Obra bajo Licencia Creative Commons 4.0 Internacional
Recial Vol. XIII. 22 (Julio-Diciembre, 2022) ISSN 2718-658X. Carla Dameane, Bruno
Machado, Traduzindo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), Da Companhia Kimvn Teatro Documental: Um
Estudo Sobre a História e a Resistência Mapuche. pp. 148-160.
https://doi.org/10.53971/2718.658x.v13.n22.39353
Traduzindo Ñi pu tremen, mis antepasados (2008), da companhia Kimvn
Teatro Documental: Um estudo sobre a história e a resistência mapuche
Carla Dameane
Universidade Federal da Bahia, Brasil
carladameane@gmail.com
ORCID: 0000-0001-6283-4930
Bruno Machado
1
Universidade Federal da Bahia, Brasil
letras.bruno@gmail.com
ORCID: 0000-0003-1872-3330
Recibido 25/08/2022. Aceptado 12/09/2022
Resumo
Nesse artigo pretende-se apresentar os resultados do plano de trabalho de iniciação científica
de mesmo nome, além do desenvolvimento da tradução de Ñi pu tremen, mis antepasados
(2008), da companhia KIMVN Teatro Documental, um texto dramático produzido em espanhol
chileno com trechos em Mapudungun. A pesquisa, vinculada ao Núcleo de Estudo de Escrituras
Performáticas Andinas (NUEEPA), e à Rede de Estudos Andinos, realizou-se com
financiamento da FAPESB. Durante o seu período de vigência, a pesquisa teve como objetivo
realizar gradualmente a tradução interlíngua de Ñi pu tremen, do espanhol chileno para o
português brasileiro. Paralelamente, foram realizados estudos bibliográficos acerca das teorias
de tradução cultural e intersemiótica, considerando o par espanhol/português, as relações entre
a literatura e as artes cênicas, além de estudos sobre os povos originários do Chile e o conceito
de teatro documental. O trabalho, de pesquisa/tradução, é justificado pela possibilidade de
promoção de uma reflexão sobre a tradução como auxílio à compreensão e acolhimento
intercultural entre as línguas/culturas brasileira e Mapuche. Neste artigo sinalizaremos como
projetos de pesquisa em tradução similares representam uma possibilidade de troca de saberes
acerca da pluralidade étnico-racial dos países latino-americanos, além de estimular uma maior
visibilidade à dramaturgia e ao teatro mapuche chileno.
Palavras-Chave: Tradução Cultural; Literatura Dramática; Mapuche; KIMVN; Teatro
Documental.
Obra bajo Licencia Creative Commons 4.0 Internacional
Recial Vol. XIII. 22 (Julio-Diciembre, 2022) ISSN 2718-658X. Carla Dameane, Bruno
Machado, Traduzindo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), Da Companhia Kimvn Teatro Documental: Um
Estudo Sobre a História e a Resistência Mapuche. pp. 148-160.
Traduciendo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), De la Compañia Kimvn Teatro
Documental: Un Estudio Sobre La Historia y La Resistencia Mapuche.
Resumen
En este artículo se presentan los resultados del plan de trabajo de iniciación científica
homónimo, además del desarrollo de la traducción de Ñi pu tremen, mis antepasados (2008),
de la compañía KIMVN Teatro Documental, texto dramático producido en español de Chile
con pasajes en Mapudungun. La investigación estuvo vinculada al Núcleo de Estudios de
Escrituras Performáticas Andinas (NUEEPA), y la Red de Estudios Andinos, con apoyo de la
FAPESB. En el período de vigencia, fue realizada gradualmente la traducción interlingüística
de Ñi pu tremen al portugués de Brasil. Paralelamente, se realizaron estudios bibliográficos
sobre las teorías de traducción cultural e intersemiótica, considerando la pareja
español/portugués, la relación entre la literatura y las artes escénicas, así como estudios acerca
de los pueblos originarios de Chile y el concepto de teatro documental. El trabajo, de
investigación/traducción, se justifica por la posibilidad de alentar la reflexión acerca de la
traducción en cuanto apoyo a la comprensión y recepción intercultural entre las
lenguas/culturas brasileña y mapuche. En este artículo señalamos cómo proyectos de
traducción similares representan una posibilidad de intercambio acerca de la pluralidad étnico-
racial de latinoamérica, además de estimular la visibilidad de la dramaturgia y el teatro
mapuche chileno.
Palabras-Clave: Traducción Cultural; Literatura Dramática; Mapuche; KIMVN; Teatro
documental.
