A definição de palavras gramaticais em dicionários de língua espanhola

The grammatical words definitions in Spanish Language Dictionaries

Bruna Aparecida Oliva Ferreira dos Anjos • Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil • brunaapadosanjos@gmail.com

Renato Rodrigues-Pereira • Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil • renato.r.pereira@ufms.br

Resumo

Neste texto, ao orientarmo-nos por princípios teóricos e metodológicos da Lexicografia Geral e da Lexicografia Pedagógica (LEXPED), discorremos sobre a importância da definição lexicográfica e suas diferentes tipologias, com foco para as definições de palavras gramaticais. Para tanto, objetivamos: i) dissertar sobre alguns princípios da LEXPED, ressaltando a importância de definições didáticas; ii) apresentar a tipologia de definições lexicográficas apresentada por Porto Dapena (2002), com vistas a demonstrar aos possíveis leitores deste texto qual (is) tipologia (s) pode (em) ser mais adequada (s) às palavras gramaticais de uma língua; iii) analisar, numa perspectiva descritiva, a (s) tipologia (s) de definição lexicográfica utilizada (s) nas definições das conjunções luego e como em quatro dicionários de língua espanhola, quais sejam: González (2005); Gutierrez-Cuadrado e Pascual-Rodriguez (2006). RAE/DLE (2021); e LARA (2021).

Abstract

In this text, as we are guided by theoretical and methodological principles of General Lexicography and Pedagogical Lexicography (LEXPED), we discuss the importance of the lexicographical definition and its different typologies, focusing on the definitions of grammatical words. Therefore, we aim to: i) discuss some principles of LEXPED, emphasizing the importance of didactic definitions; ii) present the typological division of lexicographical definitions presented by Porto Dapena (2002), in order to demonstrate to possible readers of this text which typology can be more appropriate to the grammatical words of a language; iii) analyze, in a descriptive perspective, the typology of lexicographical definition used in the definitions of luego and como conjunctions in four Spanish language dictionaries, namely: González (2005); Gutierrez-Cuadrado & Pascual-Rodriguez (2006). RAE/DLE (2021); and LARA (2021).

Palavras-chave

Lexicografia Pedagógica • Palavras gramaticais • Definição

Keywords

Pedagogical Lexicography • Grammatical words • Definitions

1. Introdução

No es difícil encontrar el camino. Lo difícil es saber andarlo, adecuar las fuerzas del recorrido, elegir y seleccionar los atajos (Alochis, 2007, p. 11).

A epígrafe que utilizamos para iniciar este texto, metaforicamente, representa o procedimento que precisamos adotar quando estamos diante da tarefa de elaborar acepções para lemas de dicionários, elegendo e adequando cada registro em conformidade com a proposta lexicográfica em questão.

Em Bosque (1982), temos que «se há um aspecto considerado verdadeiramente central nos estudos sobre lexicografia aplicada à preparação de dicionários monolíngues, este é, sem dúvida, a teoria da definição» (p. 105, tradução nossa) [1] . Porto Dapena (2002), por sua vez, ressalta que junto com o aspecto semântico, representado graficamente pela separação e organização das acepções, a definição lexicográfica é, sem dúvida, uma das questões centrais e fundamentais da Lexicografia.

Em contextos de ensino e de aprendizagem de línguas, os sentidos de uma unidade léxica [2] (UL) costumam ser os aspectos mais consultados em dicionários, como temos percebido em nossa experiência como professores de línguas e em pesquisas que visaram verificar o que mais os consulentes de dicionários buscam ao consultar um repertório lexicográfico, a exemplo de Welker (2006), Azorín Fernández (2007) e Nascimento (2003).

Como se percebe, a definição resulta em um importante tipo de informação disponível nos verbetes de dicionários monolíngues, cabendo aos lexicógrafos a tarefa de elaborá-las da melhor forma possível, a fim de sanar as dúvidas semânticas dos potenciais consulentes. No entanto, a elaboração de definições não costuma ser uma tarefa fácil, pois é necessário que o lexicógrafo esteja amparado por princípios teóricos e metodológicos coerentes com a tipologia do dicionário em questão e, consequentemente, com as necessidades do público-alvo da obra.

Ressaltamos, em relação à complexidade do ato de definir, nas palavras de Aristóteles (384-322, apud Pòlguere, 2018, p. 191), que «[...] é mais simples elaborar um método que permita falsear uma definição do que elaborar um que permita definir bem». Ao visitarmos a literatura sobre o assunto, a exemplo de Bosque (1982), Biderman (1984), Porto Dapena (2002) e Pòlguere (2018), entre outros, assim como a partir da análise descritiva de alguns diferentes repertórios lexicográficos, pudemos certificar a referida afirmação.

Nesse contexto, como forma de contribuir para o entendimento da importância da definição lexicográfica, é que, ao orientarmo-nos por princípios teóricos e metodológicos da Lexicografia Geral e da LEXPED, discorremos sobre a importância da definição lexicográfica e suas diferentes tipologias, com foco para as definições de palavras gramaticais. Para tanto, estabelecemos os seguintes objetivos:

i) dissertar sobre alguns princípios da Lexicografia Pedagógica (LEXPED), ressaltando a importância de definições didáticas;

ii) apresentar a tipologia de definições lexicográficas apresentada por Porto Dapena (2002), com vistas a demonstrar aos possíveis leitores deste texto qual (i)s tipologia (s) é (são) mais adequada (s) às palavras gramaticais de uma língua;

iii) analisar, numa perspectiva descritiva, a (s) tipologia (s) de definição lexicográfica utilizada (s) nas definições das conjunções luego e como em quatro dicionários de espanhol, quais sejam: Diccionario de Español para extranjeros (Maldonado-González, 2005) ; Diccionario Salamanca Español para extranjeros (Gutierrez-Cuadrado; Pascual-Rodriguez, 2006); Diccionario de la lengua española (RAE, 2021) e Diccionario del Español de México (Lara, 2021).

