ANÁLISE DOS DISCURSOS DE HENRI GAILLARD NOS CONGRESSOS DE
CHICAGO (1893) E PARIS (1900): QUANDO O DIREITO AO TRABALHO DEPENDE DA LÍNGUA
EM QUE SE ESCUTA
José Raimundo Rodrigues[1]
Universidade
Federal do Espírito Santo.
Lucyenne Matos da Costa
Vieira-Machado[2]
lumatosvieiramachado@gmail.com
PPGE/UFES
Regina Maria de Souza[3]
Universidade Estadual de Campinas
RESUMO
As lutas das comunidades surdas do passado e do presente
parecem ser permeadas por questões da língua em que se ensina o trabalhador,
pois isso determina também os longos embates jurídicos pelas lutas por direitos
legais ao trabalho e suas restrições. Essa vinculação, no caso dos surdos, se
faz pela língua de seu país, independente da modalidade linguística. Este
artigo tem como objetivo analisar os discursos de Henri Gaillard, escritor e
ativista surdo, em dois congressos: Congresso de Chicago (1893) e Seção dos
Surdos do Congresso de Paris (1900). A metodologia utilizada é de cunho
documental e bibliográfico. Conclui-se que os desafios a um trabalho digno para
os surdos vivamente expressos por Gaillard ecoam em um presente eterno sem
escuta.
Palavras-chave: direito trabalhista, Henri Gaillard,
língua de sinais, Educação de surdos.
ANALYSIS OF
DEAF HENRI GAILLARD´S SPEECHES AT THE CHICAGO (1893) AND PARIS (1900)
CONGRESSES: WHEN THE RIGHT TO WORK DEPENDS ON THE LANGUAGE IN WHICH ONE HEARS
ABSTRACT
The struggles of the deaf communities
of the past and present seem to be permeated by issues of the language in which
the worker is taught, because this also determines the long legal battles for
legal rights to work and its restrictions. This link, in the case of the deaf,
is made by the language of their country, regardless of the language modality.
This article aims to analyze the speeches of Henri Gaillard, deaf writer and
activist, in two congresses: Chicago Congress (1893) and the Deaf Section of the
Paris Congress (1900). The methodology used are documentary and bibliographic
ones. It is concluded that the challenges to a dignified work for the deaf
vividly expressed by Gaillard echo in an eternal present without being
listened.
Keywords: labor law,
Henri Gaillard, sign language, Deaf education.
INTRODUÇÃO: OS SURDOS E A QUESTÃO DO
TRABALHO
Oh queira
Basta ser sincero e
desejar profundo
Você será capaz de
sacudir o mundo, vai
Tente outra vez
Tente (tente)
E não diga que a
vitória está perdida
Se é de batalhas que
se vive a vida
Tente outra vez
(Tente outra vez -
Raul Seixas)
O
mundo do trabalho tem sido fortemente impactado nas últimas décadas e,
recentemente, em decorrência da pandemia da COVID-19, multiplicam-se os números
de desempregados, subempregados, precarizados e irregulares. As relações de trabalho
na sociedade neoliberal são marcadas por um novo enfoque que é o da
rentabilidade.
A remuneração está associada à capacidade de produção do
sujeito que, progressivamente, é sugado pelas exigências de flexibilidade,
adaptabilidade, capacidade de se submeter a qualquer forma de trabalho para
assegurar o seu sustento. Parte desse movimento se delineia pela necessária
capacitação do sujeito para o mercado de trabalho que se dá num processo autossabotador,
pois quando o sujeito se qualifica, o mercado já tem novas exigências para o
trabalhador. Todavia, quase sempre, essas exigências estão associadas à questão
da educação.
E como essa realidade dialoga com aqueles que, pertencendo a
uma minoria linguística, encontram-se, muitas vezes, no próprio país como
estrangeiros e carentes de formação e de empregabilidade? Que tipo de ensino
contribuiria para uma possível empregabilidade dos surdos? Parcela considerável
da comunidade surda trabalha sem carteira assinada ou em funções que a
inferioriza, negando sua capacidade intelectual.
Aliados à epígrafe, continuamos tentando, sem cessar quando
decidimos olhar para esta questão do presente bem como movermo-nos nele como
uma lacuna entre o passado e o futuro. Para isso, lançamo-nos num movimento
retrospectivo em direção ao final do século XIX e início do século XX. Não o
fazemos por uma questão de apreço ao passado como se ele pudesse, magicamente,
desvelar a realidade presente. Recorremos ao a-priori histórico para poder a
partir das pistas produzidas na leitura dos documentos-monumentos, nos determos
numa ação afetiva que possa nos ajudar a perceber regularidades discursivas e
não discursivas acerca do trabalho na vida dos sujeitos surdos. Destarte este
texto tem o intuito de olhar para o documento como um monumento tal como afirma Le Goff:
O documento não é inócuo. É antes, de mais nada, o resultado
de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da
sociedade que o produziram, mas também das épocas sucessivas durante as quais
continuou a viver, talvez esquecido, durante as quais continuou a ser
manipulado, ainda que pelo silêncio. O documento é uma coisa que fica, que
dura, e o testemunho, o ensinamento (para evocar a etimologia) que ele traz
devem ser em primeiro lugar analisados desmistificando-lhe
o seu significado aparente. O documento é monumento. Resulta do esforço das
sociedades históricas para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente –
determinada imagem de si próprias. (Le Goff, 2013,
pp. 547-548)
Nesse retorno ao passado, sem pretensões de fazer justiça ou
de elucubrar uma verdade, desejamos problematizar pelo diálogo com aqueles
documentos que, em nossas mãos e sob nossas lentes, são considerados arquivos
que nos possibilitam refletir, redizer, repensar. Escolhemos um homem de baixa
estatura, tornado surdo por uma bomba. Escolhemos alguém que escapa às grandes
levas dos homens distintos e sempre lembrados do passado, pois “a escolha dos
mortos dos quais assumimos a palavra é um dos desafios políticos mais
importantes para os historiadores” (Albuquerque Júnior, 2019, p. 53).
Aproximamo-nos de Henri Gaillard cujos qualificativos como militante surdo,
jornalista, editor, podem ser facilmente resumidos naquilo que Foucault
denominou como intelectual específico. É a vida que se consolida como arte de
uma existência na resistência.
A partir de uma abordagem foucaultiana,
retomamos dois discursos de Henri Gaillard sobre as carreiras e profissões
destinadas aos surdos. Os textos encontram-se em francês e ainda não foram
traduzidos para língua portuguesa. O primeiro discurso foi apresentado no
Congresso Internacional de surdos-mudos, em Chicago, no ano de 1893, e o
segundo, em 1900, no Congresso Internacional de Surdos-mudos, ocorrido na
capital francesa.
Gaillard, apesar dos dezessete anos que separam os eventos,
praticamente repete seu discurso, sugerindo como a realidade permanecia
estanque. Esses dois recortes que extraímos dos textos dos congressos trazem
consigo as marcas do evento que, por seus registros, consideramos monumentos
que nos permitem dizer sobre as relações de saber-poder daquele tempo e suas possíveis
reverberações ainda em nossos dias.