Translating Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), by the Documental Theater
Company KIMVN: An investigation on the Mapuche History and Resistance
This article intends to present the results of the work plan for the scientific initiation that has
the same name, as well as the translation of Ñi pu tremen, mis antepasados (2008), by the
Documental Theater Company KIMVN, a dramatic text written in Chilean Spanish with
excerpts in Mapudungun. The research, associated with the Center of Studies on Andean
Performing Writing (NUEEPA), and with the Andean Studies Network, was funded by
FAPESB. While it was being conducted, the purpose of the research was the progressive
translation of Ñi pu tremens from Chilean Spanish into Brazilian Portuguese. At the same time,
bibliographic studies concerning the cultural and intersemiotic translation theories were
undertaken, considering the pair Spanish/Portuguese, the relations between literature and
Obra bajo Licencia Creative Commons 4.0 Internacional
Recial Vol. XIII. 22 (Julio-Diciembre, 2022) ISSN 2718-658X. Carla Dameane, Bruno
Machado, Traduzindo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), Da Companhia Kimvn Teatro Documental: Um
Estudo Sobre a História e a Resistência Mapuche. pp. 148-160.
performing arts, as well as studies on native people from Chile and the concept of documental
theater. The research/translation is justified by the possibility to foster the reflection on the
translation as an aid to the comprehension and intercultural shelter between the Mapuche and
Brazilian languages/culture. This article highlights how similar research projects on translation
studies are potential ways to share knowledge about ethnic-racial plurality of Latin American
countries, and provide more visibility to drama and the Chilean Mapuche theater.
Keywords: Cultural Translation; Dramatic Literature; Mapuche; KIMVN; Documental
Theater
Introdução
Os Mapuche, unindo seu grupo central e suas quatro ramificações, representam a terceira
maior nação originária da América, são menos numerosos apenas em relação aos Quéchua e
aos Aymara. Situam-se principalmente na região da Araucanía, Chile, apesar de que também
estão presentes no sudoeste da Argentina. WallMapu é denominado em Mapudungun, a língua
tradicional mapuche, como sendo o território total, por direito, dos povos mapuche. PuelMapu
a parte argentina e NguluMapu a parte chilena (Grebe Vicuña, 1998, p. 55).
De um modo geral, o povo mapuche se sustenta a partir de uma economia de subsistência,
pautada numa produção agropastoril que se complementa com as determinadas especificidades
dos seus subgrupos, em geral acontece a confecção de tecidos de lã, entalhados, trançados e
outros produtos artesanais.
No fim do século XIX, sob influência de uma forte ideologia extrativista e exploratória por
parte da economia e do Estado Chileno, ocorre a Guerra de Ocupação da Araucanía (1860 -
1883). Em decorrência desse conflito, os mapuche se veem obrigados a realizar um processo
de êxodo rural ao longo do século XX, o que resultou na extinção dos Pikunches, ramificação
(Família) mapuche do norte, mais próxima à capital Santiago (Grebe Vicuña, 1998, p. 56).
Atualmente, um dos grandes problemas que os Mapuche enfrentam, além da repressão política,
é uma constante tentativa de apagamento cultural daqueles que migram forçosamente para as
grandes cidades, se distanciando do meio rural, onde a princípio poderia ocorrer a manutenção
dos seus costumes (Grebe Vicuña, 1998, p. 65).
No contexto da imigração do campo para a cidade, contudo, novas gerações de descendentes
de mapuche ocuparam o espaço urbano e como uma reação à essas tentativas de apagamento
de sua cultura, eles reivindicam e trabalham pela recuperação de seus laços culturais e
familiares. Algo que ocorre com os artistas/criadores que formam a Companhia de teatro
KIMVN, cujo trabalho com as artes cênicas, asica e outras performances se dá através dos
repertórios da memória coletiva e documental
2
.
Assim, a obra Ñi pu tremen se apresenta como um conjunto de relatos de senhoras mapuche,
onde narram-se fragmentos das suas histórias de vida (Marisol Ancamil; Juana Huaquilaf;
María Huaquipan; Maribel Hueche; Norma Hueche; Constanza Hueche; Marlen Hueche;
Aurelia Huina; Elena Mercado; Isolina Mercado; Norma Nahuel; Elsa Quinchaleo; Carmen
Saihueque; María Luisa Seguel Mercado) como testemunho da memória de um país (González
Obra bajo Licencia Creative Commons 4.0 Internacional
Recial Vol. XIII. 22 (Julio-Diciembre, 2022) ISSN 2718-658X. Carla Dameane, Bruno
Machado, Traduzindo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), Da Companhia Kimvn Teatro Documental: Um
Estudo Sobre a História e a Resistência Mapuche. pp. 148-160.
Seguel, 2018, p. 41).
Em termos mais gerais, realizar um processo de tradução como esse foi importante, por
conta da aproximação da visão de mundo entre uma comunidade e outra (Meneses, 2019, p.
267). O Brasil se aproxima do Chile em certa medida, quando essa tradução se efetiva. A autora
da obra se aproxima dos novos possíveis leitores no Brasil e a comunidade mapuche como um
todo se aproxima do conhecimento geral dos brasileiros, levando em consideração que há uma
certa dificuldade do imaginário coletivo brasileiro em se reconhecer enquanto América Latina.
Como estudante do curso de Licenciatura em Letras Vernáculas com o idioma Espanhol, em
parceria com minha orientadora, propormos uma versão de tradução para Ñi pu tremen se
mostrou como uma tarefa motivadora para acessar aspectos até então desconhecidos sobre a
diversidade de culturas/línguas que fazem parte de nações hispanohablantes.
