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5 (2022)
ISSN 2618-2882
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fraseologia da língua de especialidade é uma combinatória sintagmática das unidades
terminológicas, que servem como núcleos de coocorrências usuais ou privilegiadas, com
outras estruturas linguísticas. As combinações são de base (ou núcleo) nominal, adjetival
ou verbal, que designam entidades, propriedades, processos ou relações entre conceitos,
e apresentam vários graus de fixidez (combinações fixas, restritas, livres),
comutatividade, compactação, frequência, especialização e previsibilidade léxico-
semântica.
Para Gouadec (1993, p.84), a fraseologia é sempre constituída de uma base,
simples ou complexa, que permite no seu entorno ou interior uma ou mais variáveis
significativas. A estrutura pode ser especializada ou não e, diferentemente do termo que,
do ponto de vista estrutural, reflete uma organização «plana», ou seja, cada elemento
contribui com uma parte da especificação, a fraseologia sempre apresenta uma estrutura
hierárquica que combina uma base e uma variável ou uma matriz e uma ou mais variáveis.
Já Pesant e Thibault (1993, p. 25) reconhecem o fenômeno da coocorrência como uma
associação de palavras mais ou menos livres, não cristalizada, de formas lexicais e
gramaticais simples que aparece em blocos em contextos restritos suscetível de certas
variações. As unidades linguísticas que coocorrem são de categorias distintas e formam
combinações de uso em um domínio terminológico.
Seguindo a perspectiva terminológica, Cabré, Lorente e Estopà (1996),
amparadas em critérios gramaticais, estruturais, de frequência, de fixidez e variação dos
componentes, estipulam que são considerados UFE os sintagmas verbais que atendam às
condições de não possuírem um verbo no infinitivo como complemento, não
apresentarem elementos linguísticos com a função de determinantes e disporem de uma
unidade terminológica no sintagma nominal que forma o complemento.
No início do século XXI, Lorente, Bevilacqua e Estopà (2002) apresentam uma
análise morfológica e sintática de unidades fraseológicas especializadas baseada em
estudos lexicalistas com o objetivo de distingui-las dos sintagmas discursivos e unidades
terminológicas complexas, mediante exame de um corpus formado por conjunto de
sintagmas nominais e verbais que apresentam núcleo deverbal. No trabalho, as linguistas
analisam apenas as fraseologias verbais e nominais especializadas, essas últimas como
resultados da nominalização das primeiras. Para Lorente, Bevilacqua e Estopà (2002, p.
651), a natureza fraseológica de uma unidade especializada está no caráter eventivo de
seu núcleo, sendo um verbo ou uma nominalização deverbal que apresenta natureza
relacional, eventividade de processo ou ação, e nunca de estado, e sempre com caráter
predicativo, nunca copulativo. Apresentam como possíveis constituições as estruturas:
núcleo fraseológico [V] + complemento fraseológico (sujeito ou objeto direto); e dos
sintagmas nominais: núcleo fraseológico [V]N + complemento fraseológico (complemento
do N).
O aprofundamento desses estudos deu origem à tese de doutorado de Bevilacqua
(2004). Nessa oportunidade a pesquisadora apresenta os pressupostos teóricos e
metodológicos para a análise das unidades fraseológicas formadas a partir de um núcleo
eventivo, caracterizando-as como sendo unidades sintagmáticas formadas por um ou
mais termos e que são constituídas por um núcleo terminológico (NT) e um núcleo
eventivo (NE), de caráter terminológico ou não, procedente de verbo e que se manifesta
como verbo, nome deverbal ou particípio. Bevilacqua (2004, p. 67) classifica as UFE em
eventivas nucleares, que são aquelas cujo NT representa os processos e ações