A pesquisa em tradução na UFRGS: da graduação à pós-graduação – percurso e perspectivas

 

Research in translation at UFRGS: from undergraduate to graduate studies - course and perspectives

 

 

Cleci Regina BEVILACQUA - cleci.bevilacqua@ufrgs.br

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

 

Patrícia CHITTONI RAMOS REUILLARD - patricia.ramos@ufrgs.br

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

 

 

Resumen

Este artigo compartilha dados referentes à pesquisa em tradução desenvolvida no curso de Bacharelado em Letras–Tradução e no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Para tanto, elenca os Trabalhos de Conclusão de Curso elaborados na área, no período de 2007 a 2021, bem como as Dissertações e Teses defendidas no Programa, no período de 2000 a 2021. Apresenta ainda a distribuição temporal e temática desses trabalhos acadêmicos. Entre as temáticas, destacam-se a tradução literária e a tradução especializada e Terminologia, mas observa-se a presença de temáticas mais em voga como tradução audiovisual e localização. Discorre igualmente sobre as atividades de formação continuada realizadas pelo Núcleo de Estudos de Tradução Olga Fedossejeva do Instituto de Letras. A análise dos dados desse tripé de ensino, pesquisa e extensão permite tecer considerações sobre o desenvolvimento da área na UFRGS e na academia ao longo dos últimos cinquenta anos.

 

Palavras-chave: estudos da tradução, trabalhos acadêmicos, graduação e pós-graduação

 

Abstract

This article shares data from research on translation carried out in the Bachelor’s Degree in Languages - Translation and the Graduate Program in Languages at the Federal University of Rio Grande do Sul. It lists the Final Papers produced in the area from 2007 to 2021 and the Dissertations and Theses defended in the Program from 2000 to 2021. It also presents the temporal and thematic distribution of these academic works. Among these themes, literary translation and specialized translation, and Terminology stand out, but also more in vogue themes such as audiovisual translation and localization. It also discusses the continuing education activities carried out by the Olga Fedossejeva Translation Studies Center at the Institute of Languages. The data analysis from this tripod of teaching, research, and extension has allowed us to consider the development of the area at UFRGS and in academia over the last fifty years.

 

Keywords: translation studies, academic papers, undergraduate and graduate studies


 

1. Introdução

Desde as últimas décadas do século XX, vem-se observando um incremento do número de pesquisas em Estudos da Tradução, o que pode ser comprovado não só pela criação de novos programas de pós-graduação (PGET-UFSC, POSTRAD-UnB, TRADUSP-USP, entre outros), mas também pelo aumento dos periódicos científicos brasileiros dedicados à área. Essa intensificação tem-se traduzido também por um número crescente de trabalhos de conclusão de curso, de dissertações e de teses, que abordam inúmeros temas referentes ao campo dos Estudos da Tradução e da Interpretação (Loguercio e Silva, 2020).

Neste artigo, buscamos apresentar alguns dados referentes à pesquisa na graduação e na pós-graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Curso de Bacharelado em Letras–Tradução e Programa de Pós-Graduação em Letras (PPG-Letras) –, bem como às atividades promovidas pelo Núcleo de Estudos de Tradução Olga Fedossejeva (NET).

Com as informações apresentadas, pretendemos tecer algumas reflexões sobre a produção intelectual de professores e estudantes da área de Estudos da Tradução e o papel dos pesquisadores em tradução e de seus formadores, considerando o contexto atual.

 

2. A inter-relação entre Graduação, Pós-Graduação e Extensão

 

Traçamos a seguir um breve histórico do Curso de Bacharelado em Letras–Tradução e do PPG-Letras da UFRGS, destacando aspectos relativos ao seu surgimento e reformas de currículos ao longo do tempo.

O Curso de Bacharelado em Letras–Tradução foi criado em 1973 e reconhecido em 1977. Atua, portanto, há 49 anos na formação de tradutores/as nas línguas alemã, espanhola, francesa, inglesa, italiana e japonesa; a língua russa é oferecida como eletiva e ainda não conta com uma ênfase, mas tem proporcionado a formação de tradutores do russo. Em 2016, incluiu-se a ênfase de Tradutor–Intérprete de Libras.