As atividades realizadas ao longo da pesquisa/tradução foram principalmente, a realização
da tradução interlingual, do castelhano chileno para a língua portuguesa do Brasil, do texto
dramático Ñi pu tremen, mis antepassados (2008), da Companhia KIMVN Teatro Documental;
estudos de tradução cultural e intersemiótica, considerando o par Castelhano/Português e as
relações entre a Literatura e as Artes Cênicas e estudos relacionados à performance e ao teatro,
em especial ao teatro documental, a partir de um viés voltado para a representação e a
enunciação de sujeitos andinos, no caso específico desta obra, os Mapuche, do Chile. Além
disso, pudemos refletir criticamente sobre o conceito da tradução como processo que auxilia o
entendimento e o acolhimento intercultural. A seguir apresentamos mais informações sobre o
texto dramático espetacular traduzido, sobre as etapas da prática de tradução e as nossas
considerações finais.
Ñi pu tremen: testemunho e documento da cultura mapuche
A partir de nossas leituras de Grebe Vicuña (1998), obtivemos informações de que os
Mapuche não se estabelecem em aldeias, preferem os assentamentos rurais de cada família
extensa em seu próprio conjunto de “vivendas”. Devido a isso, há uma distância relativamente
ampla entre os lugares de residência de cada família, o que tem contribuído para manter sua
respectiva independência e estilo de vida.
Os mapuche se sustentam a partir de uma produção agropastoril familiar, criação de porcos
e galinhas, plantações de batatas e outros vegetais. Atualmente, com o interesse externo,
comercializam também os seus tecidos de lã tradicionais, geralmente destinados ao vestuário,
além de outros produtos artesanais.
Os Mapuche possuem um histórico de intensa resistência em relação às comunidades
externas, resistiram ao avanço inca, ao colonialismo espanhol e seguem resistindo aos
instrumentos de apagamento cultural contemporâneos, tal resistência/manutenção dos
costumes gira em torno da figura da Machi, uma espécie de Curandeira e Xamã da comunidade
mapuche. De acordo com Grebe Vicuña, “la principal portadora y transmisora de la religión
mapuche es la machi... destacándose su participación en los ritos medicinales terapéuticos y
diagnósticos, adivinatorios y comunicativos” (1998, p. 60).
As históricas formas de preservação cultural e religiosa dos mapuche são eficazes, porém
perigosas, seus líderes velam por sua preservação a partir de dois mecanismos principais: (1)
Obra bajo Licencia Creative Commons 4.0 Internacional
Recial Vol. XIII. 22 (Julio-Diciembre, 2022) ISSN 2718-658X. Carla Dameane, Bruno
Machado, Traduzindo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), Da Companhia Kimvn Teatro Documental: Um
Estudo Sobre a História e a Resistência Mapuche. pp. 148-160.
restringindo a transmissão oral dos conteúdos fundamentais somente aos membros oficiais ou
outros mapuches que se sobressaem como portadores da tradição religiosa; e (2) bloqueando o
acesso e a compreensão aos não-mapuche (Grebe Vicuña, 1998, p. 60)
Um período histórico bastante decisivo para os mapuche ocorreu no fim do século XIX,
quando o então Estado Chileno contraria os acordos feitos com eles pela coroa espanhola, e
sob influência de uma forte ideologia extrativista e exploratória, provoca a conhecida guerra
de Ocupação da Araucanía (1860-1883), dando início à uma intensa onda de descriminação em
torno do povo mapuche, que segue resistindo contra ações militares “anti-terroristas” que visam
suprimir os movimentos mapuche e campesino que reivindicam os direitos da comunidade.
Em decorrência desse conflito, os mapuche, com parte de suas terras usurpadas e sem muitos
direitos garantidos, acabam realizando um intenso processo de êxodo rural ao longo do século
XX, que perdura até os dias atuais. As tentativas de aculturação, junto aos demais problemas
sócio-políticos, representam as principais causas para o silenciamento e apagamento dos
costumes mapuche, sua ngua, religião, métodos de subsistência e costumes em geral estão
todos ameaçados por esse intenso e histórico processo (Grebe Vicuña, 1998, p. 56).
Contudo, descendentes de mapuche nascidos em Santiago, têm colaborado com um
movimento de revitalização e preservação da história e cultura do povo mapuche através
mecanismos outros, além dos tradicionais, um exemplo desse caso é o grupo de Teatro
KIMVN, estudado neste trabalho. Através da prática do Teatro Documental, o grupo realiza
um resgate de relatos e memórias coletivas junto ao povo mapuche, onde a encenação é
mesclada ao registro histórico desses acontecimentos, posicionamentos e opiniões a fim de
preservá-los e em muitos casos ressignificar o que foi posto enquanto verdade pela
historiografia ocidentalizada, atrelada ao Estado Chileno. Cabe ainda assinalar que, ao integrar
as variadas formas de linguagem, como a música, as artes visuais e a fotografia, a companhia
KIMVN, nesta perspectiva, dialoga com meios de produção artísticos ancestrais, através do
uso de instrumentos e música mapuche e de uma performatividade cênica relacionada às
práticas culturais e rituais mapuche.
