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INTERNACIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR:
VISÃO CRÍTICA E DISCUSSÃO SOBRE RUMOS
APRESENTAÇÃO
Célio da Cunha*1
A proposta de um dossier sobre a internacionalização da educação superior, aprovada pelo Conselho Editorial da Revista Integração e Conhecimento do Núcleo de Estudos e Investigações em Educação Superior do Mercosul,
Uma das principais características do novo quadro que se instaurou foi a busca incessante de inovações de produtos de mercado que, por sua vez, passou a exigir mais e mais conhecimentos, sem o que não seria possível aos países assegurar um bom status no panorama global da competitividade. As implicações no campo da educação foram imediatas.
1* Universidad Católica de Brasilia. Ministerio de Educación de Brasilia. Contacto: celio.cunha@brturbo.com.br
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dificuldades sociais e econômicas, para enfrentar os novos desafios e adversidades derivadas da enorme desigualdade de condições entre os países. No campo da educação superior, a implicação da nova geografia política e econômica foi a pressão sobre as universidades e outras instituições de ensino e pesquisa, no sentido de conferirem prioridade aos conhecimentos com valor de mercado.
Como a priorização dos valores mercadológicos da educação poderia subtrair compromissos e valores sociais e culturais que vinham sendo cultivados desde a origem medieval da universidade, pensadores, humanistas e estudiosos de vários países começaram a alertar para os riscos em relação ao futuro da universidade. Um dos momentos mais emblemáticos do conflito ideológico que então se instaurou foi a realização da Conferência Mundial sobre a Educação Superior para o Século XXI, em Paris, no ano de 1998. A promoção desse grande evento, que reuniu mais de 4.000 dirigentes e especialistas de várias partes do mundo, foi cuidadosamente organizada, mediante a realização de conferências regionais preparatórias nos diversos continentes. Malgrado conflitos, polêmicas e inúmeros debates, a Conferência de Paris aprovou a Declaração final que defendia a universidade como um bem público e não um bem de mercado.
Desse modo, na concepção do dossier,
Assim sendo, e com base nos pressupostos mencionados, o dossier está composto por cinco artigos sobre diferentes faces da internacionalização da educação superior, por entrevistas e resenhas de livros, convergindo todas essas contribuições para uma visão da história recente do debate e dos impasses, interrogações e hesitações com os quais se defrontam as políticas de educação superior dos países do Mercosul. Com esse formato, o objetivo central do dossier foi o de oferecer contribuições para o processo em curso de internalização da educação superior, com vistas a assegurar uma efetiva cooperação norteada por fundamentos éticos e morais
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universitária. Cita como exemplo o Programa de Mobilidade do Mercosul (PMM), que foi uma iniciativa financiada por quatro países – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, que contou com o apoio da União Europeia, visando o desenvolvimento de uma cidadania Mercosul, concebida como sentimento de pertencimento entre os integrantes da comunidade universitária dos quatro países.
Iniciativas como esta, sublinha Tobin, resgata o princípio do debate aberto e participativo de todos os atores envolvidos no projeto. Em suas reflexões finais, Tobin observa que a partir das políticas desenvolvidas pelos vários governos da região, está se instaurando um novo impulso em busca da integração regional. Neste sentido, as universidades e demais instituições de educação superior e pesquisa precisam repensar suas estratégias de relacionamento com as instituições congêneres da região e do mundo, considerando as singularidades históricas e a cultura e reafirmando outrossim, a dimensão pluricultural, multiétnica e multilíngue dos países da região.
Se por um lado, o artigo de Marcelo Tobin deu ênfase à importância do contexto histórico e cultural nos processos de internacionalização da educação superior, o de Marco Antonio Dias examina a questão por outro ângulo, igualmente relevante. Sua abordagem discute o problema do êxodo de cérebros, que já foi objeto de muitos debates em décadas anteriores, mas que volta à atualidade. Começa por afirmar que, muitas vezes,
Nessa direção, Dias lembra outro fato citado no artigo de Sarah Piovezan, publicado no Le Monde Diplomatique, de que a Bélgica incentivou programas de mestrados compartidos com o objetivo, entre outros, de recrutar cérebros estrangeiros. Admite que a ideia de alguns especialistas de inaugurar uma nova abordagem do problema, que seria o de circulação de cérebros, no lugar de fuga de cérebros, poderia ser um caminho, desde que houvesse um planejamento rigoroso da cooperação entre os países para se evitar o êxodo de competências e garantir a circulação e a mobilidade. Daí a importância de projetos que se desenvolvam por intermédio de redes que são definidos conjuntamente por um maior número de instituições e de pesquisadores.
O texto produzido por Ranilce Mascarenhas Guimarães e Sinara Pollon Zardo, sob o título A internacionalização da educação superior no Brasil: expansão, produção do conhecimento e desafios emancipatórios, optou por uma abordagem com fundamentos no modelo de governança da educação superior no Brasil nas últimas duas décadas, avaliando também a produção de conhecimento
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no setor. Segundo as autoras, “o sistema de educação superior europeu e estadunidense centrado na internacionalização como forma de fortalecimento da economia do conhecimento, se difunde cada vez mais nos países
Na linha de produção de novos estudos, um tema que vem despertando a atenção dos pesquisadores é o dos países emergentes, sobretudo os BRICS, que já foi objeto de extensa análise coordenada por Martin Carnoy e publicada pela Universidade de Stanford. Nesse sentido,
Além disso, Revelez destaca outra tendência do processo de internacionalização e reconfiguração do mapa da sociedade do conhecimento.