Até 1991, o curso incluía as habilitações de tradutor e de intérprete. Em 1995, período em que a Linguística Textual tomou grande impulso na Europa e no Brasil, passou pela primeira reforma curricular, que incluiu disciplinas teóricas vinculadas aos estudos linguísticos de abordagem textual – Linguística e Tradução, Conceitos Básicos de Linguística, Teoria do Texto, Semântica do Texto e Sintaxe do Texto – além de disciplinas relacionadas à Terminologia. Essas inclusões, que buscavam aprimorar a formação dos futuros tradutores, até então fortemente fundamentada nas disciplinas da Licenciatura, demonstram igualmente o entendimento da necessidade de oferecer uma formação condizente com o desenvolvimento dos Estudos da Tradução, que passaram a alcançar, a partir dos anos 1990, um reconhecimento internacional como disciplina (Rodrigues, 2013).

Buscando dar conta das novas demandas da sociedade e do mundo das letras, cada vez mais marcado por recursos tecnológicos, em 2006, iniciou-se a discussão de um novo currículo do Bacharelado em Tradução, implementado em 2012. No Projeto Pedagógico do Curso (PPC) que embasa esse currículo, definiu-se o perfil da nova formação: um profissional apto a atuar em todas as frentes relacionadas ao texto, como tradução, revisão de textos em língua materna e estrangeira, redação, assessoria linguística, terminologia e terminografia. Esse perfil, assim como suas competências – traduzir e verter textos especializados e não-especializados de diferentes gêneros e tipos; revisar textos em língua materna, em língua estrangeira e traduções; produzir e/ou assessorar a produção textos de diferentes gêneros e tipos, entre outras, produzir e avaliar materiais terminográficos e/ou lexicográficos; gerenciar projetos de tradução e de terminologia; reconhecer, gerir e mediar informações básicas de áreas diversas de conhecimento; prestar serviços profissionais com qualidade, pontualidade, etc.; autoavaliar-se e buscar formação contínua –, levaram à inclusão de novas disciplinas, como as de Revisão de Textos em Português, Revisão de Textos Traduzidos e Leitura e Produção de Textos em língua estrangeira. Igualmente, foi incluído o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) como uma forma de levar o estudante, ao final da graduação, a refletir de forma mais aprofundada sobre o fazer tradutório, incorporando os conhecimentos teórico-práticos adquiridos ao longo de sua formação.

Por sua vez, o Programa de Pós-Graduação em Letras (PPG-Letras) foi criado em 1972 e teve seu credenciamento aprovado em 1975, totalizando 50 anos de atuação. Sua constituição sempre foi diferenciada da maioria dos programas nacionais, pois está conformado por duas grandes áreas: Estudos da Linguagem e Estudos da Literatura. Após ter passado por algumas reestruturações, atualmente, a primeira área conta com sete linhas de pesquisa e a segunda, com cinco. Embora o Programa não tenha uma linha consagrada unicamente à Tradução, ela sempre se fez presente nas dissertações e teses ali desenvolvidas ao longo desses 50 anos. Como mostraremos no quadro 1 e na seção 3, a área vem sofrendo uma lenta, mas constante evolução no Programa, como se pode ver pela inclusão do termo ‘Tradução’ em algumas linhas, que apresentamos no quadro 1:

 

 

Estudos da Linguagem

Estudos da Literatura

Lexicografia, Terminologia e Tradução: Relações Textuais

Sociedade, (inter)textos literários e tradução nas Literaturas Estrangeiras Modernas

Análises textuais, discursivas e enunciativas

Teoria, Crítica e Comparatismo

Psicolinguística

Literatura, Sociedade e História da Literatura

Quadro 1Linhas de pesquisa que têm a Tradução em seu escopo

Fonte: As autoras

 

Em cada uma dessas linhas, encontram-se inúmeros trabalhos relacionados à Tradução. A título de ilustração, apresentamos a variedade dos temas desenvolvidos nas dissertações e teses.

 

Linha de Pesquisa

Temas

Lexicografia, Terminologia e Tradução: Relações Textuais

A boa tradução na França do Século XIX: uma abordagem histórica da crítica do Journal des Débats (1800-1836) (2019)[1];

Traduzindo «Traducción y traductología»: problemas terminológicos de tradução (2016)[2].