A peça Ñi pu tremen: mis antepasados é dirigida pela fundadora do Grupo de Teatro
KIMVN, que também assina a dramaturgia documental da obra. Trata-se de um texto
dramático espetacular composto por um conjunto de relatos de senhoras mapuche, tendo um
elenco total de 14 mulheres da comunidade Petu Moguelein Mawidache e do clube de idosas
Flor do Inverno, ambos da comuna de El Bosque, em Santiago do Chile. Nessa apresentação
narram-se fragmentos de história de vida enquanto um testemunho da memória de um país,
acompanhados de uma musicalidade inspirada no resgate do patrimônio imaterial do povo
Mapuche (González Seguel, 2018, p. 41).
Os relatos que podemos acessar, a partir de Ñi pu tremen Mis Antepassados são testemunhos
de enorme importância para a preservação da história e da cultura mapuche. Segundo a própria
Paula González Seguel:
El teatro documental me ha permitido mirar, resignificar y reconocer mi propia
historia en otras y en otros de la mano de los dramaturgos Marisol Vega Medina
y David Arancibia Urzúa, la música de Evelyn, más las voces de mujeres
mapuche de distintas generaciones. (2018, p. 26).
Obra bajo Licencia Creative Commons 4.0 Internacional
Recial Vol. XIII. 22 (Julio-Diciembre, 2022) ISSN 2718-658X. Carla Dameane, Bruno
Machado, Traduzindo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), Da Companhia Kimvn Teatro Documental: Um
Estudo Sobre a História e a Resistência Mapuche. pp. 148-160.
Na esteira da diretora e dramaturga, o teatro documental pode-se descrever como um
conjunto de obras nas quais a dramaturgia visibilidade às problemáticas circundantes, no
que diz respeito a problemas sociais vigentes ou anteriores. No caso de Ñi pu tremen o “texto-
documento” se desenvolve pelos relatos das “atrizes-testemunhas”, atuando assim como um
registro histórico mas também como obra artística, algo que se movimenta entre o estético, o
social e o político (González Seguel, 2018, p. 25) contrapondo a invisibilização sofrida pelos
mapuche em todo o meio artístico chileno, “a invisibilidade dos Mapuche no teatro chileno
será para González Seguel motivação para que, já imersa no espaço acadêmico e das Artes
Cênicas, escolha voltar-se ao contexto familiar e a partir dali iniciar um trabalho de direção
(Souza, 2019, p. 181).
Segundo a própria autora, as obras de teatro documental se manifestam como uma
recompilação de testemunhos reais, transmitidos através do resgate e a documentação da
oralidade, pautada nesse caso, em uma recontextualização cênica. Atuando também enquanto
um ato de denúncia.
Rescate de aquellas imágenes que se arraigan en nuestra memoria y cómo estas
se han visto cruzadas por ciertos hitos históricos del tiempo y contexto que
habitamos. Aparece... una voz particular que transita entre lo privado y lo
público... Las obras son actos de denuncia, de resistencia, de legitimidad de la
voz de aquellos que han sido obligados a guardar silencio. (González Seguel,
2018, p. 25).
Entendemos que as características do teatro documental se fazem presentes neste texto
dramático espetacular quando: corpos reais de mulheres mapuche estão em cena e com sua
performatividade relatam suas vivências, a língua mapudugún se faz presente como idioma do
afeto e da transmissão de saberes e memórias ancestrais, quando os relatos retomam
especificidades da cultura mapuche, citam aspectos relacionados à formas de vivenciar a
infância no campo, às subjetividades femininas, às situações de racismos pelas quais passaram
enquanto migrantes residindo na capital Santiago, e, no caso específico do relato de Marisol
Ancamil, sua dolorosa experiência de ter experienciado a perseguição política, em anos
posteriores ao Golpe Militar no Chile (1973), quando um de seus irmãos, Galvarino, vivia na
Rússia como bolsista da Unidade Socialista; esse fato o levou a viver como exilado neste país
até a sua morte, de forma violenta.
Os relatos do texto dramático espetacular documentam a forma como estas senhoras
vivenciaram períodos conturbados da história oficial chilena com sua forte discriminação para
com os povos originários, sobretudo os mapuche que possuem uma perspectiva reativa mais
forte. As vidas das senhoras mapuche, relatadas em Ñi pu tremen, são constantemente
perpassadas por questões de desenraizamento cultural e familiar, discriminação racial e
cultural, além de abusos laborais quando se trata da relação com a vida adulta em Santiago, em
contrapartida, muitas histórias bonitas, ternas e até mesmo misteriosas são relatadas quando a
conversa é inicialmente direcionada para a infância e adolescência na Araucanía, sua terra
natal, Wallmapu.
Obra bajo Licencia Creative Commons 4.0 Internacional
Recial Vol. XIII. 22 (Julio-Diciembre, 2022) ISSN 2718-658X. Carla Dameane, Bruno
Machado, Traduzindo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), Da Companhia Kimvn Teatro Documental: Um
Estudo Sobre a História e a Resistência Mapuche. pp. 148-160.
