acordando de um Sono de cem anoS: uma nova eSPécie  
de nothoScordum (amaryllidaceae, allioideae) da  
FloreSta atlântica braSileira  
woKen uP From a hundred-year SleeP: a new SPecieS oF nothoScordum  
(amaryllidaceae, allioideae) From the brazilian atlantic ForeSt  
1
Vinicius G. De Zorzi , Mateus Queiroz , Ricardo M. Goffi & Julie H. A. Dutilh  
Summary  
Background and aims: Serra do Itapetinga houses one of the most important remnants  
1
. Programa de Pós-Graduação em  
of Atlantic Forest in the macrometropolis of São Paulo, the most populous region of  
Brazil. In the context of monographic works on Brazilian Nothoscordum species, a new  
species with current distribution restricted to Serra do Itapetinga was identified, and is  
described and illustrated here.  
Biologia Vegetal, Instituto de Biologia,  
Universidade Estadual de Campinas,  
Campinas, São Paulo, Brasil  
2
(
. Darwinion Institute of Botany  
IBODA, CONICET-ANCEFN), San  
Isidro, Buenos Aires, Argentina  
. Leibniz Institute of Plant Genetics  
M&M: Recognition of the new species is based on morphological, molecular and cytological  
data. Descriptions and morphological comparisons were obtained from examination of  
herbarium collections or living plants. Based on nuclear (ITS) and plastid (ndhF and matK)  
DNA markers, a molecular phylogeny including the described species is presented. Its  
conservation status was assessed using the IUCN Red List Categories and Criteria.  
Results: Nothoscordum itapetinga bears free staminal filaments, a typical morphological  
character of sect. Nothoscordum. Its placement in sect. Nothoscordum is also supported  
by molecular data and base chromosome number. We provide its chromosome count  
along with karyotype formula and DNAcontent. Comments on its distribution, habitat and  
conservation are furnished.  
3
and Crop Plant Research (IPK),  
Gatersleben, Germany  
4
. Instituto Multidisciplinario de  
Biología Vegetal (IMBIV), Consejo  
Nacional de Investigaciones  
Científicas y Técnicas (CONICET)-  
Universidad Nacional de Córdoba  
Conclusions: With the data available the new species is considered Critically Endangered  
(
5
UNC), Córdoba, Argentina  
. OSCIP SIMBiOSE, Atibaia, São  
Paulo, Brasil  
Pesquisador independente,  
Valinhos, São Paulo, Brasil  
. Departamento de Biologia Vegetal,  
(CR). The localities of occurrence suffered decades of impacts resulting from intensive  
and uncontrolled use, in addition to human-induced fires, which modified the vegetation  
structure and floristic composition. Urgent measures are required to ensure the survival  
of the remaining populations of N. itapetinga.  
6
.
7
Key wordS  
Instituto de Biologia, Universidade  
Estadual de Campinas, Campinas,  
São Paulo, Brasil  
Conservation, cytogenetics, Leucocoryneae, molecular phylogeny, rocky outcrops, Serra  
do Itapetinga, threatened species.  
reSumo  
*camposrocha@hotmail.com  
Introdução e objetivos: A Serra do Itapetinga abriga um dos mais importantes  
remanescentes de Floresta Atlântica da Macrometrópole Paulista, a região mais  
populosa do Brasil. No contexto do tratamento monográfico de Nothoscordum para  
o país, uma nova espécie com distribuição atual restrita à Serra do Itapetinga foi  
identificada e é aqui descrita e ilustrada.  
M&M: O reconhecimento da nova espécie está baseado tanto em dados morfológicos  
como moleculares e citogenéticos. As descrições e comparações morfológicas foram  
feitas a partir da análise de materiais vivos ou depositados nas coleções dos herbários  
consultados. Com base em marcadores nuclear (ITS) e plastidiais (ndhF e matK)  
uma filogenia molecular incluindo a espécie descrita é apresentada. O seu estado de  
conservação foi avaliado de acordo com diretrizes e critérios da IUCN.  
Citar este artículo  
CAMPOS-ROCHA, A., A. B.  
SASSONE, J. D. URDAMPILLETA,  
V. G. DE ZORZI, M. QUEIROZ,  
R. M. GOFFI & J. H. A. DUTILH.  
2
023. Acordando de um sono de  
cem anos: uma nova espécie de  
Nothoscordum (Amaryllidaceae,  
Allioideae) da Floresta Atlântica  
brasileira. Bol. Soc. Argent. Bot. 58:  
4
39-460.  
Resultados: Nothoscordum itapetinga apresenta filamentos estaminais livres, uma  
característica típica da seção Nothoscordum. Seu posicionamento nesta seção também  
é suportado por dados moleculares e número cromossômico básico. São fornecidos  
seu número cromossômico, fórmula cariotípica e conteúdo total de DNA. Comentários  
sobre sua distribuição, hábitat e conservação são apresentados.  
Conclusões:Combasenosdadosdisponíveis,anovaespécieéconsideradaCriticamente  
em Perigo de extinção. As localidades de ocorrência sofreram décadas de impactos do  
uso intensivo e não ordenado, além de incêndios florestais, e que alteraram parte de sua  
estrutura e composição florística. Ações urgentes são consideradas fundamentais para  
garantir a sobrevivência das populações remanescentes de N. itapetinga.  
Recibido: 28 Feb 2023  
Aceptado: 11 Jul 2023  
Publicado en línea: 30 Ago 2023  
Publicado impreso: 30 Sep 2023  
Editor: Nicolás García Berguecio  
PalavraS-chave  
Afloramentos rochosos, citogenética, conservação, espécies ameaçadas, filogenia  
molecular, Leucocoryneae, Serra do Itapetinga.  
ISSN versión impresa 0373-580X  
ISSN versión on-line 1851-2372  
439  
Bol. Soc. Argent. Bot. 58 (3) 2023  
introdução  
(Rahn, 1998). O gênero está incluído na tribo  
Leucocoryneae, que apresenta distribuição  
A luta pela conservação da Serra do Itapetinga restrita à América do Sul, com exceção de  
é uma das mais emblemáticas da história do Nothoscordum bivalve (L.) Britton a atingir a  
movimento ambientalista no Brasil (Scifoni, América do Norte (Sassone & Giussani, 2018).  
2
018, 2020). No início dos anos 1980, ainda sob Nothoscordum encontra-se dividido em duas  
a ditadura militar no país, diante das crescentes seções com importantes diferenças morfológicas,  
denúncias de extração de granito e da autorização citológicas moleculares: Inodorum  
e
e
de loteamento nas proximidades do seu cume, o Nothoscordum (Guaglianone, 1972; Sassone  
afloramento da Pedra Grande, articulou-se um & Blattner, 2020). A seção Inodorum possui  
grande movimento popular em sua defesa e de caracteres mais estáveis e que facilitam o seu  
sua biodiversidade (Ab’Saber, 2005; Choma reconhecimento; suas espécies são caracterizadas  
&
Costa, 2009). Em 1983, como resultado por apresentar filamentos estaminais fundidos  
dessa mobilização, a Serra do Itapetinga seria na base, inflorescências sempre multifloras,  
tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio perigônio branco e número cromossômico básico  
Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico x = 5 (A. Sassone et al., obs. próp.). A seção  
(
Condephaat), em um processo considerado Nothoscordum reúne maior diversidade tanto  
pioneiro no tombamento de áreas naturais no morfológica como genética; compreende plantas  
Brasil (Crispim, 2018; Scifoni, 2020). Nos anos glabras ou com tricomas, folhas estreitas e não  
seguintes, várias outras categorias de áreas liguladas, inflorescências unifloras (anteriormente  
especialmente protegidas seriam criadas na região, tratadas como pertencentes à Beauverdia Herter),  
envolvendo diferentes níveis da administração bi- ou plurifloras, perigônio branco, amarelo  
pública, além de reservas privadas de preservação e creme. A maioria das espécies possui flores  
(
Zorzi, 2016; São Paulo, 2018a). No entanto, com filetes livres (Sassone & Blattner, 2020),  
somente em 2010, através do programa Biota- embora algumas espécies unifloras apresentem  
FAPESP e a consolidação dos estudos sobre filetes fundidos (Sassone et al., 2014). A  
biodiversidade e conectividade no estado de citologia da seção Nothoscordum é também  
São Paulo (destacadamente Rodrigues et al., bastante complexa; acredita-se que o número  
2
008), seriam estabelecidas duas unidades de cromossômico básico para as espécies incluídas  
conservação de proteção integral na Serra do nesta seção seja x = 4 e x = 5. A circunscrição das  
Itapetinga, o Parque Estadual de Itapetinga (PEI) espécies de Nothoscordum é bastante dificultada  
e o Monumento Natural Estadual da Pedra Grande pelo reduzido número de caracteres morfológicos  
(
Mona Pedra Grande), integrando o chamado diagnósticos, polimorfismos intraespecíficos e  
Contínuo Cantareira, que ainda abrange outras hibridizações interespecíficas, além de fenômenos  
duas unidades de conservação localizadas na Serra de evolução convergente (Guerra, 2008; Souza  
de Itaberaba e na Serra da Cantareira (São Paulo, et al., 2016; Sassone & Giussani, 2018). Foram  
2
010). Além de ser considerada como uma área propostos como centro de diversidade do gênero  
prioritária para o estabelecimento de corredores o Uruguai e a região mesopotâmica da Argentina  
ecológicos na Floresta Atlântica, a Serra do (Guaglianone, 1972). Para o Brasil, são atualmente  
Itapetinga é também apontada como região de reconhecidas 34 espécies de Nothoscordum, em  
importante contribuição para o abastecimento de sua grande maioria restritas à região Sul do país  
água de milhões de pessoas residentes nas bacias (Sassone et al., 2023). Somente três espécies são  
hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e mencionadas para o estado de São Paulo, das quais  
Jundiaí (PCJ) e Alto Tietê, as quais incluem parte duas são consideradas invasoras cosmopolitas,  
da Macrometrópole Paulista, a mais populosa da provavelmente naturalizadas na região (Sassone  
América Latina (São Paulo, 2018a).  
et al., 2023). Estudos em andamento com o gênero  
Nothoscordum Kunth pertence à subfamília sugerem que a diversidade de Nothoscordum no  
Allioideae (Amaryllidaceae), a mesma de Brasil seja ainda bastante subestimada.  
plantas de grande interesse econômico, como  
Neste artigo descrevemos uma nova espécie  
o alho, a cebola e muitas espécies ornamentais de Nothoscordum cuja distribuição conhecida  
440  
A. Campos-Rocha et al. - Uma nova espécie de Nothoscordum da Floresta Atlântica brasileira  
encontra-se restrita à Serra do Itapetinga, onde provisória do estado de conservação da nova  
foi coletada pela primeira vez há mais de cem espécie está de acordo com os critérios da União  
anos. Além de comparações com as espécies Internacional para a Conservação da Natureza  
morfologicamente similares, comentários sobre (IUCN, 2012, 2022). Os cálculos da Extensão de  
sua distribuição, hábitat e ecologia são fornecidos. Ocorrência (EOO) e Área de Ocupação (AOO)  
Apresentamos um mapa de distribuição geográfica, foram feitos utilizando a ferramenta GeoCAT  
ilustrações detalhadas e fotografias in situ da (Bachman et al., 2011) com base na célula padrão  
nova espécie. Com base em sequências de DNA, de 2 x 2 km recomendada pela IUCN. O mapa de  
avaliamos o seu posicionamento filogenético distribuição foi elaborado utilizando o software  
dentro do gênero Nothoscordum. Propomos uma ArcGIS Pro 3.0.3, um produto da Environmental  
avaliação provisória do seu estado de conservação, Systems Research Institute (Esri, Redlands,  
além de examinar em detalhes as principais Califórnia). Foi obtido um ponto de ocorrência  
ameaças aos seus acessos remanescentes e sugerir para cada ilha de vegetação onde N. itapetinga  
medidas para a sua conservação.  