Análises textuais, discursivas e enunciativas

A prática tradutória em contexto de ensino (re) vista pela ótica enunciativa (2012)[3];

A tradução como um fenômeno de linguagem: uma abordagem saussuriana (2017)[4].

Psicolinguística

Investigando funções executivas e experiência tradutória na literalidade em tradução (2019)[5];

Sociedade, (inter)textos literários e tradução nas Literaturas Estrangeiras Modernas

Étude et traduction de Sac au Dos, nouvelle de J.-K. Huysmans (2012)[6];

«Não é hora de nada»: o mal-estar crônico em A montanha mágica (2019)[7].

Teoria, Crítica e Comparatismo

O livro de travesseiro: questões de autoria, tradução e adaptação (2016)[8];

As vozes que habitam a obra de Yoko Tawada: uma tradução comentada do conto Ein Gast (2017)[9].

Literatura, Sociedade e História da Literatura

Tradução ao espanhol da obra Um time muito especial, de Jane Tutikian: um processo criativo (2015)[10];

A tradução de literatura hispano-americana no Brasil: um capítulo da história da literatura brasileira (2016)[11].

Quadro 2 – Linhas de pesquisa que têm trabalhos de Tradução em seu escopo

Fonte: As autoras

 

No que respeita ao NET[12], núcleo criado nos anos 1990 e que homenageia em seu nome uma de suas fundadoras, a professora Olga Fedossejeva, trata-se da vertente da extensão e da formação continuada na universidade. Entre seus objetivos, encontram-se a divulgação da Tradução e dos Estudos da Tradução no Instituto de Letras, na Universidade e na comunidade; o estabelecimento de condições para estudos teóricos e para as práticas tradutórias de natureza interdisciplinar e interinstitucional, visando a acolher professores/as, alunos/as e pesquisadores/as do Instituto de Letras e da comunidade acadêmica interessados nas questões relacionadas à Tradução; a ampliação da área de atuação do curso de tradutor e dos tradutores, promovendo o reconhecimento e a valorização do trabalho profissional de tradução perante a sociedade e a análise e acompanhamento do currículo do curso de Bacharelado em Letras–Tradução a fim de assegurar uma formação humanística e condizente com a demanda de mercado. O núcleo objetiva também a formação continuada dos/das profissionais da área, por meio de palestras, oficinas (voltadas sobretudo para temas não previstos no programa das disciplinas, como legendagem para tradutores e interpretação de conferências) e cursos-livres, ministrados em geral por professores externos e visitantes estrangeiros como atividades de extensão. É também responsável pela Semana de Estudos de Tradução, evento regional conhecido como SET, que se encontra em sua sexta edição e acolhe, ao longo de uma semana, tradutores/as e pesquisadores/as em conferências, mesas-redondas e comunicações. Vale salientar que esse encontro permite apresentações que abarcam todos os escalões da formação acadêmica: do graduando, que apresenta um trabalho desenvolvido em uma disciplina, passando pelo/a bolsista de iniciação científica, pelos/as mestrandos/as e doutorandos/as até chegar aos tradutores/as profissionais e estudiosos/as da Tradução. Já o Universo Tradução é um evento interno realizado mensalmente desde 2015[13] e que apresenta as pesquisas realizadas pelos professores e professoras do Instituto de Letras ou convidados/as externos/as.

O NET busca abranger todos os temas relativos à tradução teórica e aplicada: da literária à especializada e audiovisual, passando pela interpretação, revisão de textos e novas tecnologias, na interface com a Terminologia, a Linguística de Corpus, a Literatura Comparada, a Análise do Discurso e os Estudos de Gênero, entre outras áreas.

Atualmente conta com 35 professores/as que atuam na Graduação e/ou na Pós-Graduação. Além disso, edita os periódicos Cadernos de Tradução[14], dedicados sobretudo à publicação de traduções realizadas pelos/as estudantes do curso com supervisão de orientadores/as, e Translatio[15], que acolhe ensaios teóricos, artigos, traduções comentadas, resenhas e análises de métodos de tradução

Cabe ressaltar que esses três polos – Graduação, Pós-Graduação e NET – estão inter-relacionados e refletem o tripé que sustenta a universidade, ou seja, ensino, pesquisa extensão, conforme indicamos na figura 1.

 

 

Figura 1 – Inter-relação entre Graduação, Pós-Graduação e Extensão.