2. Lexicografia Pedagógica e definição lexicográfica: alguns princípios

De acordo com Molina García (2006), a LEXPED surgiu no século XX, devido a algumas mudanças no contexto pedagógico de ensino de línguas. Nesse cenário, tais mudanças influenciaram o contexto lexicográfico resultando na necessidade de se elaborar dicionários que atendessem às necessidades do aprendiz de línguas, seja ela materna ou estrangeira. Para o autor, «esse é basicamente o objetivo primordial da lexicografia pedagógica: a consideração de que um dicionário é uma ferramenta cuja finalidade essencial é servir do ponto de vista didático» (Molina García, 2006, p. 10) [3] .

Nessa perspectiva, Krieger (2011) ressalta que estudos sobre o papel pedagógico dos dicionários têm maior tradição no campo de ensino de línguas estrangeiras e que as pesquisas na área vêm se desenvolvendo consideravelmente, devido às reflexões a respeito da importância exercida pelos dicionários no ensino de línguas. Para a autora, por mais que o objeto de estudo da LEXPED ainda esteja em processo de delineação, pode-se dizer que seu foco resida “no estudo de várias faces que constituem e envolvem os dicionários destinados à escola, relacionados ao ensino quer de primeira, quer de segunda língua» (Krieger, 2011, p. 103).

Em outras palavras, pode-se entender a LEXPED como uma subárea da Lexicografia Geral que se ocupa exclusivamente de dicionários voltados ao ensino. Para Welker (2008), assim como na Lexicografia Geral, a LEXPED também pode ser dividida e estudada sob duas perspectivas diferentes, quais são: Lexicografia Pedagógica Teórica e Lexicografia Pedagógica Prática.

Na perspectiva teórica, ressaltamos os estudos metalexicográficos relacionados aos dicionários pedagógicos com vistas a elaborar parâmetros de organização hiper, macro e microestruturais de dicionários. Já a parte prática, como o próprio nome indica, corresponde à elaboração de dicionários, de acordo com suas diferentes tipologias e funções em contextos pedagógicos, bem como investigações que visam o uso do dicionário enquanto importante material didático complementar em sala de aula e fora dela.

Do ponto de vista do ensino e da aprendizagem de línguas, seja ela materna ou estrangeira, sabemos que é de grande valia a utilização de dicionários em sala de aula, pois neles, o aprendiz encontra informações diversas a respeito do léxico de uma língua, suas normas, sentidos e usos, a exemplo de explicações e definições a respeito dos significados das palavras, suas formas gráfica e fonética, informações de natureza gramatical e sociolinguísticas, contextos de uso, entre outros.

Os dicionários possibilitam, desse modo, a descoberta de novas UL e o desenvolvimento daquelas já conhecidas, de maneira que os aprendizes possam utilizá-las com propriedade, sem dúvidas sobre sua adequação ao contexto discursivo em questão.

Gomes (2011) explicita que as informações que o consulente dos dicionários obtém a respeito de uma UL está diretamente relacionada ao momento no qual ele usa o dicionário. Ele pode usá-lo no momento da leitura (decodificação escrita), na produção de textos escritos (codificação escrita), no momento que escuta uma conversa ou ouve uma música na língua-alvo (decodificação oral) e na fala (codificação oral).

Tendo em vista todas essas características e funções evidenciadas nos repertórios lexicográficos, assim como o potencial didático que eles possuem, Krieger (2011) expõe que se pode depreender «em princípio, [que] todo e qualquer dicionário é didático, na medida em que traz informações sobre o léxico, a língua e a cultura» (p. 109). No entanto, a autora ressalta que apesar dessa evidente natureza didática, a depender da situação, nem todos os dicionários são adequados para o ensino de línguas, de forma que, a depender do nível de aprendizagem e escolaridade que o aluno se encontra, um dicionário padrão de língua, como o Aurélio, por exemplo, não será o mais adequado.

Com o olhar para essa última constatação de Krieger (2011), o da inadequação, Rodrigues-Pereira (2020), com vistas a ampliar as discussões a respeito do caráter didático de dicionários, enfatiza não ser adequado predicar toda obra lexicográfica como didática, uma vez que nem todas elas são organizadas dessa forma.

Sobre o assunto, buscamos a definição de didático em Cunha (2010, p. 218), de forma que temos o seguinte: «didá(c)tica sf. ‘ciência de ensinar 1844. Do fr. didactique, deriv. do lat. med. didáctica (ars) e, este, do gr. didaktiké, fem. do adj. didaktikós, da raíz, didak-, de didáskein “ensinar”// didá(c)tico 1844». Notemos, a partir da definição apresentada, que o termo didático/a pode ter a função tanto de substantivo, designando uma ciência, uma disciplina, como pode também ter a função de adjetivo, caracterizando alguma coisa, uma pessoa ou situação.

Em Pereira (2018) e Rodrigues-Pereira (2020), destacamos que para a caracterização de um dicionário como didático, precisamos considerar duas questões: i) os estudos que são realizados no âmbito de ciências que possuem interfaces teórico-aplicadas, como a LEXPED, a Pedagogia e a Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas; ii) o processo de elaboração da obra lexicográfica, de forma que, com o resultado, ao realizar alguma pesquisa no dicionário, o estudante não precise fazer outras buscas para poder sanar a dúvida em questão.