foi observado no afloramento da Pedra Grande  
ou indivíduo isolado em fresta. As coordenadas  
geográficas (latitude/longitude) foram coletadas  
com aparelho localizador geográfico Garmin  
GPSMAP 64x nos dias 17 de novembro 2022 e  
23 de junho de 2023, e disponibilizadas como  
materiaiS e métodoS  
Estudos morfológicos e taxonômicos  
Este artigo está baseado na revisão da material suplementar por meio de planilha  
literatura e análise das coleções dos herbários eletrônica em formato “xlsx” (Tabela S1).  
com as coleções mais representativas para as  
Amaryllidaceae sul-americanas (B, BA, BAA, Estudos moleculares filogenéticos  
BAB, BAF, BM, BR, CORD, ESA, HAL,  
O DNA genômico foi extraído de dois  
HUH, LP, MBM, P, RB, SI, SP, SPF, SPSF, exemplares da nova espécie e outras espécies  
UEC e US, acrônimos de acordo com Thiers, do gênero Nothoscordum utilizando o protocolo  
atualizado permanentemente). Adicionalmente, CTAB (Doyle & Doyle, 1987) com modificações  
atividades de coleta e observação de espécies de descritas em Giussani et al. (2001). Com base  
Nothoscordum foram realizadas em diferentes na resolução obtida por estudos anteriores e  
regiões do Brasil ao longo das últimas duas em sequências disponíveis, amplificamos o  
décadas. Na Serra do Itapetinga, atividades de espaçador interno transcrito do DNA ribossomal  
campo foram realizadas desde o início da década nuclear (ITS) e os genes plastidiais, matK e  
de 1980, no contexto do desenvolvimento da ndhF, que juntos formaram nossa matriz de DNA  
dissertação de mestrado e tese de doutorado de de cloroplasto (cpDNA). A amplificação dos  
JHAD (Dutilh, 1987, 1996, respectivamente) e fragmentos seguiu os protocolos descritos em  
como parte da dissertação de mestrado de VGZ Sassone & Giussani (2018). O sequenciamento  
(
Zorzi, 2016). O último autor mapeou e levantou a foi realizado por Macrogen (Coréia do Sul).  
vegetação de dez afloramentos rochosos situados Foram geradas seis sequências da nova espécie;  
a partir de 950 m de altitude e com área superior as demais sequências foram geradas em estudos  
a um hectare na Serra da Itapetinga (Zorzi, 2016). anteriores (Souza et al., 2016; Pellicer et al., 2017;  
A terminologia utilizada para as descrições Sassone & Giussani, 2018) e obtidas do GenBank  
morfológicas segue o proposto por Radford (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/genbank/, Tabela  
(
1974), com algumas adaptações, enquanto os S2). Foram incluídos representantes das tribos  
caracteres diagnósticos para distinguir a nova Gilliesieae e Leucocoryneae como grupos  
espécie estão de acordo com Sassone et al. (2023). externos.  
Para os espécimes citados cujo coletor não possui  
A edição e montagem das sequências, e a  
número próprio de coleta, identificados pela visualização das árvores filogenéticas foram  
utilização da abreviatura “s.n.” (sem número), realizadas no programa Geneious Prime® 2022  
fornecemos o número de registro do herbário v.2.2. O alinhamento das sequências foi realizado  
depositário após o seu acrônimo. A avaliação com MAFFT v. 7.490 (Katoh & Standley, 2013),  
441  
Bol. Soc. Argent. Bot. 58 (3) 2023  
implementado no Geneious Prime® utilizando as Labs). As observações cromossômicas foram feitas  
opções: “auto” e a penalidade de gap de l.5. Foram com microscópio Olympus BX61 equipado com  
realizadas análises de inferência Bayesiana para sistema digital de captura de imagem com câmera  
ambos os conjuntos de dados com o programa monocromática e software Cytovision (Leica  
MrBayes v.3.2.6 (Huelsenbeck & Ronquist, 2001). Biosystems). Os cromossomos de 10 metáfases  
O modelo de substituição de nucleotídeos mais com condensação cromossômica adequada foram  
adequado foi selecionado como GTR+I+Γ para analisados utilizando MicroMeasure v3.3 (Reeves,  
ITS e GTR+Γ para matK e ndhF, de acordo 2001) e classificados segundo Guerra (Guerra,  
com Sassone & Giussani (2018). Duas corridas 1988). O conteúdo de DNA foi estimado por  
independentes foram realizadas para garantir que citometria de fluxo usando folhas frescas de dois  
as análises correspondessem ao conjunto ideal espécimes da nova espécie, seguindo o protocolo  
de árvores. Cada análise implementou quatro descrito em Sassone et al. (2018). O padrão  
10  
cadeias simultâneas com 1 × 10 de gerações. As utilizado foi o Ipheion uniflorum (Graham) Raf.  
árvores foram amostradas a cada 100 gerações. (2C = 19.3 pg, Zonneveld et al., 2005) analisado  
A convergência de toda as buscas de saída foi utilizando um citômetro de fluxo Partec PA II  
verificada com o programa Tracer v.1.71 (Rambaut (Sysmex Partec GmbH, Münster, Alemanha)  
et al., 2018) e foram descartados os primeiros 25% localizado no Instituto Floriculture (INTA Castelar,  
das árvores como burn-in. As matrizes alinhadas Buenos Aires, Argentina).  
foram depositadas no Figshare com o doi: http://  
dx.doi.org/10.6084/m9.figshare.23309675.  
reSultadoS  
Estudos citogenéticos  
Para a elaboração das lâminas com preparações Tratamento taxonômico  
cromossômicas utilizou-se meristemas  
radiculares pré-tratados com 8-hidroxiquinoleína Sassone, sp. nov. TIPO: BRASIL. São Paulo,  
mM durante 4-6 horas a 14 °C e fixados em Atibaia, Serra do Itapetinga, Grota Funda, em ilhas  
Nothoscordum itapetinga Campos-Rocha &  
2
etanol/ácido acético (3:1, v:v), provenientes de solo sobre afloramento rochoso, 23°10’57.7”S,  
de raízes de 8-10 bulbos coletados em 2010. 46°31’16,4”W, 1290 m, 5-VII-2016, A. Campos-  
Para analisar o número e estrutura cromossômica Rocha et al. 1594 (Holotypus: UEC; isotypi: RB,  
foi utilizada a técnica de HCl/Giemsa (Guerra, SPF). Figs. 1; 2.  
1
983). As raízes foram hidrolisadas com HCL 1N  
durante 10 minutos a 60 °C e esmagadas em ácido  
Diagnosis: Nothoscordum itapetinga can  
acético 45%. As lâminas foram congeladas em be considered morphologically similar to N.  
nitrogênio líquido para remoção das lamínulas, aparadense Ravenna, a species described from  
secas ao ar e coradas com Giemsa 2%. O número high-altitude damp lawns of Aparados da Serra, in  
e distribuição de sítios de rDNA 18-5.8-26S Southern Brazil. They can be distinguished by scape  
foram obtidos a partir da técnica FISH descrita length and leaf thickness (scape of similar length to  
por Schwarzacher & Heslop-Harrison (2000), or longer than the leaves, which are not thickened in  
com pequenas modificações (utilizando 15 µL N. itapetinga vs. scape shorter than the leaves, which  
por preparado de uma mistura de hibridização are thickened in N. aparadense), in addition to  
composta por 2x SSC, 50% de formamida, 20% de individual plant size, usually taller in N. itapetinga.  
dextran sulfato, 0,1% de SDS, 4-6 ng/µL de sonda).  
Furthermore, N. itapetinga is a species that  
Um conjunto de raízes previamente pré-tratadas e occurs in vegetation islands on granite outcrops of  
fixadas foram digeridas com Pectinex (Novozimes) Southeastern Brazil, possibly endemic to Serra do  
e esmagadas em ácido acético 45%. Sequências Itapetinga whereas N. aparadense grows in damp  
de rDNA pTa71 (Gerlach & Bedbrook, 1979) lawns on the top ofAparados da Serra (São Joaquim,  
marcadas com Biotina (Bionick, Invitrogen) foram Santa Catarina; Ravenna, 2001).  
utilizadas como sonda. Sinais de hibridação foram  
detectados utilizando Avidina-FITC (Sigma) e as  
Plantas com até cerca de 40 cm de altura.  
lâminas montadas com Vectashield-DAPI (Vector Bulbo subgloboso, simples, subterrâneo, 1,8-2,2  
442  
A. Campos-Rocha et al. - Uma nova espécie de Nothoscordum da Floresta Atlântica brasileira  
Fig. 1. Nothoscordum itapetinga. A: Hábito. B: Detalhe da inflorescência. C: Flor, vista superior. D: Flor  
aberta exibindo os filamentos estaminais. E: Gineceu. F: Estigma. G: Gineceu com cortes do ovário em  
secções longitudinal e transversal. H: Frutos. I: Sementes. Ilustração: Klei Souza (Campos-Rocha et al.  
1594, UEC).  
443  
Bol. Soc. Argent. Bot. 58 (3) 2023  
Fig. 2. Nothoscordum itapetinga. A: Ilha de vegetação com indivíduos de N. itapetinga, setas indicam  
indivíduos no primeiro plano. B-C: Indivíduos em flor (B-detalhe; mosca visitando flores). D, F-H: Detalhe da  
inflorescência. E: Detalhe das brácteas espatáceas. I-J: Indivíduos em diferentes fases de frutificação. K:  
Frutos imaturos. L-M: Detalhe da infrutescência. Fotos: A. Campos-Rocha (B-detalhe: J. Dutilh).  
444  
A. Campos-Rocha et al. - Uma nova espécie de Nothoscordum da Floresta Atlântica brasileira  
cm compr., 0,8-1,2 cm diam., sem odor aliáceo. Grande, tanto como ilha de vegetação ou indivíduo  
Colo do bulbo com até 4,5 cm compr. Folhas 1-5 isolado em fresta, foram coletados e podem ser  
contemporâneas, sem lígulas, glabras, ligeiramente acessados como material suplementar (Tabela  
canaliculadas na face adaxial, 9-38,5 cm × 1-2 mm. S1). Recentemente, em levantamento florístico  
Escapo geralmente mais longo ou com comprimento realizado em 60 ilhas de vegetação localizadas  
similar ao das folhas, com até 40 cm comprimento. em distintas orientações no afloramento da Pedra  
Inflorescência 3-9 flora. Pedicelos 1,3-3,8 cm Grande, Queiroz et al. (in prep.) haviam registrado  
compr., geralmente dispostos em alturas distintas. a presença de N. itapetinga em quinze ilhas, com  
Brácteas espatáceas fundidas na base 0,15-0,4 cm, área variando de 1 a 28 m², declividade de 5° a 30°,  
0
,9-1,2 cm compr. Flores alvas, infundibuliformes, e profundidade no centro de 8 a 24 cm. A primeira  
tépalas lanceoladas, eventualmente estreitamente coleta da espécie neste local, contudo, data de  
elípticas, fundidas na base ca. 0,5-1 mm, 6-7 × 1,5- outubro de 1910 e foi feita pelo botânico Carlos  
2
,5 mm. Estames livres, com filamentos fundidos às Duarte, que coletou ativamente naquele período em  
tépalas na base, levemente subulados, geralmente Atibaia e região. O plano de manejo do Mona Pedra  
em uma série, em algumas flores em duas séries, Grande (São Paulo, 2018b) menciona a ocorrência  
2
-4,5 × 1 mm, anteras 2 × 1 mm. Estilete igual a de duas espécies de Nothoscordum em sua área,  
levemente mais alto que os estames, até 3,5-3,7 mm possivelmente em referência também a provável  
compr., estigma capitado. Ovário oblongo 1 × 2 mm presença de N. gracile (Aiton) Stearn em áreas  
diam., óvulos 2-4 por lóculo.  
antropizadas da região.  