Sobre o processo, estratégias e escolhas tradutórias
Durante todo o período de realização do projeto - obtendo embasamento teórico a partir da
leitura e fichamento dos textos acerca dos estudos de tradução cultural e intersemiótica,
especificidade da cultura e do povo mapuche, além estudos relacionados à performance e ao
teatro, em especial ao teatro documental - houve a realização gradativa da tradução interlingual
do texto dramático Ñi pu tremen: mis antepasados (2008), do Castelhano Chileno para a Língua
Portuguesa do Brasil.
Esta tradução foi realizada a partir de procedimentos intrínsecos à atividade tradutória de
reconhecimento, correspondência e validação de equivalência de termos entre as línguas em
questão. Procedimentos esses que, interpretados por Pym (2017, p. 38), emergem como um
modelo para a atividade tradutória, onde o tradutor pode inicialmente fazer uso de uma
correspondência “literal”, que por sua vez toma a maior parte do texto, de acordo com a
proximidade terminológica entre os idiomas trabalhados, e em casos onde essa equivalência
não é suficientemente efetiva aos julgamentos do tradutor, o mesmo pode optar por se
aproximar do texto/cultura fonte, realizando em seu ponto extremo a estrangeirização total do
termo (Não traduzir), como também pode se aproximar da cultura alvo, realizando assim, em
seu ponto extremo, um processo de domesticação do termo, traduzindo-o livremente ao que
reconhece como mais adequado. De acordo com Pym,
para resolver problemas de tradução, um modelo simples está, não obstante,
implícito: O tradutor pode inicialmente fazer uso do procedimento “literal”, se
isso não funcionar, ele pode tanto subir alguns níveis na tabela (Aproximando-
se do texto de partida) quanto descer alguns (Aproximando-se da cultura alvo).
De acordo com o que o tradutor julgar adequado para cada caso. (2017, p. 38).
Por fim, a revisão e correção da tradução realizada em sessões de orientação e, logo,
coletivamente a partir da leitura dramatizada do texto, foram cruciais para a realização das
negociações, segundo Umberto Eco (2007, p. 104), necessárias para com os termos ambíguos
e/ou etnicamente carregados, onde podia-se perceber a identidade do povo mapuche se
tornando explícita não somente no que se refere ao conteúdo dos textos, mas também em sua
forma, que é igualmente importante (Berman, 2013, p. 67).
Levando em consideração o contexto em que a obra foi produzida e veiculada, suas
aparentes intenções para o público e o respeito fomentado para com as próprias
testemunhas/atrizes que relatam suas histórias pessoais na peça, a estratégia considerada mais
adequada foi a de estrangeirização total dos termos e trechos em Mapudungun, com o objetivo
de que o possível leitor brasileiro, falante apenas de português, sinta a mesma “estranheza” que
os leitores chilenos falantes apenas do idioma espanhol. Para que nenhuma informação fosse
perdida, foram colocadas logo ao lado e entre colchetes, as traduções dos termos em
Mapudungun que possuíam uma equivalência natural, segundo Pym (2007, p. 27), com a língua
portuguesa, interferindo assim muito minimamente o ritmo e a extensão total da obra.
aos termos mais etnicamente carregados, assim como os trechos inteiramente produzidos
Obra bajo Licencia Creative Commons 4.0 Internacional
Recial Vol. XIII. 22 (Julio-Diciembre, 2022) ISSN 2718-658X. Carla Dameane, Bruno
Machado, Traduzindo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), Da Companhia Kimvn Teatro Documental: Um
Estudo Sobre a História e a Resistência Mapuche. pp. 148-160.
em Mapudungun, foram adicionadas notas de rodapé com uma explicação mais elaborada,
extensa e referenciada sobre o que representam, de uma maneira resumida, para a cultura
mapuche, com a finalidade de trazer ao leitor brasileiro um maior conforto do seu ritmo de
leitura. Optou-se por evitar a deformação dos ritmos, segundo (Berman, 2013, p. 78) mas
também trazer um contato com a língua, à princípio através da forma escrita, de um povo
indígena localizado majoritariamente no Chile, algo duplamente estrangeiro para os leitores do
português do Brasil situados em centros urbanos.
Apresentaremos um exemplo sobre o que comentamos acima, para o trecho:
La acción ocurre en una ruka. En un costado se encuentra la más adulta de las
lamngen, Aurelia Huina. Al fondo se encuentran sentadas Constanza Hueche,
Norma Hueche y Marlen Hueche, quienes deben tener entre 11 y 14 años de
edad, se abrigan con un chamal y llevan puestas sus xapelacuchas. Se
encuentran diez sillas antiguas vacías, en las paredes cuelgan ropajes, xarihues.
Al centro de la ruka se encuentra encendido un fogón. Luz en el fogón (grifos
nossos). (González Seguel, 2018, p. 41).
Optamos pela estrangeirização total de termos etimologicamente carregados com a adesão
de notas de rodapé e as traduções de correspondência simples - Literais - colocadas ao lado,
em colchetes. A nossa versão de tradução ficou da seguinte maneira:
A ação se passa em uma ruka. De um lado está a mais velha das
lamngen [Irmãs], Aurelia Huina. No fundo estão sentadas Constanza
Hueche, Norma Hueche e Marlen Hueche, que devem ter entre 11 e 14
anos, se cobrem com um xale e vestem suas xapelacuchas. Se
encontram dez cadeiras velhas vazias, nas paredes estão penduradas
roupas, xarihues. No centro da ruka se encontra um fogão aceso. Luz
no fogão (grifos nossos). (González Seguel, 2018, p. 41).