Nesse contexto, ainda de acordo com Rodrigues-Pereira (2020), enfatizamos que reflexões como as que realizamos também com este artigo são muito pertinentes para todo processo de elaboração e/ou estudo sobre um repertório lexicográfico pedagógico, de maneira que alguns questionamentos podem servir de norte para as análises lexicográficas realizadas. Nessa perspectiva, ressaltamos: «as informações são claras, de fácil acesso?; as definições estão elaboradas em uma variedade de língua adequada à idade do estudante e de acordo com o nível escolar?; qual é o objetivo da obra?» (Rodrigues-Pereira, 2020, p. 7).

Como se percebe, essas e outras questões que venham a proporcionar uma melhoria dos dicionários pedagógicos podem ser consideradas antes que prediquemos um dicionário como didático. Outrossim, salientamos:

ainda que nos últimos anos muitos estudos a respeito de dicionários pedagógicos têm sido realizados e, consequentemente, projetos de dicionários dessa natureza tem surgido cada vez mais, não podemos esquecer que a maioria das obras lexicográficas existentes ainda não é didática, ou seja, não é organizada de forma didática. Por isso, dizer que todo dicionário é essencialmente didático é como se seguíssemos por caminhos opostos às epistemologias relacionadas ao ensino, pois o termo “didático/a” nos remete a toda e a qualquer forma de ensinar a alguém. Destacamos, pois: o dicionário não ensina, mas sim proporciona informações linguísticas e extralinguísticas que, somente a depender da capacidade de abstração do consulente é que ela poderá ser aproveitada em toda a sua amplitude. (Rodrigues-Pereira, 2020, p. 7, tradução nossa) [4]

Nessa perspectiva, verifica-se que os estudos no âmbito da LEXPED são desenvolvidos, por um lado, com vistas a melhorar os registros de informações em toda a estrutura de um dicionário; por outro, o uso de repertórios lexicográficos nas diferentes atividades pedagógicas existentes, sempre tendo o aprendiz de língua como ponto de partida e chegada em toda pesquisa. Nesse enquadre, surgem as obras destinadas ao uso escolar, os dicionários escolares, que levam em consideração o perfil dos alunos e suas necessidades como aprendiz de línguas.

Nesse cenário, abordamos a questão da definição lexicográfica na LEXPED, haja vista a importância desse componente da microestrutura de um verbete. Sobre o assunto, Seco (2003) especifica que um verbete, onde situa a microestrutura, se constitui por dois enunciados: o primeiro, que diz respeito à UL enquanto signo e abarca informações sobre a forma da lexia, tais como a categoria da palavra, a época de vigência, os limites geográficos, o campo do saber ou atividade em que se encontra o termo, algumas explicações de algumas transições semânticas por meio de abreviaturas, entre outras que, dependendo do tipo de dicionário, adquirem determinadas características fixas; já o segundo enunciado trata-se do conteúdo da palavra lematizada, ou seja, a definição em todas as suas possibilidades, assim como os exemplos de uso.

Na definição, encontramos uma explicação metalinguística a respeito do significado da palavra definida, ou seja, o que ela significa. Para Seco (2003), para que uma definição seja de fato uma definição ela deve ser:

[...] teoricamente uma informação sobre todo o conteúdo e nada mais que o conteúdo da palavra definida [...] podemos dizer que a definição é na realidade um sinônimo do definido, se estendermos à frase a noção de sinonímia, tradicionalmente confinada à palavra. (Seco, 2003, p. 31, tradução nossa) [5]

Nesse caso de sinonímia, a definição é realizada de acordo com a categoria gramatical do item definido. Por exemplo: se o definido se trata de um adjetivo, a definição será também um adjetivo, que pode ser seguido ou não de complemento, e assim sucessivamente para outras categorias de palavras. No entanto, essa «lei da sinonímia» não é universal, pois palavras gramaticais e interjeições, por exemplo, não podem ser definidas dessa maneira. Nesse caso, o que ocorre é uma definição por meio de metalinguagem de signo e não de conteúdo, «[...] ou seja, não na metalinguagem própria do “segundo enunciado” do verbete, mas sim ao que corresponde ao “primeiro enunciado”» (Seco, 2003, p. 33, tradução nossa) [6] .

O autor coloca que por se tratar de palavras indefiníveis, as informações sobre as palavras gramaticais não se tratam propriamente de definições acerca do seu significado, mas sim de uma explicação do que é a palavra e como é o seu emprego, ou seja, o seu uso. «Trata-se, neste caso, mais do que uma definição, pois o que há é uma explicação ou caracterização do definido desde o ponto de vista de seu funcionamento gramatical, contextual e pragmático» (Porto Dapena, 2012, p. 306, tradução nossa) [7] .

Nesse sentido, temos o que Seco (2003) denomina como definições «próprias», aquelas feitas por meio da metalinguagem de conteúdo, que correspondem às definições dos substantivos, advérbios e verbos, e as definições «impróprias», por metalinguagem do signo, que correspondem às palavras gramaticais e as interjeições [8] .

Neste texto, considerando os objetivos estabelecidos, lançamos um olhar mais atento às definições de duas palavras da língua espanhola, mais especificamente às conjunções luego e como que, segundo Cunha (1975, p. 533), fazem parte de um grupo de palavras que estão entre «os vocábulos gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração» e sobre as quais discorremos em seção destinada a este fim na sequência deste artigo.

Pelo exposto, percebe-se que o processo de elaboração de dicionários requer conhecimentos teóricos e metodológicos bem precisos, à medida que se pretende oferecer ao mundo acadêmico uma obra organizada de forma didática que possa servir como importante material didático nos diferentes procedimentos pedagógicos existentes.