Trata-se, portanto, de uma pesquisa documental, que trabalha
com duas fontes primárias, e bibliográfica, cujos resultados são, antes de mais
nada, provocações para que continuemos a pesquisar. Estamos, pois, numa aposta
histórica, numa aposta de que a história que agora também escrevemos sobre esse
homem pode ser mais um ecoar de seu pensamento a nos des-afiar,
afinal, os desafios costumam ser muito mais cortantes que as situações
consolidadas. E passar a mão sobre esses papéis do passado é recortar, mas
também deixar-se cortar por eles, ferir-se por suas palavras.
FOUCAULT E
UMA NOVA COMPREENSÃO DO INTELECTUAL
Foucault desenvolve sua reflexão acerca do intelectual desde
sua relação com a questão do poder e da verdade. Foucault distingue o
intelectual universal do específico. O intelectual universal é o portador da
verdade e da justiça, assumindo certa postura de consciência da sociedade, não
tendo uma ação mais particular e local, mantendo um discurso generalista. O
intelectual específico age desde outra ordem, tomando por base os problemas
locais e práticos, mostrando um conhecimento que é específico.
Em diálogo com Deleuze, Foucault aponta que o intelectual
não é mais um sujeito que representa os demais. As massas tem
conhecimento e saber, não necessitando daquela figura do intelectual na sua
acepção mais popular. Há, todavia, mecanismos que impedem e invalidam os
discursos das massas. Desta forma, o papel do intelectual é estar neste lugar
em que o poder cerceia, mas também permite a circulação de um discurso.
Foucault entende que o intelectual universal também
participa do jogo de poder. São agentes que, ao assumir a ideia de consciência
da sociedade, complementam as ações de um sistema que nega saberes das massas.
O papel do intelectual não é mais o de se colocar “um pouco
na frente ou um pouco de lado” para dizer a muda verdade de todos; é antes o de
lutar contra as formas de poder exatamente onde ele é, ao mesmo tempo, o objeto
e o instrumento: na ordem do saber, da “verdade”, da “consciência”, do
discurso. (Foucault, 1979, p. 71)
Neste aspecto é preciso recordar que com Foucault também a
verdade se manifesta como enunciados e há uma relação circular entre verdade e
poder. Atentos ao poder capilarizado é que o
intelectual pode compreender-se não como porta-voz de outros, mas como sujeito
no qual falam muitos, que há nele uma multiplicidade.
Foucault entende o intelectual como difusor do novo
conhecimento, consolidando heterotopias, vislumbrando
linhas de fuga. Em um texto curto, Foucault dialoga com José, um operário da
Renault. O operário lança uma questão em que demonstra considerar o intelectual
como um espelho capaz de reenviar a luz que vem dos explorados. Na resposta,
Foucault sugere diminuir a importância dada pelo operário ao intelectual:
Pergunto-me se você não exagera um pouco o papel dos
intelectuais. Estamos de acordo, os operários não precisam dos intelectuais
para saber o que fazem, eles próprios o sabem muito bem. Para mim, o
intelectual é o tipo que está ligado, não aparelho de produção, mas ao aparelho
de informação... Seu papel, então, não é de formar a consciência operária,
visto que ela existe, mas de permitir a essa consciência, a esse saber operário
entrar no sistema de informações, difundir-se e ajudar, consequentemente,
outros operários ou pessoas que não têm consciência do que se passa. (Foucault,
2010, p. 87)
Noutro momento do diálogo, Foucault afirma:
Se um intelectual quer compreender o que se passou (e, além
de tudo, é seu ofício), é preciso que saiba que o saber primeiro, essencial não
está na sua cabeça, mas na cabeça dos operários, e há uma racionalidade em seu
comportamento. Desde o século XIX, fizeram com que se acreditasse que o s
trabalhadores eram tipos bravos, um pouco impulsivos. Você vê isso nos textos
dos burgueses do século XIX. (Foucault, 2010, p. 88)
Em relação à dimensão política, Foucault propõe que o
intelectual é aquele que pode contribuir desde o seu conhecimento específico. O
intelectual não pode agir como um tutor dos políticos ou quem sabe dos
eleitores; mas desde suas práticas pode colaborar para interpretar a realidade:
Se, por um certo número de razões, um intelectual pensa que
seu trabalho, suas análises, suas reflexões, sua maneira de agir, de pensar as
coisas podem esclarecer uma situação particular, um domínio social, uma
conjuntura e que pode, efetivamente, dar sua contribuição teórica e prática,
nesse momento, podem-se tirar disso consequências políticas, tomando, por exemplo,o problema do direito penal, da justiça… creio que
o intelectual pode trazer, se quiser, à percepção e à crítica dessas coisas
elementos importantes, dos quais as pessoas deduzem muito naturalmente, se
quiserem, uma certa escolha política. (Foucault, 2010, p. 370)
Percebemos, portanto, que o papel do
intelectual está associado sim ao caráter público, mas a partir de suas
condições e problemas práticos. Esse intelectual específico, justamente por
saber-se também num jogo de enunciados e ter seu compromisso ético, é um intelectual
que compreende-se a si mesmo como uma pessoa do
cuidado de si, como alguém que compreende a vida como uma obra de arte, no
sentido, de viver plenamente conforme uma coerência que não lhe é estrangeira,
de fora, nem tampouco já está dada e constituída, mas que de dentro de si o
impele a agir integralmente num movimento que também é cuidado dos outros e do
mundo.
HENRI GAILLARD E OS INÍCIOS DA
CONSTITUIÇÃO DE UMA VIDA SURDA
Louis
Jean Baptiste Henri Gaillard nasceu em 24 de agosto de 1966 na cidade de Paris,
filho de Jean Valentin Gaillard e
sua mãe Joséphine Louise Chilomène
Gallard conforme consta no boletim de registros de
antecedentes criminais do Tribunal Civil de Seine,
arquivo atual de número 19800035/761/86391. O mundo do trabalho perpassa muito
diretamente a vida de Henri Gaillard, pois, filho de operários, experimentou as
agruras vividas por sua família no terceiro quartel do século XIX.
Gaillard tornou-se surdo em
decorrência de um bombardeio, quando tinha a idade de oito anos. Cantin e Cantin (2017) nos remete
à atmosfera familiar vivida diante do ensurdecimento de Gaillard, mencionando
as constantes consultas a médicos e a vivência religiosa da mãe que pedia a
Deus a cura do filho.
Após o falecimento da mãe, o pai de
Gaillard constitui novo matrimônio com Anne-Joséphine
Chamoulaud, por quem Gaillard nutre sensível
reconhecimento e importância em sua vida. Ainda segundo Cantin
e Cantin (2017), após a morte do pai, o ingresso de
Gaillard no Instituto de Surdos de Paris, após alguns anos na escola regular,
provavelmente, foi apoiado pela família paterna e, de modo particular, pelo tio
Ferdinand Gaillard, bem sucedido vinicultor.
Estes elementos iniciais ajudam-no a compreender o contexto no qual
Gaillard iniciará seu percurso de subjetivação como surdo.