Enquanto as notas explicativas estão descritas da seguinte maneira:
Nota 5 - Habitação típica da comunidade mapuche. Em sua forma tradicional, possui
formato cônico e base circular, é construída com materiais de origem vegetal, com exceção do
piso, que é de barro. A estrutura interna é armada com toras, enquanto palhas e canas são
dispostas para o revestimento externo, que serve de isolamento térmico e proteção contra as
chuvas.
Nota 6 - Xapelacucha, ou Trapelacucha, é um adorno peitoral tradicionalmente usado pelas
mulheres Mapuche, feito de prata pelos ourives indígenas (González Seguel, 2018, p. 41).
Notas acrescentadas pelos tradutores.
Nota 7 - Também chamado de Trarigue. Trata-se de uma faixa de lã, que é colocada em
volta da cintura da roupa tradicional da mulher, é tecida com ÑIMIN, desenhos, símbolos que
falam da territorialidade ou de algum aspecto da visão de mundo do povo Mapuche. É usado
para proteger a barriga.
Outro exemplo de escolha tradutória que devemos destacar neste artigo é o que se relaciona
Obra bajo Licencia Creative Commons 4.0 Internacional
Recial Vol. XIII. 22 (Julio-Diciembre, 2022) ISSN 2718-658X. Carla Dameane, Bruno
Machado, Traduzindo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), Da Companhia Kimvn Teatro Documental: Um
Estudo Sobre a História e a Resistência Mapuche. pp. 148-160.
com as seguintes passagens:
CARMEN SAIHUEQUE: Ah, ahí sipocuando llegué a Santiago ahí sí, ahí
me di cuenta que realmente no era cabra… lo quería po’, porque después me
acordaba de él aquí po y ahí dije yo, ¿Por qué tengo que obedecerle a mis
padres?, los sentimientos míos... y después seguimos pololeando y nos
reencontramos aquí en Santiago, y ahí pololeamos de nuevo, volvimos y hasta
la hora estamos aquí (grifos nossos). (González Seguel, 2018, p. 50).
Para a tradução deste trecho do texto dramático, optamos pela domesticação de alguns
elementos estilísticos regionais para aproximação do leitor, obtendo como resultado:
CARMEN SAIHUEQUE: Ah, aí sim né... quando cheguei em Santiago aí sim,
ali me dei conta de que não era mesmo uma cabra... Eu gostava dele , porque
depois eu me lembrava dele aqui , e eu disse, por que eu tenho que obedecer
ao meus pais?, os sentimentos são meus... e depois continuamos paquerando e
nos encontramos aqui em Santiago, e paqueramos de novo, voltamos e até
agora estamos aqui (grifos nossos). (González Seguel, 2018, p. 50).
Durante o processo de tradução foi interessante perceber que, além do Mapudungun, o
idioma espanhol também possui algumas peculiaridades no que diz respeito à tradução com o
a língua portuguesa, ainda que em menor número de casos e menor e complexidade de
resolução em relação ao Mapudungun, foi necessária atenção à determinadas questões, com
exemplo do trecho relatado por Juana Huaquilaf:
Ya después yo me fui en Temuco a trabajar y trabaja en apartamento y me
decían vaya a buscar chancho pa’ pasarlo en la pieza y yo donde buscar
chancho y creía que era chancho de verdad que tenía que ir a buscar y la
patrona me decía anda a buscarlo al potrero y yo no sabía si era chancho de
verdad. Resulta que era chancho pa’ pasarlo en la pieza, se usaban
antiguamente (grifos nossos). (González Seguel, 2018, p. 46).
Nesse caso, decidimos manter a palavra ‘Chancho’ em sua forma original na primeira e
última vez em que ela surge no trecho, causando o mesmo pequeno efeito de estranheza que a
personagem/testemunha sentiu ao ouvir essa ordem dos patrões. Em seguida traduzimos os
demais casos através da literalidade, acompanhando o entendimento da
personagem/testemunha com o que estava sendo dito.
Nós inserimos uma nota explicativa, junto à palavra ‘Chancho’, salientando que além do
sentido literal no português, ‘Porco’, essa palavra também significa 'Enceradeira'.
Obtemos como resultado:
Obra bajo Licencia Creative Commons 4.0 Internacional
Recial Vol. XIII. 22 (Julio-Diciembre, 2022) ISSN 2718-658X. Carla Dameane, Bruno
Machado, Traduzindo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), Da Companhia Kimvn Teatro Documental: Um
Estudo Sobre a História e a Resistência Mapuche. pp. 148-160.
Depois fui para Temuco para trabalhar e trabalho em apartamento e diziam
procurar chancho para passá-lo na sala e eu: onde encontrar porco? e eu pensei
que era um porco de verdade o que eu tinha que ir encontrar e a patroa me dizia
anda, procurar no pasto e não sabia se era porco de verdade. Acontece que
era um chancho para passar na sala, usavam antigamente (grifos nossos).