Para a definição lexicográfica, em especial, considerando o foco deste texto, sobrelevamos que o ato de definir uma UL é uma atividade muito complexa e que, por isso, carece de muita atenção. Em vista disso, na sequência deste texto, apresentamos a tipologia de definições lexicográficas apresentada por Porto Dapena (2002) [9] , ainda que brevemente, com a intenção de demonstrar aos possíveis leitores qual (is) tipologia (s) é (são) mais adequada (s) às palavras gramaticais de uma língua.

3. Tipologia de definições em Porto Dapena (2002)

Porto Dapena (2002), como podemos observar a partir dos organogramas e explicações que apresentamos na sequência deste texto, oferece-nos uma vasta classificação tipológica a respeito das definições. Com a Figura 1, demonstramos a divisão apresentada pelo pesquisador de acordo com dois grandes critérios de divisão dos tipos de definições, quais sejam: as orientadas ao referente e as orientadas ao signo.

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Descrição gerada automaticamente

Figura 1 – Definições orientadas ao referente e ao signo

Fonte: Elaboração própria com base em Porto Dapena (2002)

Notemos que dentro das definições orientadas ao referente, há dois tipos: a enciclopédica e a ostensiva.

A enciclopédica define coisas, descrevendo com detalhes características que diferenciam a realidade ou coisa nomeada por uma UL. É muito utilizada para definir lexias referentes à fauna e à flora, assim como termos de uma determinada área de conhecimento, por exemplo. De acordo com o autor, podemos distinguir três tipos de definições enciclopédicas:

A descritiva, como o próprio nome indica, descreve as características das coisas. Esse tipo de definição busca responder: Como é o definido, indicando suas propriedades e características; e não: O que é o definido, como podemos ver em:

Abeja. 1. f. Insecto himenóptero, de unos quince milímetros de largo, de color pardo negruzco y vello rojizo, que vive en colonias y produce cera y miel. (RAE, 2021)

A teleológica expressa a finalidade do objeto, a exemplo de:

Barómetro. Instrumento que sirve para determinar la presión atmosférica. (Porto Dapena, 2002, p. 280)

E a genética, que ao invés de descrever, caracteriza o objeto por sua origem ou causa. Exemplo:

Lupus. Enfermedad de la piel o de las mucosas, producida por tubérculos que ulceran y destruyen las partes atacadas. (Porto Dapena, 2002, p. 280)

A definição ostensiva, por sua vez, trata-se de um complemento da definição enciclopédica. De acordo com Porto Dapena (2002), não é propriamente uma definição, pois coloca o referente no lugar do definidor ou como componente dele, como podemos observar no seguinte exemplo:

Rojo.2. adj. De color rojo. (RAE, 2021)

Essas definições também podem ser do tipo icônico e são muito recorrentes por meio de ilustrações em enciclopédias. Observe no exemplo a seguir uma definição de tipo icônica:

Azul. Que es del color del cielo sin nubes o del mar cuando brilla el Sol: cielo azul, ojos azules, azul marino, azul turqués. (DEM, 2021)

As definições orientadas ao signo, por sua vez, são denominadas como linguísticas/lexicográficas, ou metalexicográficas. Essa nomenclatura se dá pois elas se utilizam da metalinguagem para explicar as unidades léxicas em geral. Nela, há três grupos: i) definições de natureza conceitual, que definem a lexia por meio de metalinguagem de conteúdo; ii) definições de natureza funcional, que definem por meio de metalinguagem de signo; iii) definições de natureza híbrida que, ainda em menor quantidade, mas não menos importante, abarcam definições conceituais e funcionais dentro de um mesmo texto definitório.

Na Figura 2, a seguir, apresentamos um desdobramento da Figura 1. Nela, tratamos exclusivamente das categorias e subcategorias das definições orientadas ao signo de natureza conceitual.

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Descrição gerada automaticamente

Figura 2 – Definições orientadas ao signo de natureza conceitual
Fonte: Elaboração própria com base em Porto Dapena (2002)

As definições conceituais, também denominadas por Seco (2003) como “definições próprias”, são classificadas como verdadeiras definições, pois definem a unidade por meio da metalinguagem de conteúdo. Nelas, as definições são registradas em forma de paráfrase ou sinônimo da palavra-entrada. Como podemos visualizar na Figura 2, as definições conceituais são divididas em dois grupos, a saber: perifrásticas e sinonímicas.

O primeiro grupo corresponde às perifrásticas, que reúnem definições mais complexas, pois são constituídas por frases ou sintagmas que explicam o definido. Devido a sua complexidade formal, ela é subdividida em duas classes gerais: a substanciais e a relacionais que, por sua vez, apresentam outras subdivisões, conforme podemos melhor visualizar a partir da Figura 3 a seguir.

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Descrição gerada automaticamente

Figura 3 – Definições perifrásticas substanciais e relacionais

Fonte: Elaboração própria com base em Porto Dapena (2002)

As substanciais procuram responder à pergunta: o que é definido? Nas palavras de Porto Dapena, é sem dúvidas a mais frequente nos dicionários. Elas se subdividem do ponto de vista de sua estrutura lógica, de forma que temos o seguinte:

Incluente positiva ou hiperonímica: a definição é constituída por um gênero próximo e a diferença específica, ou melhor, apresenta palavras do mesmo campo semântico que a do item a ser definido, por exemplo:

Fútbol. 1. m. Juego entre dos equipos de once jugadores cada uno, cuyo objetivo es hacer entrar en la portería contraria un balón que no puede ser tocado con las manos ni con los brazos, salvo por el portero en su área de meta (RAE, 2021).