Fonte: As autoras

 

3. A pesquisa em Tradução: produção e temas

 

Nesta seção, trazemos os dados e temas relativos às pesquisas desenvolvidas na Graduação (TCC) e na Pós-Graduação (dissertações e teses) no âmbito da UFRGS. Antes de passar aos dados, relatamos brevemente o método de coleta dos dados.

Para os TCCs, buscamos as informações no repositório digital LUME da UFRGS e realizamos a busca com os filtros: trabalhos acadêmicos[16], palavra-chave tradução e período 2015 em diante, levando em conta que o TCC passou a ser obrigatório nesse ano para os/as alunos/as que ingressaram no currículo novo de 2012. Isso não significa, no entanto, que não tenha havido TCCs anteriores a esse período abordando a Tradução, pois os alunos de Licenciatura, focada na formação de professores, também podiam escrever sobre esse tema, mas não havia regularidade. A título de exemplo, o TCC «O tratamento literário da terminologia náutica em uma nova tradução de The Shadow Line, de Joseph Conrad», que foi defendido em 2009[17].

Para as teses e dissertações, também utilizamos o LUME[18] e aplicamos os filtros: palavra-chave tradução e período 2000-2021 Além disso, utilizamos as informações disponíveis na página do PPG-Letras, no link publicações[19].

Servimo-nos igualmente dos dados apresentados em Sales, Reuillard, Silva e Loguercio (2018), trabalho que já havia realizado um levantamento detalhado das pesquisas até 2018.

Em relação aos TCCs, foram identificados 96 trabalhos distribuídos temporalmente da seguinte forma:

 

Ano

Número de trabalhos

2021

15

2020

3

2019

8

2018

27

2017

12

2016

25

2015

2

2013

1[20]

2009

2

2007

1

Total

96

Tabela 1 – Número de TCCs defendidos/produzidos

Fonte: As autoras

Esses trabalhos encontram-se distribuídos em onze temáticas, conforme se observa na tabela 2:

 

Áreas/Temas

Total de Trabalhos

Tradução literária

43

Tradução Especializada/Terminologia

20

Tradução audiovisual

11

Questões de gênero e identidade

3

Simplificação textual

3

Tradução e teorias da Enunciação

3

Tradução e Psicolinguística

3

Localização

2

Revisão/Autorrevisão de tradução

2

Tradução e gêneros textuais

2

Tradução e aspectos linguísticos

2

Didática/Ensino da tradução

1

Interpretação

1

Total

96

Tabela 2 – Áreas e temas dos TCCs

Fonte: As autoras

 

O gráfico 1 a seguir permite visualizar com mais clareza a distribuição dos temas abordados. A tradução literária alcança quase 50% da preferência dos/as graduandos/as, o que corrobora, de certo modo, a visão geral desse tipo de tradução como o ramo mais prestigioso no mercado de tradução[21].

 

Gráfico 1 – Distribuição dos TCCs por tema

Fonte: As autoras

 

A partir dos dados apresentados, destacamos a importância da inserção do TCC na formação dos alunos de tradução, pois permite ao graduando, ao final do curso, realizar tanto uma síntese dos conhecimentos adquiridos quanto uma reflexão sobre aspectos teóricos e práticos do fazer tradutório e de seus impactos na sociedade. Ao mesmo tempo que representou um desafio para os/as estudantes e para os/as professores/as, que precisaram, muitas vezes, repensar ou aprender diversos aspectos implicados na tradução em suas diversas modalidades – escrita, audiovisual e oral –, essa inserção no novo currículo engendrou uma qualificação maior do corpo discente e docente, preparando-o melhor para os estudos de pós-graduação.

Sobre o número de trabalhos defendidos, observa-se uma oscilação no número de TCCs apresentados, principalmente entre 2015 e 2019, o que pode ser justificado pela possibilidade de os/as alunos/as escolherem livremente a temática do seu trabalho, inclusive temas mais relacionados à Licenciatura, e por questões de andamento do curso (possíveis trancamentos, opção de se inscrever no TCC somente após a conclusão dos créditos).