Aos doze anos Gaillard é admitido no
Instituto de Surdos de Paris e teve como professores Charles Champmas e André Valade-Gabel (1831?-1908), filho de Jean-jacques
Valade Gabel (1801-1879)
renomado propositor do método intuitivo para a educação de surdos. Champmas desempenhou forte papel no desenvolvimento
intelectual de Gaillard. Durante seis anos Gaillard estudou no Instituto,
saindo dele em 1884, aos dezoito anos e iniciando sua vida profissional como
tipógrafo e, posteriormente, como corretor na Imprensa Nacional. Note-se aqui
que Gaillard experimentou no contexto do Instituto de Paris os possíveis
reflexos iniciais das deliberações do Congresso de Milão (1880).
O vivo contato de Gaillard com a
comunidade surda fica marcado por sua participação, em 1886, aos vintes anos,
no banquete de surdos, onde lê um soneto de sua autoria em homenagem ao abade l’Épée (Société Universelle des Sourds-Muets, 1887). Talvez, se possa considerar essa
apresentação pública do jovem surdo de baixa estatura[4],
registrada nos relatórios dos banquetes e a menção à sua profissão de tipógrafo
na lista dos convidados como momento que já prefigura a militância desempenhada
por Gaillard nos anos seguintes. O próprio Gaillard fará menção à sua
participação nos banquetes em de seus pronunciamentos no Congresso
Internacional de Surdos-mudos em Chicago (1893):
Mais do que nunca, acho que tive razão quando, num banquete
de surdos-mudos em 1889, disse, ratificado por aplausos unânimes: “Confesso, morte
na minha alma, que a França é hoje a última da Europa em termos da
perfectibilidade de vida que proporciona aos surdos-mudos”. (Gaillard, 1894, p.
126-127 - tradução nossa)
Desta forma, consideramos que o fato de ter estudado no
Instituto de Surdos de Paris e sua proximidade com a comunidade surda de então
são elementos primordiais na constituição do surdo militante Gaillard. O fato
de ter estado junto, na condição de aluno, com aqueles que o precederam como
irmãos surdos e o constituir-se surdo trabalhador e engajado nas associações e
movimentos de surdos, autoriza Gaillard a pronunciar-se desde um lugar em que
sua vida o conduziu a ser o surdo Gaillard.
Seu inconformismo diante da ameaça do método oral fez com
que Gaillard cunhasse o termo noétomalalien
(inspirado em duas palavras gregas: noéto = ser compreensível e inteligível; e alalie = “sem palavras”). Um de seus objetivos era também distinguir a
língua dos surdos da mímica, da pantomima e da fala acompanhada de gestos. “Em
relação à Educação, insistiu fortemente na instrução mista noétomalalien e o francês escrito, a escrita constituindo a
principal ferramenta de emancipação do surdo na sociedade francesa” (Cantin & Cantin, 2017, p.
278). Será por meio da imprensa que o ativismo de Gaillard se manifestará em
defesa da língua dos surdos:
Em 1893, Gaillard propôs à Association Amicale assumir o Le Journal des sourds-muets, fundado por Henry Rémi
depois de ter dirigido La Gazette des sourds-muets, entre 1890 a
1893. Como redator chefe do Le Journal des sourds-muets de
1893-1901, Henry Gaillard ficou conhecido por sua posição pró-noétomalalien,
suplicando o retorno dessa língua na educação das crianças surdas. (Cantin & Cantin, 2017, p. 279
- tradução nossa)
GAILLARD E A
DEFESA DA VALORIZAÇÃO DO TRABALHO EM CHICAGO (1893) E PARIS (1900): A QUESTÃO
PROFISSIONAL DE UMA MINORIA LINGUÍSTICA
Os congressos organizados por surdos no final do século
constituem-se como um campo de pesquisa pouco explorado, afinal foram
eclipsados pelo tão narrado Congresso de Milão ocorrido em 1880. Os eventos
internacionais organizados por surdos desde o ano de 1889 possibilitam-nos
enredar em narrativas outras sobre a educação de surdos, gerando linhas de fuga
que escapam às dicotomias e polarizações.
Nestes eventos os surdos mostram como que, a despeito de
certas práticas de governamento, a comunidade surda estava
em plena atividade, resistente, organizada e combativa. Iremos nos deter aqui
sobre dois discursos de Gaillard: O
surdo-mudo no trabalho na França: carreiras e profissões; e Carreiras e profissões dos surdos-mudos,
assistência para o trabalho. Nestes dois registros, em ocasiões e lugares
distintos, Gaillard levanta a bandeira da dignidade do trabalho para os surdos.
Ao apresentar-se em Chicago, durante
o congresso ocorrido de 18 a 23 de julho de 1893, suas análises foram
publicadas por Gaillard em 1894 com o título Le second congrès international des sourds-muets – Chicago por Gaillard. Inicia seu
discurso:
Se eu concordei em vir e discutir
diante de vocês esta questão difícil e elevada, tão simples quanto complexa,
importante em primeiro lugar, já que é uma questão do pão a ser ganho, ampla e
saudavelmente, para poder viver a vida de homens livres, seguros de si, e
contando apenas com eles, é porque sou daqueles que subsistem mais do trabalho
manual do que do intelectual, e que consequentemente, posso aventurar-me neste
assunto com conhecimento de causa. Minhas conexões no mundo dos trabalhadores,
especialmente no dos trabalhadores surdos-mudos, são certamente mais numerosas
do que as que tenho no mundo da política, das letras, das artes e da grande indústria.
Ainda mais, explorei todos os lugares baixos onde se rebaixa o homem miserável,
as oficinas e fábricas onde o trabalho obstinado labuta, e as reuniões onde a
raiva assola, ai! muitas vezes legítima; eu examinei dolorosas feridas sociais,
declínios imerecidos e em todos os lugares, e sempre, vi que surdos-mudos
estavam lá e sofriam dessa condição. (Gaillard, 1894, p. 126 - tradução nossa)
Gaillard
demonstra conhecer a realidade dos trabalhadores surdos desde o lugar do
trabalhador, na sua associação a eles. Suas palavras sugerem um surdo que se
relacionava com seus irmãos e fazia suas as dores e infortúnios vividos por
eles, procurando lutar para que a dignidade do trabalho fosse respeitada. Ao
colocar-se como o surdo trabalhador, Gaillard mostra com que armas empunha seu
discurso. Não o faz como aqueles que de seus ambientes seguros e cômodos dizem
algo sobre a vida dos surdos ou como aqueles que em nome da defesa dos surdos
elaboram para eles determinadas políticas. Gaillard assume-se como o trabalhador
que quer sintetizar num evento de porte internacional o que pode presenciar.
Estamos diante de um Gaillard com vinte e seis anos a elevar a voz em favor de
políticas trabalhistas na França e o fazendo desde um outro continente,
portanto, expondo-se.
Sua
capacidade de análise da realidade dos trabalhadores surdos o faz notar que os
problemas percebidos têm sua base numa formação equivocada ligada à
escolarização inadequada ministrada nos institutos:
As causas desta situação cruel e
lamentável são múltiplas. Em primeiro lugar, existe a má organização das
oficinas profissionais nas escolas e a falta de ferramentas, o abandono onde
muitas vezes são deixados os jovens surdos-mudos e a falta de supervisão
efetiva durante a aprendizagem, a mediocridade do ensino prático e a nulidade
do ensino teórico, e, mais do que tudo isso, há a escassez e a má escolha das
profissões ensinadas, profissões, a maioria, mortas pela concorrência, a
invasão das mulheres e da maquinaria nas oficinas do mundo. Ainda existe a dificuldade
que os empregadores colocam em aceitar trabalhadores Surdos-Mudos, tão
ancorados neles tantos preconceitos e pré-juízos contra os Surdos-Mudos.