Nothoscordum itapetinga seria coletado  
Distribuição e hábitat: Os acessos remanescentes novamente na Serra do Itapetinga somente ao final  
conhecidos de Nothoscordum itapetinga estão dos anos 1980, em um afloramento conhecido como  
restritos a quatro afloramentos graníticos Três Marias, situado cerca de 1,5 km a sudeste da  
localizados na Serra do Itapetinga, situada na Pedra Grande, na divisa entre o então denominado  
mesorregião Macrometropolitana de São Paulo, Parque Natural Municipal da Grota Funda de  
entre a Serra da Cantareira e o limite oeste da Atibaia e o Sítio Pacaembu. Localizado a cerca  
Mantiqueira (Fig. 3). Com cotas altitudinais de 1.300 m de altitude, o afloramento Três Marias  
2
variando de aproximadamente 750 a 1.450 m, a possui uma área total de 3.600 m com orientação  
2
Serra do Itapetinga abrange uma área de cerca de 20 sul, sendo cerca de 2.150 m cobertos por campos  
mil hectares, distribuídos entre quatro municípios, rupestres (Zorzi, 2016). Posteriormente, a espécie  
em sua maior parte situados nos municípios de seria também observada no afloramento do Lajeado  
Atibaia e Bom Jesus dos Perdões (Zorzi, 2016). da Grota Funda, situado próximo à entrada principal  
O principal acesso remanescente encontra-se no do parque e à sudoeste da Pedra Grande, a cerca de  
afloramento da Pedra Grande, localizado na porção 1.100 m de altitude, onde não foi encontrada em  
norte da Serra do Itapetinga e o seu ponto mais alto visitas recentes. Este afloramento apresenta uma  
2
(
São Paulo, 2018b). Com mais de 37 hectares, o área total de 7.500 m com orientação noroeste, dos  
2
afloramento da Pedra Grande é também o maior de quais 1.520 m com campo rupestre (Zorzi, 2016).  
toda a Serra do Itapetinga, assim como considerado Um acesso em afloramento rochoso localizado no  
o mais rico em termos de diversidade e ocorrência municípiode Bom Jesus dos Perdões seria registrado  
de espécies restritas ou de baixa frequência (Zorzi, por VGZ no contexto das atividades de campo  
2
016). O afloramento da Pedra Grande possui de sua dissertação (Zorzi, 2016). O afloramento,  
próximo de metade de sua área ocupada por denominado como Pedra das Estrelas, encontra-se  
campos rupestres, como são denominadas as entre cerca de 1.100 a 1.200 m de altitude e possui  
2
formações de vegetação campestre sobre ilhas de 40.390 m de área com orientações norte e nordeste,  
2
solo isoladas por matriz de rocha (Zorzi, 2016). sendo aproximadamente 13.000 m com campo  
Neste local, N. itapetinga foi observado em ilhas rupestre (Zorzi, 2016). Mais recentemente, alguns  
de vegetação entre aproximadamente 1.300 a indivíduos de N. itapetinga foram fotografados em  
1
.370 m de altitude, nas faces norte, noroeste, afloramento rochoso localmente conhecido como  
nordeste, leste, oeste e sul do afloramento. Pontos Pedra da Águia, situado na porção sul da Serra  
de ocorrência da espécie no afloramento da Pedra do Itapetinga, próximo aos limites da expansão  
445  
Bol. Soc. Argent. Bot. 58 (3) 2023  
Fig. 3. Localização e distribuição de N. itapetinga na Serra do Itapetinga. A: Pontos remanescentes de  
ocorrência de N. itapetinga. B: Serra do Itapetinga e afloramentos rochosos com registros de N. itapetinga.  
C-D: Afloramento da Pedra Grande, visão panorâmica. E: Afloramento da Pedra das Estrelas, visão  
panorâmica. F: Afloramento Lajeado da Grota Funda, visão panorâmica. G: Ilha de vegetação no Lajeado  
da Grota Funda. H-K: Ilhas de vegetação no afloramento da Pedra Grande. Abreviações= A: Pedra da  
Águia; E: Pedra das Estrelas; G: Grota Funda; P: Pedra Grande; T: Três Marias. Fotos C: D. Carvalho. D:  
Acervo SIMBiOSE. E: V. Zorzi. F–K: A. Campos-Rocha.  
446  
A. Campos-Rocha et al. - Uma nova espécie de Nothoscordum da Floresta Atlântica brasileira  
urbana do município de Atibaia. Localizado entre (J. C. Mikan) Woodson, Oxypetalum tomentosum  
condomínio residencial e a Reserva Ecológica Wight ex Hook. & Arn. (Apocynaceae) e Rhipsalis  
do Vuna, uma área particular de preservação, dissimilis (G. Lindb.) K. Schum. (Cactaceae).  
2
este afloramento possui mais de 65.000 m de Em muitas ilhas de vegetação, espécies exóticas  
área orientada a noroeste, com altitude variando invasoras são particularmente abundantes,  
de aproximadamente 1.100 a 1.250 m. Ainda sobretudo gramíneas, como o capim-gordura  
não existem registros conhecidos em herbário (Melinis minutiflora P. Beauv.) e a braquiária  
para os acessos da Pedra das Estrelas e Pedra da (Urochloa sp.). Nothoscordum itapetinga também  
Águia. Estudos de genética de população seriam foi observado nas áreas de campo permanentemente  
necessáriosparaafirmarseosacessosremanescentes úmidos da Pedra Grande, associados à presença de  
representam populações ou subpopulações distintas nascentes e apontados por Zorzi (2016) como o  
de N. itapetinga.  
microhábitat mais raro dos afloramentos rochosos  
Nothoscordum itapetinga é uma espécie rupícola da Serra do Itapetinga. Esses ambientes abrigam  
e heliófila, que ocorre em ilhas de vegetação uma flora bastante singular, com um grande número  
sobre solos rasos e cercadas por matriz rochosa. de espécies localmente raras, com destaque para  
Foram observados indivíduos isolados ou formando Epidendrum dendrobioides Thunb. (Orchidaceae) e  
pequenos agrupamentos na borda das ilhas de Xyris spp. (Xyridaceae). Nothoscordum itapetinga  
vegetação, usualmente nas zonas de formação pode ser ocasionalmente encontrado na borda de  
campestre, algumas vezes em ou associados a locais ilhas de vegetação maiores e sobre solos de maior  
que funcionam como microcanais de drenagem. No profundidade, que permitem o estabelecimento de  
afloramento da Pedra Grande, entre as espécies mais arvoretas e pequenas árvores, como Clusia criuva  
frequentes nas ilhas de vegetação onde N. itapetinga Cambess. (Clusiaceae), Vitex polygama Cham.  
foi encontrado estão muitas monocotiledôneas (Lamiaceae) e Alchornea sp. (Euphorbiaceae),  
como gramíneas (e.g., Axonopus sp., Imperata e diferentes espécies de mirtáceas, muitas vezes  
brasiliensis Trin., Trichanthecium cyanescens arbustivas (Eugenia spp., Myrcia spp. e Myrciaria  
(Nees ex Trin.) Zuloaga & Morrone, Sporobolus spp.). A nova espécie também foi observada na  
indicus (L.) R. Br.), bromélias (e.g., Aechmea vegetação de transição entre o afloramento rochoso  
distichantha Lem., Dyckia tuberosa (Vell.) Beer, e a matriz florestal em seu entorno. Os agrupamentos  
Pitcairnia flammea Lindl. var. floccosa L. B. mais densos de indivíduos encontram-se usualmente  
Sm., Tillandsia streptocarpa Baker) e orquídeas em locais de declividade menos acentuada e  
(
e.g., Bifrenaria harrisoniae (Hook.) Rchb. f., que permite maior retenção de água, onde N.  
Bulbophyllum exaltatum Lindl., Epidendrum itapetinga está comumente associado a briófitas  
secundum Jacq., Gomesa ramosa (Lindl.) M. (destacadamente Sphagnum sp. (Sphagnaceae)  
W. Chase & N. H. Williams, Maxillaria picta e Campylopus savannarum (Müll. Hal.) Mitt.  
Hook., Prescottia stachyodes (Sw.) Lindl.), além de (Dicranaceae), além de monocotiledôneas como  
Hippeastrum morelianum Lem. (Amaryllidaceae), Tripogon spicatus (Nees) Ekman (Poaceae) e  
Alstroemeria plantaginea Mart. ex Schult. & Hypoxis decumbens L. (Hypoxidaceae). Indivíduos  
Schult. f. (Alstroemeriaceae), Anthurium crassipes isolados de N. itapetinga foram ocasionalmente  
Engl. (Araceae) e Rhynchospora sp. (Cyperaceae). encontrados em frestas na matriz rochosa com  
Monilófitas como Doryopteris sp. (Pteridaceae) pequeno acúmulo de solo.  
e Anemia villosa Humb. & Bonpl. ex Willd.  
Nothoscordum itapetinga é a sexta espécie de  
(
Anemiaceae) podem ser frequentes, enquanto Amaryllidaceae encontrada na Serra do Itapetinga;  
licófitas como Phlegmariurus sp. (Lycopodiaceae) também são encontradas cinco espécies do gênero  
são ocasionais. Podem ser observados também Hippeastrum Herb., três delas sobre ou no entorno  
muitos arbustos e subarbustos como Cuphea ingrata dos afloramentos: H. morelianum, H. psittacinum  
Cham. & Schltdl. e C. glutinosa Cham. & Schltdl. Herb. e H. glaucescens (Mart.) Herb. Nas áreas  
(
Lythraceae), Pleroma spp. (Melastomataceae), florestadas mais altas e úmidas também foi  
Stevia spp. e Vernonanthura spp. (Asteraceae); encontrado H. aulicum (Ker Gawl.) Herb. e nas  
mais eventualmente, Chamaecrista desvauxii áreas de mata um pouco mais secas H. striatum  
(Collad.) Killip (Fabaceae), Mandevilla tenuifolia (Lam.) Moore.  
447  
Bol. Soc. Argent. Bot. 58 (3) 2023  
A Serra do Itapetinga está inserida em uma  
Ainda não foram identificados os polinizadores  
região do estado de São Paulo caracterizada de N. itapetinga, embora tenham sido observadas  
predominantemente como Floresta Ombrófila pequenas moscas visitando as suas flores (Fig.  
