, 2006). Nesse sentido, esta pesquisa teve por objetivo verificar se o gênero do docente pode influenciar
a representação social construída por estudantes sobre cientistas.
II. METODOLOGIA
Esta pesquisa foi desenvolvida nos anos de 2019 e 2020, por um grupo de pesquisa sobre gênero do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Brasil. Ela foi realizada em duas etapas numa escola privada na cidade
de São Bernardo do Campo, localizada no estado de São Paulo (Brasil), com alunos e alunas do ensino fundamental II
(idades entre 11 e 15 anos), matriculados nos períodos matutino e vespertino dessa unidade escolar. Em uma primeira
etapa deste estudo, realizou-se uma pesquisa documental a partir de 650 fichas de inscrição dessas alunas e alunos
num campeonato de robótica realizado nesse estabelecimento de ensino. A partir dessa análise, selecionou-se um
subgrupo de 32 estudantes que chegaram à final do torneio, divididos em oito quartetos, o que permitiu identificar
de forma mais detalhada a organização interna de cada grupo e a participação de seus componentes ao longo do
campeonato. Em outra etapa foi realizada uma pesquisa de campo com outro subgrupo formado por 82 alunos e
alunas do último ano da educação básica, divididos em 4 classes do 9º ano, sendo aproximadamente metade de cada