(Gaillard, 1894, p. 127 - tradução nossa)
Gaillard parece portar um bisturi a
fim de abrir a realidade e expor os problemas tendo em vista um desejo de
procurar a solução. O faz de modo sistemático, organizado, partindo do
particular para o geral, ampliando a questão para evidenciar que o resultado da
educação experimentada pelos surdos tende a fazê-los viver em condições
subumanas. Quanto aos empregadores, Gaillard criticamente aponta para uma
postura destes eivada de equívocos. E
sua argumentação prossegue afirmando a condição de possibilidade de todos os
surdos para todas as profissões:
Em geral, todos os surdos-mudos na
França são capazes de exercer todas as profissões, com exceção das que requerem
o aparelho auditivo, mas isso requer que eles tenham as capacidades
necessárias, leveza ou destreza manual, força de braços e robustez,
inteligência e atenção, conhecimento profundo da língua e contabilidade que os
seguem. E essas capacidades, latentes ou reveladas, devem ser usadas pelo
professor, no melhor interesse da criança. (Gaillard, 1894, p. 127 - tradução
nossa)
Gaillard entende que os surdos podem
estar nas profissões que mais lhes interessarem. A única ressalva feita por
Gaillard é de que os surdos não poderiam atuar em espaços em que o uso da
audição fosse decisivo. As diversas profissões deveriam ser ofertadas aos
surdos desde a infância para que pudessem, a partir de seus interesses, fazer
escolhas profissionais condizentes e não somente serem empurrados para as
profissões tidas como de nível inferior. Ao centrar no interesse da criança,
Gaillard também avança numa discussão que não cede, de imediato, aos interesses
do mercado. Esperava-se, pois, dos mestres uma formação que oferecesse
embasamento teórico e prático para os surdos. Entretanto,
Infelizmente, isso é o que menos
acontece. Em quase todas as escolas de surdos-mudos existem duas ou quatro, às
vezes oito, oficinas profissionais, onde o próprio mestre, se souber um pouco,
ensina aos alunos os primeiros princípios da arte, as noções mais elementares,
e os deixa por conta própria, o mais rápido possível. Em outras escolas
maiores, como, por exemplo, a Instituição Nacional da rue
Saint-Jacques, a educação é dada por chefes de oficina, especialmente nomeados
para este fim, e a maioria dos quais, deve-se dizer, mostram-se muito
devotados, mas não variam na maneira de proceder, consistindo fazer com que os
alunos executem e reexecutem sempre o mesmo, evitando o incômodo de lhes dar
explicações extensas, o que não poderiam fazer com o método oral puro.
(Gaillard, 1894, p. 128 - tradução nossa)
Gaillard
demonstra que as oficinas ofertadas nos institutos são mal administradas,
lançando o surdo estudante à própria sorte e, em parte, isso se dá pela
dificuldade imposta pelo uso do método oral, impossibilitando que orientações
mais complexas pudessem ser dadas aos estudantes. Desta maneira, Gaillard associa
os problemas das carreiras e profissões também à questão da política
linguística adotada na educação de surdos: à época, a ênfase era no treino
articulatório, reabilitação auditiva, oralização e escrita da língua nacional.
A formalização da crítica à escola
vem na sequência do discurso:
E, triste constatação, esses mestres
ignoram ou resistem a todo o progresso feito em sua área, e não traçam o perfil
de seus alunos, destinando-os a estar, ao sair da escola, em constante
desvantagem com seus companheiros ouvintes. a menos que o jovem surdo-mudo
refaça seu aprendizado, dedique mais anos para compensar o tempo perdido pela
imprevidência de seus professores. (Gaillard, 1894, p. 128 - tradução nossa)
O argumento seguinte de Gaillard
retoma o objetivo da educação de surdos desde o abade L’Épée, mas o associa
também aos princípios cidadãos da Revolução Francesa. O surdo é um cidadão e a
digna vivência do trabalho contribui para o pleno exercício da cidadania:
Como podemos ver, para que o surdo-mudo seja verdadeiramente
digno de sua regeneração intelectual, obra de Michel de L'Épée, e de sua
reabilitação social realizada pela grande Revolução Francesa, é necessário que
tenha todos os direitos dos cidadãos livres e aceite todos os deveres, sendo
capaz de manter essa excelente categoria de cidadão na sociedade; quer dizer
que já não depende dele, que se beneficia com o seu trabalho e com o seu saber,
que já não está classificado na categoria dos assistidos, na raça terrível dos
inúteis e parasitas. O surdo-mudo, digam o que se diga, ama o trabalho, tem um
profundo horror à preguiça que o oprime de tédio, libertinagem que o cansa
rapidamente. O que ele quer é aproveitar a vida, não queimá-la. Portanto, ele tem preferências por estados
com salários remunerativos. E ele está certo, porque ele quer justiça. Na
verdade, como compensação pela sua enfermidade, ele quer levar sua parte das
alegrias humanas, e como essas alegrias só estão ao alcance de quem ganha
muito, ele quer uma profissão que lhe permita ser uma dessas pessoas
privilegiadas. (Gaillard, 1894, p. 128-129 - tradução nossa)
Outro movimento em torno da autonomia dos surdos é feito por
Gaillard. Recusando a condição de sujeito a ser assistido, mas considerando os
surdos como cidadãos que podem e devem “falar” por si, Gaillard mostra como há
necessidade de uma prática de justiça e que a resistência de muitos surdos a
determinados trabalhos tem por motivação não um sentimento de preguiça, mas a
percepção de que a vida é espaço-tempo a ser plenamente vivido, tendo acesso ao
que existir de melhor. A crítica de Gaillard sugere que se vive numa sociedade
caracterizada por desigualdades, mas que jamais o surdo deve submeter-se a isso
como uma verdade eterna. Cabe, pois, aos surdos continuar na luta por melhores
funções e melhores remunerações. Gaillard tem consciência de que parte do
problema está ligado a uma visão religiosa que subjaz na educação iniciada por l’Épée, mas que, posteriormente, parece ter se concentrado
mais no cuidado apenas das almas:
Quem se preocupa verdadeiramente com
a felicidade dos surdos-mudos, com a sua felicidade possível aqui embaixo e não
com a felicidade problemática em um mundo desconhecido, tem o dever de suas
colocar em mãos um instrumento cujo uso garanta a realização de suas
esperanças. Eles têm o dever de assegurar que o jovem Surdo-Mudo adquira a
habilidade necessária para manejar esta ferramenta, para que então a use como
sua arma de combate mais segura na vida, para que conquiste por ela o direito
de entrar na felicidade da família. Dos privados de natureza, não queremos
fazer um privado de educação; por que um ou outro seria privado de existência?