Densa (IBGE, 2012). Os afloramentos rochosos 2B-detalhe). As espécies previamente investigadas  
com registros de N. itapetinga estão situados do gênero revelaram sistemas generalistas de  
entre remanescentes de Floresta Ombrófila Densa polinização (Fernández et al., 2009; Oleques et al.,  
Montana (IBGE, 2012), denominada de floresta 2021).  
semidecídua de altitude em estudos locais (Meira  
Neto et al., 1989; Grombone et al., 1990); em  
Etimologia: O epíteto específico é uma referência  
estágio secundário inicial no entorno do afloramento à Serra do Itapetinga, localidade onde se encontram  
da Pedra Grande, onde existem áreas de plantio de os acessos conhecidos da espécie. Itapetinga pode  
Eucalyptus sp. e Pinus sp. abandonadas (Zorzi, ser traduzido como “laje de pedra branca” ou “laje  
2
016), condição semelhante a reportada para a branca”, sendo uma referência às rochas graníticas  
Reserva Ecológica do Vuna (Guaraldo, 2009); da região; itapé em tupi teria significado “laje de  
e avançado de regeneração no Parque da Grota pedra”, enquanto tinga significaria “branco” ou  
Funda (Grombone et al., 1990; Zorzi, 2016). O “claro” (Sampaio, 1901; Tibiriçá, 1985). O epíteto  
clima regional é classificado como Clima Tropical específico é aqui utilizado como um substantivo em  
alternadamente seco e úmido, controlado pela aposição, de acordo com o Artigo 23.1 do Código  
massa Tropical Atlântica (São Paulo, 2018a). Internacional de Nomenclatura (Turland et al.,  
A temperatura média anual é de 20,7 °C, sendo 2018).  
fevereiro o mês mais quente (23,8 °C) e julho o  
mais frio (17,2 °C); a precipitação média anual é  
Material estudado (Parátipos). BRASIL. São  
de 1.525 mm, com o trimestre mais chuvoso entre Paulo: Atibaia, Grota Funda, X-1999, Dutilh s.n.  
os meses de dezembro e fevereiro, e a deficiência (UEC 170608); Parque Municipal Grota Funda,  
hídrica atingindo o seu máximo no mês de agosto 13-VI-1989, Dutilh s.n. (UEC 170603); Parque  
(
São Paulo 2018a). Os locais de maior altitude Municipal da Grota Funda, mata mesófila de  
encontram-se sujeitos a frequentes eventos de altitude com afloramentos rochosos no interior ou  
chuvas e neblinas orográficas.  
expostos, 900 a 1400 m de altura, s.d., Bernacci et  
al. 28422 (ESA, UEC); Pedra Grande, 28-XI-1999,  
Fenologia: Nothoscordum itapetinga pode ser Dutilh s.n. (UEC 170606); Pedra Grande, Serra de  
observado em flor ao longo de todo o ano, com Itapetinga, X-1910, Duarte 218 (SP); Pedra Grande,  
períodos de maior intensidade possivelmente Serra do Itapetinga, face nordeste, no afloramento  
relacionados  
a variações nas condições rochoso, em ilhas de solo, Campos-Rocha et al.  
microclimáticas locais. Na Pedra Grande, 1895 (ESA, UEC); Bom Jesus dos Perdões, Serra  
foram observadas diferenças fenológicas sutis do Itapetinga, afloramento da Pedra Grande, face  
entre indivíduos situados em diferentes faces nordeste, borda de ilhas de solo, locais de drenagem  
do afloramento, aparentemente relacionada à de água, 1360 m, Campos-Rocha et al. 1899 (SI).  
predominância de canais de microdrenagem e  
correntes de ar orientados a noroeste do afloramento. Estado de conservação  
2
As espécies de Leucocoryneae são caracterizadas  
Com estimados AOO de 16 km e EOO de  
2
por apresentar florescimento precoce, sendo 13,1 km , Nothoscordum itapetinga deve ser  
usualmente uma das primeiras plantas a florescer considerado Criticamente em Perigo (CR-C2aii)  
em suas regiões de ocorrência (Guaglianone, baseado no tamanho (<250 indivíduos maduros) e  
1
972; Sassone & Giussani, 2018). Dois períodos declínio populacional observado (C2), com mais de  
de florescimento anuais são reportados para 90% dos indivíduos maduros restritos a uma única  
algumas espécies de Nothoscordum (Sassone & subpopulação (aii). As localidades conhecidas de  
Giussani, 2018). O período de florescimento pode ocorrência da espécie registram décadas de uso  
ser ocasionalmente utilizado como característica intensivo e não ordenado (Fig. 4), que impactaram  
distintiva para espécies similares do gênero de maneira direta os seus acessos remanescentes.  
(Guaglianone, 1972).  
O acesso do afloramento da Pedra Grande é o mais  
448  
A. Campos-Rocha et al. - Uma nova espécie de Nothoscordum da Floresta Atlântica brasileira  
Fig. 4. Vetores de pressão e ameaças à vegetação dos afloramentos rochosos da Serra do Itapetinga. A:  
Presença de visitantes no afloramento da Pedra Grande. B: Descarte de resíduos nas ilhas de vegetação  
da Pedra Grande por ocasião das festividades de 1 de Maio. C-D: Impacto causado pela passagem de  
motocicletas sobre ilhas de vegetação no afloramento da Pedra do Coração. E: Descarte de sobra de  
materiais de construção no afloramento da Pedra Grande. F: Área invadida por Melinis minutiflora no  
Lajeado da Grota Funda. G: Carreamento de solo e rochas da estrada para as ilhas de vegetação na Pedra  
Grande. H: Deposição de acículas e estróbilos de Pinus sp. sobre ilha de vegetação na Pedra Rolada. I:  
Incêndio florestal no afloramento da Pedra Pequena. J: Ilhas de vegetação do Lajeado da Pedra Grande  
após a ocorrência de incêndio. Fotos A, A-detalhe, E, G: A. Campos-Rocha. B–D, F, H–J: V. Zorzi.  
449  
Bol. Soc. Argent. Bot. 58 (3) 2023  
importante tanto em número total de indivíduos da Pedra Grande encontra-se distribuído por quatro  
como em área ocupada. Neste afloramento, a zonas internas distintas da unidade de conservação,  
espécie foi observada em próximo de cem ilhas com a maior densidade de indivíduos observados  
de vegetação, distribuídas por uma área total de situada na Zona de Uso Intensivo. Esta zona é  
pouco mais de três hectares. O afloramento da considerada aquela onde os ambientes naturais  
Pedra Grande possui um histórico de intenso uso e apresentam maiores efeitos de intervenção humana,  
ocupação, sobretudo a partir da abertura da estrada compreendendo apenas 0,15% da área total do  
de acesso em 1962, quando passou a enfrentar um Mona Pedra Grande, que corresponderia a porção  
processo de retirada massiva de plantas nativas para de maior uso consolidado do afloramento da Pedra  
comercialização em Atibaia e municípios vizinhos Grande (São Paulo, 2018b). Tem como principal  
(Zorzi, 2016). A partir dos anos 1980, com início da objetivo oferecer infraestrutura de gestão e suporte  
prática de voo livre na Pedra Grande, o afloramento às atividades desenvolvidas no local, incluindo  
iria tornar-se o principal destino turístico da região visitação pública com médio impacto sobre os  
(Zorzi, 2016; Fundação Florestal, 2020). Tornaram- recursos ambientais (São Paulo, 2018b). A Zona  
se também abundantes os relatos de práticas de Uso Intensivo absorve a maior parte do fluxo de  
danosas à flora local, incluindo o estabelecimento visitantes da unidade de conservação, assim como  
de fogueiras e a passagem de veículos sobre as a grande parte dos impactos decorrentes do mau  
ilhas de vegetação, além da coleta de espécies de uso, como coleta de indivíduos vegetais, pisoteio,  
apelo ornamental (Zorzi & Meirelles, 2012; Zorzi, descarte de resíduos, erosão e abertura de trilhas  
2
016; São Paulo, 2018b; Fundação Florestal, 2020). nas ilhas de vegetação (Fundação Florestal, 2020).  
Estimativas apontam para uma redução de cerca de O afloramento Lajeado da Grota Funda está  
0% na área de campos com vegetação rupestre do inserido em uma área de preservação do município  
4
afloramento da Pedra Grande entre os anos de 1962 de Atibaia denominada Parque Natural Municipal  
e 2012 (Zorzi & Meirelles, 2012). Zorzi (2016) da Grota Funda (PNMGF), convertida no ano de  
demonstrou que as ilhas com menor riqueza e 2017 em uma unidade de conservação do grupo  
ocorrência de espécies raras são sobretudo aquelas de proteção integral (Atibaia, 2017). O plano de  
situadas mais próximas dos locais acessados pelos manejo do PNMGF é datado do ano de 2015 e foi  
visitantes. Atualmente, mais de 120 mil turistas realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas  
passam a cada ano pelo afloramento da Pedra (IPT), embora nunca tenha sido publicado através  
Grande (dados da SIMBiOSE para o ano de 2021).  
de decreto oficial. De acordo com o zoneamento  
A criação do Mona Pedra Grande em 2010 da unidade de conservação, o Lajeado da Grota  
é considerada uma importante mudança nas Funda está incluído em sua Zona de Recuperação,  
políticas de conservação da biodiversidade em que compreende locais com alterações antrópicas  
escala regional. No entanto, o ordenamento do ou resquícios da ocupação humana anterior  
afloramento da Pedra Grande começou a desenhar- (Atibaia, 2017). A ocorrência de incêndios florestais  
se efetivamente somente a partir do envolvimento representa uma das principais ameaças à biota  
entre sociedade civil e poderes público municipal do PNMGF (Giaretta et al., 1999; Zorzi, 2016),  
e estadual. Entre principais os avanços resultantes e à vegetação de afloramentos rochosos em todo  
desse esforço colaborativo destacamos a elaboração o mundo, resultando em alterações permanentes  
e aprovação dos Planos de Manejo do Mona na sua estrutura e composição (Burke, 2003;  
Pedra Grande e PEI em 2018, a execução de Fitzsimons & Michael, 2016). Entre os anos 1985 e  
termos de parceria entre a prefeitura de Atibaia e a início de 2022, segundo informações da SIMBiOSE  
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público e da plataforma MapBiomas, o Lajeado da Grota  
(OSCIP) SIMBiOSE para o ordenamento de uso do Funda registrou ao menos onze incêndios florestais,  
afloramento da Pedra Grande, monitoramento de com origem tanto nas áreas antropizadas próximas  
impactos sobre sua vegetação xerófila, prevenção como no próprio afloramento rochoso (Zorzi,  
e combate a incêndios florestais na Serra do 2016). O último incêndio de grande proporção  
Itapetinga e entorno, dentre outras ações. De acordo a atingir o Lajeado da Grota Funda, em outubro  
com o zoneamento aprovado para o Mona Pedra de 2012, alterou de maneira significativa a sua  
Grande, o acesso de N. itapetinga do afloramento composição florística (Zorzi, 2016). É possível que  
450  
A. Campos-Rocha et al. - Uma nova espécie de Nothoscordum da Floresta Atlântica brasileira  
N. itapetinga tenha sido extinto localmente neste agropecuárias podem ser permitidas nas Áreas de  
afloramento, onde a espécie não foi observada em Ocupação Humana, sob condições previamente  
anos recentes.  