Sobre as temáticas tratadas, destacam-se trabalhos relativos à tradução literária e à tradução especializada ou à Terminologia. Essa predominância pode estar justificada pela tradição dessas duas áreas no Instituto de Letras: a Literatura tem uma forte presença no PPG-Letras desde seu início; a tradução especializada e a Terminologia vêm na esteira do grupo TERMISUL (iniciado em 1990 e que festeja trinta e dois anos de existência), pioneiro na implementação de disciplinas de Terminologia em cursos de Tradução (1995).

Contudo, começam a surgir outras temáticas relacionadas a novas disciplinas no currículo – revisão de textos em língua materna, revisão de textos traduzidos – e a temas mais atuais, como a legendagem e dublagem, a psicolinguística (linguística cognitiva), a simplificação textual (tradução intralinguística) e questões de gênero (temas sensíveis).

Isso demonstra que os Estudos da Tradução acompanham de perto as evoluções da sociedade e provocam, no fazer acadêmico, inflexões necessárias. O desenvolvimento da informática, com a produção de softwares e de jogos, por exemplo, acarretou a localização na Tradução, criando não só uma nova vertente de atuação no mercado, mas também um novo paradigma teórico.

Em relação às dissertações e teses, temos um total de 114 trabalhos defendidos entre 2000 e 2021, cuja distribuição temporal é detalhada na tabela 3.

 

Ano

Quantidade de dissertações/teses

Ano

Quantidade de dissertações/teses

2021

7

2010

3

2020

2

2009

4

2019

12

2008

2

2018

5

2007

2

2017

15

2006

4

2016

15

2005

2

2015

11

2004

2

2014

6

2003

1

2013

7

2001

1

2012

7

2000

1

2011

5

 

 

Tabela 3 - Número de dissertações e teses defendidas

Fonte: As autoras

 

A tabela 4 ilustra a distribuição dos trabalhos em 12 temáticas.

 

Áreas/Temas

Total de Trabalhos

Tradução Literária

60

Tradução Especializada/Terminologia

28

Teorias da enunciação

6

Didática/Ensino

5

Tradução audiovisual

4

Itens culturais

3

Interpretação

2

Processamento da Linguagem Natural (PLN)

2

Localização

1

Libras

1

Neologia

1

História/Historiografia

1

Total

114

Tabela 4 – Áreas e temas das dissertações e teses

Fonte: As autoras

 

O gráfico 2 permite uma melhor visualização da distribuição dos temas abordados. Tal como para os TCCs, a tradução literária alcança quase 50% da preferência dos/as pós-graduandos/as, seguida pela tradução especializada e pela relação entre Tradução e Terminologia.

 

Gráfico 2 – Distribuição das dissertações e teses por tema

Fonte: As autoras

 

Em relação aos dados quantitativos, verifica-se um aumento crescente de pesquisas na área de Tradução, provavelmente em decorrência da criação das novas linhas que contemplam claramente a área – Lexicografia, Terminologia e Tradução: relações textuais e Sociedade, (inter)textos literários e tradução nas Literaturas Estrangeiras Modernas.

Há temáticas desenvolvidas nos TCCs que se mantêm nas dissertações e teses – tradução literária, tradução especializada e relação entre Tradução e Terminologia, teorias da enunciação, didática, dublagem/legendagem, localização –, o que demonstra a relação e a continuidade entre as disciplinas e pesquisas feitas na graduação e na pós-graduação. Além disso, os dados mostram o percurso do PPG-Letras nos últimos anos, bem como sua tradição, conforme indica o grande número pesquisas realizadas no âmbito da Literatura, área consolidada de longa data no Instituto de Letras.

Do mesmo modo que para os temas tratados nos TCCs, também começam a surgir temáticas novas entre as dissertações e teses – interpretação de conferências, Língua Brasileira de Sinais (Libras), localização e historiografia da tradução –, muito provavelmente em decorrência de demandas profissionais e societais (por exemplo, necessidade e exigência de acolhimento da comunidade surda).

Sobre os dados aqui apresentados, consideramos que seria preciso ainda analisar as temáticas ao longo do tempo para ver se desaparecem, se mantêm ou evoluem e pensar no que os dados obtidos refletem sobre o fazer investigativo em Tradução, não apenas na UFRGS, mas também em nosso país.