Portanto, dê-lhes bons empregos, bem pagos; faça-os aprender esses ofícios com
a maior aplicação possível, faça, em uma palavra, tudo o que você deve à sua
inteligência revivida, que emergiu do limbo da ignorância por esforços
pacientes e soberbos, que merecem admiração. (Gaillard, 1894, p. 129 - tradução
nossa)
Em outro momento Gaillard afirma:
Para os surdos-mudos, uma
inferioridade semelhante ficará evidente, especialmente se eles saírem das
escolas - geralmente congregacionalistas - onde
nenhum ofício é ensinado a eles. Em vez disso, eles estão sendo preparados para
a vida no alto, para a vida celestial, em vez de para a vida aqui embaixo.
(Gaillard, 1894, p. 139 - tradução nossa)
Gaillard, depois de comentar que os
surdos de famílias abastadas não costumam trabalhar ou se dedicam a carreiras
liberais ou pintura e escultura, mostra que a maioria dos surdos bem sucedidos economicamente, após saírem da escola, são
aqueles que aprenderam alguma profissão fora da escola e junto a profissionais
ouvintes. Gaillard sugere que uma estratégia possível seria ensinar aos surdos
trabalhos bem remunerados em que poucos ouvintes dominem o funcionamento:
Uma coisa admirável a fazer,
aliviaria completamente o surdo-mudo, seria ensinar-lhe uma profissão muito
artística, que poucos falantes conhecem, o que o tornaria de forma
indispensável, procurado por patrões, sempre em demanda de grandes e belos
empregos, amplamente pagos. Para tanto, o ensino do desenho deve ocupar um
lugar preponderante nas escolas de surdos-mudos, principalmente o desenho industrial.
(Gaillard, 1894, p. 131 - tradução nossa)
Gaillard pensa o aprendizado
profissional em oficinas fora dos institutos de educação de surdos. Na sua concepção,
as oficinas dos institutos são inúteis e deveriam ser extintas. Ao denunciar a
ineficiência dos institutos para formar surdos trabalhadores, Gaillard assinala
que a qualificação profissional não poderia estar desatrelada de um aprendizado
teórico sólido.
Para corroborar com sua
argumentação, chega, pois, o momento em que Gaillard apresenta uma estatística
sobre a realidade dos adultos surdos trabalhadores na França. Não nos deteremos
sobre ela, entretanto, é preciso assinalar o quanto Gaillard foi capaz de
pesquisar e sistematizar os dados, evidenciando que a maioria dos surdos
encontrava-se em funções tidas como inferiores e desprezadas por ouvintes. Após
listar os percentuais de cada profissão, mostrando pleno domínio de organização
de seu pensamento na exposição, Gaillard afirma:
Vejamos agora quais são as
profissões ensinadas nas escolas: agricultura, jardinagem, tipografia,
litografia, carpintaria, escultura em madeira, sapateiro, encadernação,
alfaiates. É muito pouco! Bom, se considerarmos que a população escolar de
surdos-mudos é de cerca de 3.500 crianças, estremece-se ao pensar que um número
tão considerável de jovens surdos-mudos estará condenado a escolher uma dessas
profissões, muitas das quais insignificantes, não permitindo mais trazer o
suficiente para comprar um pedaço de pão, sofrendo frequentes crises
econômicas, e devendo, mais cedo ou mais tarde, desaparecer diante da
máquina-ferramenta ou da baixa mão de obra, representada pela mulher ou pelo
trabalhador estrangeiro. (Gaillard, 1894, p. 134 - tradução nossa)
Ou seja, a
escola montada na cidade capacita os surdos para profissões que tendem ao
desaparecimento ou que são desvalorizadas, logo, o que se assistia na França
daquela época estava diretamente relacionado à questão da escolarização
ofertada aos surdos. Gaillard ainda analisa as constantes flutuações de oferta
de trabalho em decorrência do crescimento de pessoas que dominam uma
determinada profissão ou o fato de que alguns empreendimentos estavam migrando
para os campos onde os terrenos eram mais acessíveis, deixando grande leva de
desempregados e sendo os surdos um dos primeiros a ser demitidos nos momentos
de crise. Para Gaillard, também as escolas das regiões rurais não cumpriam bem
o seu papel, satisfazendo apenas aqueles surdos acostumados à rotina do campo.
As profissões exercidas pelo maior
número de surdos-mudos não são as melhores, por isso há tantos surdos-mudos
envergonhados, muitas vezes sem dinheiro, é porque vivem do ofício, ou mal
remunerados, ou tendo pouco trabalho em decorrência da concorrência. Portanto,
não devemos tomar o grande número de adultos surdos-mudos exercendo as ditas
profissões e pedir que sejam ensinadas a jovens surdos-mudos nas escolas. Pelo
contrário, devemos estar atentos ao seguinte: que as profissões menos
conhecidas, onde os surdos-mudos conseguem ter sucesso, são talvez as mais bem
pagas e que, consequentemente, são as mais recomendáveis. Só como nunca poderão
ser ensinados nas escolas, é fácil concluir que, pelo interesse do Surdo-Mudo,
é fácil concluir que o interesse do surdo-mudo é de ser colocado para fora da
escola com uma educação primária satisfatória e absoluta liberdade para
escolher tal ou tal profissão que irá atendê-lo e ajudá-lo a ser um cidadão
útil para seus concidadãos. (Gaillard, 1894, p. 138 - tradução nossa)
Gaillard
nomeia surdos franceses bem sucedidos, reconhecendo que são auxiliados nos
empreendimentos por seus familiares que falantes/ouvintes e que tais surdos não
tributam à educação recebida o êxito de seus negócios. Em mais um movimento
precioso, Gaillard evoca a questão dos salários:
Os salários dos surdos-mudos são sempre iguais aos dos
ouvintes com a mesma capacidade; não pode haver distinção feita pelos patrões
entre seus trabalhadores surdos-mudos e ouvintes, a menos que os primeiros
sejam inferiores aos seus camaradas, ou [eles] sejam tímidos, ignorantes de
seus direitos, tal como os patrões acreditam que eles estão autorizados a
pagá-los como bem entendam, sem ter que temer seus protestos. Os alunos
surdos-mudos que se formam nas escolas são os que mais facilmente se enquadram
nessa categoria de pessoas ingênuas. Isso se explica pelo fato de que a escola
onde o internato é praticado nunca dará forma à vida do mundo, nunca dará a
dureza de temperamento necessária à luta pela vida contemporânea. (Gaillard,
1894, p. 139 - tradução nossa)
Gaillard
se recorda de iniciativas particulares de criação de oficinas para
surdos-mudos. Todavia, deseja que também o Governo se envolva mais diretamente
com a questão pelo incentivo a tais iniciativas, como também pela priorização
de encomendas a trabalhadores surdos. E mais uma vez, Gaillard retoma o
contexto escolar, mostrando como o momento de término de estudos nos institutos
se transforma num momento de decadência para os surdos:
Na verdade, se lá existem muitas
sociedades de patrocínio, educação e assistência para os surdos-mudos, por
outro lado, as sociedades de alocação de surdos são lamentavelmente
deficientes. As próprias escolas, pelo menos as escolas oficiais, negligenciam
a colocação de seus alunos concluintes. Quando os surdos-mudos completam seu
tempo de estudo, em média de sete a oito anos, eles consideram que sua missão
acabou, o que é realmente cruel; o que faria desejar a supressão total das
escolas de surdos-mudos, a fim de deixá-los na deliciosa felicidade da
ignorância. Pois de que adianta dar instrução e educação se, mais cedo ou mais
tarde, pela indiferença social, esta instrução e esta educação devem servir