estabelecidas (São Paulo, 2018a). O afloramento da  
Entre os anos de 2017 a 2022, o trabalho Pedra das Estrelas possui um longo histórico de uso  
colaborativo entre as gestões das unidades de direto, que inclui a criação de rebanhos bovinos e  
conservação e a SIMBiOSE reduziu a área equinos, e o corte de vegetação para carvoaria (Zorzi,  
impactada anualmente por incêndios florestais na 2016). Este afloramento é considerado também  
Serra do Itapetinga de aproximadamente 900 para bastante vulnerável à ocorrência de incêndios  
200 hectares. Neste período, incêndios ocorridos florestais, observados com grande regularidade  
em áreas florestadas do PNMGF foram controlados nos campos antrópicos próximos e nas áreas de  
antes de atingirem os afloramentos rochosos. O acampamento de afloramento vizinho, denominado  
afloramentodaPedraGrandenãoregistraaocorrência de Pedra do Coração (Zorzi, 2016).  
de grandes incêndios nas últimas duas décadas,  
Espécies vegetais nativas de afloramentos  
embora queimadas pontuais tenham acontecido em rochosos são caracterizadas por sua fragilidade e  
decorrência de acampamentos noturnos irregulares, baixa capacidade de regeneração, sendo geralmente  
inclusive com uso de vegetação nativa rupícola plantas de crescimento lento e capacidade limitada  
como material combustível para fogueiras. Com o de dispersão e sobrevivência (Hopper, 2009;  
surgimento de áreas abertas, os incêndios propiciam Hunter, 2016). Nos acessos remanescentes de N.  
o aparecimento de espécies exóticas invasoras, outra itapetinga acompanhados por maior período de  
grave ameaça à flora nativa de afloramentos rochosos tempo foi observada uma tendência de declínio  
(
Pigott, 2000; Porembski, 2000). O Lajeado da constante no número de indivíduos maduros, mesmo  
Grota Funda apresentou a maior riqueza de espécies em um cenário de maior proteção à vegetação  
ruderais entre os afloramentos rochosos levantados dos afloramentos em que a espécie ocorre.  
por Zorzi (2016). Melinis minutiflora P. Beauv., Nothoscordum itapetinga revelou-se bastante  
gramínea africana de rápida propagação, grande vulnerável à competição com espécies invasoras,  
cobertura e alta flamabilidade (Rossi et al., 2014; sobretudo gramíneas exóticas oportunistas, que  
Damasceno et al., 2018), foi registrada em todos os possivelmente dificultam a germinação de suas  
afloramentos (Zorzi, 2016). Estima-se que 20% dos sementes e o desenvolvimento de plântulas. Além  
campos rupestres do afloramento da Pedra Grande disso, a sua preferência ambiental pelas zonas de  
estejam atualmente cobertos por M. minutiflora borda das ilhas de vegetação torna N. itapetinga  
(Zorzi, 2016). A formação de maciços da espécie mais suscetível às pressões representadas pela  
em áreas invadidas pode resultar em alterações continuidade das atividades turísticas nestes  
no microclima do solo, ciclagem de nutrientes e afloramentos. É provável que a espécie não  
disponibilidade de luz (Barger et al., 2003; Zenni et suporte o pisoteio direto dos visitantes, que pode  
al., 2019), com gradual substituição das espécies do resultar em redução na cobertura e diversidade  
estrato herbáceo (Martins et al., 2009, 2011).  
das ilhas de vegetação, facilitando a sua invasão  
O afloramentoTrês Marias pertencia a propriedade por espécies exóticas (Pickering & Hill, 2007;  
privada recentemente desapropriada pelo governo Mason et al., 2015). Estudo baseado em dez anos  
estadual para fins de regularização do PEI, estando de investigações sobre comunidades vegetais  
incluído na Zona de Conservação do Mona Pedra em afloramentos rochosos sugere ainda que as  
Grande. Os afloramentos da Pedra da Águia e Pedra mudanças climáticas podem estar diretamente  
das Estrelas encontram-se situados em propriedades associadas ao declínio na riqueza de espécies,  
privadas, porém inseridos nos limites do PEI. Ambos afetando particularmente os seus estágios juvenis  
os afloramentos fazem parte da Zona de Conservação (Fonty et al., 2009). Populações pequenas e  
da unidade de conservação. O afloramento da Pedra isoladas tornam-se cada vez mais sujeitas aos  
das Estrelas também está inserido em sua Área efeitos da endogamia e deriva genética, que podem  
de Ocupação Humana, que tem como propósito ocasionar em perda de variabilidade genética,  
circunscrever a ocorrência de ocupações humanas diminuindo também a capacidade de adaptação  
até a efetiva desapropriação ou regularização às mudanças ambientais (Oakley & Winn, 2012;  
fundiária (São Paulo, 2018a). Algumas atividades Cheptou et al., 2017).  
451  
Bol. Soc. Argent. Bot. 58 (3) 2023  
Filogenia molecular  
resultados das duas inferências filogenéticas foram  
As matrizes foram analisadas separadamente. O congruentes entre si e com resultados precedentes.  
alinhamento do marcador nrITS incluiu 28 acessos Ambas as fontes de dados recuperaram as seções de  
(dois espécimes de N. itapetinga) e consistiu em 533 Nothoscordum como monofiléticas e N. itapetinga  
caracteres, dos quais 184 resultaram informativos foi recuperado dentro da seção Nothoscordum  
para parcimônia. Enquanto isso, a matriz plastidial (Figs. 5; S1). Nesta reconstrução filogenética  
(
matK + ndhF) incluiu uma amostra menor de 23 não foi possível resolver a politomia na seção  
acessos e resultou em 3154 caracteres, dos quais Nothoscordum, portanto não houve certeza sobre a  
48 foram informativos para parcimônia. Os espécie irmã de N. itapetinga.  
1
Fig. 5. Árvore de inferência Bayesiana de representantes da tribo Leucocoryneae baseada no marcador  
nuclear ITS. Os valores de probabilidade posterior > 0,9 estão indicados acima dos ramos.  
452  
A. Campos-Rocha et al. - Uma nova espécie de Nothoscordum da Floresta Atlântica brasileira  
Citogenética  
de distribuição de DNAr revelaram de 8 a 9 sinais  
As análises cromossômicas permitem apontar de hibridação de rDNA 45S exclusivamente nas  
que Nothoscordum itapetinga possui 2n = 16, com regiões centroméricas (Fig. 6B). Esta distribuição  
uma predominância de cromossomos metacêntricos de rDNA 45S pode ser considerada atípica em  
grandes, que variam de 20 a 30 µm de comprimento relação às espécies de Nothoscordum estudadas.  
(
Fig. 6). Tanto o número como a morfologia A maioria das espécies investigadas, inclusive  
cromossômica sugerem que N. itapetinga seja aquelas que apresentam 2n = 16 com cromossomos  
um tetraploide (2n = 4x = 16) do grupo das metacêntricos, apresentam sítios de rDNA 45S  
espécies de Nothoscordum com x = 4. As regiões subterminais (Souza et al., 2019; Báez et al.,  
centroméricas mostram evidentes regiões de 2020). O conteúdo de DNA 2C mensurado para N.  
cromatina descondensada (Fig. 6A). As análises itapetinga foi de 2C = 37,22 pg.  
Fig. 6. Cromossomos metafásicos de Nothoscordum itapetinga (2n = 16). A: Coloração com HCl/Giemsa,  
as setas indicam regiões cromossômicas descondensadas. B: Distribuição de rDNA 45 S por FISH, as setas  
indicam os sinais de hibridação (verde). Escala= B: 10 µm.  
diScuSSão  
fusão nos filamentos estaminais) como número  
cromossômico, padrão de distribuição de rDNA,  
Nossos resultados descrevem uma espécie conteúdo de DNA e as inferências filogenéticas  
nova para o gênero Nothoscordum, sendo que realizadas sugerem a sua inclusão na seção  
tanto a sua morfologia externa (ausência de Nothoscordum, além de distingui-la das demais  
453  
Bol. Soc. Argent. Bot. 58 (3) 2023  
espécies investigadas. Morfologicamente, N. medir até 4 mm de largura, além de formação de  
itapetinga pode ser considerado particularmente bulbilhos laterais (vs. escapo de altura similar  
similar a N. aparadense, descrito a partir de ou maior que as folhas, que medem 1-2 mm de  
material supostamente coletado por seu autor em largura, sem a formação de bulbilhos laterais  
Aparados da Serra, no estado de Santa Catarina, observada em N. itapetinga). Também de acordo  
região Sul do Brasil. Nothoscordum itapetinga com a descrição original, N. jaibanum apresenta  
pode ser distinto de N. aparadense (de acordo com ovário procumbente e tem uma curta vida útil de  
a sua descrição original; até o momento não existem quatro semanas. Algumas plantas de populações  
outros materiais disponíveis para estudo; Sassone et destas regiões, identificadas como N. pulchellum e  
al., 2023) pelo comprimento do escapo e espessura que apresentam folhas liguladas, foram analisadas  
da folha, além de características da flor (estilete de citogeneticamente mostrando serem diploides  
comprimento semelhante aos estames e 2-4 óvulos com x = 5, sendo três cromossomos metacêntricos,  
por lóculo em N. itapetinga vs. estilete mais longo um acrocêntrico e um telocêntrico (Guerra &  
que os estames e dois óvulos por lóculo em N. Felix, 2000) ou diploides e tetraploides com três  
aparadense). Além disso, N. aparadense é uma cromossomos metacêntricos e dois acrocêntricos.  
espécie que aparentemente ocorre em áreas úmidas  
O único representante da seção Nothoscordum  
dos campos de altitude (descritas em seu protólogo com ocorrência confirmada para o estado de São  
como “damp lawns on the top of the mountain Paulo é N. bonariense (Pers.) Beauverd, coletado  
ridge”), que são geralmente caracterizados pela próximo à divisa com o Paraná (Dutilh, 2005) e  
formação de um estrato herbáceo contínuo com que pode ser facilmente reconhecido por apresentar  
predomínio de gramíneas, sendo particularmente rizoma junto ao bulbo, folhas geralmente mais  
abundantes nos Aparados da Serra (Gomes, 2009; largas (1-5 mm larg.), além de tricomas nas folhas  
Dalmolim, 2013), uma das regiões mais ricas em e escapo (Guaglianone, 1972). Duas espécies  
endemismos do Sul do país (Iganci et al., 2011; da seção Inodorum também são registradas para  
Külkamp et al., 2018). Por sua vez, N. itapetinga é São Paulo; N. gracile e N. nudicaule (Lehm.)  
uma espécie com ocorrência confirmada apenas para Guagl., consideradas invasoras cosmopolitas, cuja  
a Serra do Itapetinga, que ocorre exclusivamente distribuição geográfica original é desconhecida.  
em afloramentos graníticos, preferencialmente na Em relação ao número cromossômico e conteúdo  
borda de ilhas de vegetação sobre a matriz rochosa. de DNA, entre as espécies até o momento  
Nothoscordum itapetinga pode também ser investigadas (por exemplo em Souza et al., 2012;  
comparado a N. goianum Ravenna, N. jaibanum Pellicer et al., 2017; Sassone et al., 2018), N.  
Ravenna e N. pulchellum Kunth, outras espécies itapetinga revelou maiores semelhanças com N.  
publicadas a partir de descrições bastante limitadas montevidense tetraploide, também posicionado na  
e com base exclusivamente em material herborizado sect. Nothoscordum e apresentando um número  
(
não disponível para estudo), provenientes de cromossômico similar (que pode ser prontamente  
zonas mais secas do Brasil. Todas possuem folhas distinto pela coloração das flores e distribuição  
estreitas e flores alvas com filamentos estaminais geográfica; amarelas e de ocorrência mais ao sul,  
livres, tendo sido provisoriamente incluídas na restrita ao estado do Rio Grande do Sul no Brasil,  
seção Nothoscordum, embora os posicionamentos além de Argentina e Uruguai), porém o padrão de  
filogenéticos nunca tenham sido testados. O distribuição de rDNA significativamente diferente  
tipo de N. goianum foi coletado no estado de sugere uma importante diferenciação genômica.  