(González Seguel, 2018, p. 46).
Percebe-se que as escolhas feitas convergem para a manutenção da coloquialidade presente
no texto fonte.
Entendendo que se tratam de histórias de pessoas de uma maior idade, oriundas de uma
comunidade indígena onde a linguagem oral é bastante presente e se colocam em um contexto
de intimidade, com a linguagem coloquial sendo bastante utilizada, escolhemos por transmitir,
em diversos momentos, esse “conforto” também para o leitor do português brasileiro com a
finalidade de perpetuar essa atmosfera familiar das histórias das mais velhas, relatadas
enquanto se prepara um café e se come biscoitos, algo que realmente é feito em cena,
possivelmente como estratégia ambivalente para as atrizes/testemunhas se sentirem mais à
vontade para relatar suas histórias de vida enquanto o público se sente ainda mais próximo da
realidade das personagens.
Por se tratar de uma tradução estritamente para fins acadêmicos - até o momento da escrita
deste artigo não perspectiva de publicação - nós entendemos que poderia existir uma
tendência à normalização do texto, e uma possível exclusão de traços coloquiais como os
citados anteriormente. Contudo, faz parte da atividade tradutória a existência de escolhas
segundo a própria vontade do sujeito tradutor, e dada tal liberdade juntamente com os estudos
sócio-históricos, manter esses importantes traços estilísticos da obra se mostraram como uma
boa escolha.
No momento em que se reflete sobre o processo tradutório é sempre importante lembrar que
um sujeito, o tradutor, que efetua a atividade de mediação, desde a leitura e interpretação do
material original até a concretização do produto final, chegando à conclusão da tradução após
uma intensa reflexão junto aos seus próprios referenciais, e portanto, pode-se inferir que a
tradução se configura como uma atividade do sujeito (Hurtado, 2001, p. 41) e que sempre se
constantemente permeada por sua subjetividade, além dos demais fatores.
Em consequência dessa característica subjetiva da atividade tradutória, pode-se inferir que
traduzir significa sempre “cortar” algumas das possíveis consequências que o
termo implica para os leitores originalmente. A interpretação por parte do
tradutor, que representa o primeiro passo de toda tradução, acaba por estabelecer
quantas e quais das consequências que o termo sugere pode-se cortar em prol
de outros aspectos, julgados mais importantes pelo tradutor. Concluindo assim
que traduzir nunca diz exatamente a mesma coisa. (Eco, 2007, p. 107).
Obra bajo Licencia Creative Commons 4.0 Internacional
Recial Vol. XIII. 22 (Julio-Diciembre, 2022) ISSN 2718-658X. Carla Dameane, Bruno
Machado, Traduzindo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), Da Companhia Kimvn Teatro Documental: Um
Estudo Sobre a História e a Resistência Mapuche. pp. 148-160.
Foi de crucial importância para o sucesso do trabalho uma atenção especial às escolhas
tradutórias, levando em consideração de que se trata de uma produção com diversos traços da
nação originária mapuche que, durante sua produção, foram traduzidos de maneira
intersemiótica para o Espanhol Chileno (Rojas, 2009, p. 24) e que agora, além disso, estarão
sujeitos a um novo processo de tradução, desta vez do espanhol para o português brasileiro.
O cuidado durante a realização da pesquisa e tradução centrou-se em evitar ao máximo todo
tipo de deformação entre os aspectos de forma, conteúdo e efeitos do texto fonte e os seus
correspondentes no texto final (Berman, 2013, p. 97) ao menos evitar as deformações que
ofendem, reduzem ou generalizam excessivamente a imagem e os traços culturais do povo
mapuche frente aos demais grupos sociais em contato.
Ao longo de nossa pesquisa/tradução foi dada uma maior prioridade à tarefa de negociação
da tradução (Eco, 2007, p. 104) e assim, através dos estudos étnicos realizados sobre e pelos
Mapuche, perceber quais elementos são mais determinantes e importantes para estarem em
posição de prioridade durante as negociações de sentido, ritmo, forma e efeito de cada um dos
termos que a literalidade não deu conta de traduzir.
Manter o que é importante para a cultura significa respeitar a intenção da autora ao escrever
o texto, realizando assim uma boa tradução (Berman, 2013, p. 71). Empiricamente, o principal
resultado do trabalho desenvolvido e relatado neste artigo, é a nossa versão de tradução para
Ñi pu tremen, respeitando a linha teórica/metodológica citada neste tópico.
Considerações finais
De modo geral, enquanto pesquisadores brasileiros, acreditamos que é importante contribuir
para a visibilização da dramaturgia mapuche frente aos movimentos de resistência brasileiros,
dentro e fora da academia. Tendo em vista a circulação da versão de Ñi pu tremen em diferentes
espaços, leitores brasileiros poderão perceber que outras comunidades vivenciam
problemáticas tão distintas por naturezas óbvias, como a distância geográfica e cultural, mas
também muito semelhantes, por naturezas talvez não tão óbvias, mas ainda assim muito
presentes, como a posição em que a mulher, oriunda de uma nação originária de grandes países
como Brasil e Chile, ocupa dentro das relações de poder intra e extrafamiliares e o constante
apagamento e/ou silenciamento de importantes variedades culturais, linguísticas e
comportamentais que poderiam conviver harmonicamente dentro de um espaço tão vasto como
são esses países, mas não conseguem por conta de um processo hostil de globalização,
demonstrando que a colonização está longe de um fim definitivo.