apenas para mostrar ao surdo-mudo que sua condição deve permanecer inferior;
que todos esses esforços, como os de seus mestres para libertá-lo do infortúnio
de seu destino, devem permanecer improdutivos; que ele é o homem mais
irremediavelmente condenado do universo? Os grandes notáveis das letras, das
artes, da política, da ciência e da indústria interessados na
sagrada causa dos surdos-mudos são uma legião na França. Seria uma questão de
agrupar alguns surdos-mudos de elite e o núcleo de uma empresa de colocação de
surdos-mudos seria encontrado. Enquanto os falantes/ouvintes usariam suas
influências e conselhos, os surdos e mudos recomendariam aqueles que precisam
da proteção da sociedade de investimentos. (Gaillard, 1894, p. 142 - tradução
nossa)
Gaillard sugere ações concretas no
que diz respeito à uma nova organização para a colocação de surdos no mercado
de trabalho:
Se, apesar dos melhores motivos do mundo, apesar das lições
da experiência, persistirmos em manter oficinas profissionais nas escolas, se
acreditarmos na utilidade de uma escola técnica para surdos-mudos, ainda seria
necessário promover a transição das oficinas da escola às do mundo e esta
tarefa deveria ser delegada à empresa de colocação que apoiaria o jovem
trabalhador, ajudaria a aperfeiçoar a diferença entre seus ganhos e o custo de
vida, iria comprar-lhe as ferramentas necessárias, até que ele realmente se
torne capaz de se sustentar. O Governo e as autarquias devem também, mais do
que particulares, contribuir para a regeneração dos Surdos-Mudos através do
trabalho, abrindo amplamente as portas das oficinas, fábricas e fábricas que
lhes pertencem. (Gaillard, 1894, p. 143 - tradução nossa)
Gaillard
nomeia os políticos franceses que apoiaram as causas dos surdos e também se
recorda indignado por não entender a não implementação da sugestão dada pelo
grande empresário Eugène Pereire
de se criar uma turma de ensino de contabilidade, escrituração, elementos de
administração e escrita comercial para surdos. Pensando na possibilidade de que
alguns surdos poderiam assumir cargos no governo, Gaillard pontua:
É triste ver que certos surdos-mudos
dotados de grandes faculdades de assimilação intelectual, são obrigados a
aprender as profissões manuais ou nunca o conseguirão, e com razão, onde
vegetarão para sempre. Possibilidade de exercer uma profissão liberal em
relação de acordo com suas capacidades, eles se tornariam dignos da categoria
social para a qual seus conhecimentos profundos os chamam. (Gaillard, 1894, p.
144 - tradução nossa)
Gaillard encerra o seu discurso
sugerindo a redação de três deliberações a serem votadas no Congresso
Internacional de Chicago:
Considerando:
Que, para saber quais são os ofícios
mais adequados para os surdos-mudos viverem a vida de homens livres, é
necessário conhecer por si mesmo esses ofícios e quem os exerce;
Que os próprios surdos-mudos e os
trabalhadores são mais aptos do que ninguém para dar indicações proveitosas:
Emite os seguintes votos:
1°. Que, para todas as questões
relativas a carreiras, profissões e ofícios aplicáveis aos
surdos-mudos, o conselho seja obtido pela autoridade superior, em cada nação,
de uma comissão composta, em igual número, por surdos-mudos e ouvintes-falantes
competentes;
2°. Que o Estado e os Municípios dêem livre acesso às suas oficinas e administrações a
Surdos-Mudos dotados das capacidades necessárias;
3°. Que as empresas que lidam com a
colocação e o apoio a trabalhadores surdos-mudos desempregados sejam criadas
sempre que houver necessidade. (Gaillard, 1894, p. 145 - tradução nossa)
O Gaillard que conhecemos pelo registro do Congresso de
Chicago é um surdo militante, inconformado com a realidade do trabalho dos
surdos, disposto vigorosamente a defender outra forma de profissionalização dos
surdos que tem por base um ensino primário qualificado. Recorde-se que na
França desse período não era comum um ensino que ultrapasse o nível básico. No
mesmo evento, noutra reflexão, Gaillard afirma: “O trabalho de emancipação dos
surdos-mudos começou pelos ouvintes, mas, dado o progresso feito pelo mundo
surdo-mudo, pode ser completado e acabado pelos próprios surdos-mudos”
(Gaillard, 1894, p. 162 - tradução nossa). Estamos, portanto, diante de um
surdo de elevada estatura na defesa de seus irmãos.
Em sua participação no Congresso Internacional para Estudos
de Questões de Educação e de Assistência de Surdos-Mudos - seção dos surdos,
ocorrido entre 06 a 08 de agosto de 1900, na cidade de Paris, Gaillard,
praticamente relê vários trechos da reflexão apresentada em Chicago. Mas,
Gaillard tem uma justificativa para tal:
Não me parece necessário insistir na
questão das carreiras e profissões dos surdos-mudos. Eu já fiz isso no
Congresso de Chicago. Aqueles que estiverem interessados nesses detalhes irão
se referir a ele. Agora a questão permanece, porque desde então nada foi feito
do que eu pedi, nenhuma reforma foi tentada. Seria a teimosia na rotina? Seria
má vontade? Seria indolência, essa indolência francesa que só pode se mover
lentamente, galvanizar-se para tornar-se uma energia que faz o progresso ter
sucesso? Pode ser. Mas creio sim, isso seja dito sem machucar ninguém, que não
se quer fazer nada porque as coisas excelentes que se propõem, aquelas que a
razão sustenta, que a experiência sustenta, emanam dos surdos-mudos. (Gaillard,
1900, p. 180 - tradução nossa)
Talvez,
Gaillard tivesse vivido a esperança de que após Chicago fossem colocadas em
prática as deliberações por ele sugeridas. Segundo ele, o que está em jogo é o
fato de que são os surdos mesmos que estão fazendo proposições acerca de seus
destinos e não mais os grupos religiosos e os professores ouvintes. São os
surdos tomando suas vidas nas mãos. Uma clara reação a qualquer tipo de desejo
de tutelar os surdos. O fato de perceber a inércia da realidade, faz com que
Gaillard conclame os surdos:
Para mim, mais acostumado ao contato dos homens, mais dotado
de agudeza observante, para mim que tenho medido a profundidade de todas as
desgraças do infortúnio, não temo repetir o que disse antes: é necessário que
os surdos-mudos briguem energicamente para ter o direito de se ocupar dos
surdos-mudos eles mesmos; eles devem impor às autoridades públicas o dever de
ouvir suas demandas em detrimento de todas as outras. Nestes tempos de livre
discussão, livre exame, livre adoção ou livre recusa, nesta era de melhor ação solidária,
seria uma ofensa criminal remover os surdos de seus direitos e deveres como
cidadãos que são interessados em seus próprios assuntos. Seria
anti-humano, monstruoso, negar-lhes o poder de saber o que precisam, explicar o
efeito sobre eles do ensino de seus professores, a aplicação de métodos e
desejar tal e tal melhoria. (Gaillard, 1900, p. 180-181 - tradução nossa)
É
confiando na potência resistente do associativismo dos surdos que Gaillard
retoma a questão do trabalho, das carreiras, das profissões. Considerando
também o espaço privilegiado de discussão que eram os congressos, Gaillard
rebate as críticas que sofriam. Especificamente, o congresso realizado em Paris
em 1900 revestiu-se de uma peculiaridade. Foi um evento em que simultaneamente
foram realizadas duas seções: uma de ouvintes, na sua maioria professores de
surdos; e uma de surdos, que continha também a participação de alguns ouvintes.