Incluente negativa: proposta por Rey-Debove (Porto Dapena, 2002, p. 145), ou incluyente lógico ou o archilexema, possui o sentido negativo, como em:

Olvidar. 7. intr. prnl. Perder de la memoria, de la consideración o de la estima. Se olvidó DE mi teléfono. Se olvidan DE un detalle. Me olvidé DE avisarte. Nunca se olvidó DE ella ”. (RAE, 2021)

Excludente negativa ou antonímica: forma de definição muito semelhante à anterior, gerando, por vezes, alguns equívocos classificatórios. A diferença é a presença da partícula negativa “não”. Nesse caso, ela define a palavra pelo que ela não é, como em:

Desconfiar. 1. intr. No confiar, tener poca seguridad o esperanza. (RAE, 2021)

Participativa ou metonímica: nelas, o núcleo do sintagma não está constituído por um arquilexema e sim por uma palavra de sentido geral, tais como parte, órgão, peça ou com significado distributivo, como em:

Contrincante. m. y f. Cada una de las personas que forman parte de una misma trinca en las oposiciones. (RAE, 2021)

Aproximativa ou analógica: como nos informa Porto Dapena (2002), é constituída por um vocábulo que indica aproximação ou semelhança:

Cimitarra. Arma blanca semejante a un sable, de hoja curva que se va ensanchando a medida que se aleja de la empuñadura, y con un solo filo en el lado convexo: Los turcos y los persas luchaban con cimitarras. (CLAVE, 2021)

Aditiva: consiste na adição, como o próprio nome já indica, ou associação de vários lexemas que se unem sintaticamente por coordenação copulativa, com o intuito de analisar o significado. Ou seja, semanticamente, a definição é a soma de duas ou mais palavras, as quais podem ou não estar acompanhadas de determinações, assim como em:

Ordenanza. 3. f. Mandato, disposición, arbitrio y voluntad de alguien”. (RAE, 2021)

Já as relacionais, como o próprio nome já estabelece, são aquelas que estão relacionadas com o item a ser definido. Por exemplo:

Fluctuante. 1. adj. Que fluctúa. (RAE, 2021)

Dentro dessa classificação, está presente a morfossemântica, devido à derivação parcial ou completa entre o definido e o definidor. Esse tipo de definição, além de ser relacional, pode ser também substancial. A diferença entre as duas seria o seguinte: enquanto na primeira (substancial), a definição está constituída pelo núcleo que pertence ao definido; no segundo caso (relacional), há um transpositor no lugar do núcleo, o qual é «[...] representado por um relativo ou uma preposição, cuja missão é converter na categoria gramatical do definido uma oração ou sintagma nominal» (Porto Dapena, 2002, p. 292, tradução nossa) [10] .

O segundo grupo referente às definições parafrásticas, são os das sinonímicas, como demonstramos a partir da Figura 2 alhures. Porto Dapena (2002, p. 285) expõe também que frequentemente a definição sinonímica não pode ser considerada como uma verdadeira definição, pois: i) não existe sinônimos de equivalência absoluta entre as línguas; e ii) porque ela não cumpre o princípio da análise, esperado de uma definição propriamente dita. Em relação à perifrástica, o pesquisador assevera o seguinte:

Embora a definição sinonímica seja, como já foi dito, viável e justificável em qualquer dicionário, isso não impede, naturalmente, que o tipo preferido de definição continue sendo a perifrástica. Somente ela, de fato, tem caráter analítico e, portanto, cumpre o princípio da análise exigido, como vimos de uma definição própria ou no sentido estrito da palavra. (Porto Dapena, 2002, p. 290, tradução nossa) [11]

Porém, em um mesmo idioma pode ocorrer coincidências semânticas, produzindo assim uma certa relação de equivalência.

Especificamente sobre definições sinonímicas, podemos identificar o seguinte, consoante Porto Dapena (2002):

Sinonímica simples , cujo lema é definido por um sinônimo, como no exemplo a seguir:

Dar. 1. tr. Donar (RAE, 2021).

Sinonímica completa ou acumulativa , cujo lema é definido por dois ou mais sinônimos, como no seguinte exemplo:

Decir. 2. tr. Asegurar, sostener, opinar (RAE, 2021).

Sinonímica mista , cujo lema é definido por um sinônimo acrescido de uma definição perifrástica, como em:

Sentir. 5. tr. Lamentar, tener por doloroso y malo algo. Sentir la muerte de un amigo (RAE, 2021).

Parassinonímica , na qual o definidor se trata de um hiperônimo, hipônimo ou cohipônimo do definido, assim como em:

Marona. 1. Cuerda gruesa de esparto, cáñamo u otras fibras vegetales o sintéticas (RAE, 2021).

Pseudoperifrástica , constituída por um sinônimo, seguido de um contorno definicional, por exemplo:

Empezar. 2. tr. Iniciar el uso o consumo de algo (RAE, 2021).

Observemos pelo exemplo que iniciar corresponde ao sinônimo e el uso o consumo de algo exerce a função de contorno definicional.

No que concerne às definições de tipo funcional, elas se subdividem em três categorias, conforme demonstramos a partir da Figura 4.