Quando essa tradução se efetiva, o Brasil se aproxima do Chile em certa medida, que
como pesquisadores/tradutores da área de Língua Espanhola, traduzir um texto como esse,
onde são expostas ‘outras visões’ acerca da história geral do Chile para além das postuladas
como convencionais, significa também fomentar uma aproximação - e consequentemente o
fortalecimento - de movimentos de resistência de ambos os países, frente ao apagamento e
silenciamento cultural.
A obra Ñi pu tremem, junto a sua tradução, representam um esforço decolonial por parte de
quem produziu a obra, - por promover uma discussão sobre e com uma nação originária que
até então é fortemente silenciada pelos grupos majoritários - por parte de quem traduziu a obra,
Obra bajo Licencia Creative Commons 4.0 Internacional
Recial Vol. XIII. 22 (Julio-Diciembre, 2022) ISSN 2718-658X. Carla Dameane, Bruno
Machado, Traduzindo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), Da Companhia Kimvn Teatro Documental: Um
Estudo Sobre a História e a Resistência Mapuche. pp. 148-160.
por amplificar essa discussão sobre o que foi produzido em ambientes ainda mais diversos
(Meneses, 2019, p. 267) e também por parte de quem a obra, que assim, se permite
atravessar por histórias ao mesmo tempo tão distintas e tão semelhantes, despertando uma
relação empática entre os povos.
Uma importante questão que pode ser levantada, gira em torno de uma aparente falta de
reconhecimento do povo brasileiro, dentro do seu imaginário coletivo, enquanto povo
latinoamericano, sobretudo sul-americano. Considerando isso, a tradução pode ser reafirmada
como um veículo para uma troca de saberes e estímulo para uma percepção geral de que somos
bem mais parecidos com os nossos “vizinhos” sul-americanos do que diferentes.
No caso especial desse projeto, com relação aos mapuche e a sua dramaturgia, trata-se de
um diálogo que nos proporciona, enquanto brasileiros, uma compreensão mais sensível sobre
sua história e resistência, além de seu legado de luta por reivindicações de direitos e de
reconhecimento constitucional junto ao Estado Nacional Chileno. Visibilizar a dramaturgia e
o teatro mapuche chileno do KIMVN, através da pesquisa tradução de Ñi pu tremem, e agora
por meio deste artigo, é nossa forma de sinalizar um diálogo acadêmico com esta grande nação
originária de nosso continente.
Referências bibliográficas
Berman, A. (2013). A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Brasil: Copiart.
Eco, U. (2007). Significado, interpretação, negociação. Em Autor, QUASE a mesma coisa:
Experiências de Tradução (pp. 96-107, 1.
a
ed.). Record.
González Seguel, P. (Comp.). (2018). Dramaturgias de la resistencia: KIMVN Teatro
documental Marry Xipantv. Santiago de Chile: Pehuén.
Grebe Vicuña, M. E. (1998). Culturas Indígenas de Chile: un estudio preliminar. Santiago de
Chile: Pehuén.
Hurtado Albir, A. (2001). Traducción y traductología: introducción a la traductología.
Espanha: Cátedra.
Llancafil, J. M. (2006). Manual de Lenguaje Mapuche. Santiago de Chile: Autogestión de José
Mario Llancafil.
Pym, A. (2017). Explorando as Teorias da Tradução (1.
a
ed.). São Paulo: Perspectiva.
Rojas, R. (2009). Introducción. En Autor, La lengua escorada: la traducción como estrategia
de resistencia en cuatro poetas mapuche (pp.17-39). Santiago de Chile: Pehuén.
Sousa Santos, B. (2018). La Traducción Intercultural: diferir y compartir con passionalità. En
M. P. Meneses (Comp.), Boaventura de Sousa Santos: construyendo las epistemologías
del sur para un pensamiento alternativo de alternativas (pp. 267-287). Ciudad
Autónoma de Buenos Aires: CLASCO.
Souza, C. D. P. (2019). KIMVN teatro documental: a cena como lugar de resistência. Sala
Preta, 19(1), 178-191. Disponível em
https://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/156245
Notas
Obra bajo Licencia Creative Commons 4.0 Internacional
Recial Vol. XIII. 22 (Julio-Diciembre, 2022) ISSN 2718-658X. Carla Dameane, Bruno
Machado, Traduzindo Ñi Pu Tremen, Mis Antepasados (2008), Da Companhia Kimvn Teatro Documental: Um
Estudo Sobre a História e a Resistência Mapuche. pp. 148-160.
1
Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia FAPESB, através do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) (outubro de 2020 a outubro de 2021).
2
Para conferir mais informações sobre a Compañía Kimvn Teatro, basta acessar a página web do grupo:
https://kimvnteatro.cl/