 

4. Considerações finais

 

A partir do levantamento de dados e das informações obtidas, consideramos importante dar continuidade a esse tipo de coleta e análise sobre as pesquisas realizadas no âmbito dos Estudos da Tradução, não apenas na UFRGS, mas também em outras instituições, para:

 

a)    conhecer mais profundamente a área em nosso país;

b)   identificar nossas forças e fragilidades, isto é, os temas que ainda precisamos pesquisar ou os que precisamos aprofundar, ou onde atuar mais fortemente, as línguas pesquisadas, etc.;

c)    aprender a relacionar nossas pesquisas com as demandas mais concretas da sociedade.

 

Acreditamos que, desse modo, poderíamos construir ou reconhecer uma «identidade individual e coletiva» (Baker, 2018, p. 340): quem somos, o que fazemos e o que buscamos como um coletivo responsável não apenas pela transmissão do conhecimento, mas também pela sua produção.

Destacamos ainda a importância de inter-relação entre pesquisa, ensino e extensão tanto para a formação de tradutores como para a formação de pesquisadores na área, bem como a necessidade de pensarmos no nosso papel como formadores de pesquisadores em Tradução.

Dos dados e afirmações anteriores, arriscamo-nos a afirmar que as pesquisas em Estudos da Tradução constituem-se como narrativas de um fazer científico sobre outras narrativas (as traduções). Nesse sentido, podemos nos questionar, inspiradas em Baker (2018): por que escolhemos determinada temática de pesquisa? A partir de qual perspectiva a abordamos? Como nós, profissionais da Tradução e da Interpretação, pesquisadores/as e formadores/as em Tradução, nos colocamos frente a esse fazer?

Ainda seguindo na linha da autora, «se as traduções são ferramentas para mudar o mundo» (Baker, 2018, p. 340), podemos pensar em que medida as pesquisas em Estudos da Tradução também não poderiam ser ferramentas transformadoras do mundo, principalmente se considerarmos o momento crítico – político e sanitário – em que vivemos.

 


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Referencias bibliográficas

Baker, M. (2018). A tradução como um espaço alternativo para ação política. Cadernos de Tradução, 38(2), 339-380.

Loguercio, S., Silva, M. (2020). Estudo exploratório: que temas são traduzidos e/ou pesquisados em cursos de tradução no Brasil? Cultura e Tradução, 6(1), 69-85. Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ct.

Rodrigues, C. (2013). Os Estudos de Tradução nos programas brasileiros de pós-graduação. Em Guerini, A., Torres, M. H., Costa, W. C. (Org.). Os estudos da tradução no Brasil nos séculos XX e XXI (pp. 51-70). Tubarão: Ed. Copiart; Florianópolis, Brasil: PGET/UFSC.

Sales, D., Reuillard, P., Silva, M., Loguercio, S. (2018, junho). Os estudos de tradução da UFRGS: da prática à teoria. Comunicação apresentada no XXXIII  Encontro Nacional da Associação de Pós-Gradução em Letras e Linguística (ENANPOLL) 2018, GT Estudos da Tradução, Cuiabá, Brasil.



[1] Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/202494

[2] Disponível em:  https://lume.ufrgs.br/handle/10183/166273

[3] Disponível em:  https://lume.ufrgs.br/handle/10183/55982

[4] Disponível em:  https://lume.ufrgs.br/handle/10183/172959

[5] Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/205471

[6] Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/72753

[7] Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/202485

[8] Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/134427

[9] Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/201528

[10] Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/156463

[11] Disponível em:  https://lume.ufrgs.br/handle/10183/172902

[12] Outras informações podem ser obtidas em: http://www.ufrgs.br/net

[13] Evento interrompido durante a pandemia.

[14] Disponível em: https://seer.ufrgs.br/cadernosdetraducao

[15] Disponível em: https://seer.ufrgs.br/translatio

[16] Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/40514

[17] Disponível em https://lume.ufrgs.br/handle/10183/17838

[18] Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/1

[19] Disponível em: https://www.ufrgs.br/ppgletras/

[20] Dados de TCCs feitos por alunos da Licenciatura (cf. Sales, Reuillard, Silva e Loguercio, 2018).

[21] Avaliação corroborada, entre outras, pelo Prêmio Jabuti de Tradução, da Câmara Brasileira do Livro (CBL): nos últimos vinte anos, apenas duas obras não-literárias foram vencedoras da categoria de tradução. Para mais informações: https://www.premiojabuti.com.br/historia/.