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Descrição gerada automaticamente

Figura 4 – Definições orientadas ao signo de natureza funcional

Fonte : Elaboração própria com base em Porto Dapena (2002)

A definição funcional é aquela que define por meio de metalinguagem de signo, ou melhor, é aquela que: “[...] informa acerca dos valores, funções ou usos da palavra definida” (PORTO DAPENA, 2002, p. 282, tradução nossa [12] )”. As definições desse tipo são tachadas por alguns autores, como Bosque (1982) e Seco (2003), como “definições impróprias”, pois não definem, e sim explicam a função e o uso da unidade. No entanto, é o tipo mais indicado no que se refere à definição de unidades correspondentes às categorias gramaticais.

Em relação à definição funcional, em suas três categorias, Porto Dapena (2002), respectivamente, apresenta os seguintes exemplos:

Su , sus. Forma del pronombre posesivo de tercera persona en género masculino y femenino y en ambos números singular y plural que se utiliza antepuesto al nombre (morfossintática). Entornar. Dícese también de los ojos cuando no se cierran por completo (contextual). Gentilhombre. Palabra con que se apostrofa a alguno para captar su voluntad (pragmática). (Porto Dapena, 2002, pp. 282-283, acréscimos entre parênteses nossos)

Por fim, como dito anteriormente, há um grupo menor: o híbrido. Ele abarca todas as definições que misturam informações conceituais e funcionais. Como expõe Porto Dapena (2002), esse tipo de definição aborda a aplicabilidade da palavra-entrada em uma determinada realidade. É o que ocorre em geral nas definições contextuais. Nelas, as definições podem aparecer da seguinte forma:

Gitano. Dícese de los individuos de un pueblo originario de la India, extendido por gran parte de Europa, que mantienen en gran parte un nomadismo y han conservado rasgos físicos y culturales propios. (Porto Dapena, 2002, p. 283)

Como podemos observar, a definição é introduzida pela expressão Dícese de, ou seja, uma definição funcional, que serve de marco à outra de tipo conceitual.

Como se percebe pelo exposto, os tipos de definições selecionadas pelo lexicógrafo na elaboração de definições podem variar, pois, a depender da proposta lexicográfica, o dicionário adquire determinadas características que visam atender as necessidades dos potenciais consulentes. Por isso, entendemos ser pertinente a realização de reflexões metalexicográficas a respeito da definição lexicográfica, em especial àquelas destinadas às palavras gramaticais, objeto de estudo deste artigo.

Nesse contexto, na próxima seção, apresentamos a análise descritiva que realizamos sobre o tratamento que as conjunções luego e como receberam em dicionários de língua espanhola.

4. Apresentação e análise dos dados

Em conformidade com os objetivos estabelecidos para este estudo, registramos nesta seção a análise descritiva das definições luego e como, com base na tipologia de definições apresentada por Porto Dapena (2002), registradas nos seguintes dicionários de língua espanhola:

i) Diccionario de Español para extranjeros (Maldonado-González, 2005) – (GON) [13] .

ii) Diccionario Salamanca Español para extranjeros (Gutierrez-Cuadrado; Pascual-Rodriguez, 2006) – (SAL) [14] .

iii) Diccionario de la lengua española (RAE, 2021) – (DLE) [15] .

iv) Diccionario del Español de México (Lara, 2021) – (DEM) [16] .

Os dois primeiros classificam-se como dicionários Pedagógicos Monolíngues de Espanhol para aprendizes de espanhol como língua estrangeira; o terceiro trata-se de um dicionário geral de língua; e o quarto um dicionário de espanhol em sua variedade mexicana.

Para que pudéssemos apresentar os dados oriundos dos verbetes selecionados para esta pesquisa, assim como a classificação das acepções de acordo com o modelo tipológico de Porto Dapena (2002), organizamos o Quadro 1, com vistas a proporcionar ao leitor uma visão mais objetiva dos dados. Na sequência do quadro, discorremos sobre os dados.

DIC [17]

ACEPÇÕES / CLASSIFICAÇÕES

como

luego

GON

(2005)

Conj. 5 Enlace gramatical subordinante con valor condicional: […]


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática

6 Enlace gramatical subordinante con valor causal: […]. Funciona como preposición con el significado de ‘en calidad’: […].


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática

Conj. 3 Enlace gramatical subordinante con valor consecutivo: […]


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática

SAL (2006)

// conj. cond. 9 (con verbo en subjuntivo) preferentemente COLOQUIAL. Introduce una proposición en la que se aduce como hipotético un hecho incierto de cuya realización se garantiza enfáticamente que se deriva cierto: […].


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática


10 Introduce cláusulas de carácter causal en que se aduce un hecho como la razón que explica la presencia de otro hecho [...].


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática

// conj. temp. 11 Equivale a ‘en cuanto’, ‘tan pronto como’, ‘así como’ y expresa posteriormente inmediatamente de un hecho respecto de otro: [...].


Definição orientada ao signo Funcional Contextual

// conj. 12 (con subjuntivo en -se; con hechos del pasado; en contextos de descripciones) Introduce una circunstancia novedosa referida preferentemente a acciones y equivale a ‘habiéndose producido la circunstancia de que’: [...].


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática

conj. compl. 13 Introduce cláusulas sustantivas: 131 (con verbos de percepción: darse cuenta (de), ver, mirar, fijarse) Presenta un contenido presupuesto como si su evidencia confirmara la verdadera de una afirmación o bien indica que la predicción tiene lugar simultáneamente con el acto de hablar: [...] 132 (con verbos y agrupaciones que conllevan la idea de ‘ver’) Expresa contemplación descriptiva: [...] . 133 (con verbos de relato, principalmente contar, evita preceder a una proposición simple) LITERÁRIO. Expresa descripción contemplativa: [...].


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática

// conj. 5 Introduce una proposición que expresa una consecuencia y una conclusión lógica: [...].