Goiás, em afloramento calcário a cerca de 120 A seção Nothoscordum demonstrou-se a mais  
quilômetros do município de Formosa, numa região variável tanto morfológica como geneticamente,  
predominantemente de Cerrado, sem maiores sendo a sua circunscrição e de suas espécies um  
informações sobre a localidade; o tipo de N. enorme desafio. A maioria das espécies ocorrentes  
jaibanum é proveniente do município de Jaíba, no Brasil foi descrita a partir de uma única  
ao norte do estado de Minas Gerais, em região coleta, e muitas vezes as descrições e materiais  
de Caatinga e transição para a floresta decídua. originais não são suficientes para sua identificação  
As duas espécies podem ser distintas pelo escapo (Sassone et al., 2023). O gênero é objeto de estudos  
usualmente mais curto que as folhas, que podem sistemáticos em andamento, sendo aguardada a  
454  
A. Campos-Rocha et al. - Uma nova espécie de Nothoscordum da Floresta Atlântica brasileira  
inclusão de uma maior amostragem de espécies da 2020; Silva et al., 2021), além de desestímulo na  
seção Nothoscordum na filogenia molecular para formação de pesquisadores taxonomistas (Santos  
reconstruir a origem de N. itapetinga e reconhecer & Carbayo, 2021; Beal-Neves et al., 2022). A  
as suas espécies irmãs.  
descrição de N. itapetinga também reforça a  
Espécime coletado no ano de 1939 (Gehrt s.n., importância de áreas especialmente protegidas  
SP 41682) pode representar registro de ocorrência na conservação de espécies raras, endêmicas  
pretérita de N. itapetinga no município de São e ameaçadas, assim como expõe algumas de  
Paulo, o mais populoso e um dos mais densamente suas fragilidades. Portanto, sugerimos algumas  
povoados do Brasil (IBGE, 2022). A etiqueta do medidas adicionais de proteção que consideramos  
material menciona como local de sua coleta áreas necessárias para garantir a sobrevivência dos seus  
de campos naturais do Parque Jabaquara, na zona acessos remanescentes a curto e médio prazo: 1)  
centro-sul de São Paulo, a pouco mais de cinquenta mudança de zoneamento dos locais de ocorrência  
quilômetros ao sul dos acessos remanescentes da da espécie incluídos na Zona de Uso Intensivo  
Serra do Itapetinga. A ocupação e urbanização da do Mona Pedra Grande para zonas de maior  
região ocorreram de maneira tardia na história do restrição de uso, com intensificação no controle  
município de São Paulo, acontecendo efetivamente e fiscalização de acesso a essas zonas, além de  
somente a partir da década de 1930 (Blanes, 2006). educação para geração de valor pela sociedade; 2)  
No atual bairro do Jabaquara, a altitude média é monitoramento contínuo de evidências de impacto  
de aproximadamente 790 m, podendo atingir 850 e diversidade de comunidades vegetais típicas no  
m nas áreas mais altas. O único remanescente de afloramento da Pedra Grande; 3) integração de  
vegetação natural local é representado pelo Parque esforços entre a prefeitura de Atibaia, a Fundação  
Estadual das Fontes do Ipiranga, que conserva Florestal e a sociedade civil organizada para maior  
cerca de 300 ha de área florestada em estágio controle e fiscalização da região alta do PNMGF  
secundário de sucessão (São Paulo, 2008). Não e do sítio Pacaembu, o que inclui a proteção do  
foram encontrados registros posteriores da espécie afloramento Três Marias na Zona de Conservação  
para a região ou município de São Paulo. O exame do PEI; 4) promoção de ações educativas e de  
deste espécime não foi considerado conclusivo sensibilização para a conservação da espécie e seu  
em relação à sua identidade, razão pela qual não hábitat junto aos proprietários dos afloramentos  
está sendo considerado como representativo de N. Pedra da Águia e Pedra das Estrelas; 5) limitação  
itapetinga.  
do acesso de visitantes à Pedra da Águia, com  
delimitação de áreas especiais de proteção no  
afloramento; 6) estabelecimento de programas  
de restauração e manejo de espécies invasoras  
nos afloramentos com registros conhecidos de N.  
concluSão  
A Floresta Atlântica é considerada o domínio itapetinga, além de coleções ex situ da espécie  
fitogeográfico com a flora mais conhecida e bem com o propósito de reintroduzi-la nas áreas  
amostrada do Brasil (Galindo-Leal & Câmara, onde foi comprovadamente extinta. Ações de  
2
2
003; Sobral & Stehmann, 2009; Oliveira et al., conservação em escala local são apontadas como  
019), embora ainda responda por próximo de uma das estratégias mais eficientes para a proteção  
metade das espécies descritas anualmente no de espécies raras em regiões ambientalmente  
país (Sobral & Stehmann, 2009). A descrição de complexas (Crain et al., 2015). Da mesma  
uma nova espécie possivelmente endêmica da forma, entendemos ser de grande importância  
Macrometrópole Paulista, a mais populosa do a continuidade das atividades de campo nos  
Brasil e que concentra a maioria de suas principais afloramentos rochosos da Serra do Itapetinga e  
universidades e instituições científicas, evidencia regiões próximas, com o objetivo de encontrar  
a importância de investimentos contínuos nessas possíveis acessos adicionais de N. itapetinga. Na  
áreas, em um contexto de contingenciamento de área do Contínuo da Cantareira, foram mapeados  
recursos para pesquisa (Thomé & Haddad, 2019; mais de cem afloramentos graníticos com área  
Oliveira et al., 2020; Silva Junior et al., 2021) e superior a um hectare (Zorzi, 2016), cuja flora  
conservação da biodiversidade (Thomaz et al., permanece praticamente desconhecida. Esperamos  
455  
Bol. Soc. Argent. Bot. 58 (3) 2023  
ainda que a descrição da nova espécie estimule Soto, MA Coviella. Este trabalho foi em parte  
futuros estudos com objetivo de investigar apoiado pela “Agência Nacional de Promoção  
a sua biologia reprodutiva e ecologia, assim Científica e Técnica”, Argentina (ANPCyT),  
como a estrutura e diversidade genética de seus subvenção PICT 2017 #375 (à ABS). Somos  
acessos remanescentes, de maneira a prover também gratos aos revisores pelas correções e  
subsídios para melhor fundamentar a definição de sugestões.  
ações prioritárias e políticas públicas para a sua  
conservação.  
bibliograFia  
contribuição doS autoreS  
AB’SABER, A. 2005. Refletindo sobre questões  
ambientais: ecologia, psicologia e outras ciências.  
Psicol. USP 16: 19-34.  
https://doi.org/10.1590/S0103-65642005000100003  
ATIBAIA, 2017. Lei complementar n° 740/17, de 28 de  
março de 2017. Disponível em: http://leismunicipa.  
is/jcfwl [Acesso: 10 fevereiro 2023].  
Todos os autores contribuíram na concepção e  
delineamento do estudo. O primeiro rascunho do  
manuscrito foi elaborado por ACR e os demais  
autores comentaram em versões posteriores. ACR,  
ABS, JHAD, MQ, RMG e VGZ realizaram as  
atividades de campo. ACR, JHAD, MQ, RMG e BACHMAN, S., J. MOAT, A. W. HILL, J. TORRE  
VGZ discutiram os dados de distribuição, hábitat  
e estado de conservação. ABS, ACR e JHAD  
realizaram os estudos morfológicos comparativos.  
ABS realizou as análises filogenéticas e discutiu os  
& B. SCOTT. 2011. Supporting Red List threat  
assessments with GeoCAT: Geospatial conservation  
assessment tool. Zookeys 150: 117-126.  
https://doi.org/10.3897/zookeys.150.2109  
dados. ABS e JDU desenvolveram os experimentos BÁEZ, M., G. SOUZA & M. GUERRA. 2020. Does the  
e análises citogenéticas; ABS, ACR, JDU e JHAD  
discutiram os dados. ACR, ABS e JDU prepararam  
as figuras e tabelas. ACR e ABS organizaram as  
últimas versões do manuscrito. Todos os autores  
leram e aprovaram a sua versão final.  
chromosomal position of 35S rDNA sites influence  
their transcription? A survey on Nothoscordum  
species (Amaryllidaceae). Genet. Mol. Biol. 43:  
e20180194.  
https://doi.org/10.1590/1678-4685-GMB-2018-0194  
BARGER, N. N., C. M. D’ANTONIO, T. GHNEIM &  
E. CUEVAS. 2003. Constraints to colonization and  
growth of the African grass, Melinis minutiflora, in a  
Venezuelan savanna. Plant Ecol. 167: 31-43.  
https://doi.org/10.1023/A:1023903901286  
agradecimentoS  
Agradecemos aos curadores e equipe técnica  
das coleções consultadas, especialmente herbários BEAL-NEVES, M., A. MIELKE, S. D. GAMARRA,  
MBM e SP pelas doações de duplicatas de  
Nothoscordum. Somos gratos também a Fátima  
Otavina Buturi pelo auxílio com espécimes do SP;  
a Klei Sousa pela ilustração botânica; a Douglas  
Carvalho pela autorização de uso da Fig. 4D; à  
C. BEIER & C. S. FONTANA. 2022. A students’  
opinion on the importance of natural history  
collections and taxonomy in Brazil. Zoologia  
(Curitiba) 39: e21045.  
https://doi.org/10.1590/S1984-4689.v39.e21045  
Prefeitura da Estância de Atibaia pela autorização BLANES, L. 2006. Análise dos biótopos da bacia  
de pesquisa no PNMGF; a Daniel Abicair pelas  
informações sobre o acesso da Reserva Ecológica  
do Vuna; a Márcio Marques e Roberta Santos da  
hidrográfica do Córrego Águas Espraiadas.  
Dissertação de mestrado. Universidade de São  
Paulo, Brasil.  
Pousada Águas do Vale, pela atenção e apoio; e BRASIL. 2000. Lei n° 9.985, de 18 de julho de  
Luís Antônio de Souza pelo suporte às atividades  
de campo durante a finalização do manuscrito. ACR  
agradece a Patrícia Messias pelos comentários e  
2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/  
ccivil_03/LEIS/L9985.htm [Acesso: 10 fevereiro  
2023].  
revisão das versões finais do manuscrito. ABS é BURKE, A. 2003. Inselbergs in a changing world-global  
grata ao Instituto de Floricultura (INTA Castelar,  
Buenos Aires, Argentina), especialmente ao MS  
trends. Divers. Distrib. 9: 375-383.  
https://doi.org/10.1046/j.1472-4642.2003.00035.x  
456  
A. Campos-Rocha et al. - Uma nova espécie de Nothoscordum da Floresta Atlântica brasileira  
CHEPTOU, P. O.,A. L. HARGREAVES, D. BONTE & H.  
JACQUEMYN. 2017. Adaptation to fragmentation:  
evolutionary dynamics driven by human influences.  
Phil. Trans. R. Soc. B 372: 20160037.  
FITZSIMONS, J. A. & D. R. MICHAEL. 2016. Rocky  
outcrops: a hard road in the conservation of critical  
habitats. Biol. Conserv. 211: 36-44.  
https://doi.org/10.1016/j.biocon.2016.11.019  
https://doi.org/10.1098/rstb.2016.0037  
FONTY, E., C. SARTHOU, D. LARPIN & J. F. PONGE.  