Gaillard recorda a relevância dos congressos:
Ah! Eu sei! Alguém que denegriu os congressos de surdo-mudos, o famoso Renz,
pronunciou essa apóstrofe: "Desde quando vemos os doentes cuidando de
criticar seus médicos e seus remédios?”. Agora, este Renz
ainda tem seguidores. Talvez você os conheçam? Em todo caso, apenas para mim
ousaram repetir quase as mesmas frases de desprezo sobre vossos esforços.
Felizmente, o Governo da República mais uma vez adquiriu a nossa gratidão,
aceitando-nos em congressos oficiais, estimando-nos com o mesmo valor que as
pessoas comuns. Nossa dignidade é, portanto, afirmada. Agradeço ao Governo, à
Comissão Superior da Exposição e, em particular, ao Delegado Chefe do
Congresso, Senhor Ilustre Gariel, pela solicitude com
a qual gostariam de cercar o trabalho de nossa seção. (Gaillard, 1900, p. 181 -
tradução nossa)
O
surdo Gaillard, com seus trinta e três anos, mostra-se como grande liderança
surda neste evento internacional:
Desculpe-me por esta digressão um pouco fora do contexto de
uma questão. Mas é aqui que eu poderia destacar melhor a utilidade do nosso
trabalho que parecemos desprezar, é aqui que devo expressar a esperança de que
este trabalho seja levado em consideração, é aqui que eu devo pedir-vos que
façam a vontade de prosseguir sem falhar a realização de seus desejos até a
completa satisfação. (Gaillard, 1900, p. 181 - tradução nossa)
Gaillard
comenta que muitos afirmam ser difícil educar os surdos e fazem disso uma forma
de se vangloriarem e, ao mesmo tempo, acusar os surdos de alguma debilidade no
aprendizado. Gaillard compara os surdos que vivem na zona rural e, quase
sempre, aprendem a profissão de seus pais, com aqueles que vivendo nas cidades
ampliam seus horizontes de possibilidades profissionais. A partir disso, retoma
a argumentação contra as oficinas mantidas nos institutos de educação de
surdos:
Assim, não deveríamos mais manter as oficinas nas escolas,
que deveriam ser utilizadas, até os 14 ou 15 anos, apenas de sua educação
moral, de sua instrução intelectual, com informações de desenho e trabalho
manual. Em seguida, coloque-os em aprendizado fora das escolas, em oficinas
comuns, com companheiros ouvintes. É lá que eles aprenderão melhor o ofício de
sua escolha, que se aperfeiçoarão lá por uma prática diária, se tornarão amigos
de seu chefe ou contra-mestre, e assim sempre poderão
ter a certeza do pão diário ganhado honrosamente. (Gaillard, 1900, p. 182 -
tradução nossa)
Novamente,
serve-se da estatística realizada por ele para confrontar as informações sobre
a eficácia da educação de surdos:
Em algumas escolas, eles aprendem um ofício que, na maioria
das vezes, é uma ocupação vulgar de mulheres, costurando, consertando roupas,
lavando roupas, bordando, cozinhando um pouco; mas nunca pensamos em torná-los
muito habilidosos nessas profissões. No entanto, nas grandes cidades,
surdos-mudos praticam o comércio e a vida. Aqui, novamente, notaremos que estes
não são comércios aprendidos na escola. (Gaillard, 1900, p. 187-188 - tradução
nossa)
Gaillard encerra sua participação, mais uma vez, sugerindo
deliberações a serem votadas pelos congressistas. Na décima sétima resolução,
aprovada pela Seção de Surdos no Congresso de Paris, percebemos claramente as
digitais de Gaillard:
O Congresso dos Surdos-mudos emite o
voto:
1º - Que a educação profissional
seja apoiada tanto quanto possível em todas as escolas e que os estudantes
sejam colocados, uma vez completado o seu tempo de estudo, nas oficinas comuns
no âmbito da sociedade civil (em geral), onde seu aprendizado será mais prático
e melhor relacionado às habilidades individuais;
2° - Que, enquanto aguarda-se uma
escola de ensino secundário, se criem, na medida do possível, classes onde as
disciplinas comerciais e administrativas serão ensinadas aos sujeitos mais
dotados para a carreira de funcionário;
3° - Que uma agência de surdos-mudos
(assessoria de colocação, recomendações e informações), seja instituído, seja
pelo Conselho Municipal de Paris na Bolsa do Trabalho, seja pelo Ministério do
Comércio na Agência do Trabalho;
4° - Que um subsídio retirado dos
fundos do Pari-Mutuel seja concedido pelo Governo da
República em vista das necessidades desta agência no caso de ser a Federação
das Sociedades francesas dos surdos-mudos que tomaria a iniciativa de sua
criação.
O Congresso, além disso, chama a atenção benevolente dos
senhores Senadores, Deputados e Conselheiros Municipais sobre a importância das
questões da empregabilidade dos surdos-mudos, os únicos capazes de inseri-los
na vida social. (Gaillard & Jeanvoine, 1900, p.
242 - tradução nossa)
Os dois discursos de Gaillard nos
apresentam uma perspectiva bastante distinta daquela, por vezes repetida
acriticamente, de que a comunidade surda pós-Milão teria vivido um período de
fechamento e desânimo. “O arquivo e os
documentos se fabricam, tanto quanto as narrativas que deles se utilizam”
(Albuquerque Júnior, 2019, p. 99). Longe de um ostracismo, parece-nos que os
textos indicam uma forte resistência por parte dos surdos, manifesta por uma
capacidade de se organizarem em associações e congressos. Contemplar o surdo
Gaillard como este homem que manifesta seu pensamento com total liberdade nos
desafia ainda hoje a pensar a realidade do mundo do trabalho para os surdos.
Gaillard é apresentado nos dois eventos como: editor-chefe
da Gazette des Sourds-muets. Sua compreensão das associações de patronato
que poderiam patrocinar os primeiros empregos está associada aos investimentos
públicos nessa causa dos surdos. Mas não somente isso. Gaillard sabia que a
imprensa poderia ser um canal especial para divulgar as lutas dos surdos e fez
bom uso disso. Outra área de sua atuação foi a promoção dos artistas surdos e o
seu envolvimento com eventos esportivos. Abrem-se aqui duas temáticas que
merecem ainda mais aprofundamentos.
A postura crítica de Gaillard
arrebanhou também adversários, até mesmo dentro da comunidade surda. Seus
posicionamentos políticos ligados aos republicanos geraram certa indisposição
com Victor-Gomer Chambellan,
também líder surdo e fiel seguidor do pensamento mais tradicionalista de
Ferdinand Berthier. Muitas vezes, por meio da imprensa Gaillard contra-ataca
seus opositores. Essa questão ajuda-nos a perceber que não houve um momento idílico da
comunidade surda, mas que, como todo movimento social, foi também marcada por
conflitos internos, reconciliações, perspectivas divergentes. Os surdos fazem
parte de uma comunidade humana.