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática

DLE (2021)

11. conj. Introduce el segundo término en las comparativas de igualdad, normalmente en correlación con tan o tanto [...].


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática

12. conj. U. con valor copulativo en correlación con tanto [...].


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática

13. conj. En incisos iniciales con el verbo en subjuntivo, introduce apódosis condicionales [...].


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática

14. conj. En incisos iniciales con el verbo en indicativo, introduce subordinadas causales [...]. U. t. con la conj. que [...].


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática

5. conj. ilat. Por consiguiente, por lo tanto [...].


Definição orientada ao signo Conceitual Substancial

DEM (2021)

1 adv y conj Indica el modo o la manera en que se hace o sucede algo: [...].


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática

7 conj Ya que, puesto que, debido a que, a causa de: [..].


Definição orientada ao signo Conceitual Sinonímica Completa

8 conj Si, introduce la condición o la hipótesis de una oración: [...].


Definição orientada ao signo Funcional Morfossintática

9 conj Que: [...].


Definição orientada ao signo Funcional Contextual

10 Como si, como que De modo que parece o se asemeja, figurando que: [...].


Definição orientada ao signo Funcional Contextual

11 Como para De tal modo que se justifica, de tal m anera que vale la pena: [...].


Definição orientada ao signo Funcional Contextual

8 conj. Por lo tanto, por consecuencia, en conclusión: [...].


Definição orientada ao signo Conceitual Substancial

Quadro 1 Apresentação e classificação dos dados

Fonte : elaboração própria

Pelo exposto no Quadro 1, é possível notar que temos um total de vinte e uma (21) acepções, sendo dezessete (17) para a conjunção como, e quatro (04) para luego.

Das dezessete (17) acepções referentes a conjunção como, constatamos que doze (12) delas são classificadas como de tipo «funcional morfossintática»; quatro (04) como «funcional contextual»; e uma (01) como «conceitual sinonímica completa».

No que tange às definições de luego, duas (02) delas são classificadas como de tipo «funcional morfossintática»; e as outras duas (02) como “conceitual substancial”.

As definições «funcionais morfossintáticas», com maior produtividade, são caracterizadas por serem constituídas de metalinguagem de signo empregada e pelo seu conteúdo explicativo, ou seja, esse tipo de definição demonstra as funções e os valores que uma determinada unidade léxica exerce em uma oração. Ao analisarmos as definições registradas nos dicionários selecionados, foi possível observar que, no caso da conjunção como , elas podem indicar valores de condição, causa, comparação ou soma, diferente da conjunção luego, que pode apresentar um valor consecutivo, ou seja, pode introduzir uma expressão que indica consequência ou conclusão.

A título de exemplo, retomando o já exposto no Quadro 1, apresentamos a seguir exemplos de definições «funcionais morfossintáticas» paracomo e luego em González (2005), respectivamente:

6 Enlace gramatical subordinante con valor causal: […]. Funciona como preposición con el significado de ‘en calidad’: […].

Conj. 3 Enlace gramatical subordinante con valor consecutivo: […].

As «funcionais contextuais», por sua vez, também se caracterizam pela metalinguagem de signo empregada. No entanto, a informação que temos nesse tipo de definição é referente à aplicabilidade e ao contexto de uso da unidade, como nos exemplos a seguir registrados no DEM (2021):

10 Como si, como que De modo que parece o se asemeja, figurando que: (...).

11 Como para De tal modo que se justifica, de tal manera que vale la pena: (...).

As definições «conceituais», por seu turno, caracterizam-se pela metalinguagem de conteúdo empregada, ou seja, expressam por meio de paráfrases ou sinônimos o que é o definido, ou melhor, o significado da palavra-entrada. A seguir, apresentamos exemplos de luego e como, respectivamente:

5. conj. ilat. Por consiguiente, por lo tanto (...). (DEM, 2021)

7 conj. Ya que, puesto que, debido a que, a causa de: (...). (DEM, 2021)

Podemos observar que a definição referente à acepção 5 vem em metalinguagem de conteúdo, pois luego, neste caso, corresponde ao mesmo de por lo tanto, ou seja, é a consequência de uma ação. Por isso ela classifica-se como de tipo “Conceitual Substancial”.

Na acepção 7, notamos que a unidade como corresponde às conjunções subordinadas causais. Neste caso, a definição vem por meio de outras conjunções sinônimas que também designam causa. São elas: ya que, puesto que, debido a que e a causa de. Por essa razão, classifica-se como “Conceitual sinonímica completa”.

Em face do exposto, de modo geral, parece-nos que os tipos de definições utilizados nos repertórios lexicográficos analisados, para explicar a função ou o conceito das conjunções como e luego, parecem ser adequados, posto que estão de acordo com os princípios e parâmetros apresentados alhures.

5. Considerações finais

Sabe-se que o trabalho exercido por um lexicografo e sua equipe exige muita atenção e dedicação, assim como deve ser alicerçado por princípios teóricos e metodológicos bem claros e de acordo com a proposta lexicográfica que, por sua vez, costuma ser planejada tendo em vista o potencial consulente da obra.

Nesse cenário, a escolha de uma tipologia de definição lexicográfica, como a apresentada neste texto a partir das contribuições de Porto Dapena (2002), trata-se de um procedimento que sempre requer muita atenção, haja vista que a depender do tipo de UL e o tipo de dicionário, (se pedagógico, se de língua geral, se especial ou especializado, por exemplo), também será o tipo, ou tipos, de definição a ser utilizada para procurar atender às necessidades dos potenciais consulentes da obra.