2009. A 10-year decrease in plant species richness on  
a neotropical inselberg: detrimental effects of global  
warming? Global Change Biol. 15: 2360-2374.  
https://doi.org/10.1111/j.1365-2486.2009.01923.x  
FUNDAÇÃO FLORESTAL. 2020. Plano de Uso  
Público. Parque Estadual do Itapetinga e  
Monumento Natural Estadual da Pedra Grande.  
Disponível em: https://smastr16.blob.core.  
windows.net/fundacaoflorestal/sites/243/2020/10/  
mona-pedra-grande-plano_uso_publico_versao_  
cons_consultivo-final2.pdf [Acesso: 10 fevereiro  
2023].  
CHOMA, D. &T. COSTA. 2009. PedraGrandeDoc. Instituto  
Câmara Clara. Disponível em: http://camaraclara.org.  
br/acervo/mosaico/mosaico/pedra-grande-doc/  
CRAIN, B. J., A. M. SÁNCHEZ-CUERVO, J. W.  
WHITE & S. J. STEINBERG. 2015. Conservation  
ecology of rare plants within complex local habitat  
networks. Oryx 49: 696-703.  
https://doi.org/10.1017/S0030605313001245  
CRISPIM, F. B. 2018. Patrimônio, história e meio  
ambiente: notas sobre o tombamento de áreas  
naturais pelo Condephaat (1976-1989). Em:  
CARVALHO, A. V., B. O. ESPEJEL & T. JULIANO  
(
eds.), Perspectivas patrimoniais: natureza e cultura  
GALINDO-LEAL, C. & I. G. CÂMARA. 2003. Atlantic  
Forest hotspot status: an overview. Em: GALINDO-  
LEAL, C. & I. G. CÂMARA (eds.), The Atlantic  
Forest of South America: Biodiversity status,  
threats, and outlook, pp. 3-11. Center for Applied  
Biodiversity Science and Island Press, Washington.  
GERLACH, W. L. & J. R. BEDBROOK. 1979. Cloning  
and characterization of ribosomal RNA genes from  
wheat and barley. Nucleic Acids Res. 7: 1869-1885.  
https://doi.org/10.1093/nar/7.7.1869  
em foco, pp. 59-76. Editora Prismas, Curitiba.  
DALMOLIM, E. B. 2013. Poaceae dos campos de  
altitude do Parque Nacional de São Joaquim,  
Santa Catarina, Brasil. Dissertação de Mestrado.  
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.  
DAMASCENO, G., L. SOUZA, V. R. PIVELLO, E.  
GORGONE-BARBOSA, ... & A. FIDELIS. 2018.  
Impact of invasive grasses on Cerrado under natural  
regeneration. Biol. Invasions 20: 3621-3629.  
https://doi.org/10.1007/s10530-018-1800-6  
GIARETTA, A. A., K. G. FACURE, R. J. SAWAYA,  
J. D. MEYER & N. CHEMIN. 1999. Diversity  
and abundance of litter frogs in a montane forest  
of Southeastern Brazil: seasonal and altitudinal  
changes. Biotropica 31: 669-674.  
https://doi.org/10.1111/j.1744-7429.1999.tb00416.x  
GIUSSANI, L. M., J. H. COTA-SÁNCHEZ,  
F. O. ZULOAGA & E. A. KELLOGG. 2001.  
A molecular phylogeny of the grass subfamily  
Panicoideae (Poaceae) shows multiple origins of C4  
photosynthesis. Am. J. Bot. 88: 1993-2012.  
GOMES, M. A. M. 2009. Caracterização da vegetação  
de campos de altitude em unidades de paisagem na  
região do Campo dos Padres, Bom Retiro/Urubici,  
SC. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal  
de Santa Catarina, Brasil.  
GROMBONE, M. T., L. C. BERNACCI, J. A. A. MEIRA  
NETO, J. Y. TAMASHIRO & H. D. F. LEITÃO  
FILHO. 1990. Estrutura fitossociológica da floresta  
semidecídua de altitude do Parque Municipal da  
Grota Funda (Atibaia-estado de São Paulo). Acta  
Bot. Bras. 4: 47-64.  
DOYLE, J. J. & J. L. DOYLE. 1987. A Rapid DNA  
isolation procedure from small quantities of fresh  
leaf tissues. Phytochemical Bulletin 19: 11-15.  
DUTILH, J. H. A. 1987. Investigações citotaxonômicas  
em populações brasileiras de Hippeastrum Herb.  
Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de  
Campinas, Brasil.  
DUTILH, J. H. A. 1996. Biossistemática de quatro  
espécies de Hippeastrum Herb. (Amaryllidaceae).  
Tese de Doutorado. Universidade Estadual de  
Campinas, Brasil.  
DUTILH, J. H. A. 2005. Amaryllidaceae. Em:  
WANDERLEY, M. G. L., G. J. SHEPHERD, T. S.  
A. MELHEM, S. E. MARTINS, M. KIRIZAWA &  
A. M. GIULIETTI (eds.), Flora Fanerogâmica do  
Estado de São Paulo, vol. 4, pp. 244-255. FAPESP  
&
RiMa, São Paulo.  
FERNÁNDEZ, V. A., L. GALETTO & J. ASTEGIANO.  
009. Influence of flower functionality and  
2
pollination system on the pollen size-pistil length  
relationship. Org. Divers. Evol. 9: 75-82.  
https://doi.org/10.1016/j.ode.2009.02.001  
https://doi.org/10.1590/S0102-33061990000200004  
457  
Bol. Soc. Argent. Bot. 58 (3) 2023  
GUAGLIANONE, E. R. 1972. Sinopsis de las especies  
de Ipheion Raf. y Nothoscordum Kunth (Liliáceas)  
de Entre Ríos y regiones vecinas. Darwiniana 17:  
sites/library/files/documents/RL-2001-001-2nd.pdf  
[Acesso: 10 fevereiro 2023].  
IUCN. 2022. Diretrizes para o Uso das Categorias  
e Critérios da Lista Vermelha da UICN. Versão  
15.1. Preparada pelo Comitê de Padrões e Petições  
da Comissão de Sobrevivência de Espécies da  
UICN. Disponível em: https://www.iucnredlist.org/  
resources/redlistguidelines [Acesso: 10 fevereiro  
2023].  
KATOH, K. & D. M. STANDLEY. 2013. MAFFT  
multiple sequence alignment software version 7:  
improvements in performance and usability. Mol.  
Biol. Evol. 30: 772-780.  
1
59-240.  
GUARALDO, A. C. 2009. Fenologia reprodutiva,  
distribuição espacial e frugivoria em Rhipsalis  
(Cactaceae). Dissertação de Mestrado. Universidade  
Estadual Paulista, Brasil.  
GUERRA, M. 1983. O uso do Giemsa em Citogenética  
Vegetal: comparação entre a coloração simples e o  
bandeamento. Ciên. Cult. 35: 190-193.  
GUERRA M. 1988. Introdução à Citogenética Geral.  
Guanabara, Rio de Janeiro.  
GUERRA, M. 2008. Chromosome numbers in plant  
cytotaxonomy: concepts and implications.  
Cytogenet. Genome Res. 120: 339-350.  
https://doi.org/10.1093/molbev/mst010  
KÜLKAMP, J., G. HEIDEN & J. R. IGANCI. 2018.  
Endemic plants from the southern Brazilian Highland  
grasslands. Rodriguésia 69: 429-440.  
https://doi.org/10.1159/000121083  
GUERRA, M. & L. P. FELIX. 2000. O cariótipo de  
Nothoscordum pulchellum (Alliaceae), com ênfase  
na heterocromatina e nos sítios de DNAr. Bol. Soc.  
Argent. Bot. 35: 283-89.  
HOPPER, S. D. 2009. OCBIL theory: towards an  
integrated understanding of the evolution, ecology  
and conservation of biodiversity on old, climatically  
buffered, infertile landscapes. Pl. Soil 322: 49-86.  
https://doi.org/10.1007/s11104-009-0068-0  
HUNTER, J. T. 2016. Differences in functional trait  
distribution between inselberg and adjacent matrix  
floras. Int. J. Ecol. 2016: 6417913.  
https://doi.org/10.1590/2175-7860201869214  
MARTINS, C. R., J. D. V. HAY & R. CARMONA. 2009.  
Potencial invasor de duas cultivares de Melinis  
minutiflora no Cerrado brasileiro - características  
de sementes e estabelecimento de plântulas. Rev.  
Árvore 33: 713-722.  
https://doi.org/10.1590/S0100-67622009000400014  
MARTINS, C. R., J. D. V. HAY, B. M. T. WALTER, C.  
E. B. PROENÇA & L. J. VIVALDI. 2011. Impacto  
da invasão e do manejo do capim-gordura (Melinis  
minutiflora) sobre a riqueza e biomassa da flora nativa  
do Cerrado sentido restrito. Braz. J. Bot. 34: 73-90.  
https://doi.org/10.1590/S0100-84042011000100008  
MASON, S., D. NEWSOME, S. MOORE & R.  
ADMIRAAL. 2015. Recreational trampling  
negatively impacts vegetation structure of an  
Australian biodiversity hotspot. Biodivers. Conserv.  
24: 2685-707.  
https://doi.org/10.1155/2016/64179  
HUELSENBECK, J. P. & F. RONQUIST. 2001.  
MrBayes: Bayesian inference of phylogenetic trees.  
Bioinformatics 17: 754-755.  
https://doi.org/10.1093/bioinformatics/17.8.754  
IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.  
2
012. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. 2.º  
https://doi.org/10.1007/s10531-015-0957-x  
ed. IBGE, Rio de Janeiro.  
IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.  
MEIRA NETO, J. A., L. C. BERNACCI, M.  
T. GROMBONE, J. Y. TAMASHIRO & H. D.  
LEITÃO-FILHO. 1989. Composição florística  
da floresta semidecídua de altitude do Parque  
Municipal da Grota Funda (Atibaia-Estado de São  
Paulo). Acta Bot. Bras. 3: 51-74.  
https://doi.org/10.1590/S0102-33061989000200006  
OAKLEY, C. G. & A. A. WINN. 2012. Effects of  
population size and isolation on heterosis, mean  
fitness, and inbreeding depression in a perennial  
plant. New Phytol. 196: 261-270.  
2
022. São Paulo. Disponível em: https://cidades.  
ibge.gov.br/brasil/sp/sao-paulo/panorama [Acesso:  
2 novembro 2022].  
1
IGANCI, J. R., G. HEIDEN, S. T. MIOTTO & R. T.  
PENNINGTON. 2011. Campos de Cima da Serra:  
The Brazilian Subtropical Highland Grasslands  
show an unexpected level of plant endemism. Bot. J.  
Linn. Soc. 167: 378-93.  
https://doi.org/10.1111/j.1095-8339.2011.01182.x  
IUCN. 2012. IUCN Red list Categories and Criteria:  
version 3.1. 2nd ed. IUCN, Gland and Cambridge.  
Disponível em: https://portals.iucn.org/library/  
https://doi.org/10.1111/j.1469-8137.2012.04240.x  
OLEQUES, S. S., T. T. SOUZA-CHIES & R. S. AVILA  
JR. 2021. Elucidating plant-pollinator interactions in  
458  
A. Campos-Rocha et al. - Uma nova espécie de Nothoscordum da Floresta Atlântica brasileira  
South Brazilian grasslands: what do we know and  
where are we going? Acta Bot. Bras. 35: 323-338.  
https://doi.org/10.1590/0102-33062020abb0225  
OLIVEIRA, E. A., H. MARTELLI JUNIOR, A. C.  