CONS-CIÊNCIA
DE QUE A LUTA CONTINUA: ALGUMAS PALAVRAS PARA RECOMEÇAR O DIÁLOGO
Henri Gaillard morre em 1939. Seu estilo militante o
acompanhou até o fim da vida. Neste artigo detivemo-nos na sua participação nos
congressos internacionais de surdos. Sua acolhida nestes eventos denota seu
compromisso com a comunidade surda e sua preocupação com seus irmãos. A
realidade do mundo do trabalho no final do século XIX foi determinante para que
Gaillard se subjetivasse como surdo intelectual.
Os dois discursos, por nós contemplados,
caracterizam-se por fortes críticas à educação que era ministrada aos surdos e
por uma capacidade de análise da realidade que podem produzir estudiosos insidiosos.
Gaillard debruça-se sobre os sofrimentos de seus irmãos, mas não o faz por
simples motivação caritativa de inspiração cristã. Imbuído do pensamento de que
o caminho aberto pelo abade L’Épée torna possível aos surdos acessar a educação
e que é a condição de cidadãos, com direitos e deveres, que permite se exigir
dignidade no trabalho, Gaillard junta todos os argumentos para motivar os seus
irmãos a permanecer em luta até que alcançassem seus objetivos.
O descontentamento de Gaillard no
evento parisiense não o impede de insistir nos ideais propostos em Chicago,
antes o permitem, inclusive, denunciar que existem mecanismos infundados de enfrentamento
às suas lutas. Gaillard retoma o discurso de Chicago, agora na sua própria
pátria, desafiando políticos e outros surdos bem sucedidos, conclamando-os a se
envolverem numa jornada para se garantir a empregabilidade dos surdos após o
período de escolarização. Infelizmente, as proposições de Gaillard não se
concretizaram e em outros congressos ele permanecerá como o surdo que defende a
inserção dos irmãos no mercado de trabalho. No Congresso Internacional de Saint
Louis (EUA), novamente, Gaillard discursará sobre a situação dos surdos-mudos,
oferecendo uma grande lista com nomes de surdos e suas profissões, deixando-nos
uma rica fonte para outras pesquisas.
A retrospectiva a estes textos pouco
conhecidos em nosso continente podem nos ajudar a dialogar com o momento
presente. Muitas lutas dos surdos parecem ter se eternizado e agravado nos
últimos anos, apesar das legislações que procuram atender algumas de suas
demandas. Entretanto, apesar do perceptível aumento no número de surdos com
graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado, a grande maioria de seus irmãos
continuam a ocupar funções subalternas no cotidiano, estão em carreiras
diferenciadas de seus pares ouvintes ou experimentam subempregos em função de
não terem tido acesso à uma educação que lhe desse condições mínimas para
inserção no mercado de trabalho.
Com os textos de Gaillard não
pretendíamos dar respostas, mas, fazer ressoar nos nossos dias aqueles
discursos potentes, capazes de implodir concepções, forjar um novo olhar,
despertar movimentos, atravessar o interlocutor. Esses surdos do passado a quem
devemos nosso pleito de reconhecimento pelas bandeiras desfraldadas e que agora
são levadas nas mãos por seus irmãos nos diversos países que, diuturnamente,
permanecem lutando por direitos, por reconhecimento, por serem definitivamente
tratados como cidadãos.
A resistência de Gaillard pode ser
uma inspiração que nos ajuda a perceber que as lutas de uma minoria linguística
tocam diversos setores da sociedade, ultrapassam os limites da própria
comunidade e necessitam de engajamento contínuo, não se deixando satisfazer por
migalhas, mas almejando ganhar o pão na plena dignidade. Ainda inspirando-nos
em Gaillard, é oportuno pensar que escola
os surdos desejam para si tendo em vista que o mercado neoliberal sempre
nos devorará com suas demandas, sendo capaz de amanhã, ainda cedo, tornar
obsoleto o que hoje luzia como novidade. Talvez, seja hora de se pensar uma
educação noétomalaliena...
REFERÊNCIAS
Albuquerque
Júnior, D. M. (2019). O tecelão dos
tempos (novos ensaios de teoria da história). Intermeios.
Cantin, Y. & Cantin, A. (2017). Dictionnaire biographique des grands sourds
en France: les Silecieux de France (1450-1920). Archives
& Culture.
Foucault,
M. (1979) Microfísica do poder.
Edições Graal.
Foucault, M. (2010) Repensar a
política. In: Foucault, M. (Ed.) Ditos e
escritos, vol. VI. Forense Universitária.
Foucault,
M. (2014). A arqueologia do saber.
Forense Universitária.
Gaillard, H. (1894).
Le Second Congrès International des Sourds-muets - Chicago - 1893. Édition du Fox. http://www.2-as.org/editions-du-fox/.
Gaillard,
H. (1900). Carreiras e profissões de surdos-mudos: assistência para o trabalho.
In Gaillard, H.
& JEANVOINE, H. Congrès International
pour l’Etude des Questions d’Assistence et d’Education des Sourds-Muets (pp.
180-194). Imprimerie D’ouvriers Sourds-muets.
Gaillard,
H. (2002). Gaillard in deaf America: a portrait of the
deaf community. Gallaudet.
Gaillard, H. & Jeanvoine, H. (1900). Congrès International pour l’Etude des
Questions d’Assistence et d’Education des Sourds-Muets. Imprimerie
D’ouvriers Sourds-muets.
Le Goff, J. (2013). História
e memória. UNICAMP.
Renard, M. (2015). Les
Congrès Internationaux pour les ou des sourds-muets au XIXe Siècle. Editions
du Fox.
Société Universelle des Sourds-Muets (1887). Compte Rendu du Banquet du 28 novembre 1886,
a l’ocasion du 174e anniversaire de la naissance de l’abbé de l’Épée. Georges Carré. http://www.culture.gouv.fr/LH/LH224/PG/FRDAFAN84_O19800035v1277661.html
[1] Professor da Rede
Municipal de Ensino de Vitória-ES. Doutorando em Educação pela Universidade
Federal do Espírito Santo.
[2] Professora permanente no Programa de Pós Graduação em
Educação (PPGE/UFES) e professora colaboradora do Programa de Pós Graduação em
Linguística (PPGEL/UFES). Coordenadora do Grupo Interinstitucional de Pesquisa
em Libras e Educação de Surdos (Giples/Ufes/Cnpq).
[3] Professora permanente
no Programa de Graduação e de Pós Graduação em Educação da Universidade
Estadual de Campinas; membro do GT Libras da Associação Nacional de
Pós-graduação em Letras e Linguística (ANPOLL); membro da rede de pesquisadores
Núcleo Educação para a Integração da La Asociación de Universidades Grupo
Montevideo (AUGM).
[4] Além das fotografias, Cantin e
Cantin (2017) relatam que por ocasião da viagem de Gaillard aos Estados Unidos
para a celebração do centenário da escola de surdos em 1917, consta no registro
de navio que sua estatura era de 1m47cm.