Modelo para avaliação do argumento de prova
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 148
O modelo representado na figura 3 ilustra de forma sintética a abordagem proposta para avaliar a qualidade do
argumento de prova em uma situação que envolve a obtenção e validação do modelo matemático.
Todos os elementos indicados: dados (D), garantia (W), apoio da garantia (B), qualificador (Q), Refutação (R) e
conclusão (C) são definidos por Toulmin (2006).
O que a abordagem apresenta de inovador é a possibilidade de classificar os componentes do argumento sob a luz
da teoria de Balacheff (1987,1988). A classificação da garantia, em especial, por si só, orienta a classificação dos outros
componentes do argumento: dados, apoio, qualificadores, elemento de refutação e conclusão. Em particular:
Os dados (D) podem ser classificados como empíricos ou bibliográficos. O dado é empírico quando é coletado
diretamente do fenômeno ou objeto de estudo por meio da observação e manipulação do objeto. Por outro lado, o
dado é classificado como bibliográfico quando é coletado indiretamente pelo aluno por meio de buscas a fontes
bibliográficas no intuito de compreender melhor a situação problema.
A natureza da garantia (W) pode ser compreendida através do modo como o aluno obtém o modelo e realiza a sua
validação. Para Balacheff (1987) esse “modo” está relacionado com estratégias/raciocínios utilizados pelos alunos em
sua argumentação para produzir provas.
Nesse sentido a garantia apresentada se baseia em alguma das seguintes categorias já descritas na seção anterior:
empirismo ingênuo, experimento crucial, exemplo genérico e experiência mental (Balacheff, 1987).
Durante essa classificação, o professor deverá ficar atento ao tipo de raciocínio empregado pelo aluno durante a
obtenção e validação do modelo matemático. Um raciocínio indutivo em que o aluno esboça uma tentativa de
generalização através de testes particulares permitirá ao professor analisar o tipo de teste realizado e então classificar
a garantia em empirismo ingênuo ou experimento crucial (Balacheff, 1987). Por outro lado, a depender do tipo de
raciocínio dedutivo que o aluno vier a praticar, seja ele, amparado em um caso particular ou geral, irá corroborar para
que o professor possa classificar a garantia como exemplo genérico ou experiência mental (Balacheff, 1987).
Os apoios (B), podem aparecer implícitos na explicação do aluno fazendo referência ao raciocínio empregado e
são classificados em: empirismo indutivo e racionalismo dedutivo. O empirismo indutivo é caracterizado por uma
corrente epistemológica em que o conhecimento é construído a partir da ação-experiência-observação. Já o
racionalismo dedutivo, remete ao mundo da razão, ao conhecimento construído de forma lógica, através de operações
mentais.
A classificação do apoio depende do tipo de garantia apresentada, ou seja, os tipos de garantias denominadas de
empirismo ingênuo e experimento crucial remetem a corrente teórica ligada ao Empirismo indutivo. A garantia
baseada na experiência mental tem apoio na teoria do racionalismo dedutivo. E por fim a garantia com base no
exemplo genérico, a depender do nível de dedução realizado pelo aluno e grau de apego deste ao caso particular,
pode tanto variar de empirismo indutivo ao racionalismo dedutivo.
O professor deverá estar atendo ao tipo de explicação e raciocínio empregado pelo aluno para identificar o tipo
de apoio. Se a explicação do aluno for baseada na ação experimental, na experiência de manipulação do objeto de
estudo em questão, trata-se de um apoio associado ao empirismo indutivo. Caso contrário, se a explicação do aluno
envolver conceitos e teorias para fundamentar o raciocínio, o apoio tem fundamentação na razão, trata-se, portanto,
de uma referência ao racionalismo para realizar deduções.
O qualificador modal (Q), pode ser analisado com base no tipo de teste realizado pelo aluno para então proferir
um grau de força a conclusão. Em um nível de força, do menor para o maior, os testes podem ser classificados como:
teste ingênuo, teste crucial e teste genérico. Dessa forma um argumento baseado em um teste genérico, a conclusão
tem mais força do que uma conclusão baseada em argumentos associados a testes ingênuos e crucial.
O elemento de refutação (R) é parte integrante da estrutura completa do argumento de Toulmin (2006). Neste
estudo, compreendemos o elemento de refutação também como um experimento crucial (Balacheff, 1987), cujo
contraexemplo desprovido do caráter generalizador, atua na refutação parcial de uma conclusão.
Por fim o tipo de conclusão proferida, seja ela, pragmática ou intelectual, é designada com base na avaliação da
classificação das garantias e dos apoios fornecidos. A classificação do apoio decorre da classificação da garantia e
nesse caso, o apoio em última instância, por si só, é capaz de direcionar o tipo de conclusão do argumento.
O argumento, portanto, é forte e bem elaborado se a conclusão for classificada como prova intelectual ou se a
conclusão for um elemento de prova pragmática, do tipo experimento crucial à serviço da refutação de um argumento.
Por outro lado, o argumento será classificado como fraco e de pouca elaboração quando a conclusão estiver baseada
uma prova pragmática de caráter não refutador.
Indicamos a utilização deste modelo como um instrumento para avaliar a qualidade do argumento de prova, com
fins de validação, produzido por alunos da Educação Básica especialmente no Ensino Médio. É neste último nível de
ensino que os alunos deverão estar aptos demonstrar competências e habilidades argumentativas para produzir
provas mais elaboradas (Balacheff, 1987,1988).