S. SILVA, D. R. B. MARTELLI & M. C. L.  
OLIVEIRA. 2020. Science funding crisis in  
Brazil and COVID-19: deleterious impact on  
scientific output. An. Acad. Bras. Ciênc. 92:  
e20200700.  
https://doi.org/10.1590/0001-3765202020200700  
OLIVEIRA, U., B. S. SOARES-FILHO, A. J. SANTOS,  
A. P. PAGLIA, ... & V. G. FERRO. 2019. Modelling  
highly biodiverse areas in Brazil. Sci. Rep. 9:  
a6355. https://doi.org/10.1038/s41598-019-42881-9  
PELLICER, J., O. HIDALGO, J. WALKER, M. CHASE,  
RODRIGUES, R. R., C. A. JOLY, M. C. W. BRITO, A.  
PAESE, … & V. L. R. BONONI. 2008. Diretrizes  
para a conservação da biodiversidade no estado  
de São Paulo. Instituto de Botânica-FAPESP, São  
Paulo.  
ROSSI, R. D., C. R. MARTINS, P. L. VIANA, E. L.  
RODRIGUES & J. E. FIGUEIRA. 2014. Impact  
of invasion by molasses grass (Melinis minutiflora  
P. Beauv.) on native species and on fires in areas of  
campo-cerradoinBrazil. ActaBot. Bras. 28:631-637.  
https://doi.org/10.1590/0102-33062014abb3390  
SAMPAIO, T. 1901. O tupi na geografia nacional. O  
Pensamento, São Paulo.  
SANTOS, C. M. D. & F. CARBAYO. 2021. Taxonomy  
as a political statement: the Brazilian case. Zootaxa  
5047: 92-94.  
.
.. & M. F. FAY. 2017. Genome size dynamics  
in tribe Gilliesieae (Amaryllidaceae, subfamily  
Allioideae) in the context of polyploidy and unusual  
incidence of Robertsonian translocations. Bot. J.  
Linn. Soc. 184: 16-31.  
https://doi.org/10.11646/zootaxa.5047.1.8  
SÃO PAULO. 2008. Plano de Manejo do Parque  
pdf [Acesso: 10 Fevereiro 2023].  
SÃO PAULO. 2010. Criação de Sistema de Áreas  
Protegidas do Contínuo da Cantareira: Serras do  
Itaberaba e Itapetinga. Relatório Final. Secretaria  
do Meio Ambiente e Fundação Florestal, São Paulo.  
SÃO PAULO. 2018a. Plano de Manejo do Parque  
fevereiro 2023].  
https://doi.org/10.1093/botlinnean/box016  
PICKERING, C. M. & W. HILL. 2007. Impacts of  
recreation and tourism on plant biodiversity and  
vegetation in protected areas in Australia. J. Environ.  
Manage. 85: 791-800.  
https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2006.11.021  
PIGOTT, J. P. 2000. Environmental weeds and granite  
outcrops: possible solutions in the “too hard basket”?  
J. R. Soc. West. Aust. 83: 135-137.  
POREMBSKI, S. 2000. The invasibility of tropical  
granite outcrops (‘inselbergs’) by exotic weeds. J. R.  
Soc. West. Aust. 83: 131-134.  
RADFORD, A. E., W. C. DICKISON, J. R. MASSEY  
&
C. R. BELL. 1974. Vascular Plant Systematics.  
SÃO PAULO. 2018b. Plano de Manejo do Monumento  
Natural Estadual Pedra Grande. Disponível em:  
http://s.ambiente.sp.gov.br/fundacaoflorestal/  
planos-manejo/concluidos/mona_pedra_grande/  
Plano_Manejo_Mona_Pedra_Grande.pdf [Acesso:  
10 fevereiro 2023].  
Harper & Row Publishers, New York.  
RAHN, K. 1998. Alliaceae. Em: Kubitzki, K. (ed.),  
Flowering Plants. Monocotyledons. The Families  
and Genera of Vascular Plants, vol 3. Springer,  
Berlin, Heidelberg.  
https://doi.org/10.1007/978-3-662-03533-7_9  
RAMBAUT, A., A. J. DRUMMOND, D. XIE, G. BAELE  
SASSONE, A. B., A. CAMPOS-ROCHA, J. H. A.  
DUTILH, L.M. GIUSSANI & S. ARROYO-  
LEUENBERGER. 2023. Nothoscordum in Flora e  
FB15395 [Acesso: 12 fevereiro 2023].  
&
M. A. SUCHARD. 2018. Posterior summarization  
in Bayesian phylogenetics using Tracer 1.7. Syst.  
Biol. 67: 901-904.  
https://doi.org/10.1093/sysbio/syy032  
RAVENNA, P. F. 2001. New species of Nothoscordum  
SASSONE, A. B., A. LÓPEZ, D. H. HOJSGAARD & L.  
M. GIUSSANI. 2018. Anovel indicator of karyotype  
evolution in the tribe Leucocoryneae (Allioideae,  
Amaryllidaceae). J. Plant. Res. 131: 211-223.  
https://doi.org/10.1007/s10265-017-0987-4  
(Alliaceae)-XVI. Onira 5: 36-37.  
REEVES, A. 2001. MicroMeasure: a new computer  
program for the collection and analysis of cytogenetic  
data. Genome 44: 439-443.  
459  
Bol. Soc. Argent. Bot. 58 (3) 2023  
SASSONE, A. B. & F. R. BLATTNER. 2020.  
PhylogenomicsinSouthAmericangarlics:preliminary  
results on diversification within Nothoscordum  
evolution in Nothoscordum section Nothoscordum  
(Amaryllidaceae). Bot. J. Linn. Soc. 190: 215-228.  
https://doi.org/10.1093/botlinnean/boz008  
(
Amaryllidaceae). En Virtual Botany Conference.  
SOUZA, L. G. R., O. CROSA, P. SPERANZA &  
M. GUERRA. 2012. Cytogenetic and molecular  
evidence suggest multiple origins and geographical  
parthenogenesis in Nothoscordum gracile (Alliaceae).  
Ann. Bot. 109: 987-999.  
SASSONE,A. B. &L. M. GIUSSANI. 2018. Reconstructing  
the phylogenetic history of the tribe Leucocoryneae  
https://doi.org/10.1093/aob/mcs020  
(
Allioideae): reticulate evolution and diversification in  
TIBIRIÇÁ, L. C. 1985. Dicionário de topônimos brasileiros  
de origem tupi. Significado dos nomes geográficos de  
origem tupi. Traço, São Paulo.  
South America. Mol. Phylogenet. Evol. 127: 437-448.  
https://doi.org/10.1016/j.ympev.2018.04.034  
SASSONE, A. B., L. M. GIUSSANI & E. R.  
GUAGLIANONE. 2014. Beauverdia, a resurrected  
genus of Amaryllidaceae (Allioideae, Gilliesieae).  
Syst. Bot. 39: 767-775.  
THIERS, B. Continuously updated. Index Herbariorum:  
A global directory of public herbaria and associated  
staff. NewYork Botanical Garden’s Virtual Herbarium.  
http://sweetgum.nybg.org/science/ih/.  
https://doi.org/10.1600/036364414X681527  
SCHWARZACHER, T. & P. HESLOP-HARRISON.  
THOMAZ, S. M., L. G. BARBOSA, M. C. S. DUARTE &  
R. PANOSSO. 2020. The future of nature conservation  
in Brazil. Inland Waters 10: 295-303.  
2000. Practical in situ Hybridization. BIOS Scientific  
Publishers, Oxford.  
https://doi.org/10.1080/20442041.2020.1750255  
THOMÉ M. T. & C. F. HADDAD. 2019. Brazil’s  
biodiversity researchers need help. Science 364: 1144-  
1145. https://doi.org/10.1126/science.aax9478  
TURLAND, N. J., J. H. WIERSEMA, F. R. BARRIE,  
W. GREUTER, … & G. F. SMITH (eds.) 2018.  
International Code of Nomenclature for algae, fungi,  
and plants (Shenzhen Code) adopted by the Nineteenth  
International Botanical Congress Shenzhen, China,  
July 2017. Regnum Vegetabile 159. Koeltz Botanical  
Books,Glashütten.https://doi.org/10.12705/Code.2018  
ZENNI, R. D., A. B. SAMPAIO, Y. P. LIMA, M. PESSOA-  
FILHO, ... & C. DAEHLER. 2019. Invasive Melinis  
minutiflora outperforms native species, but the  
magnitude of the effect is context-dependent. Biol.  
Invasions 21: 657-667.  
SCIFONI, S. 2018. Patrimonialização da natureza no  
Brasil: atualizando o debate. Em: CARVALHO,  
A. V., B. O. ESPEJEL & T. JULIANO (eds.),  
Perspectivas patrimoniais: natureza e cultura em  
foco, pp. 35-58. Editora Prismas, Curitiba.  
SCIFONI, S. 2020. A natureza na preservação do  
patrimônio cultural paulista: a contribuição de Aziz  
Nacib Ab’Saber. An. Mus. Paul. 28: 1-30.  
https://doi.org/10.1590/1982-02672020v28d2e26  
SILVA, J. M. C., T. C. A. C. DIAS, A. C. CUNHA & H. F.  
A. CUNHA. 2021. Funding deficits of protected areas  
in Brazil. Land Use Policy 100: 104926. https://doi.  
org/10.1016/j.landusepol.2020.104926  
SILVA JUNIOR, C. H. L., Y. M. MOURA, A. C. M.  
PESSÔA, D. P. TREVISAN, ... & T. N. KUCK. 2021.  
Surviving as a young scientist in Brazil. Science 374:  
https://doi.org/10.1007/s10530-018-1854-5  
9
48. https://doi.org/10.1126/science.abm8160  
ZONNEVELD B. J. M., I.J. LEITCH & M. D. BENNETT.  
2005. First nuclear DNA amounts in more than 300  
angiosperms. Ann. Bot. 96: 229-24.  
SOBRAL M. & J. R. STEHMANN. 2009. An analysis of  
new angiosperm species discoveries in Brazil (1990-  
2006). Taxon 58: 227-232.  
https://doi.org/10.1093/aob/mci170  
https://doi.org/10.1002/tax.581021  
SOUZA, G., O. CROSA, P. SPERANZA, & M. GUERRA.  
ZORZI, V. G. 2016. Endemismo e conservação de  
refúgios xéricos pleistocênicos da Serra do  
Itapetinga. Dissertação de Mestrado. Universidade  
de São Paulo, Brasil.  
2016. Phylogenetic relations in tribe Leucocoryneae  
(
Amaryllidaceae, Allioideae) and the validation  
of Zoellnerallium based on DNA sequences and  
cytomolecular data. Bot. J. Linn. Soc. 182: 811-824.  
https://doi.org/10.1111/boj.12484  
ZORZI, V. G. & S. MEIRELLES. 2012. Effects of  
disturbance on the structure and composition of  
vegetation in the Natural Monument of Pedra Grande-  
Atibaia-São Paulo-Brazil-Conservation and Recovery  
of the Soil Islands Vegetation. II Congresso Brasileiro  
de Ecologia da Paisagem, Salvador.  
SOUZA, G.,A. MARQUES, T. RIBEIRO, L. G. DANTAS,  
... & O. CROSA. 2019. Allopolyploidy and extensive  
rDNA site variation underlie rapid karyotype  
460