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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 211
No segundo exemplo, apontamos, novamente, que esta disciplina é caracterizada apenas por conteúdos científicos,
não estando presentes os conteúdos pedagógicos que se fazem indispensáveis para a inserção dos tópicos da Física do
século XX e contemporânea no Ensino Básico. Além disso, ressaltamos que os tópicos “spin” e “momento angular” não
são contemplados na caracterização desta ementa.
Já no terceiro exemplo, vemos que a disciplina insere, nos objetivos, a avaliação de materiais didáticos de física, os
quais pensamos que possam ser apostilas, livros didáticos, paradidáticos e textos de divulgação científica, entre outros.
Esse item parece ter sido incluído para atender as atuais diretrizes para a formação de professores, as quais exigem
400 (quatrocentas) horas para a prática dos componentes curriculares de conhecimentos. Neste caso, os conhecimen-
tos são os científicos que se articulam com as práticas educacionais. No entanto, olhando os assuntos a serem abor-
dados na disciplina, evidenciamos a prevalência de conteúdos científicos (Equação de Schrödinger – Exemplos, Teoria
Quântica do átomo de hidrogênio, Momentos de Dipolo Magnético, Spin do Elétron e Taxas de Transição, Átomos
multieletrônicos, estados fundamentais e excitações ópticas, Estatística Quântica, Moléculas, Estrutura Eletrônica dos
Sólidos, O Núcleo Atômico, Decaimentos Nucleares e Reações Nucleares). Apena o tópico “Física Moderna na Educação
Básica” inserido na ementa diz respeito a um conteúdo pedagógico.
Nossa experiência como professores de física e como pesquisadores da área de Ensino de Física mostrou que há
uma dificuldade de se introduzir a discussão de alguns elementos da Mecânica Quântica no Ensino Médio. Embora
encontremos, na literatura da área, algumas experiências bem-sucedidas, de implementação de sequências de ensino,
a maioria dos professores, com os quais temos contato, afirmam que não inserem discussões deste tópico em aulas
de física. Entre os argumentos estão: a) falta de tempo/carga horária; b) não é cobrada em exames seletivos de ingresso
nas universidades; c) não possui formação adequada para ensinar esse assunto.
Uma dificuldade de inserção de elementos da Teoria Quântica no Ensino Básico pode se dar, também, devido à
falta de discussões sobre os processos de transposição deste tópico para o contexto escolar. Constatamos que poucas
são aquelas disciplinas que abordam discussões de cunho pedagógico acerca do ensino da Teoria Quântica, seja para
o nível médio ou superior. Ainda, ressaltamos a diminuta participação de disciplinas específicas dedicadas a discussões
sobre o ensino ou aprendizagem de tópicos da física do século XX ou das mais recentes descobertas da física. Identifi-
camos apenas uma disciplina dedicada exclusivamente a essa função, intitulada “Física Moderna para professores do
Ensino Médio, ofertada pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
Defendemos o ensino da Teoria Quântica a partir de uma abordagem histórica, tal como proposto do Pessoa Junior
(1996) ou Souza, Silva e Teixeira (2020), como exemplos.
IV. CONCLUSÕES
Em nosso estudo, partimos do pressuposto da dificuldade de inclusão de conteúdos da física do século XX na Educação
Básica, mesmo ela sendo comtemplada nas diretrizes educacionais do Brasil. Pensamos que essa inclusão é possível
se, entre outros aspectos, os professores sentirem-se confiantes em discutir tais assuntos com os alunos.
Para que isso ocorra, é necessário que o ensino destes conteúdos e sua transposição para contextos escolares seja
abordado na formação inicial e/ou continuada de professores. Perante isso, como parte de um estudo mais amplo,
nosso objetivo foi de analisar como a Mecânica Quântica é inserida no currículo dos cursos de Física Licenciatura da
região Sudeste do Brasil, em termos de tempo didático, momento de oferta e de conteúdos privilegiados?
As ações realizadas permitiram atingir nosso objetivo. Por meio deles, identificamos 88 cursos, os quais 44 deles
são ofertados no período noturno. Encontramos, ainda, 100 disciplinas que abordam a Mecânica Quântica, em partes
ou em sua totalidade, sendo 69 obrigatórias e 17 optativas.
Como explicitado anteriormente, a maioria das disciplinas são ofertadas a partir do 5
o
período, em virtude do rigor
matemático necessário para desenvolvê-las em sala de aula, uma vez que a abordagem prioritária no nível superior é
a formalista. 68% das disciplinas possuem carga horária igual ou maior que 60 horas, o que demonstra uma preocupa-
ção, por parte dos elaboradores dos currículos, no que diz respeito a quantidade de aulas necessárias para o ensino
da teoria.
Dentre as ementas analisadas, grande parte das disciplinas que abordam a Mecânica Quântica são as nomeadas
Física Moderna I, Física Moderna II, Física Quântica e Mecânica Quântica. Ressaltamos a importância de disciplinas
dedicadas exclusivamente ao ensino da Quântica e de sua transposição para o contexto escolar, visto que, as disciplinas
que compõem a maior parte do montante analisado são as denominadas “Física Moderna” e, essas, são destinadas a
abordar, também, outros conteúdos, como por exemplo, “Relatividade Geral e Restrita”.
Podemos afirmar que, a Mecânica Quântica está inserida na maioria (78%) dos cursos de Licenciatura em Física do
sudeste do Brasil, embora sejam poucos aqueles que disponibilizam disciplinas exclusivas para o ensino dela. Ademais,
notamos que são poucas as disciplinas que abordam aspectos metodológicos acerca do ensino desta teoria, proporci-
onando falta de conexão entre os conteúdos pedagógicos com os de cunho físico-conceitual.