Considerando os objetivos estabelecidos para o estudo que apresentamos com este texto, verificamos que as definições orientadas ao signo de tipo funcional morfossintática, contextual ou pragmática parecem ser as mais adequadas, como podemos perceber pelas contribuições dos autores que visitamos para este artigo, em especial Porto Dapena (2002), bem como pela análise descritiva que realizamos.

Ao analisarmos as acepções registradas para as conjunções como e luego, identificamos uma maior produtividade de definições de tipo Funcional Morfossintática, salvo os casos em que elas são definidas pela metalinguagem de conteúdo, como em algumas acepções de luego nos dicionários DEM (2021), DLE (2021).

Concluímos este texto, portanto, ressaltando a importância de definições lexicográficas organizadas/elaboradas de forma didática (Rodrigues-Pereira, 2020), posto que elas nos possibilitam o conhecimento de uma lexia em seus diferentes sentidos que, no que lhe concerne, são registrados nos dicionários monolíngues por meio das distintas acepções que podem ser registradas na microestrutura de um verbete.

Esperamos, outrossim, que o produto deste estudo possa instigar novos olhares para o procedimento de elaboração de acepções para um lema, sobretudo quando se trata da definição lexicográfica destinada a dicionários pedagógicos que, por sua vez, objetivam proporcionar ao consulente uma acepção clara, de fácil entendimento ao potencial consulente.


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Fecha de recepción: 28/10/2021

Fecha de aceptación: 29/11/2021



[1] «Si existe un aspecto que se considere verdaderamente central en los estudios sobre la lexicografía aplicada a la confección de diccionarios monolingües es sin duda la teoría de la definición» (Bosque, 1982, p. 105)

[2] Uma unidade léxica pode ser composta por uma, duas ou mais lexias que, em determinado contexto discursivo, possui unidade de sentido. Sobre o assunto, sugerimos a leitura de Pottier (1987), Biderman (2005), Morante Vallejo (2005), Rodrigues-Pereira; Zacarias; Nadin (2020). Neste texto, como já explicitado no resumo, tratamos das definições lexicográficas referentes a unidades léxicas de categoria gramatical de estrutura morfológica simples (palavras gramaticais), mais especificamente, as conjunções luego e como da língua espanhola.

[3] «Ése es básicamente el objetivo primordial de la lexicografía pedagógica: la consideración de que un diccionario es una herramienta que tiene como finalidad esencial servir desde el punto de vista didáctico». (Molina García, 2006, p.10).

[4] Aunque en los últimos años muchos estudios relacionados a diccionarios pedagógicos han sido realizados y consecuentemente, proyectos de diccionarios de esa naturaleza han surgido cada vez más, no podemos olvidar que la mayoría de las obras lexicográficas existentes aún no es «didáctica», es decir, no es organizada de forma didáctica. Por ello, decir que todo diccionario es esencialmente didáctico es como si siguiéramos por caminos opuestos a las epistemologías relacionadas a la enseñanza, pues el término “didáctico/a” se nos remite a toda y a cualquier forma de ensañar a alguien. Destacamos pues: el diccionario no enseña, sino que proporciona informaciones lingüísticas y extralingüísticas que, solamente dependiendo de la capacidad de abstracción del consultante podrá ser aprovechado en toda su amplitud (Rodrigues-Pereira, 2021, p. 7).

[5] En efecto, la definición para ser tal, es teóricamente una información sobre todo el contenido y nada más que el contenido de la palabra definida […] podemos decir que la definición es en realidad un sinónimo del definido, si extendemos al sintagma la noción de sinonimia, tradicionalmente confinada a la palabra (Seco, 2003, p. 31).

[6] «[...] es decir, no en la metalengua propia del “segundo enunciado” del artículo, sino en la que corresponde al primero enunciado”» (Seco, 2003, p. 33).

[7] «Se trata, por lo demás, en este caso más que de una definición, de una explicación o caracterización del definido desde el punto de vista de su funcionamiento gramatical, contextual y pragmático». (Porto Dapena, 2012, p. 306).

[8] O léxico de uma língua é constituído por unidades léxicas, as quais são organizadas e classificadas em classes de palavras lexicais (substantivos, adjetivos, advérbios e verbos) e classe de palavras gramaticais (advérbios, preposições, pronomes, interjeições, conjunções e artigos). Para mais informações sobre o assunto, sugerimos a leitura de Borba (2003), Kühn Fornari (2009) e Pòlguere (2018).

[9] Sugerimos também a leitura de Bosque (1982), Biderman (1993), Seco (2003) e Pòlguere (2018) para mais informações sobre classificações existentes.

[10] No original: «[…] representado por un relativo o una preposición, cuya misión es convertir en la categoría del definido una oración o sintagma nominal» (Porto Dapena, 2002, p. 292).

[11] No original: «Aunque la definición sinonímica sea, como queda dicho, viable y justificable en cualquier diccionario, ello no impide, naturalmente, que el tipo de definición preferible continúe siendo la perifrástica. Solo ésta, en efecto, tiene carácter analítico y, por lo tanto, cumple el principio de análisis, exigible, como hemos visto, a una definición propiamente dicha o en el estricto sentido de la palabra» (Porto Dapena, 2002, p. 290).

[12] No original: «[...] informa acerca de los valores, funciones y los usos de la palabra definida» (Porto Dapena, 2002, p. 282).

[13] Sigla utilizada para identificação do dicionário no Quadro 1.

[14] Sigla utilizada para identificação do dicionário no Quadro 1.

[15] Sigla utilizada para identificação do dicionário no Quadro 1.

[16] Sigla utilizada para identificação do dicionário no Quadro 1.

[17] Dicionários.