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Times Higher Education. Entre as 10 primeiras universidades, quatro são da China, três da Turquia, uma da Rússia, uma da África do Sul e outra de Taiwan. A Universidade de São Paulo aparece em 11º lugar. Em suas considerações finais, esse estudioso afirma que os últimos avanços dos países emergentes, somados à orientação política dos países que integram os BRICS como bloco, podem antecipar a denominada rota do futuro.
O quinto artigo incluído no dossier é de autoria de Mary Stiasny, sob o título A internacionalização da educação superior. Em seu texto
Além dos cinco artigos mencionados, integram o presente dossier algumas entrevistas feitas com especialistas e estudiosos credenciados que aportam considerações e reflexões valiosas para o aprofundamento das implicações e perspectivas do processo em curso da internacionalização da educação superior. Foram entrevistadas as seguintes personalidades: Francisco Tamarit (Argentina), Jorge Brovetto (Uruguai) e Raúl Aguilera (Paraguai).
Francisco Tamarit, reitor da Universidade Nacional de Córdoba, revelou sua opinião a propósito de questões de inegável atualidade e relevância. Salienta inicialmente que para superar as barreiras que se apresentam à integração,
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la por intermédio de pesquisadores, professores, estudantes têm sentido na medida em que, simultaneamente, for acompanhada de projetos conjuntos de ciência, tecnologia e de transferência e inovação. Precisamos de um sistema de conhecimento, ciência, tecnologia, educação e inovação que se articule com os Estados com vistas a oferecer subsídios para a melhoria das políticas públicas. Nesse sentido, adquire relevância o reconhecimento de um problema comum que é o da sustentabilidade que abrange as questões advindas do modelo atual de desenvolvimento que não controlamos e que nos coloca como produtores e provedores de matérias primas. A integração entre os países é fundamental para a superação desse impasse.
Ademais, insiste o Reitor Tamarit, do ponto de desenvolvimento humano e cultural, é imprescindível respeitar a tradição. Não se pode excluir a possibilidade de assegurar os direitos humanos a milhões de pessoas. Por isso, não se pode imaginar a educação superior como um serviço sujeito às leis do mercado. Desse modo, lembrando as lições de Córdoba, de 1918, temos que ter a consciência de que a dívida maior é a inclusão. Os jovens reformistas de 1918 eram profundamente comprometidos com as necessidades da sociedade.
Jorge Brovetto,
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Raúl Aguilera Méndez, presidente da Agência Nacional de Avaliação e Acreditação da Educação Superior do Paraguai, em sua entrevista dá destaque às razões que justificam a internacionalização da educação superior no Paraguai, afirmando sua importância para a melhoria da educação e para o desenvolvimento da ciência, pois o fortalecimento dos vínculos de cooperação e mobilidade tem maiores possibilidades de encontrar soluções para os problemas e desafios do país. Sobre a mobilidade, destaca no plano regional o Programa Escala Estudantil e o Erasmus Mundo, sublinha a contribuição dos processos de internacionalização para o desenvolvimento de inovações e enfatiza o papel estratégico do Mercosul e de outras organizações como a Unasul e a União Europeia, como mecanismos valiosos para a internacionalização. Releva o papel das redes de conhecimento, pois já não pode trabalhar apenas com o presencial. Se as redes são importantes no presente, mais ainda serão no futuro devido à fantástica produção de conhecimentos. Méndez chama a atenção para um ponto essencial que permeia todos os demais.
Pelo exposto pode se constatar que as ideias e o pensamento dos autores dos artigos e dos entrevistados se movimentam em direção ao fortalecimento do compromisso social e acadêmico da universidade. Sob esse aspecto,
O presente dossier reuniu pensadores e especialistas experientes, cujas reflexões portam valiosos subsídios para imprimir ao processo de internacionalização da educação superior a dimensão ética necessária para não tornar o patrimônio comum de conhecimentos restrito a poucos países ou pessoas. E na medida em que ela se intensificar por intermédio das redes de docentes, pesquisadores e estudantes, pode tomar um rumo mais legítimo, pois no âmbito da comunidade universitária persiste o compromisso de utilização ética da produção e disseminação de conhecimentos. Por esse ângulo de
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consideração é sempre necessário colocar na agenda de debates o instigante texto elaborado por Renato Dagnino para o Fórum
Finalmente, mostra o dossier que a internacionalização da educação superior está em fase de grande dinamismo. O mapa do conhecimento, como ficou claro em alguns artigos, está mudando. Os países tradicionais têm novos competidores, sobretudo os países do Leste Asiático. Para que a América Latina se insira em definitivo nas tendências atuais, é necessário, por um lado, o fortalecimento e dinamização das políticas de cooperação regional e, por outro, o imperativo de forte apoio do Estado que, se continuar, de modo geral, a política de apoio sazonal, dificilmente a América Latina conquistará uma posição de destaque.
Referências
∙DAGNINO, Renato. Sociedade do conhecimento e educação superior. Fórum
∙MIRANDA, Estela. La universidad en la “sociedad del conocimiento: es posible un nuevo proyecto de universidad? Fórum
∙SANDER, Benno. Construindo pontes de cooperação internacional. Brasília: Liber
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